Afonso Delgado Luís
(bancário reformado)
Abril de 1974.
Naquele dia 25, pela madrugada, bem cedinho, o telefone tocou. Apressei-me a
atender, e do outro lado do fio o meu saudoso amigo António Santana dispara:
- Afonso, é hoje o
grande dia de que nos falava o nosso amigo Xavier.
Balbuciei um…”Quê?”
e o Santana conclui:
- Ligue o Rádio Clube Português e já vai
perceber…
O Xavier era um
colega de trabalho que havia deixado o serviço militar, geralmente bem
informado nesta matéria, e que nos garantia que fervilhava um movimento na
tropa, tendente a pôr fim ao regime que nos oprimia. Não fomos trabalhar, já se
vê, e passámos a manhã em conjunto: eu, o Santana, outro colega do Banco, o
Pimenta, e o jornalista de O Século, Joaquim Benite (já falecido) grande
entusiasta de Teatro, que viria a fundar uma importante Companhia desta arte em
Almada. Fomos discorrendo sobre o que se estava a passar. Se a revolução
tivesse êxito, teríamos a liberdade que existia por toda essa Europa não
comunista, terminaria a guerra nas colónias, haveria eleições livres, enfim,
seríamos finalmente cidadãos de corpo inteiro. Aonde tudo isto nos levava!...
Mas era fundamental que o Movimento dos Capitães triunfasse, e por isso
ouvíamos avidamente todos os comunicados do Movimento transmitidos pela rádio.
Pela tarde, o Santana, que além de grande amigo era o meu diretor no Banco onde
trabalhava, faz-me esta pergunta: “Ó Afonso, você já pensou em… (e nomeou um
meu familiar muito querido, comprometido com o regime que se estava a
esboroar). Só pude responder: “Claro que não deixo de pensar nele. Mas por
agora, quero saborear esta alegria. Ainda é cedo, mais logo vou preocupar-me
com isso… Depois telefono-lhe a dar notícias.”
O Movimento dos Capitães triunfou! Foi Portugal que triunfou! Virou-se uma página negra das nossas vidas. No dia seguinte, 26 de Abril, um soldado ofereceu-me um cravo vermelho. As pétalas desse cravo… tenho-as ainda guardadas numa caixinha, como recordação inestimável, como símbolo de Liberdade!
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