TERMAS E PRAIA
A Câmara Municipal de Alcobaça, em inícios de 1890, aprovou a
compra que o vereador J. Almeida e Silva fez de uma caldeira para os “Banhos da Piedade”, e registou, com
apreço, a sua oferta para proceder e dirigir o respetivo assentamento.
Os Banhos da Piedade
situam-se a cerca de dois quilómetros da vila, logo adiante à então Fábrica
Fiação e Tecidos. O percurso, como se dizia empoladamente a publicidade nos
jornais e na Farmácia Campeão, efetuava-se “entre
uma verdura opulenta e sem tréguas dos montes de elevada estatura ou das
planícies estendendo-se até onde a vista alcança, sendo um enlevo de que os
olhos não despregam”. Mas, verdade seja dita, a estrada era muito má, e
excelente para revolver o estômago…
As águas da Piedade gozavam, assegurava-se, de
uma antiga e merecida fama, pois as suas qualidades terapêuticas, têm a recomendá-las
uma larga e sólida reputação, dados os inúmeros casos em que provaram a
eficácia em padecimentos como a dispepsia, escrófula (infeção nos gânglios linfáticos ou linfonodos submandibular e cervical), gota, reumatismo ou
afeções uterinas, sem olvidar as manifestações hepáticas, úlceras atónitas,
congestões, bem como inflamações do fígado e baço.
A esposa do conhecido comerciante alcobacense
Júlio dos Santos Henriques, ao fim de cerca de dois meses de tratamentos aos
achaques de dispepsia começou a sentir-se muito melhor, o que anunciou com
satisfação a familiares e amigas que passaram a frequentar os banhos.
O Ten. Cor. João Serra Conceição, do quartel
de Alcobaça, também frequentou os Banhos da Piedade para aliviar uma doença de
fígado que bastante o apoquentava, o que levou que alguns dos seus colegas e subordinados
os viessem a utilizar com proveito.
Os Banhos da Piedade não entravam em
competição com os de mar. Os objetivos eram bem diferentes.
O hábito de ir a banhos de mar começou a
desenvolver-se a partir da segunda metade do século XIX. Ramalho Ortigão
escreveu que a questão “era um simples
pretexto para a peregrinação das famílias alegres em sítios frescos”. A
partir desta altura percebeu-se a importância de banhos e sol, como instrumento
de prevenção e tratamento de certas maleitas, bem como o papel retemperador do
espírito e corpo, tanto para adultos como para crianças. De acordo com o mesmo
autor, “a praia, assim considerada é um
claustro, um templo, onde se pratica uma religião, onde todas as mães se
deveriam devotar fervorosamente durante alguns meses do ano ao futuro, que não é
mais que a compleição, o temperamento, a energia e o vigor dos filhos. (…) As crianças regressam mais crescidas, mais
pesadas, mais fortes, e as mulheres mais dignas, mais saudáveis, mais novas e
mais belas”. (…)
No Oeste, a praia de banhos por
excelência era a Nazaré, sem prejuízo de
alguns veraneantes fazerem piqueniques na Foz do Arelho/Lagoa de Óbidos e S.
Martinho do Porto, ou na frescura de Tornada, aonde se deslocavam de comboio.
Chegado o Outono, terminada a época de banhos,
a família regressava a casa e à rotina do dia-a-dia, até ao próximo ano,
esperado ansiosamente.
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