domingo, 26 de novembro de 2023

AQUELE DIA 25

 

Afonso Delgado Luís

(bancário reformado)


Abril de 1974. Naquele dia 25, pela madrugada, bem cedinho, o telefone tocou. Apressei-me a atender, e do outro lado do fio o meu saudoso amigo António Santana dispara:

- Afonso, é hoje o grande dia de que nos falava o nosso amigo Xavier.

Balbuciei um…”Quê?” e o Santana conclui:

 - Ligue o Rádio Clube Português e já vai perceber…

O Xavier era um colega de trabalho que havia deixado o serviço militar, geralmente bem informado nesta matéria, e que nos garantia que fervilhava um movimento na tropa, tendente a pôr fim ao regime que nos oprimia. Não fomos trabalhar, já se vê, e passámos a manhã em conjunto: eu, o Santana, outro colega do Banco, o Pimenta, e o jornalista de O Século, Joaquim Benite (já falecido) grande entusiasta de Teatro, que viria a fundar uma importante Companhia desta arte em Almada. Fomos discorrendo sobre o que se estava a passar. Se a revolução tivesse êxito, teríamos a liberdade que existia por toda essa Europa não comunista, terminaria a guerra nas colónias, haveria eleições livres, enfim, seríamos finalmente cidadãos de corpo inteiro. Aonde tudo isto nos levava!... Mas era fundamental que o Movimento dos Capitães triunfasse, e por isso ouvíamos avidamente todos os comunicados do Movimento transmitidos pela rádio. Pela tarde, o Santana, que além de grande amigo era o meu diretor no Banco onde trabalhava, faz-me esta pergunta: “Ó Afonso, você já pensou em… (e nomeou um meu familiar muito querido, comprometido com o regime que se estava a esboroar). Só pude responder: “Claro que não deixo de pensar nele. Mas por agora, quero saborear esta alegria. Ainda é cedo, mais logo vou preocupar-me com isso… Depois telefono-lhe a dar notícias.”

O Movimento dos Capitães triunfou! Foi Portugal que triunfou! Virou-se uma página negra das nossas vidas. No dia seguinte, 26 de Abril, um soldado ofereceu-me um cravo vermelho. As pétalas desse cravo… tenho-as ainda guardadas numa caixinha, como recordação inestimável, como símbolo de Liberdade!

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