quinta-feira, 4 de outubro de 2012


Os pais do antigamente,

Fleming de OLiveira

Achavam que os filhos tinham que crescer, desde logo, para poder entrar na vida dura e plena de desafios. Muitos pais de hoje, ao invés, gostariam que os filhos não crescessem.
Paradoxo? Afinal, crescer para quê? Para morarem sozinhos, trabalharem, passarem a pagar as contas, fazerem compras no supermercado! Mas casados terão filhos... para os avós cuidarem (que o diga a minha Mulher…).  Porque casar se podem namorar no carro, em casa ou até no quarto? Podem chegar à hora que quiserem da madrugada! Em casa dos pais, se o filho tem cama, mesa e roupa lavada, para quê ir à luta? Em casa dos pais não é necessário arrumar o quarto, fazer limpezas, recolocar as coisas no lugar, ajudá-los a descarregar as compras ou a mãe na cozinha. Então, por que ser adulto? Para ser responsável e ter que encarar a vida tão perigosa e incerta lá fora? Que maçada.
Os pais do antigamente exerciam forte autoridade sobre os filhos. Eram autoritários e reprimiam os desejos. Os pais de hoje recuam perante o poder crescente dos filhos, justificam-se com o argumento que doutro modo o filho sai de casa, temem a sua explosão emocional e serem mal interpretados pelos especialistas e vizinhos.
Resta-lhes a esperança de que a escola os eduque. Os pais que, com esforço, assumem a função de pai e mãe, tendem a sentir culpa, pois ao dizer um não, dão a impressão de serem prepotentes.
Conversas sobre a sexualidade era tabú. Hoje, muitos pais ainda resistem conversar sobre sexo, nomeadamente com as meninas. Parecem mais preocupados com a droga e as doenças transmissíveis do que em prevenir o crescimento do número de gravidezes precoces.
Antigamente os jovens entravam em conflito sobre valores sociais, políticos, económicos, religiosos, estéticos e comportamentais (brigavam pelo direito de deixar crescer o cabelo e vestir uma calça de ganga  rota e desbotada). Nós, que aspirávamos a revolução, éramos embalados pelo sonho de uma sociedade alternativa, ecológica, justa, igualitária, com um fundo musical de rock ou new age. As crianças e os jovens do início deste terceiro milénio, não vivem um sonho coletivo de mudança social. Outrossim um sonho subjetivo, tribal e plural. São mais propensos à discussão sobre assuntos menores do quotidiano como os games, amigos, namoro, adereços, do que os importantes temas, das décadas de 1960/70. Os pais mesmo esquerdistas ainda não conseguem conversar com os filhos os assuntos que eles, na sua época, consideravam importantes.
Antigamente os pais, de uma boa burguesia, criavam diretamente os filhos, para lhes dar uma boa educação. Com escola de massas, pareceu vingar a tese que esta era quem devia educar, para os pais poderem dedicar-se ao trabalho e/ou à carreira profissional. Neste entendimento, seria mais adequado e moderno deixar aos professores a educação da nova geração.
O resultado daquele discurso educacional levou a que os pais se desobrigassem de educar os filhos e a desorientada Escola haja perdido o seu principal munus, ser eminentemente agente ensinante.
Antigamente, as crianças acompanhavam os adultos nas suas atividades. Os pais comandavam diretamente ou por percetores a sua educação e exerciam ao máximo a autoridade, reprimindo muitos dos desejos dos filhos. 
Era comum ver crianças aprendendo cedo para seguir as pisadas dos pais, pois estudar não era considerado como o mais importante,  (especialmente as meninas). 
Atualmente as crianças precisam sair de casa para aprenderem coisas tão variadas como línguas estrangeiras, informática, artes, ou desporto. A criança para ter acesso a todo tipo de informação tem que frequentar uma escola, pelo que não se admite mais, que as haja as fora da escola. 
Como eu vou saber da Terra, viver a vida até o fundo,
se nunca me sujar? Quero ter barro nos pés.
Como eu vou lidar com pessoas, quero aprender o mundo!




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