quinta-feira, 20 de maio de 2010

-ENSAIO SOBRE A MEMÓRIA E A VOZ

-E VIVAM AS MULHERES

- EM QUE SE FALA DE OGIVAS, OVOS E DA BELEZA

-UMA QUESTÃO DE COMUNICAÇÃO

-O FUTURO NO FEMININO?

-E TOCA A BANDA(Vira o disco e toca o mesmo)

-NINGUÉM LHE DEU ATENÇÃO



Há senhores, que se supõem do mundo, e mandam os seus subordinados cuspir no espelho. Até os treinam nessa arte.

Os meios de comunicação social que controlam, e nos entram em casa sem pedir licença, não comunicam, os estabelecimentos de educação para onde mandamos os filhos deseducam e o ministro, que seria suposto ser da sua confiança e ter a paixão de dialogar, ao invés, entra mudo e sai calado, à procura do respeito perdido.

Se pudessem, e bem o tentam, ensinavam-nos a pensar pelas suas cabeças, a sentir bater apenas o seu coração, a trilhar caminhos corridos pelas suas pernas.

Argumentam que assim seria melhor, começando pelos mais pequenos que deveriam naturalmente digerir as ideias pré-fabricadas e seguir as emoções dos homens e mulheres que vivem sentados o dia a dia.

Antigamente, dizia-se entre nós, era a ditadura.

Possivelmente um argumento tão mau como outro qualquer.

Agora, sentimos uma inefável presença que nos convence, subtilmente, que a incapacidade não é uma doença, mas uma fatalidade.

Paradoxalmente, o soit-disant poder democrático, diz-nos o que se pode dizer e o que se pode fazer, e define o politicamente correcto o que não pode ser.

Dizemos aos netos, o que então não dissemos aos filhos, desatem as vozes, des-sonhem os sonhos.

Gostaria, de descobrir o real maravilhoso e o fantástico, situá-los no exacto ponto de encontro da nossa terra e concluir que, jamais pode ser uma perda se, do matrimónio entre a mentira e o medo nascer a coragem e, das dúvidas, a certeza.

Os sonhos, prenunciam a realidade possível e os delírios uma forma de razão.

Isto não muda mesmo?

Somos o que fazemos para mudar o que somos.

A identidade que assumimos, não é qual peça de cristal colocada numa redoma, mas a síntese das contradições com que nos defrontamos cada dia que passa.

Acredito nesta fé, impalpável e fugidia.

É a única digna de confiança, não por lhe faltar o racionalismo, mas por ser contemporânea do bicho-homem, mesmo daquele que não tem graça, é desgraçado mas sagrado, que tem em si a louca aventura de viver no mundo, que se reconhece em mais que um grão de poeira e, um fugaz momento na infinita solidão do universo.

Há um sítio no mundo que é o ponto de encontro entre o ontem e o hoje, onde se reconhecem e, por vezes, se abraçam.

Estudei o assunto com toda a atenção e, digo-vos, que esse sítio é o amanhã.

Têm o som do futuro algumas vozes que chegam sussurradas do passado e nos recordam que somos filhos de uma terra que não se aluga, muito menos se vende.

As vozes que não se calam, os sonhos que se des-sonham, anunciam que o mundo é possível, ainda doutro modo, menos envenenador do solo que não é lixeira, do ar que é para respirar e da água dos rios que não são cloacas.

É possível, ainda ou já, um sistema sem vínculos?

Não, redondamente que não.

Desde logo porque os calados virariam os perguntadores, os demandados seriam os demandadores, não se reconhecia mais que as quezílias e divisões pudessem um dia qualquer deixar de ser ilhotas constituindo terra firme.

E isso seria mau?

Um sistema sem vínculos condenar-nos-ia à solidão.

A emoção nada teria a haver com a razão, o sexo seria independente do amor, a vida privada passaria definitivamente ao lado da vida pública, o trabalho ofenderia o prazer e a linguagem escrita opor-se-ia ao descomprometimento da falada.

E o ponto de encontro, afinal?

Um sistema sem vínculos divorciaria o ontem do hoje, pelo que a história ficaria doravante parada, adormecida, porque não dizer?, morta.

Os textos que ensinam os grandes combates e os conceitos sublimes dos mestres pensadores, os monumentos de mármore que permanecem imutáveis ou as estátuas de bronze que se plantam nos jardins, seriam os armários poeirentos onde se guardam os disfarces velhos.

A história oficial enche a nossa memória de factos inúteis.

Temos lutado, quixotescamente, contra a amnésia e gostaríamos de não tropeçar, mais uma vez, em degraus mil vezes tropeçados, de modo a história não se assemelhar a um carrocel de movimento perpétuo.

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