sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Rainha Isabel II em Portugal e Alcobaça (1957)

NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS
I
A RAINHA ISABEL II EM PORTUGAL E ALCOBAÇA (1957)
AS CORES DAS LOIÇAS DO TOUCADOR O PROTOCOLO BRITÂNICO
UM ROLLS ROYCE EM SEGUNDA MÃO
OS PRIMÓRDIOS DA RTP
O REI D. CARLOS E ESPOSA D. AMÉLIA, GRACE KELLY (MÓNACO), HAILÉ SALASSIÉ (ETIÓPIA) EM ALCOBAÇA





Não obstante mais de cinquenta anos decorridos, não é possível esquecer a visita da jovem Rainha Isabel II, de Inglaterra e seu marido, a Portugal.
Em 1952, havia subido ao trono Isabel II, filha de Jorge VI, acontecimento que ocupou as primeiras páginas da nossa imprensa, graças ao peso político-económico que a Inglaterra, exercia sobre Portugal.
Jorge VI, bisneto da Rainha Vitória, havia reinado durante cerca de 15 anos, duma forma clássica e austera.

A filha, Isabel, era uma graciosa jovem, de 26 anos, que gostava de montar a cavalo, e usava em público o uniforme de Coronel-Comandante dos Granadeiros da Guarda.
Durante a II Guerra, destacou-se no Serviço Auxiliar Territorial Feminino, onde se tornou uma conceituada motorista e mecânica.
Em 1947, casou com Filipe de Edimburgo, numa cerimónia luzidia, que a população aproveitou para testemunhar a simpatia à Monarquia e à futura Rainha.

Os preparativos para a visita à vila da Rainha Isabel II e marido, depois de Craveiro Lopes ter visitado, dois anos antes, oficialmente a Inglaterra e sido recebido em Buckingham, começaram com bastante tempo de antecedência e implicaram importantes transformações, na Ala Esquerda Sul do Mosteiro de Alcobaça e a urbanização da Praça do Rossio, a partir de 15 de Agosto de 1938 denominada Praça Dr. Oliveira Salazar.

Segundo o periódico O Alcoa, na hora conturbada que o mundo vive, há-de considerar-se como exemplo de valor universal a apoteótica manifestação de profunda e sincera amizade entre os dois povos, português e inglês, ligados por uma aliança de mais de seis séculos, que parece rejuvenescer com o tempo, confirmando-se os propósitos que a ditaram: Sólida Perpétua e Verdadeira Liga.

Muito se escreveu então, e depois, sobre esta visita e o seu sentido. Era o tempo da Guerra-Fria, a alguma distância ainda da ocupação de Goa, Damão e Diu, pela União Indiana, perante a (desoladora) inércia do Reino Unido, o velho aliado.

Para além do sucesso social e político que constituiu a visita a Portugal e Alcobaça, a verdade é que aqui foi pretexto para se fazerem obras de recuperação e restauro do Mosteiro, degradado e vandalizado, bem como da sua zona envolvente.

Já em 1955, se anunciavam importantes obras, por determinação do Ministro das Obras Públicas, Engº Arantes e Oliveira, que visitara Alcobaça, e cuja finalidade seria, alegadamente, reintegrar o Mosteiro na sua primitiva e austera traça cisterciense.
Os túmulos de D. Pedro e Inês de Castro foram removidos do local onde antes se encontravam, para aquele onde ora estão.
Não é este o local para fazer a história das relações luso-britânicas, mas divagar sobre alguns pequenos pormenores que, com a distância, poderão ter eventualmente, assumido contornos interessantes.

Como temos dito e redito, a História, tal como a vida das pessoas, não é constituída apenas por acontecimentos capitais, mas também por alguns reconhecidamente menores, que lhe dão o sal e a pimenta imprescindíveis para ser servida.

A nível local foi à Câmara Municipal de Alcobaça, sob a presidência de Joaquim Augusto de Carvalho, quem competiu dar o apoio logístico possível, além do que disponibilizou, em termos de mão de obra.
De fora, estavam questões, tão complicadas, como o protocolo britânico, a decoração da Igreja, da Sala do Banquete ou a Ementa.
Durante alguns meses, houve algumas obras municipais pelo Concelho que tiveram de parar, de modo a possibilitar a deslocação do pessoal para a zona do Rossio.
Aí, ao lado do pessoal da Câmara, trabalharam afanosamente vários empreiteiros e operários da Junta Autónoma das Estradas e do Ministério das Obras Públicas.

Parte da frontaria sul do Mosteiro, estava enterrada e desfigurada.
Começou-se por demolir o Jardim-Escola João de Deus, transferido para a Gafa, e, sem ele, limpou-se o enorme montão de terra que ocultava a fachada sul e impedia a vista das colunas, bem como os arcos, simétricos da ala norte.
Foram restauradas as janelas e suprimidas as águas-furtadas, mandadas construir por particulares que ali viviam, como recordava o Dr. Amílcar Magalhães, cujo escritório era em frente ao Mosteiro e ao Tribunal da Comarca.

O Tribunal, por esta altura, já funcionava em péssimas e vergonhosas condições, no 1º piso da Ala Norte do Mosteiro.
Anos depois, num Domingo de Março de 1966, ruiu estrondosamente parte do tecto de uma dependência, aonde, no dia a dia, trabalhavam, entre outros, o escrivão José Maria Cascão, e o escriturário Adélio Maranhão, que ficaram a dever a sua integridade física ao acaso do dia.

Terminados os trabalhos de desaterro, construídos os muros de suporte de terras e pavimentadas as ruas de acesso, cortadas árvores que afrontavam a fachada, a praça, passou a assumir contornos algo semelhantes aos que apresentou até às recentes e controversas alterações.
No interior, procedeu-se à transladação dos túmulos de Pedro e Inês para o transepto da Igreja, dando satisfação a um antigo desejo de Lopes Vieira, que não teve tempo de ver cumprido.
Ainda se colocaram esculturas nas capelas radiantes da charola, que se encontravam espalhadas pelo chão da Capela de Nª Senhora do Desterro.

Teve bom impacto visual a colocação de esferas armilares nas varandas das casas do Rossio, no que hoje seria considerado uma manifestação de carácter nacionalista, bem como a ornamentação das janelas com colchas e colgaduras.

A Rainha Isabel entrou no Mosteiro depois de passar por alas compactas de pessoas, que nalguns casos vieram de longe, sobre capas de estudantes de Coimbra, ajoelhados à passagem, dirigindo-se à Sala dos Reis, onde era aguardada por Craveiro Lopes, para depois passando pelo Claustro, almoçar no Refeitório conventual.
Ali, foi utilizado um serviço de copos de cristal da Crisal, expressamente fabricado, e que no futuro passou a ser conhecido como o Serviço da Rainha. Da ementa, fez parte uma torta de frutas de Alcobaça e uma aguardente oferecida pela Família Raposo de Magalhães servida, com o café, na Sala dos Reis.

Na falta de eficaz coordenação e perante um grande voluntarismo, o fazer e desfazer nas obras acontecia com frequência, como era um dia colocar-se um colector de esgoto e vir dias depois uma máquina do M.O.P. desaterrá-lo e inutilizá-lo.
Muita intervenção foi no edifício da antiga Hospedaria do Mosteiro, onde os frades alojavam os visitantes importantes.
Depois da extinção das Ordens Religiosas, estiveram ali instaladas o Tribunal Judicial, a Legião Portuguesa, a Tesouraria, Finanças, a Câmara e até a Cadeia Comarcã.
CONTINUA

Sem comentários: