terça-feira, 8 de março de 2022

TERMAS E PRAIA

 

TERMAS  E PRAIA 

 

A Câmara Municipal de Alcobaça, em inícios de 1890, aprovou a compra que o vereador J. Almeida e Silva fez de uma caldeira para os “Banhos da Piedade”, e registou, com apreço, a sua oferta para proceder e dirigir o respetivo assentamento.

Os Banhos da Piedade situam-se a cerca de dois quilómetros da vila, logo adiante à então Fábrica Fiação e Tecidos. O percurso, como se dizia empoladamente a publicidade nos jornais e na Farmácia Campeão, efetuava-se “entre uma verdura opulenta e sem tréguas dos montes de elevada estatura ou das planícies estendendo-se até onde a vista alcança, sendo um enlevo de que os olhos não despregam”. Mas, verdade seja dita, a estrada era muito má, e excelente para revolver o estômago…

 

As águas da Piedade gozavam, assegurava-se, de uma antiga e merecida fama, pois as suas qualidades terapêuticas, têm a recomendá-las uma larga e sólida reputação, dados os inúmeros casos em que provaram a eficácia em padecimentos como a dispepsia, escrófula (infeção nos gânglios linfáticos ou linfonodos submandibular e cervical), gota, reumatismo ou afeções uterinas, sem olvidar as manifestações hepáticas, úlceras atónitas, congestões, bem como inflamações do fígado e baço.

A esposa do conhecido comerciante alcobacense Júlio dos Santos Henriques, ao fim de cerca de dois meses de tratamentos aos achaques de dispepsia começou a sentir-se muito melhor, o que anunciou com satisfação a familiares e amigas que passaram a frequentar os banhos.

O Ten. Cor. João Serra Conceição, do quartel de Alcobaça, também frequentou os Banhos da Piedade para aliviar uma doença de fígado que bastante o apoquentava, o que levou que alguns dos seus colegas e subordinados os viessem a utilizar com proveito.

 

Os Banhos da Piedade não entravam em competição com os de mar. Os objetivos eram bem diferentes.

O hábito de ir a banhos de mar começou a desenvolver-se a partir da segunda metade do século XIX. Ramalho Ortigão escreveu que a questão “era um simples pretexto para a peregrinação das famílias alegres em sítios frescos”. A partir desta altura percebeu-se a importância de banhos e sol, como instrumento de prevenção e tratamento de certas maleitas, bem como o papel retemperador do espírito e corpo, tanto para adultos como para crianças. De acordo com o mesmo autor, “a praia, assim considerada é um claustro, um templo, onde se pratica uma religião, onde todas as mães se deveriam devotar fervorosamente durante alguns meses do ano ao futuro, que não é mais que a compleição, o temperamento, a energia e o vigor dos filhos. (…) As crianças regressam mais crescidas, mais pesadas, mais fortes, e as mulheres mais dignas, mais saudáveis, mais novas e mais belas”. (…)

No Oeste, a praia de banhos por excelência  era a Nazaré, sem prejuízo de alguns veraneantes fazerem piqueniques na Foz do Arelho/Lagoa de Óbidos e S. Martinho do Porto, ou na frescura de Tornada, aonde se deslocavam de comboio.

Chegado o Outono, terminada a época de banhos, a família regressava a casa e à rotina do dia-a-dia, até ao próximo ano, esperado ansiosamente.

 

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