segunda-feira, 28 de março de 2022

ALCOBACENSE AMÉRICO d’OLIVEIRA, NA ROTUNDA (4-5 de OUTUBRO)

ALCOBACENSE AMÉRICO d’OLIVEIRA, NA ROTUNDA (4-5 de OUTUBRO)

 

 Américo d’Oliveira, propagandista da República, para cuja causa contribuiu com dinheiro, maçon e carbonário – natural de Alcobaça, pintor amador especializado em marinhas, quando foi radicar-se em Lisboa, por alturas de 1900, colocou um anúncio no Semana Alcobacense declarando que pretendia vender tudo o que aqui tinha, afinal o que recebeu do pai Bernardino Lopes de Oliveira, entretanto viúvo, que foi viver para Braga, com as 2 filhas – teve ação relevante já no dia 4 de outubro, na Rotunda ao lado de Machado dos Santos, que ao admitir o eventual falhanço do golpe, o incentivou com sucesso, permanecendo a seu lado, até à vitória se consumar. Efetivamente, as coisas não correram bem aos sublevados que se tinham concentrado na Rotunda. Perante a ausência dos principais dirigentes e em face dos boatos que começavam a fervilhar, alguns consideraram que se deveria levantar o acampamento.

 

Em 1908, Américo d’Oliveira, fundou em Alcobaça e custeou o jornal O Republicano, do qual terão saído apenas seis exemplares e tinha como principal redator Raul Proença, que vivia em Alcobaça. Este, figura cimeira do pensamento político português no primeiro quartel do século XX, marcou a intervenção cívica durante a I República, cujos vícios criticou. Proença combateu o sidonismo e a Ditadura Militar que, em 1927, o condenou ao exílio em Paris. Tendo regressado a Portugal em 1932 já acometido da grave doença mental que o levaria ao internamento no Hospital do Conde de Ferreira, no Porto, aí faleceu.

Um grupo de amigos e correligionários de Américo d’Oliveira, ofereceu-lhe no sábado, 21 de Janeiro de 1911, no Grande Hotel de Inglaterra, Lisboa – um dos mais conceituados da capital, situado na esquina da Praça dos Restauradores com a Rua do Príncipe, hoje Rua do Jardim do Regedor, e que com o 5 de Outubro, sofreu bastantes danos, embora tenha reaberto ao fim de poucos dias – um banquete de homenagem pelos serviços prestados à República, aquando do movimento que a implantou. Diversos brindes foram proferidos salientando a ação de Américo d’Oliveira, de quem o Ministro António José de Almeida, que assistiu ao jantar, frisou que era um dos mais heroicos combatentes da Revolução, ao qual a História haveria de fazer inteira justiça.

O semanário lisboeta Colonial, querendo prestar homenagem ao revolucionário Américo d’Oliveira, inseriu o retrato num dos seus números, fazendo-o acompanhar de um artigo a salientar a  coragem e determinação no decorrer do 4 de outubro, na Rotunda.  


Nos primeiros momentos da revolta, Machado Santos corre o acampamento e não encontra um oficial, a quem se pudesse entregar o comando.

Foi um momento de dolorosa angústia para o heróico marinheiro, republicano desde muitos anos e um doido pela grande ideia.

O que ele sofreu nesses momentos, ao ver que o movimento ia talvez fracassar, diante delle que estava ali resolvido a praticar todas as loucuras!

Olhou em volta de si e viu Américo de Oliveira, que procurava o mesmo que ele: uns galões de ouro.

Com a mesma ideia dirigem-se para outro.

-Estamos perdidos! Exclama Machado dos Santos. Estamos sós! Que fazer?

Américo de Oliveira exclamou, num ímpeto:

-Tocar a unir, e perguntar aos sargentos se aceitam o seu comando!

Machado dos Santos exultou, já não estava só, tinha ali ao lado um companheiro heróico. Silenciosamente, mas com grande decisão, caíram nos braços um do outro, e foi com uma voz potente de comando de Machado dos Santos mandou tocar a unir.

Felizmente, os heróicos sargentos aceitaram sem relutância o comando de um oficial da marinha, que nem sequer era combatente. De tal modo eles queriam ir para a frente!.

Américo d’Oliveira participou no 28 de maio de 1926, tendo sido um dos dois que, com Mendes Cabeçadas, foi ao Palácio de Belém parlamentar com Bernardino Machado, a entrega do poder. Foi o editor de Arquivo Nacional, que Rocha Martins dirigiu de 1932 a 1943, semanário que divulgava, aliás sem grande profundidade factos, acontecimentos, biografias e memórias de contemporâneos e de figuras de outras épocas, quase sempre marcadas pela controvérsia.

Partido Republicano não tinha delegação em Alcobaça, o que não impedia ação política por parte de membros ou dirigentes. O Centro Democrático Republicano apenas seria constituído em 1907, pelo que até aí os republicanos reuniam-se informalmente, na farmácia ou em casa de Natividade. Por isso Os abaixo assinados, constituídos em comissão para levarem a efeito a organização do partido republicano no concelho de Alcobaça, tomam a liberdade de convidar para uma reunião que se há-de efectuar no dia 25 do corrente, todos os cidadãos republicanos e maiores de 21 anos do mesmo concelho, a fim de se eleger a respectiva comissão municipal e encetar outros trabalhos concernentes á referida organização.

A reunião terá lugar em Alcobaça, à 1 hora da tarde na casa onde existiu a antiga fábrica de papel, à Levada, pertencente ao Sr. Francisco Xavier de Figueiredo Oriol Pena.

Alcobaça, 15 de Dezembro de 1906.

José Eduardo R. de Magalhães

Antonio de Sousa Neves

Santiago Perez Ponce y Sanchez

João Ferreira da Silva

Affonso Ferreira

Nota-São considerados cidadãos republicanos, além dos que se acham inscritos como subscritores do partido, todos quantos assinaram as mensagens de adesão enviadas ao comício de Leiria e ao banquete em homenagem aos deputados republicanos, e bem assim aqueles que, desejando aderir, compareçam á reunião do dia 25 e nessa ocasião se inscrevam no respectivo cadastro partidário, a fim de poderem votar na eleição da comissão municipal.

 

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