ALCOBACENSE AMÉRICO d’OLIVEIRA, NA ROTUNDA (4-5 de OUTUBRO)
Américo d’Oliveira, propagandista da
República, para cuja causa contribuiu com dinheiro, maçon e carbonário – natural
de Alcobaça, pintor amador especializado em marinhas,
quando foi radicar-se em Lisboa, por alturas de 1900, colocou um anúncio no Semana Alcobacense declarando que
pretendia vender tudo o que aqui tinha, afinal o que recebeu do pai Bernardino
Lopes de Oliveira, entretanto viúvo, que foi viver para Braga, com as 2 filhas –
teve ação relevante já no dia 4 de outubro, na Rotunda ao lado de Machado dos
Santos, que ao admitir o eventual falhanço do golpe, o incentivou com sucesso,
permanecendo a seu lado, até à vitória se consumar. Efetivamente, as coisas não
correram bem aos sublevados que se tinham concentrado na Rotunda. Perante a
ausência dos principais dirigentes e em face dos boatos que começavam a
fervilhar, alguns consideraram que se deveria levantar o acampamento.
Em 1908,
Américo d’Oliveira, fundou em Alcobaça e custeou o jornal O Republicano,
do qual terão saído apenas seis exemplares e tinha como principal redator Raul
Proença, que vivia em Alcobaça. Este, figura cimeira do pensamento político
português no primeiro quartel do século XX, marcou a intervenção
cívica durante a I República, cujos vícios criticou. Proença combateu o sidonismo e a Ditadura Militar
que,
em 1927, o condenou ao exílio em Paris. Tendo regressado a Portugal em 1932 já acometido da grave doença mental que o levaria ao
internamento no Hospital
do Conde de Ferreira,
no Porto, aí faleceu.
Um grupo
de amigos e correligionários de Américo d’Oliveira, ofereceu-lhe no sábado, 21
de Janeiro de 1911, no Grande Hotel de Inglaterra, Lisboa – um dos mais
conceituados da capital, situado na esquina da Praça dos Restauradores com a
Rua do Príncipe, hoje Rua do Jardim do Regedor, e que com o 5 de Outubro,
sofreu bastantes danos, embora tenha reaberto ao fim de poucos dias – um
banquete de homenagem pelos serviços prestados à República, aquando do
movimento que a implantou. Diversos brindes foram proferidos salientando a ação
de Américo d’Oliveira, de quem o Ministro António José de Almeida, que assistiu
ao jantar, frisou que era um dos mais heroicos combatentes da Revolução, ao
qual a História haveria de fazer inteira justiça.
O semanário lisboeta Colonial, querendo prestar homenagem ao revolucionário Américo d’Oliveira, inseriu o retrato num dos seus números, fazendo-o acompanhar de um artigo a salientar a coragem e determinação no decorrer do 4 de outubro, na Rotunda.
Nos primeiros momentos da revolta, Machado
Santos corre o acampamento e não encontra um oficial, a quem se pudesse
entregar o comando.
Foi
um momento de dolorosa angústia para o heróico marinheiro, republicano desde
muitos anos e um doido pela grande ideia.
O que
ele sofreu nesses momentos, ao ver que o movimento ia talvez fracassar, diante
delle que estava ali resolvido a praticar todas as loucuras!
Olhou
em volta de si e viu Américo de Oliveira, que procurava o mesmo que ele: uns
galões de ouro.
Com a
mesma ideia dirigem-se para outro.
-Estamos
perdidos! Exclama Machado dos Santos. Estamos sós! Que fazer?
Américo
de Oliveira exclamou, num ímpeto:
-Tocar
a unir, e perguntar aos sargentos se aceitam o seu comando!
Machado
dos Santos exultou, já não estava só, tinha ali ao lado um companheiro heróico.
Silenciosamente, mas com grande decisão, caíram nos braços um do outro, e foi
com uma voz potente de comando de Machado dos Santos mandou tocar a unir.
Felizmente,
os heróicos sargentos aceitaram sem relutância o comando de um oficial da
marinha, que nem sequer era combatente. De tal modo eles queriam ir para a
frente!.
Américo
d’Oliveira participou no 28 de maio de 1926, tendo sido um dos dois que, com
Mendes Cabeçadas, foi ao Palácio de Belém parlamentar com Bernardino Machado, a
entrega do poder. Foi o editor de Arquivo Nacional, que Rocha Martins dirigiu de 1932 a 1943, semanário que
divulgava, aliás sem grande profundidade factos, acontecimentos, biografias e
memórias de contemporâneos e de figuras de outras épocas, quase sempre marcadas
pela controvérsia.
Partido
Republicano não tinha delegação em Alcobaça, o que não impedia ação política
por parte de membros ou dirigentes. O Centro Democrático Republicano apenas
seria constituído em 1907, pelo que até aí os republicanos reuniam-se
informalmente, na farmácia ou em casa de Natividade. Por isso Os abaixo
assinados, constituídos em comissão para levarem a efeito a organização do
partido republicano no concelho de Alcobaça, tomam a liberdade de convidar para
uma reunião que se há-de efectuar no dia 25 do corrente, todos os cidadãos
republicanos e maiores de 21 anos do mesmo concelho, a fim de se eleger a
respectiva comissão municipal e encetar outros trabalhos concernentes á
referida organização.
A
reunião terá lugar em Alcobaça, à 1 hora da tarde na casa onde existiu a antiga
fábrica de papel, à Levada, pertencente ao Sr. Francisco Xavier de Figueiredo
Oriol Pena.
Alcobaça,
15 de Dezembro de 1906.
José
Eduardo R. de Magalhães
Antonio
de Sousa Neves
Santiago
Perez Ponce y Sanchez
João
Ferreira da Silva
Affonso
Ferreira
Nota-São
considerados cidadãos republicanos, além dos que se acham inscritos como
subscritores do partido, todos quantos assinaram as mensagens de adesão
enviadas ao comício de Leiria e ao banquete em homenagem aos deputados
republicanos, e bem assim aqueles que, desejando aderir, compareçam á reunião
do dia 25 e nessa ocasião se inscrevam no respectivo cadastro partidário, a fim
de poderem votar na eleição da comissão municipal.
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