POLÍTICA E JUSTIÇA (NO BRASIL)
FLeming
de OLiveira
-A partir de quem, como eu, não vive no Brasil, país que se
debate entre mil contradições e contrariedades que vou acompanhando com
interesse, quero todavia compartilhar com os Leitores, algumas reflexões
relacionadas com a situação que desde há muito lá se vive
institucionalmente.
Da perspetiva de quem não vive o dia-a-dia
da política brasileira, devo dizer que não sou capaz de apreciar o espectáculo indecoroso
oferecido com os julgamentos (políticos) de Dilma Rousseff e de Lula da Silva (entre
outros), pois admito que se visou um golpe de forma institucional pelos
interessados em alcançar “tout court” o
poder. Gosto muito do Brasil, tenho parentes que há muito vivem lá (mas sempre
portugueses!!!) e com quem mantenho contactos regulares.
A interferência da Política sobre o Poder Judicial, a fim de influenciar as
suas ações, deve parar. Mas não pára, como uma roda que gira mesmo que por mera
gravidade. Parece-me, salvo melhor opinião, que isto é inato da estrutura
político-social brasileira, com reflexos inalienáveis na respeitabilidade e
credibilidade do país, o que me perturba por admitir uma eventual
responsabilidade da colonização portuguesa.
Sei como é perverso esse jogo de
interesses cruzados, praticado não em prol da Justiça, outrossim para liquidar
o oponente político, instrumentalizando um dos pilares do Estado, que perde o
equilíbrio que deve manter, face a fins obscuros, distanciados de uma
confrontação transparente e limpa.
A submissão
da Justiça a esses interesses tem custado um preço excessivo ao povo
brasileiro. O Poder Judicial deve defender os cidadãos perante essa instrumentalização.
O objetivo não é, como alegadamente dizem, acabar com o projeto político do Partido dos Trabalhadores e seus expoentes, mas submeter
a população, a um sistema controlado (economicamente) pelos poderosos
oportunistas.
A luta contra a corrupção (que tem
inúmeros tentáculos, mesmo imperceptíveis) é vital, deve ser prioritária em
qualquer democracia, ficar muito atenta para contrariar os que se aproveitam da
“cegueira” de que a Justiça, por
vezes, se louva. Esta deve ter agora os olhos bem abertos (nunca estive de
acordo com uma justiça de olhos vendados) para perceber que o ataque ao sistema
democrático se consuma num julgamento político, desenhado pelos que se esquecem
do povo em benefício próprio ou que se tentam substituir à vontade do povo.
É grande o meu incómodo democrático por
estes fatos brasileiros, o que me compele a denunciar o ataque com o qual
alguns desejam destruir as estruturas democráticas, interferindo na ação da
Justiça em benefício próprio.
Ninguém conquista um Poder para
sempre, e o da democracia deve ser ganho e defendido contra os que tentam
menosprezá-lo. É necessário lutar permanentemente pela democracia. E é
obrigação fazê-lo não só no ou pelo Brasil, mas por todos, porque a democracia
é um bem tão escasso que a sua consolidação é missão de toda uma comunidade,
onde obviamente nos inserimos.
-Há tempos o antigo
Presidente Lula da Silva viu deferido um pedido de “habeas corpus” para a sua libertação imediata da cadeia.
O Tribunal Regional Federal
de Porto Alegre aceitou um pedido de “habeas
corpus” para a libertação de Lula da Silva, a cumprir uma pena de prisão de
12 anos e um mês, pela prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Lula da Silva recorde-se está detido deste 7 de abril, depois de condenado por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. O ex-presidente foi acusado de receber um triplex no
litoral de São Paulo para favorecer uma empresa em contratos com a Petrobras.
Lula foi condenado em
primeira instância sendo a condenação confirmada na segunda instância.
O “habeas corpus” fora apresentado com o
argumento de não existir fundamento jurídico para a prisão de Lula. Mas com
surpresa, o Juiz Desembargador de “plantão”
nesse fim-de-semana, deferiu o pedido. Entretanto, redigiu outros dois
despachos no mesmo sentido, reforçando a sua posição perante a ação dos juízes Sérgio
Moro e João Gebran Neto, ambos com responsabilidades na investigação anti corrupção, “Operação Lava Jato”, e que tentaram impedir
a execução, e suspender, a ordem de libertação imediata de Lula.
Foi
um domingo de choques jurídicos entre diversos magistrados (todos de alguma
forma “comprometidos”), mas que
terminou com a manutenção de Lula da Silva na prisão. Enquanto a tensão
política subia, com o PT a convocar os seus apoiantes para manifestações de
apoio a Lula da Silva, e outras contra manifestações a saírem à rua, o imbróglio
jurídico-político subiu para o Presidente do Tribunal Regional Federal da
4ª Região, que recebeu e deferiu os recursos da Procuradoria da República e de
um advogado, revogou a ordem de soltura determinada horas antes pelo desembargador
de “plantão”.
-Se o Direito é o que
nos separa da barbárie, também pode ser usado para torpedear o bom senso,
atropelar a ética e ser a lixívia que se utiliza para remover as nódoas legais mais
difíceis.
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