Os pais do
antigamente,
Fleming de OLiveira
Achavam que os
filhos tinham que crescer, desde logo, para poder entrar na vida dura e plena
de desafios.
Muitos pais de hoje, ao invés, gostariam que os filhos não crescessem.
Paradoxo?
Afinal, crescer para quê? Para morarem sozinhos, trabalharem, passarem a pagar
as contas, fazerem compras no supermercado! Mas casados terão filhos... para os
avós cuidarem (que o
diga a minha Mulher…).
Porque casar se podem namorar no carro, em
casa ou até no quarto? Podem chegar à hora que quiserem da madrugada! Em casa
dos pais, se o filho tem cama, mesa e roupa lavada, para quê ir à luta? Em casa
dos pais não é necessário arrumar o quarto, fazer limpezas, recolocar as coisas
no lugar, ajudá-los a descarregar as compras ou a mãe na cozinha. Então, por
que ser adulto? Para ser responsável e ter que encarar a vida tão perigosa e
incerta lá fora? Que maçada.
Os
pais do antigamente exerciam forte autoridade sobre os filhos. Eram
autoritários e reprimiam os desejos. Os pais de hoje recuam perante o poder
crescente dos filhos, justificam-se com o argumento que doutro modo o filho sai
de casa, temem a sua explosão emocional e serem mal interpretados pelos especialistas
e vizinhos.
Resta-lhes
a esperança de que a escola os eduque. Os pais que, com esforço, assumem a
função de pai e mãe, tendem a sentir culpa, pois ao dizer um não, dão a impressão de serem prepotentes.
Conversas
sobre a sexualidade era tabú. Hoje, muitos pais ainda resistem conversar sobre
sexo, nomeadamente com as meninas. Parecem mais preocupados com a droga e as
doenças transmissíveis do que em prevenir o crescimento do número de gravidezes
precoces.
Antigamente
os jovens entravam em conflito sobre valores sociais, políticos, económicos,
religiosos, estéticos e comportamentais (brigavam pelo direito de deixar crescer o
cabelo e vestir uma calça de ganga rota
e desbotada).
Nós, que aspirávamos a revolução, éramos embalados pelo sonho de uma sociedade
alternativa, ecológica, justa, igualitária, com um fundo musical de rock
ou new age. As crianças e os jovens do início deste terceiro milénio, não
vivem um sonho coletivo de mudança social. Outrossim um sonho subjetivo, tribal
e plural. São mais propensos à discussão sobre assuntos menores do quotidiano
como os games, amigos, namoro,
adereços, do que os importantes temas,
das décadas de 1960/70. Os pais mesmo esquerdistas ainda não conseguem
conversar com os filhos os assuntos que eles, na sua época, consideravam
importantes.
Antigamente
os pais, de uma boa burguesia, criavam diretamente os filhos, para lhes
dar uma boa educação. Com escola de massas, pareceu vingar a tese que
esta era quem devia educar, para os
pais poderem dedicar-se ao trabalho e/ou à carreira profissional. Neste
entendimento, seria mais adequado e moderno
deixar aos professores a educação da nova geração.
O
resultado daquele discurso educacional levou a que os pais se desobrigassem de educar os filhos e a desorientada Escola
haja perdido o seu principal munus, ser eminentemente agente ensinante.
Antigamente,
as crianças acompanhavam os adultos nas suas atividades. Os pais comandavam diretamente
ou por percetores a sua educação e exerciam ao máximo a autoridade, reprimindo
muitos dos desejos dos filhos.
Era
comum ver crianças aprendendo cedo para seguir as pisadas dos pais, pois
estudar não era considerado como o mais importante, (especialmente as meninas).
Atualmente
as crianças precisam sair de casa para aprenderem coisas tão variadas como línguas
estrangeiras, informática, artes, ou desporto. A criança para ter acesso a todo
tipo de informação tem que frequentar uma escola, pelo que não se admite mais,
que as haja as fora da escola.
Como eu vou saber da
Terra, viver a vida até o fundo,
se nunca me sujar? Quero ter barro nos pés.
Como eu vou lidar com pessoas, quero aprender o mundo!
se nunca me sujar? Quero ter barro nos pés.
Como eu vou lidar com pessoas, quero aprender o mundo!
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