DEDICATÓRIA AOS MEUS
AMIGOS
Fernando Pessoa e FLeming de OLiveira
-Os amigos são para as ocasiões?
Não,
caros leitores os “amigos” são para
sempre.
A
amizade é um prazer, uma satisfação, um gosto. Não deve depender de favores ou
ajudas. Pede-se, dá-se, recebe-se,
esquece-se e, nesse caso, não se fala mais nisso.
São
para as ocasiões?
Costumamos
dizer que amigos de verdade são os que estão ao teu lado em ocasiões
difíceis...
Mas
não estou de acordo com essa antiga máxima popular! Os amigos verdadeiros são
os que estão a compartilhar a tua felicidade! Porque num momento difícil,
qualquer “Zé” se aproxima de ti. Mas
o teu inimigo jamais suportaria compartilhar a tua felicidade!
O
desvalor da amizade, tal como da solidariedade a que me referi há tempos neste
espaço de jornal, deve-se a uma persistente instrumentalização que tem sofrido.
É o perverso instrumento de cunhas, palavrinhas segredadas ao ouvido,
cumplicidades e compadrios. Por isso, essas amizades se fazem e desfazem como
se fossem circunstanciais tratos políticos ou comerciais.
Se
alguém “não corresponde”, se não
cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como “o mau” amigo, o “o ingrato” e sumariamente afastado. Tenho
necessidade de pensar e acreditar que os Amigos são com quem (não obstante a
distância) estamos em contacto. Podemos até gostar mais deles do que eles de
nós. Não me interessa, nunca encarei como questão de balança.
Os
amigos são úteis?
Não
caros leitores, não são úteis, têm mesmo de ser “inúteis”.
Bom,
tenho de explicar para não haver mal-entendidos e me possa ser permitido
continuar a colaborar com o Região de Cister, os amigos devem bastar só por si,
existir. O porquê, o onde e o quando não me interessam. A amizade não tem ponto
de partida, nem percurso, nem objetivo. É impossível lembrarmo-nos de como nos
tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vai ter essa relação.
É
por isso que dura para sempre, porque não contém expectativas nem planos, nem
ansiedade.
-"Um
dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e
momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angustia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...do companheirismo
vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado.
Seja pelo destino ou por algum desentendimento, cada um
segue a sua vida.
Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas
cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... os
dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais
raro.
Vamo-nos perder no tempo...
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
-Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e.… isso vai doer tanto!
-Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos
da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos
para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a
viver a sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes
que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus
amigos!"
-Este texto que acabo de transcrever e que utilizo como
cartilha, é de Fernando Pessoa, agradecendo desde já ao nosso Diretor Joaquim
Paulo tê-lo publicado pois embora seja um autor estudado no ensino secundário e
frequentemente matéria de exame de português, creio que a generalidade dos
alunos o desconhece. É pena porque contem uma verdadeira compilação de
sentimentos e comportamentos profundos e que só com o tempo e a idade se
percebem.
E
já estou hoje com Pessoa, relembro com a devida vénia mais este texto
muitíssimo elucidativo:
Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus
que se haviam zangado. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam
zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos
tinham razão. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e outro
outra, ou um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um via
as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério
idêntico ao do outro. Mas cada um via uma coisa diferente, e cada um portanto,
tinha razão.
Fiquei confuso desta dupla existência da verdade.
-Boas férias se ainda as não gozou.
Sem comentários:
Enviar um comentário