AOS DIAS
CURTOS E CINZENTOS SUCEDEM-SE OUTROS PLENOS DE SOL E CALOR…
Fleming de OLiveira
Um amigo, pintor amador, diz-me que
quando o tempo de Outono começa a arrefecer e o dia a escurecer mais cedo,
apetece-lhe ficar em casa, numa espécie de preguiça que o convida a comer e
dormir mais, acompanhada de uma letargia e fadiga sem precedentes e
instabilidade do humor, que desaparecem com a chegada dos dias longos, quentes
e solarengos do Verão. E explica-o com as noites mais longas, os dias mais
curtos e cinzentos, com o correspondente menor número de horas de luz e
a inferior luminosidade em todo os sentidos, o que se revela determinante para si.
A luz influencia grandemente o seu relógio biológico e o seu hobby, os picos de humor, interferindo
nos ciclos de vigília e sono, em suma, na sua vida. A fadiga parece persistir,
mesmo quando dorme 8 ou mais horas, sendo que o sono não cumpre o seu papel
retemperador.
A perda de energia é, segundo o meu amigo, acompanhada
de dificuldades de concentração e de motivação. Também o apetite sofre
alterações, sendo frequentes os desejos vorazes a meio da manhã ou da tarde, o
que acaba por o conduzir a ganhos incontrolados de peso, que o irritam de
sobremaneira.
A ansiedade e a tristeza dominam, com
progressiva perda de interesse pelas atividades que outrora lhe davam enorme prazer,
como a tela e a paleta, o que torna difícil de gerir o quotidiano.
Calculo que a idade deste amigo, mais ou menos da
minha, parece desempenhar um papel relevante nestas reações, numa situação não
muito original.
Quando o
humor sofre alterações súbitas, com estes altos e baixos, pode estar
aberta a porta a conflitos nas relações sociais, com
superiores hierárquicos, colegas, familiares ou amigos próximos, como eu.
Estes picos de humor de cerca de meio ano de duração,
não são um exclusivo fruto da luminosidade do Inverno ou Verão, podendo
acontecer também por outras e variadas razões, como decorre destes dias tristes
e dificeis que se vivem em Portugal, que acarretam ansiedade, irritabilidade, agitação
ou insónia.
Uma coisa que hoje em dia é
impossível de ignorar é a famosa crise.
Está presente em todos os noticiários, na boca do povo, na mente dos nossos governantes e, muito especialmente, nas nossas. Estou disponível para abrir os braços às mudanças, mas não a mão dos meus valores. Olhemos para o lado: estamos a viver numa era em que pessoas matam numa briga de trânsito, matam por dez reis de mel coado, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura-o. Quem não o tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. As pessoas correm, são escravos do relógio, não conseguem mais ficar a ler um livro, ouvir música. Há tanta coisa para fazer que resta pouco tempo para sentir.
Está presente em todos os noticiários, na boca do povo, na mente dos nossos governantes e, muito especialmente, nas nossas. Estou disponível para abrir os braços às mudanças, mas não a mão dos meus valores. Olhemos para o lado: estamos a viver numa era em que pessoas matam numa briga de trânsito, matam por dez reis de mel coado, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura-o. Quem não o tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. As pessoas correm, são escravos do relógio, não conseguem mais ficar a ler um livro, ouvir música. Há tanta coisa para fazer que resta pouco tempo para sentir.
Se tudo correr bem, pelo menos o Poder assim nos
assegura, os benefícios irão surgir ao fim de algum tempo, a sensação de fadiga
crónica vai desaparecer e dar lugar à energia e alegria habituais, a
ansiedade vai-se desvanecer-se e a tristeza também, aumentando o
bem-estar.
Nunca devemos rir dos sonhos de outras pessoas,
nomeadamente sendo Poder, mas neste caso encará-los com alguma reserva.
Até que, finalmente, os pensamentos e os dias já não serão
tão cinzentos, e o bom tempo regressará em todos os sentidos.
A grande alegria no mundo é
começar. Em certo sentido, espero ter ainda tempo para o fazer, pois é bom
viver e viver é começar sempre, a cada instante.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo
que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma
melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do
fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta.
Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir
não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são
necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites,
aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.
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