A grande ilusão
Fleming de Oliveira
Gostaria de me poder afirmar como europeísta, embora esteja convicto de que uma Europa verdadeiramente unida é muito improvável, senão contraproducente.
Já no século XIX, se ouviram várias vozes
a clamar pelos Estados Unidos da Europa
e, desde então até aos anos 30 do século XX, houve diferentes propostas para delinear uma
federação económica. É, salvo melhor opinião, uma ilusão que a União Europeia é
o resultado de um destino histórico ou que a Europa foi construída por puros idealistas. Já em meados dos anos
50, era raro encontrar na Europa políticos ou intelectuais especialmente
preocupados com uma Europa unida, outrossim mais concentrados nos problemas e
na política do respetivo país. O discurso político não se identificava com a
prática. Os egoísmos nacionais, de
que tanto se queixam hoje os idealistas, não nasceram ontem, estiveram sempre
presentes. Não houve, pois, consciência europeia no nascimento da Europa, houve, isso sim, uma europeização de problemas internos,
sendo a França a grande incentivadora e beneficiária desse processo.
A França, precisava de carvão para a sua
indústria de aço e só a Alemanha lho podia fornecer. Depois de várias tentativas
falhadas para obter esta valiosa matéria-prima, que passaram nomeadamente por
negociações com os soviéticos que ocupavam/controlavam uma parte da Alemanha,
viram-se obrigados a fazer um acordo com a Alemanha, o Benelux e a Itália, para
criar a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço). Os americanos e os
ingleses estavam desejosos por se verem livres da responsabilidade de alimentar
milhões de bocas que regressaram das antigas comunidades alemãs na Checoslováquia,
Polónia, ou Roménia, e interessava-lhes que a Alemanha se desenvolvesse. Por
seu lado, o chanceler Adenauer viu no Plano Schuman a oportunidade da
Alemanha recuperar a soberania e regressar ao concerto da comunidade
internacional.
Entretanto, com o início da guerra fria em
1947, a Europa pôde contar com o
plano Marshall, que, independentemente das muitas interpretações sobre as suas
motivações e efeitos, acelerou sem dúvida o processo europu de recuperação
económica. Duas guerras devastadoras, separadas por uma grande depressão,
criaram um enorme potencial de crescimento, uma espécie de efeito do tempo perdido.
Os europeus criaram tiveram a ilusão de
que ter encontrado uma fórmula mágica para o crescimento económico, sendo a Europa, supostamente o fermento
decisivo. Isto permitiu criar o Estado Social e tornar a Europa esse fermento cujo sucesso exigia uma integração cada vez
mais reforçada.
A queda do muro de Berlim foi o princípio do rápido fim de muitas ilusões.
Com a adesão dos países de leste, a centralidade económica da Alemanha foi
reforçada com a centralidade geográfica. A França começou lentamente a cair na
realidade, vendo-se reduzida à sua verdadeira dimensão, a de uma potência
regional. Ficava agora à vista de todos que a grandeza da França
era uma ilusão, sustentada, em grande parte, pelo poder, até então, discreto da
Alemanha.
O abrandamento do crescimento económico e, em especial, a crise que atravessamos trouxeram à superfície as velhas divisões, egoísmos, como alguns dizem, e abalaram as perspectivas optimistas em que assentava o projecto europeu.
O abrandamento do crescimento económico e, em especial, a crise que atravessamos trouxeram à superfície as velhas divisões, egoísmos, como alguns dizem, e abalaram as perspectivas optimistas em que assentava o projecto europeu.
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