CRIANÇAS COM PROBLEMAS
FLeming
de OLiveira
As crianças vulgarmente chamadas de problemáticas que apresentam problemas através de comportamentos
inadequados, não nasceram, obviamente, com problemas.
Muitas vezes,
eles são fruto de uma postura paternal, conotada com vidas complicadas, inseridas
num mundo difícil. As regras da educação familiar são e serão sempre
fundamentais, porque a criança vive num mundo ainda não estruturado, onde a
responsabilidade educativa dos pais (primeiro que a Escola, que os não pode substituir,
ficando esta responsável por acrescentar outros valores) é inalienável. A
firmeza, a coerência, o amor, a consistência nas ações têm de ser pontuais e dão
sustentação ao encaminhamento de limites. Sei bem que ninguém é educado de uma
hora para outra, pelo que a formação é um processo contínuo e alguns requisitos
como a paciência, a troca, o carinho, a atenção terão de estar sempre presentes.
Muitos dos problemas das
crianças problemáticas estão, pois,
relacionados com os pais.
O importante
na relação com a criança (ou adolescente) é respeitá-la e fazer-se respeitar, ouvir
e ensiná-la a ouvir os outros. Mas, claro, não só.
Partilhar
experiências, criar cumplicidades, trocar conhecimentos, dar parâmetros para
que se sintam seguros. Permitir, sem ser permissivo!!!
A rejeição paternal é um dos grandes e graves problemas,
especialmente em casais em que ambos trabalham e se encontram absorvidos com a
carreira ou estão separados. É uma situação que se agrava quando não existem
avós por perto para cuidar das crianças que anseiam pelo amor de pais incapazes
de darem amor e afeto suficientes.
Por outro lado, a super
proteção em que os
pais tentam dar aos filhos, impede-os de se adaptarem e prepararem para o meio
envolvente. Crianças super protegidas procuram sempre a ajuda dos pais e a sua
mente está programada para que acreditem
que estes irão para sempre delas cuidar, bem como dos seus problemas.
Desde sempre,
entendi imprópria a pressão dos pais quando pretendem, necessitam, inconfessadamente
que os filhos atinjam um objetivo que eles não conseguiram no seu tempo ou que iguais
aos seus, que alegadamente reputam como os melhores. Quando os pais decidem que
o filho seja o melhor da escola, um industrial de sucesso ou mesmo um doutor,
poderão estar a arruinar a capacidade de o ser e a incutir-lhe um sentimento de
culpa.
No meio
disto tudo, a disciplina não pode ser inexistente, nem demasiado severa, mas simpática
ao invés de agressiva. Pouca disciplina acarreta uma criança agressiva e pouco
social, muita rigor resulta em medo, com crianças eventualmente a rejeitarem os
pais, e formarem-se com um caráter pouco social.
Creio ser
pacífico, afirmar que os pais, hoje como sempre, são os primeiros referenciais
de qualquer criança. Se os pais tiverem mérito, boas qualidades, será natural
que as crianças os sigam nesses predicados. Mas, se pelo contrário, os pais forem
disfuncionais nos seus problemas emocionais, podem afetar uma criança muito
facilmente, nomeadamente nela gerar um modelo negativo. Os filhos preferem não
ser como os pais, seguir as suas pegadas, o que por si não é necessariamente
mau, mas ao mesmo tempo os pais também falharam com os filhos como bom modelo
de pais.
Crianças com
comportamentos problemáticos como refilar,
violentos como morder, exigir, ataques de raiva, etc., podem tornar-se incómodas,
porém, os pais devem ser pacientes o suficiente para lhes ensinar contra este
tipo de comportamento.
Se a criança
é desobediente, será preciso entender o contexto e não a reação pontual,
fragmentada.
Se fosse
esta a minha profissão, talvez pudesse referir e aconselhar
que este é
um trabalho árduo, que leva anos e acarreta muito envolvimento. Todavia,
arrisco e deixo o meu depoimento. Só as deixando falar, dando vez e voz, eu
poderia entender e atuar em parceria com
as famílias, buscando formas mais assertivas de resgatar aquelas crianças.
Em casa dos meus Pais (onde ainda
havia oito filhos), as Regras da Casa/ Família eram expressas, definidas e
respeitadas por todos os elementos, os papéis estavam definidos. A Família ao
longo dos anos organizou-se em função desses papéis, onde cada um de nós sabia
distinguir o permitido do proibido, esperando pelas recompensas e acatando os
castigos de uma forma consistente, adaptados à idade. Quando me refiro a
recompensas, não estou a pensar propriamente nas puramente materiais, mas a
estímulos benévolos e positivos. Nem quanto a castigos, o quarto escuro.
Há uns anos, apenas para consumo familiar, escrevi um
livrinho sobre AS REGRAS DA (nossa) CASA.
Pois claro, bem recordo, tínhamos problemas. Todas as
famílias têm problemas, e a nossa não era exceção, mas havia uma maneira muito
própria de lidar com eles, preferencialmente discutidos à mesa, sentimentos
expressos sem os tabús que envenenam as relações. A minha Família era muito
tradicional, inserida numa boa
burguesia urbana portuense, onde os meus Pais concebiam uma educação que se
poderia qualificar de negociável, o que me permite concluir (desculpem se
exagero!!!) que ali não havia vitórias, nem derrotas, o que não sei bem com
isso acontecia.
Mas para nós filhos, uma coisa era absolutamente
inquestionável, o poder estava do lado dos pais, embora pudesse ser
pontualmente negociado, mas a última palavra era destes, sem dúvida.
Posso-me gabar (desculpem se exagero de novo) que em
casa de meus Pais, a resposta às exigências internas e externas da mudança do tempo
(educar oito filhos!!!, implica devoção e demora muito tempo), não seguiu um
padrão standart, rígido, sem
possibilidade de alternativa, o que a assim ser implicaria um bloqueio no
processo de comunicação familiar.
As disfunções de relacionamento e de papéis dentro das
famílias podem afetar os seus membros, seja a título individual, como familiar,
constatação que não sendo original nem por isso é fácil de ultrapassar.
As famílias doentes, por vezes elegem um dos membros para representar a doença da família. É o caso que muitas vezes ocorre
em famílias psicotizantes onde os pais, possuem o poder de psicotizar
(preverter digo eu, talvez no quadro de uma patologia maníaco-depressiva) um
filho. Este, por sua vez, torna-se o membro inconscientemente doente da
família, aceitando a carga de dificuldades para si, encarnando um bode expiatório, que assume e representa
a doença da casa, permitindo aos demais verem-se livres dos seus próprios
conflitos e dificuldades. A família sente-se, aliviada, saudável, enquanto possui um membro doente.
A minha experiência profissional e de vida em
sociedade (já com alguns anos, que as cãs não escondem), permite-me revelar que
tanto nas famílias funcionais como disfuncionais, existem cumulativamente
filhos não sadios e empreendedores. Nas famílias disfuncionais, os pais negam os
problemas, fazem os filhos guardar segredos, como o alcoolismo, violência ou
resultados menos conseguidos. E afastam os filhos das relações fora do círculo
familiar.
Hoje em dia suponho saber identificar, com pequena
margem de erro, casos de família disfuncional. Às vezes, saltam das páginas de
jornal ou dos telejornais que relatam crimes tão hediondos como pais que matam
filhos. Não que o distúrbio justifique o crime, mas a cada acontecimento novo, interrogo-me
se algumas desses dramas poderiam ter sido evitados caso as pessoas tivessem
recebido ajuda psicológica.
Bem sei que o desenvolvimento humano não tem fórmulas
exatas ou lineares. Filhos de famílias disfuncionais podem desenvolver-se de
forma ajustada e estabelecer relacionamentos saudáveis. Assim como filhos de
famílias sem grandes conflitos podem desenvolver transtornos de conduta. Vários
fatores concorrem para a origem dos transtornos psicológicos, como as
características individuais, incluindo as genéticas, e influências ambientais
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