terça-feira, 24 de abril de 2012

LIDAR COM O (DES)EMPREGO

Fleming de OLiveira Por que é tão difícil lidar com o desemprego? Quando conhecemos uma pessoa, uma das primeiras perguntas que fazemos é: Onde é que vc. trabalha? O que é que vc. faz? Parece que muito do valor de cada um, encontra-se diretamente relacionado com o seu trabalho. O trabalho é a sua identidade. O que se fazemos torna-se no que se valoriza! Quem perde um emprego ou enfrenta uma mudança de carreira, muitas vezes sente-se como se tivesse perdido o valor. Lidar com o desemprego pode gerar uma profunda e insanável crise de identidade. M…. perdeu o emprego que tinha há vinte e cinco anos, depois que a fábrica foi lá para as bandas do Oriente. Enquanto trabalhava, tinha orgulho e satisfação (ia ver o Benfica e depois bebia um copito), valorizava a experiência, a longevidade da carreira e as capacidades. Agora, nada disso existia mais. De repente, aquelas coisas que tinham sido tão importantes, não valiam nada. Quando perdeu a carreira, M… sentiu-se como se tivesse perdido muito mais do que apenas um trabalho, ficou perturbado e com tão profunda depressão, que nenhum Valium o ajudou. M… deixou de estar certo sobre quem psassara a ser ou se tinha a capacidade de fazer alguma coisa. A auto-estima foi destruída. Qual é o valor da sua vida agora? A vida parecia sem sentido. A jornada para aprender a lidar com a perda de emprego foi, todavia, cheia de perda de algumas ilusões. M… perguntava-se se o Poder se preocupava com a sua situação. Mais de dois ou três anos depois de o País ter entrado no pior período de estagnação que conheceu, aconteceu uma coisa estranha e perturbadora no discurso político português. O Governo parece ter perdido o interesse pelos desempregados. De vez em quando a maioria, tal como a oposição, fala de emprego. Ou desemprego. Apesar disso, não se vislumbram medidas com o objetivo de criar emprego, planos com esse fim, pois a política (à portuguesa), de maneira geral, parece concentrada em reduzir a despesa. Os portugueses que não conseguem arranjar emprego ou se vêem obrigados a contentar-se com trabalhos menores ou a tempo parcial, quando o que queriam era empregos a sério e a tempo inteiro, acabaram por desistir. As coisas não seriam tão dramáticas se os que estão nesta situação, tivessem esperança de arranjar trabalho a curto prazo. A verdade é que o desemprego se transformou numa armadilha de que é difícil (impossível) escapar. Porque é que o Poder parece não querer saber disto? Parte da resposta pode ser que, enquanto os que estão desempregados tendem a continuar desempregados, os que ainda têm emprego sentem-se mais seguros que há um ano. Neste momento, o nosso tecido empresarial sofre com um baixo nível de contratações, e não propriamente com o alto nível de despedimentos (o que é diferente da cessação das relações de trabalho), por isso as coisas não parecem assim tão más, desde que não nos preocupemos demasiado com os desempregados. Acontece que as sondagens, mostram que os portuguess continuam mais preocupados com o emprego que com o défice, o que torna ainda mais surpreendente que, nos Corredores do Poder, se pense o contrário e que os argumentos usados para justificar a obsessão com o défice, não têm sido confirmados pela experiência. Por um lado, somos avisados que os mercados não vão voltar a apoiar Portugal, a não ser que cortemos na despesa de forma drástica e imediata. Por outro, foi-nos assegurado que a redução dos custos faria maravilhas pela confiança dos investidores (estranjeiros). No entanto, nada disso aconteceu nos países que adotaram políticas de austeridade. Mesmo assim, a obsessão com a redução da despesa continua em alta, sem que o Governo a ponha em causa. Estimado leitor e alcobacense, a próxima vez que ouvir um político (da maioria ou da oposição) dizer que está preocupado com o défice que põe em causa o futuro dos nossos filhos, lembre-se que o problema dos nossos jovens não é o défice, mas a falta de emprego. O que me leva a perguntar quando é que voltarão os nossos políticos a preocupar-se com essas centenas de milhares de nossos esquecidos.

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