ANGOLA E MADAGÁSCAR PARA OS
JUDEUS?
Em
finais do século XIX, quando se falava da Herança Sagrada, tinha-se uma ideia
difusa das colónias portuguesas. Invocando um Direito Histórico, decorrente da
primazia da ocupação, Portugal reivindicava vastas áreas, embora em alguns casos,
apenas dominasse feitorias em estreitas faixas costeiras e respectivos arredores.
Em
Moçambique, o território que Portugal ocupava era substancialmente inferior ao
de Angola. Na Guiné, a presença portuguesa resumia-se, quase, ao litoral. A partir
de 1870, com o Congresso de Berlim, vingou a tese que o Direito Histórico não
era suficiente e que a presença portuguesa impunha o alargamento rumo ao interior
das possessões ultramarinas.
No
século XIX, se era possível defender que tudo aquilo era português, também
que se
podia vender, ceder Angola e ninguém era preso por isso. Com a I República,
ressurgiu a oportunidade de se pensar na possibilidade construir um lar judaico
em território português de além-mar. Angola era uma forte possibilidade.
Os
massacres contra o povo judaico, nomeadamente nos países do leste europeu, e as
dificuldades encontradas por Theodoor Herzl, para a edificação do Estado Judaico
na Palestina, levaram a que alguns líderes judaicos começassem a estudar hipóteses
para o estabelecimento da comunidade judaica para além da Palestina. Era
urgente encontrar uma solução para que o sofrimento e a diáspora terminassem. Por
outro lado, era preciso não esquecer que Portugal se debatia com a necessidade de
ocupar efetivamente as colónias – a fim de contrariar as pretensões alemãs e
inglesas – e tinha uma dívida ancestral com os judeus. Tendo em conta as dificuldades
do povoamento de Angola com elementos naturais da Metrópole, a fraca capacidade
financeira do Estado Português e razões como sentimentos de culpa, a
colonização judaica aparecia como uma alternativa viável. Havia razões para a
diminuta presença portuguesa em África, a que não era estranho a importância do
Brasil, a resistência das populações locais e a inclemência do clima onde,
afinal, os ganhos e empregos pareciam ser pouco aliciantes. África era terra para
degredados, aventureiros ou militares. Para contrariar a diminuta ocupação, iniciaram-se
expedições após expedições a partir de zonas costeiras de Angola ou Moçambique,
destinadas a promover a exploração e abertura à civilização europeia do
interior africano, algo influenciadas pelas grandes e romanceadas viagens de Livingstone
e Stanley. Enfim, era necessário fazer face à concorrência, perante o risco de
usurpação.
O
projeto não se concretizou apesar de em 1913, aguardar apenas a votação das
duas Câmaras, o que não tendo acontecido, acabaria por o inviabilizar.
Aproximava-se 1914 e as sombras da guerra surgiam no horizonte. A Declaração
Balfour, ainda antes do termo da I Guerra, abriria caminho para o único
território possível e esfumaram-se os planos para uma Palestina Portuguesa, no
planalto de Benguela.
Em
1885, Paul de Lagarde havia sugerido a deportação de judeus da Europa de Leste.
Em 1926 e 1927, a Polónia e Japão estudaram a possibilidade de utilização de Madagáscar
para resolver os seus problemas de excesso de população. A Polónia enviou em
1937 uma comissão a Madagáscar para apurar a viabilidade de forçar os judeus a
emigrar para lá. Em 1938 e 1939, a Alemanha nazi tentou usar o Plano Madagáscar
para arranjos de política financeira e expansionista, tendo Goering anunciado
em 12 de Novembro de 1938 que Hitler ia sugerir o envio de judeus para Madagáscar.
Heinrich Himmler defendeu o envio de judeus para Madagáscar, como solução mais
suave e melhor que o bolchevique extermínio físico. A Alemanha ainda incluiu em Dezembro de 1939, o envio de judeus para Madagáscar como parte de uma proposta
de paz enviada ao Papa. Sendo Madagáscar colónia francesa, a Alemanha não tinha
maneira de aprovar a sua ideia, sem o acordo da França. O
início
da II Guerra suspendeu este plano, sendo que, depois da derrota da França em
1940, a Alemanha não mais necessitaria de coordenar com o Ocidente o seu plano.
Mas, como a Batalha da Grã-Bretanha não decorreu como planeado e com a decisão
de Hitler no outono de 1940 de invadir a União Soviética, o Plano Madagáscar
tornou-se inviável e foi posto de parte, pois a guerra contra a União Soviética
traria mais territórios.
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