OS MEUS AMIGOS
-Os Amigos são para as
ocasiões?
Não,
caros leitores os “Amigos” são para
sempre.
A
amizade é um prazer, uma satisfação, um gosto. Não deve depender de favores ou
ajudas. Pede-se, dá-se, recebe-se,
esquece-se e, nesse caso, não se fala mais nisso.
O
desvalor da amizade, tal como da solidariedade a que me referi há tempos neste
espaço de jornal, deve-se a uma persistente instrumentalização que tem sofrido.
É o perverso instrumento de cunhas, palavrinhas segredadas ao ouvido,
cumplicidades e compadrios. Por isso as amizades se fazem e desfazem como se
fossem circunstanciais tratos políticos ou comerciais. Se alguém “não corresponde”, se não cumpre as
obrigações contratuais, é logo condenado como “o mau” amigo, o “o ingrato” e sumariamente afastado. Tenho
necessidade de pensar e acreditar que os Amigos são com quem (não obstante a
distância) estamos em contacto. Podemos até gostar mais deles do que eles de
nós. Não me interessa, não encarei como questão de balança.
Os
amigos são úteis? Não caros leitores, têm de ser “inúteis”. Bom tenho de explicar para não haver mal-entendidos, devem
bastar só por si, existir. O porquê, o onde e o quando não me interessam. A
amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objetivo. É impossível lembrarmo-nos
de como nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vai ter essa
relação.
É
por isso que dura para sempre, porque não contém expectativas nem planos, nem
ansiedade.
-"Um
dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e
momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angustia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...do companheirismo
vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado.
Seja pelo destino ou por algum desentendimento, cada um
segue a sua vida.
Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas
cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... os
dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais
raro.
Vamo-nos perder no tempo...
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
-Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer
tanto!
-Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos
da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos
para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a
viver a sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus
amigos!"
NOTA: cfr. Dedicatória
aos Amigos
-Fernando Pessoa-
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