quinta-feira, 6 de maio de 2010

A BATALHA DE ALJUBARROTA, A BÍBLIA (ganhada aos Castelhanos) E OUTRAS COISAS, DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA


Com a saída rápida e forçada dos monges do Mosteiro, aquando da extinção das ordens religiosas, o seu recheio foi quase todo despojado.

A Igreja viu perderem-se definitivamente, muitos quadros de valor, indo outros para Lisboa, por ordem do governo, com o objectivo de formar então uma galeria de pintura, que se levou a efeito na Academia Real das Belas Artes. Na Sacristia, guardavam-se preciosidades únicas, como vasos sagrados, alfaias, ferramentas que se extraviaram, enquanto algumas foram a tempo de constituir colecções de arte ornamental, no então chamado Museu Nacional de Belas Artes. É sobejamente sabido que a Biblioteca de Alcobaça, era das maiores do País, se não a maior, notável pelo grande número de volumes e obras nela conservadas.

Não é nosso objectivo descreve-las aqui. Basta referir que iam desde o sec. XI ao sec. XVIII e encontram-se hoje em dia, as que se salvaram da voragem e pilhagem destruidoras, em recato na Biblioteca Nacional e na Torre do Tombo. O período filipino, as invasões francesas e o saque de 1833, foram os grandes responsáveis por perdas inestimáveis, quer pelo seu valor histórico, quer pela sua importância literária e artística.

Bastantes anos mais tarde, por alturas de 1948, o então Conservador da Biblioteca Nacional, Dr. António Ataíde de Melo, tornou-se tristemente célebre por se ter envolvido no desaparecimento, por furto, de raridades provenientes de Alcobaça, guardadas naquela biblioteca, facto pelo que veio a ser preso, só não tendo sido levado a julgamento porque, entretanto, faleceu.

Com a derrota dos castelhanos, em Aljubarrota, muitos fugiram desordenadamente e cheios de pavor. Frei Manuel dos Santos, cronista de Alcobaça, refere que a peonagem dos Coutos de Alcobaça mais vizinha do local da batalha e que até ali andava ao largo, à sombra do Mosteiro, soando as primeiras vozes da vitória, foram-se chegando e já desembaraçados do susto deram-se em roubar e matar nos vencidos castelhanos com tal voragem que até as mulheres, ainda que tímidas por natureza matavam neles aos pares, seguindo exemplo de outra forneira que, segundo a tradição, matou sete castelhanos com a tão decantada pá de fornear.

De acordo com o mesmo cronista, D. João I, ficou três dias no campo de batalha a fim de assegurar a posse, como era costume, partindo então em marcha triunfal para o Mosteiro de Alcobaça, onde chegou em 20 de Agosto de 1833.

O povo saiu à estrada e aclamava delirantemente o vencedor, entregava-se a danças e folias próprias do tempo e ao som de ininterruptas vivas, acompanhou D. João I e o seu exército até Alcobaça, onde foi recebido perante a comunidade dos monges. D. João ordenou que aos de maior nome, que morreram em Aljubarrota, se fizesse sepultura no Claustro do Mosteiro de Alcobaça, como urna de tão leais cinzas.

Do campo de Aljubarrota para o Mosteiro foram levados, pois, alguns cadáveres de nobres portugueses, tendo o rei oferecido alguns despojos da batalha. Entre estes, há a destacar, a bandeira de Castela, o ceptro do Rei de Castela, um oratório de prata, os caldeiros de cobre onde se fazia a comida para o exército invasor, um dos quais está exposto na Sala dos Reis e uma Bíblia, hoje denominada a Bíblia de Aljubarrota, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Chamam-se Codices Alcobacenses, a um fundo de manuscritos existentes na Biblioteca Nacional e Torre do Tombo que pertenceram ao acervo do Mosteiro de Alcobaça, de onde foram levados depois de 1834. Alguns desses documentos provêm de Claraval, trazidos pelos monges fundadores de Alcobaça, mas a maioria é de calígrafos portugueses, quase todos da Ordem de Cister.

Os códigos destinavam-se, fundamentalmente, à formação espiritual dos monges de tipo litúrgico. Com os Códices de Alcobaça levados da sua Biblioteca para a Torre do Tombo, há uma obra que é uma dupla preciosidade, por ser artística e histórica.

Trata-se como se disse da chamada Bíblia de Aljubarrota que se diz ganha por D. João I, aos Castelhanos. Este manuscrito foi entregue ao Mosteiro de Alcobaça pelo Condestável D. Nun’Álvares Pereira e no princípio lê-se:

Bíblia ganhada na Batalha de Aljubarrota que el Rey Dom João o primeiro da gloriosa memória a qual era do próprio Rey de Castela foy ganhada dentro da sua própria tenda como consta da sua memória que está d’este próprio livro.

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