segunda-feira, 30 de abril de 2012

QUESTÕES DE IDADE, FAMÍLIA e OUTRAS, ENFIM, (TECNOCRÁTICA) SOLIDARIEDADE SOCIAL

Fleming de Oliveira Longe vão os tempos em que os cuidados de saúde e higiene com os idosos eram prestados no calor da familia. Foi, ainda assim, com os nossos Avós que faziam parte integrante da família tradicional, a quem eram dispensados, naturalmente, o aconchego e o zelo possíveis. A família estava estruturada e preparada para isso, sendo a situação aceite no campo ou na cidade, num contexto de maior ou menor escassez de recursos. Antes de disparar o surto de urbanismo, a família tradicional era principalmente rural e agrupava, não raramente, três gerações. Na cidade, encontrava-se no seio de uma classe média, mais ou menos alta ou confortável. Com a cidade de habitações exíguas, a família viu-se reduzida ao núcleo mais elementar, desde logo, com a diminuição do número de filhos. O conceito de família, na sociedade portuguesa, deixou há muito de caber apenas no rótulo de tradicional, para se espalhar por outras formas de organização, desde homossexuais que têm a seu cargo filhos de anteriores relações, a mãe e pais solteiros, casais que conjugam filhos de anteriores relações com outros nascidos da nova relação. A sociedade portuguesa olha para as mais recentes formas de organização familiar, com um mixto de abertura e desconfiança, principalmente no que toca às mães solteiras e aos casais de homossexuais, cujo debate não encerrou, apesar de referendos. Com o passar dos tempos a estrutura foi-se alterando, com exigências e compromissos sócio-laborais a exigirem maior ocupação e dispersão dos braços, o que implicou que o idoso fosse sendo remetido para o isolamento do lar. O aumento do tempo médio de esperança de vida, acarretou para esta faixa etária a necessidade duma estrutura social mais sólida, com suporte administrativo e financeiro integrado no Estado-Social. Contudo este, pelo menos em Portugal, está longe de ter capacidade de resposta para todo o espaço nacional, além de que nem os Hospitais ou as Instituições de Solidariedade Social têm condições ou vocação para lidar com a situação. Perante este estado de coisas e com a população a envelhecer, os Lares de Idosos começaram a proliferar de Norte a Sul numa lógica de exploração ou de negócio como outro qualquer, sabe-se lá com que qualidade ou conhecimentos. O programa do governo socialista do Senhor Engenheiro, fez o reconhecimento da diversidade das situações familiares, o que implica o estudo e acompanhamento das mudanças em curso na família e a definição de tipologias de intervenção adequadas. Além disso, defendeu a consagração de políticas públicas determinadas por critérios de justiça social nomeadamente no que se refere à progressiva eliminação dos fatores que afetam todas as famílias em situações de grande vulnerabilidade social - as pessoas/mulheres sós, sobretudo idosos, as famílias numerosas pobres, as famílias em situação de monoparentalidade, as famílias com pessoas desempregadas, as crianças em situação de risco, as famílias imigrantes e famílias com pessoas portadoras de deficiência. Fez o reconhecimento, fraturou, insistiu e nada adiantou… Mais preocupante do que os Lares de Idosos (sem alvará), é a propagação de Casas (de idosos) Clandestinas, que acolhem pessoas sem reunir condições para tal. Trata-se de empresários, normalmente sem qualquer tipo de qualificações, que aceitam acolher em casa um, dois, três ou mais idosos a troco de uma mensalidade e que, muitas vezes os colocam a viver em caves, outros locais do género ou a repartir camas. As Autoridades Policiais, as Juntas de Freguesia, a Segurança Social (e muitos de nós), têm conhecimento desta triste realidade, o que nem por isso facilita uma atuação, dado só ser possível num Estado de Direito entrar numa casa com autorização do proprietário ou com mandado judicial. Nunca ninguém apurou quantas são estas casas que por aí existem, concretamente em Alcobaça, em que condições vivem os idosos. Não releva reportar às famílias a pesada quota-parte de responsabilidade no fenómeno, embora se reconheça que, assim ao proceder, ao deixarem os parentes nestes locais, livram-se duma incómoda preocupação no imediato. Se estivessemos no antigamente (e não me refiro ao tempo da outra senhora…), poderiamos afirmar que um idoso abandonado traduz o que há de mais sórdido, o desprezo para com o pioneiro fundador da família. Os nossos idosos, muitas vezes, são considerados como figuras gastas, um pesado e fastidioso encargo. Todavia, tendo o direito de exigir um lugar no seio da família, vêm-se obrigados, não raras vezes, a mendigar a migalha que sobra. Nalgumas sociedades ou famílias não apenas tribais, os idosos são considerados, como o Livro da Sabedoria, portanto, especialmente venerados. O idoso ao ser rejeitado, acelera o processo do seu envelhecimento. Por outro lado, muitas das alterações do comportamento, devem ser interpretadas como reação à vivência da desvalia da auto-imagem diretamente dependente da diminuição das capacidades funcionais e intelectuais. O idoso, tornando-se pouco a pouco mais frágil, tanto sob ponto de vista físico, como psíquico, fica cada vez mais dependente, num meio cada vez menos tolerante. A reforma é mal vista, na medida que é associada a morte social. Os colegas começam a desaparecer, os amigos e a família a afastar-se, e a surgir no medo e meio da solidão, a doença e a dificuldade de locomoção. O ser humano não é só biologia ou composto psicossomático, mas um projeto de vida que inclui corpo e espírito, tempo e, confio mesmo, Eternidade. A História é composta de alegrias e sofrimento, pelo que se impõe sensibilizar os mais jovens a estarem conscientes da conceção de velho, que amanhã tem de usar fralda, cadeira de rodas, algália e uma cama como cruz. Os Idosos e os Avós são personagens recorrentes em (com)textos que ocupam espaços importantes na televisão, particularmente nas novelas e nos programas humorísticos, pois é fácil explorar a sua dramaticidade, ao acentuar a teimosia, desorientação e impertinência. A familia tradicional está pois em crise, embora talvez pior que a crise, são os modelos alternativos que nos querem eleger como substitutos da verdadeira família, famílias monoparentais, mulheres com filhos gerados in vitro, pares de homossexuais a adoptarem crianças, famílias em que cada um dos membros é o que fica de outras famílias. Os que assim se encontram, tem os seus lobbies, querem reconhecimento social, jurídico ou económico, como se tratasse de famílias tradicionais, não aceitando que a situação é a corrução daquelas. O drama da velhice, é frequentemente retratado em reportagens de idosos abandonados/depositados em Lares. Todavia, numa hipócrita boa consciência, é vulgar que depois das imagens de abandono aonde há gente feliz sem lágrimas, sejam apresentados velhos, muitos velhos, que continuam a desenvolver atividades criativas, cantando e rindo... O Poder público-político tem de inverter a sua política familiar e deixar de gastar tanto do nosso rico dinheirinho em, pouco mais que, propagandear os malefícios da diminuição da natalidade e o rapidíssimo envelhecimento da sociedade portuguesa (com os correspondentes encargos na SS), elevado a um nível dos maiores da Europa. Respeitando a paternidade / maternidade responsável, devem estimular a natalidade, dentro do matrimónio, sim dentro do matrimónio, para que a sociedade se vá retornando, mais equilibrada. Os Lares de Idosos (ilegais) em Portugal movimentam muito dinheiro, embora pratiquem preços, ao que se diz, cerca de 15% ou mais, inferiores aos lares (legais), o que leva a que tenham uma forte procura de famílias menos abonadas, especialmente nestes tempos que correm. Têm sido recorrentes as notícias de Lares de Idosos (ilegais) encerrados coercivamente. Daqui do nosso jornal, lanço um alerta para os combater, pois que para além de não pagarem impostos (e por aí não são solidários perante a crise), frequentemente carecem de condições de higiene e segurança para uma qualidade de vida decente, embora não conheça nenhum caso (especialmente relevante) em Alcobaça. Estimado leitor e alcobacense, sempre que precisar de um Lar para um Idoso, procure um qure seja acreditado, consultando a Segurança Social, a sua Junta de Freguesia, que têm conhecimento de situações (irregulares), bem como disponíveis listas de lares (legais).
Mas o abandono não se traduz apenas nos casos de Lares de Idosos, ainda que legais. O número de idosos abandonados nos Hospitais não pára de aumentar, como os deixados na Urgência, familiares que desaparecem e não atendem os telefonemas das assistentes sociais ou vidas marcadas pela miséria, que acabam, enfim, numa cama de camarata de hospital. Mas também se registam casos de famílias que não levam os doentes para casa, quando o médico efetua a avaliação e diz que um idoso pode fazer lá a reabilitação, porventura, com necessidade de apoio domiciliário. Não os levam e vão protelando, tanto quanto possível, a permanência no hospital. Para quem fica, o sentimento de abandono será insuperável, impossível de imaginar por nós felizmente normais, pois nunca pensaram que os filhos ou outros familiares os pudessem deixar numa situação destas. E se a tudo isto acrescentarmos que isto acontece ou pode acontecer a uma pessoa que trabalhou uma vida inteira, fez os descontos para a S.S. e contribuiu, a seu modo, para a vida coletiva, ficamos sem saber qual é o conteúdo real que devemos atribuir à expressão solidariedade social, neste Portugal tecnocrático (mais preocupado com os números que com as pessoas) de 2012. A linguagem do político está cheia de palavras bonitas, utilizadas sem conteúdo substancial (fala-se muito das massas e menos do Zé…) e com a maior despudorada ligeireza. Certamente que estamos muito longe da sociedade justa e solidária que almejámos! E não venham com o argumento do Défice ou Imposições da Troica…

Sem comentários: