TRABALHO MAS COM DIREITOS
Fleming de Oliveira
É indiscutível que o trabalho desempenha um
papel de essencial relevância no homem social.
O trabalhador é
visto como pessoa responsável, honesta, íntegra e comprometida com a sociedade
e quem não trabalha (isto não é uma generalização, muito especialmente nestes
dificeis dias que vivemos), acaba por ser
reputado pelo amigo louro e de olhos
azuis como o oposto. No entanto, e algo paradoxalmente, algumas pessoas que
subiram na vida a pulso, como se costuma
dizer, são vistas com certa reserva pelos demais cidadãos que questionam impetuosamente
como, quando, onde e a quem a pessoa ganhou, roubou, subornou ou sonegou para aí
chegar tão alto ou tão depressa.
A sociedade portugues
aceita o sucesso com limites, que ultrapassados neste momento de desconforto
generalizado, leva a questionar a
integridade, honestidade e o comprometimento do cidadão, com ela mesmo.
Porém, ainda que
o trabalho ajude uma pessoa a tornar-se responsável e independente, a imagem de homem
trabalhador ainda tem e terá grande impacto aos olhos da sociedade deste
Portugal que somos.
A coberto do acordo com a
Troika, o Governo (muito
especialmente
o
anterior deu início a essa política) parece admitir, não rejeitar pelo menos, a
desvalorização do trabalho (em Direito penal isto seria rotulado como dolo eventual), seja através da
diminuição real dos salários, seja através do aumento do horário de trabalho,
seja através da redução das indemnizações, em suma, um empobrecimento que irá
ganhar uma dimensão mais significativa com os cortes nos Subsídios de Natal e
de Férias.
Empobrecimento
para quem trabalhou toda a vida, estabelecendo confiadamente um contrato com o
Estado, e que vê agora esse contrato não ser cumprido, com argumentos que não
compreende. Triste sorte!!!
Não, não me
reputo ser um incansável e empedernido esquerdista, mas não repudio entender esta
a ideia que tem justificado e possibilitado, através de um conjunto de medidas
de austeridade, uma brutal desvalorização do trabalho em prol dos interesses do
capital financeiro e do aumento de facto da exploração.
E,
entretanto, vamos continuar a ouvir doutoralmente que é preciso trabalhar mais
como a formiga que não a cigarra (o camarada
Vasco não faria um discuirso melhor, obviamente ainda que de âmbito oposto), que vivemos acima
das possibilidades e que é necessário ajustar (diminuir!!!) salários.
Mas o plano de desvalorização do trabalho não está a
ser executado apenas de forma direta no salário, como resulta por exemplo do
ataque à Segurança Social, o deteriorar de diversos apoios sociais, como o
apoio aos desempregados (subsídio de
desemprego e subsídio social de desemprego) e os abonos de família. A degradação duma parte do
salário e de direitos elementares pressionam o conjunto dos salários para baixo,
por via da chantagem social, a
expressão é dura mas rigorosa, e da pressão do desemprego.
Com as desculpas da crise, o discurso da
inevitabilidade assume especial relevância, e esta desvalorização do trabalho
representa uma perigosa regressão social.
Pelo caminho, o Poder envia algumas docinhos envenenados aos precários,
como o subsídio de desemprego para os prestadores a recibos verdes.
Em vez de resolver o problema de centenas de milhares
de portugueses a falsos recibos verdes, dá-se uma prendinha para as manter caladas
sem se acabar com essas contratações. É certo que este dinheiro lhes faz falta,
mas a nossa contestação não se resume ao subsídio de desemprego, outrossim a um
trabalho sem direitos.
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