IMORAL, ILEGAL, AMORAL, CORRUPÇÃO, ETC.
FLeming de OLiveira
“Não é um
procedimento ilegal, é sim imoral”, ouvimos frequentemente dizer a propósito de
personalidades públicas, em jeito de melhor justificação.
Muito interessante, na verdade como desculpa esfarrapada, mas
a minha empregada doméstica que não tem estudos, sabe distinguir, entre IMORAL e ILEGAL.
“D. Laurinda”, perguntei-lhe um dia
destes, “Para si o que é ilegal pode não
ser imoral? Se um ato ou ação é considerado imoral, onde é legal?”
Posta a questão assim, sofisticadamente,
a D. Laurinda começou a titubear e teve enorme dificuldade em me explicar.
Sem pretender iniciar um minicurso
de deontologia, vou referir, liminarmente, que a moralidade é alegadamente, um
dos pilares da nossa Administração Pública. Assim, sendo “imoral” um ato administrativo, não poderá/deverá surtir efeitos,
ainda que seja “legal”. Claro que,
por vezes, o ato em concreto não tem uma avaliação inequívoca em termos de
imoralidade, seja por parte do senhores juízes ou senhores administradores.
A diferença entre ato imoral e ilegal, como aliás sabe e
percebe a D. Laurinda, embora com alguma dificuldade em se expressar, está em
que neste há um desrespeito a um preciso procedimento ou formalidade da lei e
naquele, seguem-se as formalidades que a lei determina, mas os fins visados
pelo ato administrativo, ou os seus motivos determinantes, são contrários à
moralidade pública.
Poderia
carrear inúmeros exemplos. Um bastante simples e
vulgar, é a nomeação de parentes para cargos em comissão. É legal nomear o
filho para exercer um cargo de confiança em comissão, bastando que o ato da
nomeação siga as formalidades previstas na lei. Mas, por razões óbvias, esse ato,
embora legal, pode em determinadas circunstâncias ser imoral.
Uma pessoa imoral é sem pudor, revela
imoralidade e está, frequentemente, ligado à libertinagem e
obscenidades. Uma pessoa assim é,
normalmente, reputada como devassa, indecente e desonesta, pois revela falta de caráter e de regras
sociais.
Um ato imoral nem sempre é ilegal, como
referi à D. Laurinda. Por exemplo, extorquir dinheiro de uma pessoa idosa
através de um esquema fraudulento, é imoral e ilegal. Mas não pagar uma dívida
porque o credor não fez prova da sua existência, é imoral. Tenho dúvidas, os
tempos modificam a avaliação de comportamentos, se quem trai o/a namorado/a
comete um ato imoral, sendo inequívoco não ser ilegal.
É importante referir que apesar de existir
na sociedade uma noção de moral e imoral aceite pela maioria, inúmeras pessoas
criam o seu próprio conceito de moral ou imoral, “estou de consciência tranquila”, como diriam o Engº. Sócrates ou
Ricardo Salgado. Isto significa que o que é imoral para uma pessoa, pode não
ser imoral para outra.
A imoralidade pode ser aplicada a várias
áreas da vida. A imoralidade sexual, na minha perspetiva conservadora, consiste
por exemplo em comportamentos imorais no âmbito sexual, reportando-se a um
indivíduo que se entrega à luxúria e lascívia.
“Tudo que eu gosto é ilegal, imoral e engorda ".
Piadas como esta (e o que
vale é que não passam de piadas), sobre o desconforto de ter um certo estilo de
vida, têm sido cada vez mais comum nas conversas e agora nas redes sociais.
E o que é amoral? Amoral é a classificação atribuída a alguém sem noção de moral, ou seja, “não é contra nem a favor dos princípios da
moralidade”.
Amoral é, em suma, o que está fora da moral, ou seja, é neutro no que se
refere à ética. Em um sentido prático, um indivíduo amoral vive sem as
condições subjetivas exigidas para que os seus atos ou juízos sejam morais.
O amoral não tem conhecimento das normas (morais) e por
isso o seu comportamento não é moldado de acordo com elas. Por outro lado, o
imoral tem conhecimento das regras, mas mesmo assim pratica atos que são
repudiados pela maioria da sociedade, como por exemplo o governante que aceita
um suborno para quebrar uma regra e atingir um objetivo inconfessável.
Ética é um
conjunto de conhecimentos extraídos do estudo do comportamento humano, ao
tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teoricamente.
É uma reflexão sobre a moral.
Moral é o conjunto
de regras aplicadas no quotidiano e usadas continuamente por cada cidadão.
Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus
julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.
Em termos práticos, parece-me que a
finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por
construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinar o seu caráter,
altruísmo e virtudes, e ensinar a melhor forma de agir e de se comportar, em
sociedade. Porque são do nosso partido ou do nosso clube.
Há pessoas, que de acordo
com a mera conjuntura ou interesses pessoais, transformaram/qualificam
basicamente certos portugueses numa classe de irresponsáveis que não respeitam
suficientemente a sua profissão a ponto de os usar displicentemente como reféns
no seu protesto salarial. Não é raro de todo que isso aconteça pelo que não
entendo que “isto é um problema político”
e não jurídico. Tem esses tanta razão que nem devem aperceber-se da falta de
razão que têm.
Não é uma fatalidade
portuguesa a corrupção, sem prejuízo de entender que o nosso regime será tanto mais democrático quanto limpo. Mas, enquanto
continuarmos tão dúplices, tão compreensivos, a tolerar mais ou menos certos
comportamentos desviantes de políticos, empresários ou desportistas, a gostar de
mandar bocas inconsequentes, sem uma verdadeira sindicância no combate a
conflitos de interesses, não haverá forma de impor a limpeza que o nosso
sistema político-económico necessita e reclama. Quando muito, vai-se utilizando
aqui e ali um exemplo, como é o recente caso Manuel Pinho (não estou a tomar
posição sobre o seu caso), esquecendo/tolerando outros quando são do nosso
partido ou do nosso clube…
Corrupção procedimento
ilegal (punível criminalmente) e imoral, é transversal a todos os estratos
sociais, partidos políticos e clubes.
Compreendo que António
Costa queira circunscrever, invocando como isolados os casos de Sócrates e
Pinho. Na mesma linha percebo que PSD e CDS queiram circunscrever ao PS a crise
ética em que vivemos. A crise é mesmo do regime. Infelizmente, como sabemos, é
verdade.
Não obstante o 25 de
abril, permanece ou mesmo desenvolveu-se uma teia de interesses, em que
política e negócios se misturam da pior maneira. É simplista e muito
cómodo considerar o PS o único envolvido nestes esquemas e uma pena que não
seja assim. É que essa promiscuidade é genérica, sendo casos destes (sabidos ou
intuídos) às dezenas ou centenas.
Se não podemos confiar
que sejam os atuais políticos, por sua iniciativa, a regenerar o regime
democrático e se não podemos contar com a sindicância dos jornalistas, salvo
excecionalmente, teremos de ser nós a fazer a mobilização com esse fim. Embora
não saiba bem como.
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