quinta-feira, 23 de abril de 2020

A ORQUESTRA TÍPICA E CORAL DE ALCOBAÇA E O SEU TEMPO


FLEMING DE OLIVEIRA





-A ORQUESTRA TÍPICA E CORAL DE ALCOBAÇA E O SEU TEMPO
-Maria de Lurdes Resende e a Canção Alcobaça, Belo Marques, Alves Coelho (Filho) e Silva Tavares


   




ALCOBAÇA-2020
















FICHA:

-AUTOR:
Fleming de Oliveira
-TÍTULO:
 -A ORQUESTRA TÍPICA E CORAL DE ALCOBAÇA E O SEU TEMPO
-Maria de Lurdes Resende e a Canção Alcobaça, Belo Marques, Alves Coelho (Filho) e Silva Tavares

-SECRETARIADO:
Mariana Anselmo
-1.ª EDIÇÃO DIGITAL-2020


-RESERVADOS OS DIREITOS CONFORME LEGISLAÇÃO EM VIGOR.
-É PROIBIDA A REPRODUÇÂO TOTAL OU PARCIAL SEM AURORIZAÇÃO DO AUTOR




























O AUTOR

  Fernando José Ferreira Fleming de Oliveira, nasceu no Porto, em 22 de fevereiro de 1945.
 Licenciou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em 15 de novembro de 1969.
  Foi Delegado do Procurador da República em várias comarcas.
  Prestou Serviço Militar na Guiné.
Vive e trabalha em Alcobaça como Advogado, desde 1974.
  Eleito, em listas do PSD, foi substituto Legal/Vice-Presidente da CMA (1976), Presidente da Assembleia Municipal de Alcobaça (1980), Deputado à Assembleia da República (1980) e Deputado Municipal (1984).
  Foi fundador, e autor dos estatutos de algumas importantes entidades do Concelho de Alcobaça, seu advogado e cofundador do PSD/Leiria e Alcobaça.
  Colabora regularmente em jornais e revistas, realiza palestras e conferências sobre temas históricos e faz crítica literária.

OUTRAS OBRAS

– LEVANTE-SE O RÉU
A difícil e honrosa arte de ser advogado de barra, na província
– DOM MAUR OCHERIL, W. BECFORD E A COZINHA DE ALCOBAÇA
Tradução do original francês, com comentários e notas
– RUMO À CIDADANIA (I)
Apontamentos de teoria política/Usalcoa
– RUMO À CIDADANIA (II)
Apontamentos de teoria política/Usalcoa
– NO TEMPO DE D. PEDRO, Dª. INÊS E OUTROS
Histórias e lendas que o tempo não apagou
– NO TEMPO DO MATA FRADES, VISCONDE DE SEABRA E OUTROS
A guerra civil, o mosteiro e o furto dos códices alcobacenses
– NO TEMPO DE REIS, REPUBLICANOS & OUTROS
A I República em Alcobaça e Portugal
– NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS
Alcobaça e Portugal
– NO TEMPO DE SOARES, CUNHAL E OUTROS
O PREC também passou por Alcobaça
– NO TEMPO DE PESSOAS IMPORTANTES COMO NÓS
50 anos da história de Alcobaça contada através de pessoas
– NO TEMPO DOS SUBMARINOS NAZIS NA COSTA PORTUGUESA
– NO TEMPO DOS BOERES EM PORTUGAL
Caldas da Rainha, Alcobaça, Peniche, Tomar, Abrantes e S. Julião da Barra









RESUMO:

A ORQUESTRA TÍPICA e CORAL de ALCOBAÇA, foi um exemplar caso de sucesso local e nacional, na década de 1960. Composta apenas por amadores beneficiou da colaboração desinteressada e estreita de personalidades relevantes no meio artístico e musical, como os Maestros Alves Coelho (Filho) e Belo Marques, Poeta Silva Tavares e a cançonetista Maria de Lurdes Resende, que popularizou a Canção Alcobaça. O seu repertório era música do Cancioneiro Popular Português e peças expressamente compostas para si. Com o desaparecimento de algumas daquelas personalidades, a ORQUESTRA não conseguiu resistir e acabou, deixando muitas e boas recordações que aqui vamos lembrar, com a colaboração de alguns elementos vivos ou seus descendentes.



ABSTRACT:

THE TYPICAL ORCHESTRA and ALCOBAÇA CORAL, was an exemplary case of local and national success in the 1960s. Composed only by amateurs, it benefited from the close and disinterested collaboration of relevant personalities in the artistic and musical environment, such as Maestros Alves Coelho (Filho) and Belo Marques, Poeta Silva Tavares and the songwriter Maria de Lurdes Resende, who popularized the Alcobaça Song. His repertoire was music by Cancioneiro Popular Português and pieces expressly composed for him. With the disappearance of some of those personalities, ORCHESTRA was unable to resist and ended, leaving many good memories that we will remember here, with the collaboration of some living elements or their descendants.





CAP. I

ERA UMA VEZ...
A
 ideia do criar em Alcobaça uma Orquestra Típica terá nascido numa noite de maio de 1956, quando veio atuar à vila, a Orquestra Típica e Coral de Rio Maior. Para Alcobaça, o objetivo seria a recolha, divulgação e preservação da música tradicional portuguesa, com enfoque se possível na região, através de um agrupamento amador constituído por uma orquestra de instrumentos tradicionais e eventualmente um coro. Foi tal o interesse suscitado que, como decorre de O Alcoa [1], confirmado por José António Crespo [2] e Fernando Manuel Zeferino [3], Couto de Pinho iniciou diligências com vista a organizar uma semelhante. Convidado para vir a Alcobaça o Maestro António Gavino [4] que, já havia criado agrupamentos semelhantes em Santarém [5] e Rio Maior,  no dia 11 de novembro de 1956, sentaram-se na última mesa, do lado esquerdo de quem entra no Café Restaurante Trindade, além de Couto de Pinho e António Gavino, os alcobacenses Manuel Tomás Correia, Fernando Manuel Zeferino [6], Leite Rodrigues e Francisco Ramos André [7], isto é, as pessoas a quem a vila ficará a dever a criação da Orquestra Típica e depois Coral de Alcobaça/O.T.C.A..
Foi este o momento tido mais tarde, como o fundador de um agrupamento de características populares, composto por dedicados e apaixonados artistas, na maioria sem formação musical, que atingiu rapidamente muito interessantes e surpreendentes momentos e foi embaixador de Alcobaça no País, durante cerca de 10 anos. Como resultado dessa reunião de pouco mais de uma hora, iniciada sem programa e unicamente como troca de impressões, o maestro Gavino marcou para a terça-feira seguinte, o primeiro ensaio. Ninguém poderia fazer ideia do impacto que a iniciativa iria assumir em termos sociais e musicais a nível local e a nível nacional. Reuniram-se os elementos fundadores na sede do Rancho do Alcoa, com o maestro Gavino que se fez acompanhar de dois violões baixos da Orquestra de Rio Maior. Aquele, daí em diante, passou a ensaiar duas vezes por semana. Não recebia honorários (como se verá referido de novo por Fernando Manuel Zeferino), e deslocava-se de Rio Maior aonde vivia, utilizando a boleia ou mesmo camionetas de carga, para não sobrecarregar a coletividade ou a sua bolsa. As primeiras despesas foram suportadas pelos fundadores [8], entre outros os que na tarde de 11 de novembro, se sentaram à mesa do restaurante. Tempos depois, ainda na euforia inicial, foi pensado mandar fazer um tampo de mármore com uma inscrição alusiva, na última mesa do lado esquerdo de quem entra no Restaurante Trindade. Para tal, foi solicitada a boa vontade do proprietário Alfredo Trindade, que subscreveu a sugestão, e da sociedade arrendatária, que nada disse. Porém a ideia acabou por não vingar. Mais de 60 anos decorridos fica aqui esta recordação.
Correndo a notícia da intenção de criar uma Orquestra Típica, não tardaram de pronto os que profetizaram o fracasso. Apesar das dificuldades de quem não possui fundos e, portanto, partia do nada, os ensaios começaram ao ritmo de dois por semana, na sala do Rancho ou na sede da Banda e o número dos executantes foi crescendo com a adesão de músicos nos arredores, que muitas vezes a pé se apresentavam irmanados, na mesma vontade. Foram muitas as caminhadas para a Banda e Rancho. Quantas vezes o Fernando Manuel Zeferino foi de motorizada à Vestiaria buscar o acordeão que trazia com fenomenais equilíbrios? E quantas depois de levarem à Lameira o acordeonista Luís Domingues Lopes, houve às tantas da noite que subir a ladeira do hospital, empurrando furgoneta? Recordações!
Foi admitido efetuar ensaios gerais fora da vila, nos arredores, com entradas pagas. Todavia, foram encontradas insuperáveis dificuldades, pois o ensaio geral acarretava despesas de adaptação e ornamentação do recinto, na maior parte das vezes ao ar livre, nada conveniente para uma boa audição. Não obstante a modalidade de ensaio geral ser uma boa propaganda, a ideia abandonada.
O C.A.A.C. foi criado por Alvará do Governo Civil de Leiria, de 5 de agosto de 1957, sendo a sede inicial uma dependência da casa do radiologista, Dr. José Nascimento e Sousa, que a cedeu gratuitamente. Foram seus fundadores Francisco Ramos André, Fernando Manuel Zeferino, José António Leite Pacheco Rodrigues e José Couto de Pinho, e contou com a colaboração de António Gavino. Em 1959, o C.A.A.C. transferiu-se para a Rua Alexandre Herculano, após se ter fundido com Associação Recreativa Alcobacense que ali tinha a sede.
Legalizada a associação e dispondo de estatutos, passou a haver possibilidade de apelar a ajudas oficiais, nomeadamente da Câmara Municipal. Fernando Manuel Zeferino [9] informou que os primeiros diretores foram os Srs. Eng.º João Brito, Camilo M. Bento, Abel Santos, José Sineiro Canha e eu, como Diretor da Secção da Orquestra.
A O.T. era apenas uma secção do C.A.A.C., mas como veremos veio a atingir maior notoriedade do que a associação mãe. De facto, a O.T. absorvia por completo, as atenções da Direção do C.A.A.C. e quando aquela acabou arrastou este.

Com 15 anos, Maria Fernanda M. Duarte carcereiro [10], sem saber uma nota de música, entrou como contralto [11] para o coral (após uma brevíssima avaliação por António Gavino), pois tinha umas amigas que lhe diziam que o ambiente era agradável, apesar de haver menos rapazes que raparigas. Já pertencera ao Rancho do Alcoa e aos Serranitos. Havia completado a 4ª. classe, trabalhava na Casa Espanhola (à Pissarra) com um salário muito pequeno, estabelecimento que vendia chapéus e guarda chuvas. Em Alcobaça não havia diversões, salvo cinema duas vezes por semana, e o ordenado não lhe permitia mais extravagâncias, que um bailarico animado por concertina ou acordeão. O seu horizonte era muito restrito e pouco conhecia para além da Nazaré, pelo que a O.T.C. era a hipótese de ver um mundo que supunha glamoroso e divertido.
Segundo Fernando Manuel Zeferino [12] entre os executantes, há-os das mais variadas profissões, desde estudantes até carpinteiros, passando pelos bancários, serralheiros, empregados de comércio, etc. As idades são também diferentes, porquanto o mais novo tem 14 anos e o mais idoso 64. Cerca de 30% dos instrumentos são já propriedade do Círculo.









CAP.II

-PORTUGAL (E ALCOBAÇA) NA DÉCADA DE 1960-
-A EMIGRAÇÃO PARA A EUROPA-
O
 Brasil foi durante largos anos, o principal destino de emigrantes portugueses e manteve essa posição até inícios de década de 1960. Não obstante dedicarmos aqui uma atenção especial à emigração para França, têm cabimento umas breves notas sobre a emigração para este destino. A característica geral da emigração para França residiu no ritmo de crescimento que apresentou, ou seja, de umas poucas centenas em 1950, passou para bastante mais de 100 000, vinte anos mais tarde.
Durante as décadas de 1960 a 1980, Portugal sofreu reestruturações sociais, graças a este fluxo emigratório. Algumas das suas causas prendem-se com o opaco regime vigente, a pobreza congénita e as dificuldades de emprego especialmente nas zonas rurais e suburbanas, obrigando muitos portugueses e alcobacenses a procurar melhores condições de vida na Europa, Venezuela, E.U.A ou Brasil, assim como nas províncias ultramarinas. O movimento nos anos de 1950, especialmente para o Brasil e América, foi substituído pela emigração europeia. A partir de 1963, as saídas para França ultrapassaram as do Brasil, pois desde a década de 1950 a reconstrução da Europa exigia muita mão-de-obra, havia a proximidade geográfica, a facilidade em atravessar as fronteiras, normalmente através dos Pirenéus, a possibilidade de manter contacto próximo com as origens, já que os emigrantes vinham de férias, e a esperança de com as poupanças fruto de duro trabalho, poderem gozar reforma na casa que tinham mandado construir na Terra. O desenvolvimento económico dos países mais desenvolvidos do norte e centro da Europa e abertura do mercado de trabalho, apelava assim aos emigrantes a rumarem para fora.
Foram milhares os portugueses, e muitos alcobacenses que entre finais dos anos de 1950 e início dos anos de 1970, passaram a salto as fronteiras para chegar a França ou outros destinos, recorrendo a angariadores, passadores, e depositários do dinheiro da viagem. Os passadores que se dedicavam a esta atividade faziam-na como negócio, embora também os houvesse que a faziam de forma mais ou menos pontual, para  melhorarem a vida, uma vez que era serviço pago. O papel dos intermediários, mesmo na emigração clandestina, inseriu-se em ações de sobrevivência de uma população que vivia com muitas carências, que viabilizou a mulheres saírem do muito fechado ambiente doméstico e a jovens uma escolaridade que lhes era inacessível.
Havia várias formas de fazer o pagamento, como recordam João (…) e mulher F (…) que foram a salto para França, de onde regressaram reformados e com algum pecúlio decorrente da exploração de um restaurante [13]. Como outros, utilizaram o sistema da fotografia rasgada, em que uma parte do dinheiro era entregue no início da viagem e a outra quando o emigrante enviasse uma carta a dizer que chegou ao destino, inserindo metade de uma fotografia para que em Portugal a pessoa que ia pagar a colasse com a outra metade que tinha guardado. Esta forma de transação, acabava por conferir alguma segurança ao emigrante sobre uma viagem incerta, pois havia uma boa possibilidade de ser intercetado, preso e ter de voltar para trás.
Abílio (…), hoje (2020) com 72 anos, chegou a salto à gare de Hendaia/França, em meados da década de 1960, com a mulher grávida de seis meses e sem saber que rumo deviam tomar, tendo encontrado conhecidos foram para o leste de França. Aí entregaram-nos a um indivíduo das redondezas da terra que os ajudaram, embora obrigados a pagar-lhe o aluguer das camas, o que acharam imoral e nunca esqueceram.
José (…), diz que foi obrigado a pôr-se a milhas por ter sido apanhado com o Avante nas mãos, acabando por ficar por França onde foi operário, mecânico, sindicalista (não comunista), e correspondente de um jornal o que fazia gostosamente,pois os jornais locais eram um dos grandes elos de ligação entre e com os emigrantes.
Marinho (…), enquanto esteve em França assinava O Alcoa, mas cancelou a assinatura quando regressou, pois passou a saber das notícias ao vivo. O Alcoa e outros jornais locais têm perdido muitos assinantes cuja ligação à terra se vem esvanecendo e não se transmite aos filhos que muito pouco contactos mantêm com a terra dos pais.
A emigração, é uma enorme história de alegrias e sofrimentos, de partidas e chegadas. Em Alcobaça a sua imagem também era uma presença constante. Partia-se para descobrir novas terras e gentes, mas, principalmente, para trabalhar e melhorar a condição social. De carro, camioneta ou a pé, por estradas secundárias, montes ou ribeiras, quase sempre de noite, com uma mala de cartão assim foram muitos portugueses e alguns alcobacenses, que registamos. Era uma saída, para que a vida não fosse mais a mesma, para contrariar o destino, para vencer a miséria do trabalho à jorna ou na fábrica. Muitos não conseguiram emprego, alguns foram enganados por passadores sem escrúpulos, outros viveram vidas de que se envergonhavam de contar (e em Portugal recusariam), alguns tiveram sucesso e voltavam a Portugal nas vacances, em carros luzidios e bonitos (se necessário  alugados, pois há que manter as aparências…), para reabastecer a alma.
Os emigrantes que davam o salto, eram perseguidos pela Guarda Fiscal no campo, em inspeções persecutórias aos autocarros ou automóveis. Eram agentes do Estado que fazia satisfeito as contas com o que enviavam para as famílias, velhos, mulheres e crianças, que esperavam a ajuda para enfrentar a vida difícil que tinha expulsado os entes queridos.
O Professor Vitorino Magalhães Godinho considerou a emigração uma constante estrutural da demografia portuguesa, cujo volume de saídas atingiu números sem precedentes, entre meados do século XIX e a década de 1970 do século XX. E mesmo que esse tipo de fluxo se tenha atenuado ou alterado, subsiste a diáspora portuguesa, com mais de 4,5 milhões de nacionais e luso-descendentes, espalhados por cinco continentes, avivada pelas remessas que continuam a chegar, pelas comunicações telefónicas, televisivas ou meramente postais, pelas visitas de saudade que animam e transformam o verão de tantos lugares de Portugal. Se é verdade que Portugal se transformou, no início dos anos de 1990, num país de imigrantes, não é menos verdade que continua a ser um país de emigrantes. Afinal, todos têm os tios da América, os irmãos do Brasil, os primos da França, do Luxemburgo, da Alemanha ou os amigos da Inglaterra. Se nos nossos dias, a emigração assume um carácter bem menos estrutural na demografia portuguesa, ela continua a marcar o imaginário coletivo. Entre finais dos anos de 1950 e início dos anos de 1970, mais de um milhão e meio de portugueses abandonaram o país. A França que foi o destino dominante, passou a ser uma referência nesta história. Transporta-nos do Portugal de Salazar, Caetano e outros, politicamente fechado e marcadamente rural (mesmo nas zonas suburbanas), onde a transição para uma economia moderna não conseguia criar um número suficiente de empregos, para o destino francês onde a expansão económica exigia o recrutamento de trabalhadores para funções pouco qualificadas na indústria transformadora, na construção civil ou no emprego doméstico (as concierges).
As experiências da emigração clandestina, o funcionamento das redes de recrutamento baseadas em conterrâneos com mais ou menos escrúpulos, as dificuldades de alojamento e a mobilidade social das mulheres migrantes, estão bem presentes na memória de muitos compatriotas e em particular alcobacenses. A seguir à Guerra, a reconstrução europeia fez-se com base em políticas de recrutamento ativo de trabalhadores do sul da Europa, pelo que as portas se abriram à emigração. O atraso de Portugal, os entraves à modernização da agricultura, o início da guerra de África e o rê endurecimento político do regime, empurraram para fora do país, os camponeses e suburbanos sem perspetivas e cansados de uma vida de miséria. Em apenas 10 anos mais de um milhão e meio de pessoas saiu. Dessas, perto de um milhão foi para a França. A salto, atravessavam a Espanha e os Pirenéus e instalavam-se nos bairros de lata, os bidonville da cintura de Paris, de que Champinhy foi um triste exemplo. Os emigrantes eram provenientes, na sua grande maioria, do Norte e Centro de Portugal, pois era nestas áreas que existindo o minifúndio, se concentrava a maioria da população rural. Inicialmente a emigração foi composta por homens e só posteriormente a mulher passou a assumir um papel relevante ao ir para o estrangeiro. A partir dos anos de 1960, famílias inteiras rumaram à Europa, conferindo à emigração, um carácter mais duradouro, nalguns casos mesmo definitivo. De França mandavam saudosas cartas, muitas delas escritas por um compadre que sabia algumas letras e onde se metiam alguns francos para ajudar a família, até esta se puder ir juntar. O campo ficou com pouco pessoal, e os patrões tiveram de começar a pagar outros salários. A emigração dos anos de 1960, transformou aldeias que se passaram a vestir e falar à francesa, a maior parte do ano se encontravam a sonhar com o regresso dos emigrantes que traziam agitação, azáfama, alegria, algum dinheiro no Natal e no Verão. Estes queriam aproveitar o curto período de férias para casar, batizar os filhos (valorizavam ainda as práticas religiosas), ir a festas e ver a família.
A entrada de Portugal na C.E.E. facilitou a vida dos emigrantes, que se enraizaram nas terras de acolhimento. As casas ficam vazias durante o ano, a terra, enfim, vai desertificando. Hoje, muitos não querem regressar, mesmo os mais velhos, apesar das saudades como portugueses de sete costados, pois sentem que, ao fim de tantos anos, também pertencem aquela terra. Lá tiveram filhos, netos, a integração na estranja.
-A GUERRA EM ÁFRICA-
O início deste período da vida nacional ocorreu em Angola, ao que se diz a 15 de Março de 1961, na zona que viria a ser conhecida por Zona Sublevada do Norte, correspondente aos distritos do ZaireUíje Quanza-Norte. O Estado Novo nunca reconheceu a existência de uma guerra, considerando que os movimentos independentistas eram só terroristas e que os territórios não eram colónias, mas províncias e parte integrante de um Portugal do Minho a Timor. Durante muito tempo, muito da população portuguesa, graças à censura, viveu na ilusão de que em África, não havia uma guerra, mas apenas ataques de terroristas mancomunados com potências estrangeiras. Com ou sem auto-de-fé, a vida social e cultural portuguesa poucas vezes deixou de permanecer controlada e bloqueada pela censura, bem como de outros afrontamentos à Liberdade de Expressão e de Pensamento.
Internamente, o governo agia junto dos militares e população em geral reforçando-lhes o moral, transmitindo a ideia de que o combate era uma causa justa, socorrendo-se da exaltação patriótica e nacionalista. No início do conflito, Portugal não estava preparado, ao nível social e legislativo, para prestar apoio em caso de morte ou ferimento dos militares e suas famílias. Foram criados a Secção Feminina da Cruz Vermelha e o  Movimento Nacional Feminino, este por iniciativa de Cecília Supico Pinto, apoiado por  Salazar e pela Conferência de S. Vicente de Paulo.
Maria Raquel Guerra Ribeiro de Almeida, da Benedita, integrou o Movimento Nacional Feminino, onde teve papel meritório. Na Vila de Alcobaça, a sede do M.F.N. era em casa de Alberto Neves Hipólito onde se faziam as reuniões, se tratavam dos contactos com África e se expediam encomendas. Podem-se referir, entre outras senhoras do M.N.F., Maria Fernanda Reis Oliveira e Joana/ Joaninha Ferro.
Encontrou acolhimento no concelho de Alcobaça a campanha levada a efeito pelo M.N.F para angariação de fundos com vista ao Natal do Soldado Português de 1963 e que rendeu a quantia de 10.600$00 tanto mais que muito poucas famílias não tinham filhos em África. Integrada na campanha realizou-se no dia 16 de dezembro uma missa por intenção dos militares em serviço no Ultramar, à qual assistiram numerosas familiares dos soldados. A Filarmónica Maiorguense colaborou nesta iniciativa.
Exm.ª Comissão Concelhia do Movimento Nacional Feminino Alcobaça:
Encontra-se a Sociedade Filarmónica Maiorguense, com sede em Maiorga (Alcobaça), em reorganização e, como é natural, com absoluta necessidade de adquirir fundos. Para isso, tem levado a efeito alguns bailes.
Não obstante o aparente aspeto festivo que atravessa, não esquece aqueles que por Portugal, e consequentemente por todos nós, se batem no nosso Ultramar. Sem embargo das nossas muitas dificuldades e necessidades, não quis ficar indiferente às várias Campanhas que esse Movimento, bem como a Cruz Vermelha e outras entidades, têm levado a efeito a favor do Soldado Português.
Assim, e com o nosso propósito anunciado com antecedência como se prova com o programa anexo, realizámos na nossa Sede uma festa, cujo lucro importou em 1.290$00 (mil duzentos e noventa escudos).
É esta importância que, temos a honra de remeter a V. Exª, agradecendo que a mesma seja, única e exclusivamente, utilizada em benefício do Soldado Português em serviço no Ultramar.
Apresentando a V. Ex.ª os protestos da nossa muita consideração, subscrevemo-nos,
Pela Comissão Organizadora:
Manuel Sousa Oliveira, Mário Pereira Lopes, José Ferreira Matias, José dos Santos Alexandre e Joaquim de Sousa Matias [14].

A Guerra de África, foi motivo de emigração/fuga de alguns portugueses em idade militar. O fenómeno dos faltosos cruzou-se com o da emigração, sendo que uma boa parte destes jovens não estavam apenas a fugir da guerra, mas também da falta de perspetivas, ou seja, a guerra era por si mais uma motivação para emigrar.
Luís (…), quarenta e tais anos depois, diz que recusou o serviço militar e a mobilização não tanto pelo facto de reconhecer a legitimidade dos povos africanos à independência, porque embora eu tivesse essa consciência, não era bastante para justificar de todo desertar das Forças Armadas.
E acrescentou que não queria combater por uma causa que não achava justa. Por outro lado, não via com bons olhos um conflito que tinha deixado marcas nos meus amigos que tinham ido para a guerra. Nunca foi político, mas esta era uma guerra que não fazia sentido para si e grupo de amigos. Não por uma tomada de posição política, mas porque de um modo geral, os jovens tinham anseios de liberdade.
A questão dos desertores ainda divide a sociedade portuguesa, quer ao nível político, da sociedade e das famílias, porque o desertor, em termos militares, é um marginal.
Os jovens empenhados politicamente no P.C. eram aconselhados a não fugirem, porque a luta ideológica fazia-se dentro dos quartéis.
-A BANDA DE ALCOBAÇA-
A Banda de Alcobaça, que renasceu há anos [15], foi fundada por Eurico Pereira de Araújo Rosa [16], João Sanches da Silva, Alberto Rodrigo Aurélio, Artur Rodrigues de Oliveira, António Martins Marques, José dos Santos Calçada, Estevão Soares Prudêncio e Joaquim Silvério de Carvalho, segundo reza a história, no dia 19 de março de 1920. Inicialmente era composta por cerca de vinte alunos. A Banda de Alcobaça que surgiu depois de desaparecidas em 1912 a Filarmónica Alcobacense e a Real Fanfarra (1900-1912 e que só utilizava metais), nunca teve vida fácil, trajava à maruja, na tradição da Real Fanfarra, e desfilava garbosamente perante o agrado dos conterrâneos e realizava frequentes espetáculos.
-A SOCIEDADE FILARMÓNICA DE PATAIAS-
A 15 de Julho do ano de 1877, foi fundada a Sociedade Filarmónica de Pataias que permaneceu com esse nome até 31 de maio de 1958, em que passou a chamar-se Sociedade Filarmónica Recreativa Pataiense. Foi na década de 1950 que se pensou na construção de sede própria, sendo lançada a primeira pedra a 1 de janeiro de 1957 e inaugurada a 12 de julho de 1959. Nesse período a Banda foi composta apenas por executantes locais, passando alguns deles a maestros e só mais tarde foi contratado um maestro não natural de Pataias, reformado do exército pelo que aquela passou a tocar mais peças de compositores provenientes da área militar. Entre 1969 e 1971, por falta de músicos e de dirigentes a Sociedade sofreu um interregno. Em 1977, promoveu-se a celebração do seu centenário, tendo sido efetuada uma reportagem pela R.T.P. com o jornalista Fernando Pessa [17]. Com a criação da Escola de Música houve uma maior afluência de jovens, alguns dos quais frequentavam o Conservatório. No campo cultural, a Sociedade acolheu grupos de contradanças com atuações, nomeadamente nos desfiles de Carnaval [18].
-A BANDA FILARMÓNICA VESTIARIENSE-
Na Vestiaria foi fundada a 1 de junho de 1906, a Banda Filarmónica Vestiariense Monsenhor José Cacella, por dissidentes da Real Fanfarra de Alcobaça. O nome presta homenagem o pároco da freguesia que foi regente da banda entre 1908 e 1910, sendo sua a iniciativa da construção da coletividade. Teve como primeiro maestro José Filipe e, mais tarde, o filho Joaquim Filipe, aos quais sucederam outros salientando-se Marques Figueiredo que impulsionou a fundação da escola de música, constituída, na sua maioria, por elementos masculinos. Inicialmente, a Banda era composta por doze músicos, contando atualmente mais de quarenta, muitos dos quais femininos. Em 1961, obteve um ponto alto do seu historial ao posicionar-se no primeiro lugar da terceira categoria do Concurso Nacional de Bandas. Sob a orientação do capitão Hélio Luís Salsinha Murcho, chefe da Banda da Força Aérea Portuguesa, internacionalizou-se, em 1993, em França, na Côte d'Azur. Usa uma farda composta por casaco, calça, gravata e boné azuis-escuros e camisa branca, para os homens. As senhoras, vestem saia, casaco, gravata e chapéu azuis-escuros e blusa branca.
-A SOCIEDADE FILARMÓNICA TURQUELENSE-
A Sociedade Filarmónica Turquelense, foi fundada em 1 de dezembro de 1913. Embora a ideia tenha nascido da vontade de vários turquelenses, foi José Diogo Ribeiro [19] quem proporcionou os meios, comprando o instrumental da Real Fanfarra de Alcobaça extinta por essa altura, cedendo espaço no seu celeiro para os primeiros ensaios e incentivando o filho Cláudio Ribeiro e o sacristão  Joaquim Paulo a ministrarem aulas de música, que redundaram na primeira apresentação pública em 1 de dezembro de 1914. Desde janeiro de 2016, com o Maestro Samuel Pascoal, a Filarmónica Turquelense, tem vivenciado uma fase de renovação e acompanhamento das novas tendências musicais, mantendo uma escola de música com um corpo docente ativo.
-A SOCIEDADE FILARMÓMICA MAIORGUENSE-
A Sociedade Filarmónica Maiorguense, apresentou-se pela primeira vez em público no dia 1 de janeiro de 1884. De então para cá, participou em milhares de Festas/Arraiais Populares, Encontros de Bandas, Touradas e Concertos, dentro e fora do país. Entre os locais por onde passou, destacam-se Paris e a Côte D'Azur e, em Portugal, entre outras, as cidades de Lisboa, Tarouca, Almeirim, Azeitão. A Banda teve como grande Presidente e impulsionador António Barbosa Guerra [20] e como maestro Joaquim Fernando Caineta [21]. Grande parte dos elementos tem apenas a formação musical que adquiriram na escola de música. Contudo, há os que estudam no Conservatório, são professores de música, maestros, havendo até quem toque na Banda da Força Aérea.
-AS NOSSAS BANDAS-
As bandas de música são um fenómeno indissociável da cultura popular portuguesa. A O.T.C. não queria ficar de fora, não receava meças na música popular que pretendia fazer, outrossim marcar presença e deixar marca em Alcobaça, já que não havia a sua Banda. Nos últimos dois séculos, as bandas de música através das respetivas escolas, foram os conservatórios populares, responsáveis pela preservação dum importante património e pela elevação da cultura musical de um povo que desta forma teve acesso a um bem artístico e musical de uma qualidade acima da média e, mormente a um repertório constituído por obras, que por vezes eram originalmente compostas para formações orquestrais e que não estavam ao alcance das bandas filarmónicas. Essas obras, uma vez sujeitas a arranjos e transcrições adequadas, permitiram a sua execução pelas formações de carácter filarmónico. O povo de Alcobaça estimava sua velha Banda, o orgulho da terra, uma vaidade assumida, que ia do jornaleiro ao lavrador, passando pelo comerciante, a doméstica e a criançada. Era a nossa Banda que não tinha igual num raio de vinte léguas. Muitas saudades havia da Banda quando abalava pela rua, tocando vibrantemente. O povo seguia atrás, numa pândega procissão de tangos, rumbas, passe dobles ou valsas, de cintilantes e garbosos instrumentos amarelos, a correr a terra por entre um foguetório de contentamento, até assentar a pauta. Não havia procissão que se preze sem uma banda e não havia festa grande sem banda. Era uma delícia, um regalo para os sentidos, ver a banda passar e tocar com os músicos aprumados e bem vestidos, coordenados pelo um maestro vaidoso. Nas festas populares, sempre que havia mais do que uma banda, era comum organizar-se despique no coreto, em que cada uma procura tocar melhor que a outra e colher mais aplausos. Uma das lembranças fortes de alguns alcobacenses mais idosos, é o coreto, um exemplar talvez não muito interessante, mas que dominava a praça fronteiriça ao Mosteiro. Esta praça, além dos nomes que assumiu sucessivamente, conforme as circunstâncias foi, bastante alterada com intervenções mais ou menos felizes e o coreto já não está há muitos anos, desde meados dos anos trinta, graças a decisão (pouco feliz) de Manuel Carolino [22]. Foram muitos os concertos que ali ocorreram com as bandas da Cela (do maestro Melro, entretanto extinta), Vestiaria, Pataias, Maiorga e Alcobaça, com o seu reportório de qualidade, que incluía música clássica, árias de óperas, além das marchas e peças populares de raiz mais ou menos folclórica. As pessoas ocupavam o espaço fronteiriço imediato, onde havia vários choupos, as famílias passeavam e algumas levavam mesmo cadeiras, para assistirem mais comodamente ao espetáculo [23].
Hoje a Banda de Música tem instrumentos, práticas e repertório bastante elaborado, que conquista públicos e lhe permite um bom padrão de qualidade, e concretizá-la em festivais e competições internacionais e menos no espaço romaria, ainda que este continue a ser o espaço performativo privilegiado. Em contexto de concerto, o repertório é, de uma forma geral, mais livre e menos condicionado por questões religiosas ou pelas características do arraial popular. Esta realidade inserida no princípio de que, uma instituição artística pode e deve ciclicamente articular-se com os outros géneros e áreas musicais como a música popular tradicional, a música pop, o jazz, a eletroacústica, a multimédia, a dança, o teatro, a pintura ou a poesia, está a proporcionar a ocorrência em quantidade e qualidade de variadíssimos espetáculos musicais.
-A CENSURA E ZECA AFONSO-
O regime protagonizado por Salazar, menos feroz e menos espetacular que os congéneres europeus, foi, porém, mais longo (1933-1974) e não menos castrador quanto ao desenvolvimento económico, social e cultural. Salvo momentos de exceção limitados no tempo, predominou uma atitude de isolamento em relação às correntes que, a nível internacional, iam fazendo a modernidade. Os casos (excecionais) de artistas emigrados ou momentos de abertura, se pontualmente permitiram alguma atualização e revitalização do meio cultural e artístico em sentido estrito, não alteraram o panorama geral caracterizado pelo baixo nível de formação escolar, a desinformação da opinião pública, o conservadorismo da cultura oficial.
A censura em Portugal, ao longo do século XX, foi muitas vezes aplicada com manha e rudeza, outras com habilidade e arrogância. Para a justificar, estiveram disponíveis alguns intérpretes, histórias se necessário inverosímeis, juízos e desajeitados conceitos. O vexame, o opróbrio, a prisão, o exílio, se não a morte, atingiram muitos cidadãos e famílias, tendo havido casos que nem a verdade ou a justiça lhes foram alguma vez consentidas. Isto aliás, foi tanto aplicável ao Regime, como a certos sectores da oposição. A censura constituiu arma de excelência de Salazar e Caetano para abafar, se possível à nascença, veleidades de contestação ou denúncia sérias. A Censura, o Exame Prévio concretamente, foi um elo que assentava num aparelho repressivo vasto e tentacular com o S.P.N./S.N.I., a L.P., a M.P. (masculina e feminina), a Obra das Mães para Educação Nacional/ O.M.E.N. (cujo objetivo consistia em preparar as gerações femininas para os seus deveres maternais, domésticos e sociais, promover a habilitação das mães para a educação familiar e para o embelezamento da vida, desenvolver o gosto nas filhas pelos trabalhos domésticos, contribuir para a educação nacionalista da juventude), a F.N.A.T., o Conselho Permanente da Ação Escolar e principalmente a P.I.D.E./D.G.S.
O Estado Novo provocou o surgimento de uma literatura combativa, comprometida com a vida, com a brutalidade, que a censura tentou abafar. Apesar da censura não se aplicar previamente, aos livros, estes eram apreendidos, retirados do mercado e os seus autores ou editores sujeitos penalizações. Foi o que aconteceu com Aquilino Ribeiro, um beirão de Terras do Demo, tão manso quanto bárbaro, terno quanto feroz, fradesco, libertário e citadino [24].
Ferreira de Castro, senhor de espírito crítico e independente, tanto na vida como na literatura, emigrou com doze anos para o Brasil, tendo trabalhado como seringueiro na Amazónia, e depois como periodista. Porque escreveu sobre muito sobre o que viveu, fez em A Selva uma descrição das duras condições de vida dos trabalhadores rurais, sendo por isso considerado um arauto do neorrealismo português.
Além de Ferreira de Castro, impõe-se referir escritores como Alves Redol, autor de Esteiros, dedicado aos homens que nunca foram meninos, Gaibéus e Barranco de Cegos, bem como Manuel da Fonseca, que escreveu Cerromaior e Seara de Vento, empenhados em transmitir uma visão marxista da vida e entrar na discussão de problemas próprios dos extratos sociais portugueses mais desfavorecidos, o que não colhia os favores do Regime. Mas, claro, há mais autores que merecem destaque.
O desenvolvimento de vias de comunicação ao longo do século XX, tornou alguns escritores familiares do grande público, o que não ficou diretamente associado ao aumento da produção literária e hábitos de leitura. Em Alcobaça havia apenas uma livraria, embora dedicada aos livros escolares.
Vitorino Nemésio foi um caso exemplar, com as intervenções televisivas a partir de 1969, no Se Bem Me Lembro, um programa de muitas e variadas conversas, por um apaixonado da palavra e da memória. A TV popularizou-o mais do que a literatura. Poeta, romancista e ensaísta, deixou vincado na sua obra, a origem açoriana e um grande sentido de valoração das tradições populares. Mau Tempo no Canal, reflete a consciência de um escritor fisicamente ausente da terra natal, mas que recorre a ela como tema inesgotável da verve.
Fernando Namora, médico de formação académica e profissão, escreveu Retalhos da Vida de um Médico, relatando dentro de um espírito neorrealista, as experiências sofridas, dramáticas e poéticas vividas no interior (atrasado) do País. A reflexão sobre a natureza humana, foi o grande tema da produção de Vergílio Ferreira, exemplo claro do existencialismo português. Graças a uma interessante adaptação ao cinema, Manhã Submersa, veio a tornar-se, talvez por isso, um êxito editorial, muito depois da sua publicação 1944.
J. Cardoso Pires, deixou as suas preocupações sociais e políticas muito críticas do salazarismo, numa literatura influenciada pelos grandes mestres contistas norte-americanos, como E. A. Poe, E. Hemingway ou Mellville, sendo considerado um dos melhores prosadores e contadores de histórias da literatura portuguesa contemporânea. O Delfim e O Dinossauro Excelentíssimo revelam uma oposição manifesta e acutilante ao Estado Novo, obtendo grande sucesso literário a Balada da Praia dos Cães, Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, a propósito de um caso ocorrido no seio da oposição, nos anos de 1960.
Sofia de Mello Breyner Andresen, começou a carreira literária voltada para o universo infanto-juvenil, mas a partir dos anos de 1960, começou a manifestar a oposição ao Regime e a situações de injustiça social. Hoje em dia é uma personalidade de referência na literatura portuguesa do século XX.
Alexandre Herculano havia escrito que, onde quer que apareça a censura, onde quer que se aninhe esta irmã gémea da Inquisição, há uma quebra nos foros da independência do homem, há uma insolência do passado contra a dignidade social da geração presente. Seja para o que for, a censura é um impossível político. A censura não se limitou a amordaçar a literatura, a imprensa escrita, pois esteve presente no teatro, no cinema, na televisão, na rádio/música, nas artes plásticas. A censura para além de tentar abafar a contestação popular, visou moldar o pensamento dos portugueses em conformidade com os valores e interesses do Regime, com o pretexto do Bem Nacional e Comum. Aquilino Ribeiro foi um caso entre muitos outros[FdO1] .
Por esta altura não houve produção literária em Alcobaça suscetível de especial menção [25]. O Alcoa era praticamente o único espaço onde se pulicava alguma coisa, sem prejuízo de ter de respeitar os ditames da censura [26]. O jornal, sob a direção de Mário Vazão, foi o grande elo entre a Terra, os militares no Ultramar e os emigrantes. Aqueles ao logo de 13 anos enviaram cartas ao jornal que depois as publicava contando as saudades da namorada, dos sabores da casa da mãe ou avó, o seu sentido de Missão e recebiam de volta notícias do seu lugar e as importantes minudências do quotidiano.

Enquanto estavam na ribalta e cantavam em Alcobaça, nos Montes, Maiorga ou Valado de Frades, na R.T.P., em Serões para Trabalhadores ou mesmo na Eurovisão, artistas populares como António Calvário [27], Artur Garcia, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, Gina Maria ou Eugénia Lima, no mundo do espetáculo do lado de lá do Atlântico impunham-se estrelas como Sinatra, Ella Fitzgerald, Bing Crosby ou Louis Armstrong.
Poeta, cantor e compositor, José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos/Zeca Afonso, nasceu a 2 de agosto de 1929, e faleceu a 23 de fevereiro de 1987.
Em Alcobaça, lecionou na Escola Técnica, onde não passou totalmente desapercebido, embora não como cantor ou político contestatário.
António Carvalho Gerardo [28], a propósito do seu falecimento, sublinhou que a impressão que ainda retemos é de amizade e boa companhia. Deu-me francês. Não digo que era o melhor dos professores, mas era, sem dúvida, aquele que melhor nos compreendia.
Adélia Faria Borda, a quem Zeca Afonso deu aulas de português no então 2º. ano, recordou que, ele era muito nosso amigo e compreensivo. Às vezes, achávamo-lo estranho na maneira de ser e de dizer as coisas. Só mais tarde nos viemos a aperceber do seu verdadeiro valor.
Jorge Barros [29] referiu que, sei que ele apreciou a experiência aqui vivida, o contacto com as dificuldades dos estudantes noturnos, muitos dos quais vinham, de bicicleta, da Benedita e de Turquel, para frequentarem as aulas.
José Manuel Almeida não foi seu aluno, mas conheceu-o de perto, cimentando-se entre ambos uma relação amizade. Conheci-o no Café do Isidro ou arredores. Ele estava hospedado na Pensão Faustino, éramos da mesma idade e convivemos muito. Chegou a passar alguns serões em minha casa, ouvindo música clássica, e, quando saiu de Alcobaça, deixou lá muitos livros, que mais tarde veio buscar. E evocando: Nós e outros amigos juntávamo-nos ao pé do Correio e por ali ficávamos, à conversa, até altas horas. Por brincadeira, chegámos a pensar em pedir ao Artur Carolino que lá mandasse pôr um toldo para nos resguardar. Na altura, o Zeca atravessava uma fase de transição. Já não era o boémio de Coimbra, revelava-se cada vez mais o artista preocupado e interventor que mais tarde conhecemos. Em 1974, a convite de Pessanha Gonçalves [30] veio a Alcobaça atuar numa sala da Ala Norte do Mosteiro, numa ação de propaganda da L.U.A.R., onde estiveram presentes Camilo Mortágua e Palma Inácio e cerca de 30 assistentes. Agora podia-se fazer política, cantar sem receio.
-HISTÓRIA DE UMA CONCERTINA/ACORDEÃO-
Nunca soube a ler uma pauta de música, mas lá na terra alguns ainda recordam a desenvoltura com que António Lopes, o Toni do Acordeão, retirava do acordeão e da concertina as melodias das músicas, que marcaram o seu tempo e o seu meio. Aprendeu de ouvido, pois começou muito novo a observar os músicos nos bailes, desfolhadas ou adiafas e, de regresso a casa, com a música no ouvido, não conseguia dormir enquanto não reproduzisse os números, tal e qual os tinha ouvido. Era tal a facilidade com que aprendia, que o pai nunca o deixou ir estudar música com o Leandro. Porque é que tu vais aprender, se tu consegues tocar só de ouvido?
Ao longo de mais de sessenta anos, Toni do Acordeão integrou grupos de música popular. Era presença assídua em bailaricos e festarolas. Nas noites de sábado, havia bailes familiares em adegas, animados pela música de uma concertina ou acordeão, e o Toni sempre que podia lá estava. Dizia ter assistido a um concerto de concertina que o marcou, interpretado a solo por uma artista muito conhecida e popular da rádio, Eugénia Lima, na adega do Dr. A. P. de Magalhães, sede da Associação Recreativa Montense. Nunca soube dizer em que altura lhe nasceu o gosto pela música. Dizia apenas que nasceu com ele, que não perdia um baile e acompanhava de perto a atuação dos acordeonistas que habitualmente os animavam, tocando as modas do tempo. Pelo facto de os pais não terem posses para lhe comprar um instrumento, foi trabalhar como resineiro para a zona de Pataias e aí andei a carregar madeira e a levá-la para a serração. E conseguiu comprar uma concertina.
Ao longo da vida comprou uma meia dúzia de instrumentos que os filhos guardam e um deles, de vez em quando, toca nas festas da família. Um desses instrumentos é uma concertina, que consta ter sido adquirida a um herdeiro de instrumentista. Naquele tempo, a gente começava o baile às nove da noite e ia até ao sol nascer. Era a noite inteira. Às vezes vinha o padeiro fazia-se café, a gente comia um courato e depois seguia para o trabalho. Inicialmente eu não ganhava nada, nem dava para o conserto das concertinas. Por isso, a dada altura, eu tive de dizer que assim não dava e comecei a ganhar qualquer coisita para tabaco.
Sendo habitualmente o único animador dos bailaricos, Toni tocava sem que tivesse oportunidade para dançar, pelo que quando passou a ter buço, fez uma combinação com outro acordeonista. Animavam os bailes e alternavam-se nas atuações. Enquanto um tocava e cantava, o outro dançava ou namoriscava.







CAP.III

-A O.T.C. GANHA ESTATUTO-
N
o Cineteatro, a 1 de maio de 1957, pelas 22h, encontrando-se o Círculo Alcobacense de Arte e Cultura/C.A.A.C. ainda em formação, realizou-se a apresentação da O.T. com 30 elementos sob a regência de António Gavino, perante um público ansioso. Marcaram presença os locutores escalabitanos Joaquim Campos, Carlos Mendes e Neto de Almeida, que recitaram poemas, bem como cantores (amadores) Maria de Lurdes Feliciana, de Rio Maior, os irmãos Olegário e Valdemar do Nascimento, de Alcobaça [31]. Olegário José do Nascimento (i933-14.8.2009), conhecido entre os amigos como Galhito, alcunha que vem de Olegarito e depois Galhito, esteve emigrado na Alemanha entre 1966 e 1975 e lá como cá nunca estabilizou. Nos últimos tempos a mulher confecionava em casa bolos para ele vender. No resto do tempo cantava o fado (era um simpático fadista, como se dizia). Valdemar, mais novo que o irmão, era guarda-livros em Leiria.       
De acordo com os anunciados propósitos do C.A.A.C., este espetáculo inseriu-se no intuito de dar a conhecer aos seus conterrâneos os fins para que foi criado e ainda prestar assistência ao Hospital da Misericórdia desta vila e obter alguns fundos para a sua organização [32].
Os bilhetes encontravam-se à venda no cineteatro e no estabelecimento comercial de João Rodrigues Leitão, tendo esgotado de pronto, apesar de não serem baratos [33]. A entrada era reservada a indivíduos maiores de 12 anos, fora autorizada pela censura e feita a advertência que se o espetáculo tiver de ser interrompido por motivo imprevisto, a Empresa não é obrigada restituir a importância dos bilhetes.
Crespo contava que no intervalo havia lágrimas nos olhos dos que cansados tinham dado tudo para que a Orquestra Típica fosse uma realidade e também nos olhos de quantos se recordavam com saudade em Alcobaça da sua Banda, da sua Fanfarra, da Tuna dos Caixeiros, da Orquestra de Salão [34].
No sarau apresentou-se o Grupo Infantil de Danças Regionais de Santarém, sob a direção de Celestino Graça, a que o público dispensou especial receção, pelo à vontade e graciosidade demonstrada. Os contactos entre Celestino Graça [35] e a O.T.C. decorriam das estreitas relações que mantinha com António Gavino. Silva Tavares teve uma chamada especial, sendo ovacionado pelo público que em pé, lhe quis tributar o agradecimento pelo que já tinha feito em prol da terra.
Segundo O Século [36], não podemos deixar de fazer o nosso reparo aos obstáculos que são criados em Alcobaça às iniciativas de carácter artístico, e que afinal partem de pessoas que tudo deviam fazer para o evitar.
O Comércio do Porto [37], preferiu salientar o jovem e dinâmico alcobacense  Couto Pinho pela criação do Círculo Alcobacense de Arte e Cultura.
Muitos desconhecem que, além da canção Alcobaça, existe uma outra, com o nome de Velha Alcobaça, também da autoria de Silva Tavares e Belo Marques, destinada a tenor. Sendo bastante difícil, foi algumas vezes interpretada por José António, Fernando Serafim [38] e outros. Esta peça, que jamais teve o sucesso e a divulgação da canção Alcobaça dadas as características menos populares, foi, interpretada na festa de homenagem, realizada em Alcobaça a Maria de Lurdes Resende em 20 de novembro. José António Crespo, guardião de memórias, deixou um espólio notável, no qual a filha Fátima encontrou a letra:
Na pedra branca esculpida // Do Mosteiro de Alcobaça // Vive a beleza e a vida // Da História da nossa raça.
E na pedra rendilhada // Desse tão velho Mosteiro, // Vive a obra agigantada // De D. Afonso I.
Tens velha Alcobaça // Um altar resplandecente, // Um padrão de raça // Para mostrares a toda a gente // Tens p’ra seres mais bela // Um sorriso p’ra quem passa.
Os anos passam correndo // Sobre esta Terra feliz, // E a Terra lá está dizendo // Aquilo que a história diz.
E p’ra ser bem Português  // É sacrário esse Mosteiro // Dos amores da linda Inês // E de D. Pedro I.
Maria Luísa Dionísio uma das referências da O.T.C., ainda conhecida carinhosamente como Luisinha Doce, revela que terá ouvido dizer que Belo Marques perante a impossibilidade de Cidália Meireles colaborar com a Orquestra Típica e Coral de Alcobaça, tomou a iniciativa de convidar Maria de Lourdes Resende. É esta a versão que corria no grupo, embora não seja correta  Seja como for, Alcobaça, talvez a composição mais conhecida de Belo Marques, que eio a ter sucesso com Maria de Lourdes Resende, data talvez de 1946 e nada teve a ver com a O.T.C.
Em outubro de 1946, realizaram-se em Alcobaça os Jogos Florais da E.N., com uma cerimónia de encerramento em que na I PARTE se procedeu à declamação das poesias premiadas e entrega de prémios. O primeiro prémio em Poesia Alusiva a Alcobaça foi atribuído a Emídio Velasco Martins. Na III Parte, atuaram o Conjunto Irmãs Meireles, O Quarteto Masculino da E.N., O Quarteto Feminino da E.N, a Orquestra Sinfónica Popular (dirigida por Frederico de Freitas), a Orquestra Típica Portuguesa (dirigida por Belo Marques) que apresentou Alcoa, interpretada por José António, Os Marialvas, por Maria Clara e Alcobaça, ainda na voz de Cidália Meireles [39].
O comunista alcobacense Albino Serrano recordou em A Hora da Libertação [40], uma situação de perigo passada no dia quatro, ou antes, de quatro para cinco de Outubro de 1946, quando se realizaram os Jogos Florais, no Refeitório do Mosteiro, com a presença de António Ferro, alto dignitário do regime fascista. Eu não estava muito interessado em assistir ao espetáculo, mas, à última hora e já com a casa cheia alguém ofereceu a mim e ao meu irmão, que estava comigo, bilhetes de ingresso no recinto. Entrámos e acomodamo-nos como pudemos. O espetáculo ia prosseguindo normalmente quando, precisamente à meia noite, se ouviram vários estampidos, de tal modo fortes que até parecia que estavam e rebentar bombas ali na praça, mesmo ao lado. Logo a seguir notámos grande movimentação de alguns funcionários da Administração do Concelho, ligados à Secção Policial, e ainda os habituais bufos que se encontravam a assistir ao espetáculo e acto contínuo se dirigiram apressadamente para a saída (…). Não sabia exatamente o que se estava a passar lá fora (…) Entretanto os estampidos continuavam a ouvir-se e eu não sabia o que havia de fazer: se sair rapidamente, aproveitando a confusão, ou se ficar e aguardar os acontecimentos. A primeira hipótese parecia-me mais sensata, embora um pouco perigosa pois não imaginava o que poderia encontrar lá fora. Mas afinal o que era que estava a acontecer na rua? Viemos a saber que os estampidos, que ouvíramos lá dentro, eram o resultado duma salva de morteiros deitados no Castelo, assinalando mais um aniversário do Cinco de Outubro, os quais, ao rebentarem provocavam dentro do Refeitório do Mosteiro, onde decorria a festa, um eco de tal modo intenso, que levou a maior parte das pessoas a pensar que estava a rebentar bombas na praça (…). O autor deste incidente foi Serafim Amaral que, munido de uma autorização do Governo Civil de Leiria, festejava a implantação da República  [41].
Belo Marques contava que o sucesso de Alcobaça lhe pagou a casa que construiu em Sobral de Monte Agraço. Alcobaça passou a fazer parte obrigatória do repertório de Maria de Lourdes Resende, e de artistas como Francisco José, no auge da fama e no Brasil. Mas foi Maria de Lurdes Resende, quem se veio a revelar como a grande intérprete de Alcobaça, um êxito em Portugal e além-fronteiras. Revelou esta que, quando se estreou na E.N. em 1945, uma vizinha disse-lhe que ontem na telefonia por volta das dez e tal, ouvi-a nas Variedades da E.N. Como jovem e estreante, ficou à espera que a senhora concretizasse a ideia.
Não se aflija. Já tenho ouvido na Rádio quem cante bem pior que você.
Maria de Lourdes Resende evoluiu, e ao fim de muito pouco tempo, apenas no timbre lembrava a menina do Barreiro, pois vencendo nervos, complexos, desilusões e intrigas conquistou lugar na História, com Alcobaça, Morena, Renúncia, Manhã na Aldeia. Da Rádio foi para a TV, Teatro e Revista, cada vez mais talentosa, mais perfeita e mais artista. À impertinente vizinha responderíamos simplesmente: É verdade, mas ninguém canta melhor Alcobaça.
Angariados os primeiros sócios, começou a ser montada a estrutura do Círculo Alcobacense de Arte e Cultura. A primeira Direção foi composta pelo Engº. Agrónomo João de Sousa e Brito [42], Camilo Marques Bento, José Sineiro Canha e Fernando Manuel Zeferino.
O número de associados do C.A.A.C. em 1962/1963 segundo Crespo era de cerca de 500, com uma quotização mensal reduzida, que não dava para despesas, o que era motivo de constante preocupação por parte da direção, mas cujo diferencial era suportado por um subsídio camarário mensal, algumas ofertas (sem esquecer dos diretores) e magras receitas de espetáculos. O sucesso acarretou problemas de funcionamento e o maior foi o C.A.A.C., não ter instalações para a O.T.C ensaiar, o que implicou que as reuniões da Direção, em dias de ensaio, tivessem de ser efetuadas fora da sede. A sala da sede era insuficiente para juntar coral e orquestra, pelo que os ensaios eram feitos separadamente. Crespo recordou que chegou a haver um projeto para construção de uma sede, mas não dinheiro para aquisição de terreno e que foi debatida uma proposta da Câmara, então sob a presidência de J. Junqueiro para construir o edifício em terreno que ficaria a pertencer ao património municipal. Inviável! [43]. O sonho, enfim, não se concretizou, e os esforços do C.A.A.C. centraram-se em promover a O.T.C. Os ensaios passaram a ocorrer num anexo à casa do Dr. Nascimento e Sousa, num primeiro andar junto à Igreja da Conceição, cujo soalho se encontrava muito esburacado, em risco de ruir ou de se entalarem os sapatos. Através dele, chegava o odor das batatas e outros géneros guardados. Foi neste cenário, conhecido como a Casa das Batatas que foi gravado o primeiro disco, pela equipa técnica da Casa Editora Valentim de Carvalho. Segundo, Maria Luísa Dionísio e Rosa Maria Coelho, acabou por ser este o melhor estúdio, aonde se fizeram gravações. Para o efeito, foram colocadas barreiras na rua, para impedir o trânsito automóvel e evitar ruídos indesejáveis. Depois de deixar o anexo da casa do Dr. Nascimento e Sousa, a O.T.C. passou a utilizar uma antiga garagem de automóveis, na conhecida como Rua da Svena, com muito poucas condições e depois uma sala junto ao Tribunal, sito na ala norte do Mosteiro, aonde também, foi gravado um disco. O grande defeito desta sala era ser gélida no Inverno.
Em breve passaram a correr na vila versos, parodiando Alcobaça, a propósito do estado do Rio Baça que tinha, como hoje, um pequeno caudal, e que exalava um cheiro nauseabundo. Junto à ponte da Rua David da Fonseca foi colocada pela Câmara Municipal uma placa durante muito tempo proibindo os vazadouros, aliás sem grande sucesso. Os versos eram: Quem passa por Alcobaça // E vai visitar o Baça//Apanha tal pitaça // Que nunca mais por lá passa. Há cerca de 80 anos, o rio Baça constituía um enorme depósito de detritos em putrefação e encontrava-se ainda a descoberto [44].
Em 4 de Agosto de 1957, a O.T. com os seus elementos nervosos por falta de experiência e conscientes do momento, foi atuar em Ourém, na Praça Mouzinho de Albuquerque, integrada nas festas de Nª. Srª. da Piedade (primeiro fim de semana de Agosto) [45], num evento que se prolongou por duas horas, e que o público premiou. Era o início de futuros sucessos.
O Notícias de Ourem [46], sublinhou a Orquestra Típica de Alcobaça, organização recente, mas que já se afirma brilhantíssima e de grandes possibilidades futuras.
Em setembro, a O.T. apresentou-se em Leiria no parque da cidade no recinto da verbena do Orfeão. Perante numerosa assistência, tocou vários números alguns cantados por Lurdes Feliciano, e pelos irmãos Valdemar e Olegário do Nascimento. Todos foram calorosamente aplaudidos, constituindo uma surpresa o alto nível musical e o valor dos seus vocalistas, que atuaram com grande brilhantismo, tendo bisado o Cavaquinho Vadio  [47]. Ao intervalo, acompanhada pelos diretores do Orfeão, uma menina ofereceu uma fita para o estandarte da Orquestra, tendo Sousa e Brito agradecido e recordado o percurso do Orfeão de Leiria e do seu Grupo Cénico, que várias vezes se exibiram em Alcobaça em beneficência e solidariedade. Na segunda parte, participaram Anita Guerreiro [48], Margarida Amaral [49] e Pedro Solnado [50], que percorriam palcos  do país e eram ouvidos na E.N..
O Mensageiro [51], destacou Miguel Elias [52] que  agradeceu a preciosíssima colaboração da jovem, mas já grande, Orquestra Típica de Alcobaça, aquela Vila Sempre Nobre e Amiga.
A 10 desse mês, a O.T.C. que por princípio nunca recusava convites, deslocou-se a S. Martinho do Porto, em favor Colónia Balnear Infantil da Vestiaria, num espetáculo em que participaram Maria de Lurdes Resende [53], Maria de Lurdes Feliciano, Valdemar do Nascimento e Olegário do Nascimento [54]. A Canção de S. Martinho então interpretada, encontra-se esquecida, mas graças a José António Crespo recorda-se a letra:
Numa curva do caminho // De Alcobaça-Alfeizerão, // Surge ao longe S. Martinho // Qual fantástica visão.
E, a quem de longe passa // nunca mais sai da lembrança // S. Martinho e a sua graça// de brinquedo de criança.
(ESTRIBILHO)
Como filtrado por um véu// de tule, // O sol que seduz // Tomba do Céu. // E num afago// Enche de luz // A linda concha azul // Onde um mar parece um lago.
E, do Facho, São Martinho // Não tem rival // É, a todos, o brinquinho // Das praias de Portugal.
S. Martinho, os teus encantos //Não se podem descrever // Pois, são tantos, tantos, tantos // Que é melhor ver para crer.
(ESTRIBILHO)
(…)
O médico Dr. Rafael Gagliardini Graça [55], Presidente da Junta de Turismo, proferiu palavras de agradecimento a Silva Tavares, que foi chamado ao palco.

Ainda em 23 de setembro, a O.T. deslocou-se a Óbidos, para atuar em favor da Santa Casa da Misericórdia, e em que participaram Vasco Santana[56] e outros artistas de renome e foram apresentados os números de revista em exibição no Parque Mayer O Doente, A Ameaça, A Sonâmbula e O Exame do Meu Menino.
Nesse mês, a O.T.C. voltou a exibir-se em Alcobaça e segundo o Jornal de Leiria [57], como já sucedera, quando da sua estreia, o agrado foi total. Os aplausos tributados devem servir de incentivo a todos os componentes da orquestra e aos seus dirigentes. Oxalá que o Círculo, possa, em breve, ampliar a sua ação, organizando um grupo cénico e, se possível for, um corpo coral, ficando, desta maneira, com possibilidades de ampliar os programas dos seus espetáculos e de melhor servir a cultura alcobacense. A propósito dos espetáculos aqui realizados pelo Círculo Alcobacense de Arte e Cultura, desejamos fazer um reparo: Tendo esta coletividade, como o seu próprio nome indica, uma finalidade cultural, parece-nos descabido o abuso das anedotas, algumas sem espírito, contadas ao público nos intervalos da atuação da orquestra.
A 20 de Novembro pelas 21,30h realizou-se com a lotação esgotada como era habitual, espetáculo com a colaboração da Rainha da Rádio Portuguesa e genial intérprete da Canção Alcobaça, Maria de Lurdes Resende, a simpática artista que no País e no Estrangeiro com a sua voz de sonho, tão alto tem elevado o nome e a graça da nossa terra  [58].
Maria de Lurdes Resende fez-se acompanhar à guitarra e viola, pelos seus acompanhadores  do costume. Por sua vez, a O.T. apresentou números de expressiva riqueza folclórica a comprovar a inspiração do grande maestro António Gavino [59]. Terminado o espetáculo, foi servido um copo-de-água, a que assistiram o Presidente da Câmara Joaquim Carvalho, o presidente do C.A.A.C. Engº Sousa e Brito e o Pd. João de Sousa, Pároco do Bárrio [60] que agradeceram e elogiaram a atuação dos artistas.
A música e a O.T.C. eram muito importantes na vida de cada um dos componentes.As músicas interpretadas, ainda hoje estão associadas a memórias e lembranças, de maneira que têm o poder de transportar para um passado importante ou significativo. Vamos aqui recordar algumas letras, aliás simples e de rima fácil, facultadas por Fátima Crespo, a partir do espólio do pai.
-ROMARIA-Letra de João Nobre:
Quem queira dançar bem o vira // Não pense abraçar seu par // Que nas suas voltas, quem gira// É sempre de braços no ar.
O vira não se dança a dois // Quem queira abraçar… Só depois // E ninguém se queixa da sorte // Pois tudo ali é natural… // Como a Romaria do Norte // Não há de certo em Portugal.
Dei voltas sem conta // No vira, ao dançar // E não fiquei tonta de tanto rodar! // Pois não me incomoda girar // Eu já vi a cabeça à roda, se a tenho é por ti,  
(Andante)
Vai-se a noite, vem o dia // E tudo ali terminou // Acabou-se a Romaria, mas a saudade ficou // Com ela também uma “sp’rança” // De vermos ainda arraiais // Em[FdO2]  que a gente nunca se cansa // E o vira não acaba mais.
-A FEIRA-Música de António Gavino e Letra (para ser interpretada com sotaque supostamente nazareno) de Alberto Goucha:
Com mê fato dominguêro // Vim de casal e mais três… // Ó mê irmão que é padêro // Ó mê burro e o Inês.
E na fêra d’encontrões // Que levê no meu corpinho // Perdi todos os botões // De mê fato tão novinho.
É ai, ai, ai, ai, ai// É ai, ai é ai
No carrocel é que é // Dez tostões uma voltinha // Nem me tinha já de pé// Tanta volta dê à pinha.
Mas gostê e não lamento // O dinheiro que gastava //Quis levar o jumento // Sé pra’ver o qu’aquilo dava.
Ó ai, ai, etc, etc.
Logo naquele momento disse Ó Inês ao acase // Olha lá traz o jumento// Que um a mais não faz casê.
E a bruxa leu as sinas // Disse Ó Inês em segrede // Há-de ter oito meninas // Deixe lá, não tenha mede.
À fêra não volto mais // Enquanto tiver maneira // Não vês outros que voltais // Oiçam o reste da histeria.
Deus quis assim, nós também // Casamos e o Inês // A bruxa falara bem // Meninas só faltam três.
-SINOS
Quando repicam os sinos // Num tom de mágoa pungente // A minh’alma coitadinha// Aos seus acordes divinos// Pulsa, chora, vibra e sente// Uma tristeza infinita.
Cantam avé-marias // Fazem mil preces a Deus // Num badalar doloroso // Que da terra as fantasias // Erguem súplicas aos céus // Num recente amor fervoroso.
(Refrão… )
Os sinos da minha aldeia // Não cessam de repicar // Ou é menino que nasce // Tlim, tlão // Ou noivos que vão casar// Tlim, tlão.
A 6 de dezembro, a O.T.C. apresentou-se no Teatro Pinheiro Chagas/Caldas da Rainha, num espetáculo organizado pela Secção Feminina da Conferência de S. Vicente de Paulo, em benefício dos pobrezinhos da cidade, conjuntamente com a artista Margarida Amaral [61], e o Conjunto Vocal 4 de Espadas entre outros. Abriu o espetáculo a Orquestra Típica que, apresentou Abertura, Janelas Floridas, Alcoa, Zé Maria, A Pena, O Corridinho da Sorte, A Menina de Sinal e Cavaquinho Vadio, especialmente saudado [62]. Tanto os números da Orquestra como os de Maria de Lurdes Feliciano, e os tenores Valdemar do Nascimento e Olegário do Nascimento foram muito apreciados. A 2ª. parte iniciou-se com Nóbrega e Sousa ao piano, as artistas Maria Marise, Margarida Amaral e o tenor Américo Lima. Maria Marise a pedido do público cantou Por causa de um Beijo, Casete em Canadá e Lisboa à Noite, com uma voz melodiosa, educada, dando ao canto a expressão do seu temperamento artístico, Margarida Amaral, interpretou Lábios de Mel, Adoro o Meu Menino e Caldas da Rainha [63]. O tenor Américo Lima, com bom volume de voz e sentido musical interpretou Chitarra Romana, La Hespanhola e Maria de Santa Fé, que colheu fortíssimo aplauso e empolgou o público.
A 3ª. parte foi de novo preenchida com a O.T.C. que interpretou Corridinho do Algarve, Desde que Partiste, Marcha Alentejana, Noites de Luar, Maria Laura, Aldeia Minhota [64] e Alcobaça. Os locutores Carlos Mendes e Neto de Almeida foram apreciados, pela alegria (por vezes exagerada o que motivou alguns reparos) que comunicaram ao espetáculo. No final, uma menina ofereceu ao Engº. Sousa Brito, um laço comemorativo para colocar no estandarte. Este, depois de agradecer a gentileza, afirmou o prazer com que Alcobaça, através da sua Orquestra, veio a Caldas da Rainha, no 30º. aniversário da elevação a cidade [65], colaborar numa obra de assistência de alto valor educativo e formativo. Terminado o espetáculo as Vicentinas, dirigidas pelas Senhoras Dª. Maria Montês e Dª. Deolinda de Almeida ofereceram, no Posto de Turismo, uma ceia aos componentes da Orquestra e artistas da E.N., tendo estes últimos tocado e cantado á vontade alguns números. A Conferência de S. Vicente de Paulo, pediu através da sua Presidente Senhora de Manuel Coelho, que por intermédio do Gazeta das Caldas tornasse pública a gratidão do Organismo de beneficência que dirige, tento ao Círculo Cultural de Alcobaça como ao Maestro António Gavino, aos artistas que tão gentilmente colaboraram no encantador espetáculo, e a todas as pessoas que de qualquer modo na sua realização colaboraram, quer adquirindo bilhetes, quer prestando serviços, quer ainda deixando de receber alguma coisa que lhes fosse devido.
O C.A.A.C. continuava a organizar-se e a crescer, embora a Orquestra Típica fosse a grande referência e, em 23 de dezembro de 1957, reuniu-se em Assembleia Geral para apreciação e aprovação das contas, bem como a eleição dos corpos sociais, que ficaram assim constituídos:
Assembleia Geral: Presidente-Joaquim Augusto de Carvalho, Vice-Presidente-Pd. João de Sousa, Secretários-João Telmo Carvalho e Maia, e Raul Gameiro. Conselho Fiscal: Presidente-Francisco Trindade Rodrigues, Vice-Presidente-Filipe Lopes Ramos, Secretário-Afonso da Cruz Franco.
Direção: Presidente-Sousa e Brito, Secretário-Abel dos Santos, Tesoureiro-Camilo Marques Bento.
Nessa ocasião foi eleito por aclamação sócio de mérito/Honorário, José Couto Pinho, entretanto falecido.

Quando a O.T. começou a atuar não dispunha de estandarte. Para colmatar a falta, Maria de Lurdes de Jesus, solicitou donativos para comprar o material necessário. Era costume que a entidade que convidava o grupo oferecesse, durante uma pausa no espetáculo, uma fita para colocar no estandarte. Este veio a ser feito em cetim branco, bordado por Maria Luísa Pestana, com elementos que correspondem a uma decomposição do emblema do C.A.A.C. A partir daqui a O.T. nunca mais saiu sem estandarte, que passou a colecionar um número significativo de fitas. O estandarte, extinto o grupo, foi guardado pela Junta Freguesia de Alcobaça, que ainda o conserva [66].
Em 1958 a O.T.C. deslocou-se a Beja, Anadia, Abrantes, Águeda, Mira d’Aire e Moita do Ribatejo.
Maria Luísa recorda que num espetáculo realizado em Beja, em dia de muito calor e vento, tiveram que sair de Alcobaça em duas camionetes com bastante antecedência. A certa altura do percurso, Maria Luísa Dionísio e outros, viram passar uma ruidosa sombra por cima da camionete. O que estava a acontecer, tanto mais que se seguiu um barulho estranho [67] ? Parado o autocarro, constatou-se que se havia solto o estrado, espalhado na estrada e sem hipóteses de conserto. À noite, a O.T. atuou com uns mais altos e outros mais baixos.
A 26 de Maio de 1958, a O.T. realizou um espetáculo comemorativo do seu primeiro aniversário, no qual se usaram pela primeira vez os seus trajes, e participaram Maria de Lurdes Resende que cantou com orquestra, e acompanhada pelos acompanhadores Liberto Conde na viola baixa [68] e Francisco Perez [69], e ainda o Trio Ribalta, em voga [70].
A convite do Círculo Cultural Scalabitano, a O,T. deslocou-se a Santarém a 10 de Janeiro de 1959. Respigando o Correio do Ribatejo [71], de Santarém, esteve presente numerosa assistência, e que (…) após a execução do apontamento musical de abertura e as palavras de apresentação do conhecido amador sr. Nuno Neto de Almeida, em cena aberta, o sr. Dr. Ginestal Machado saudou os visitantes, lembrando a ação de António Gavino, como primeiro regente e componente do grupo de fundadores da Orquestra Típica Scalabitana, a visita desta orquestra e do Orfeão Scalabitano à Nobre Vila do Alcoa, oferecendo lembranças à Direção do Círculo Alcobacense de Arte e Cultura, ao regente António Gavino e à vocalista Lurdes Feliciano. O sr. Mário Rodrigues, como diretor e componente da nossa Orquestra Típica, ofertou o característico barrete verde ribatejano ao sr. Fernando Miranda, o mais velho dos elementos do agrupamento alcobacense. (…) A O.T. atuou nas duas partes do espetáculo, com um pequeno intervalo. O apresentador, soube cativar a assistência, que aliás não regateou aplausos à O.T., que teve de bisar alguns números, no meio de um entusiasmo que atingiu quase o aspeto apoteótico.
Carlos Oliveira, avaliando o desempenho da O.T.C. afirmou que se apresentou bastante equilibrada, revelando grande disciplina e completo domínio diretivo do seu regente, sabendo dar-nos música verdadeiramente regionalista, sem exageros ou pretensões de grande execução. Mas lastimou o traje, um pouco triste, à moda serrana da região de Alcobaça, e não possa dar uma garrida e gritante mancha de cor e alegria como o da nossa Orquestra Típica. Findo o espetáculo seguiu-se uma ceia, tendo usado da palavra o Dr. Ginestal Machado [72] e Belo Marques, que trocaram saudações e prometeram novas colaborações.
A 4 de Julho de 1959, a O.T.C. deslocou-se ao Pavilhão dos Desportos/Lisboa, para um Serão para Trabalhadores, organizado pela E.N. em colaboração com a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho/FNAT. Era o tempo do nacional cançonetismo. Este tipo de música ligeira, tinha nascido na década de 1930, com autores, compositores e maestros reputados que faziam a autoria e composição de canções que retratavam os valores ditos tradicionais, os ideais e princípios do Estado Novo, ou seja a exaltação da vida no campo, da Pátria, dos costumes da vida nas cidades (a pequena burguesia) e nos campos, o folclore, o nacionalismo, o conformismo imposto sobre a ordem natural das coisas (entenda-se estratificação social), amores desesperados e desencontrados, fados antigos e o que pudesse contentar o poder.
Em 21 de maio de 1960, na comemoração do terceiro aniversário do C.A.A.C., realizou-se um sarau no Cineteatro de Alcobaça, em que se apresentou pela primeira vez em público, o Grupo de Cantares Folclóricos [73], pois o C.A.A.C. na ânsia de atingir os fins que se propôs realizar, não se poupa a esforços na criação de novos agrupamentos que honrem as tradições da nossa terra. Antes de ter coral, a O.T. atuava com solistas convidados [74]. No tempo de António Gavino como maestro, as apresentações contavam com a colaboração (graciosa) dos locutores Carlos Mendes e Neto de Almeida, seus amigos [75]. A O.T. começava por interpretar Alcobaça, enquanto aqueles em fundo, recitavam um poema de Silva Tavares dedicado a Alcobaça, que anos mais tarde foi dedicado pelo autor à memória do Dr. José Nascimento e Sousa [76].
Colaborou nesta apresentação o Grupo Jograis de Santarém, constituído por Carlos Mendes, Nuno Neto de Almeida, António Cacho e Vergílio Barreira. A imprensa local [77] e a regional, muito concretamente o Região de Leiria [78], deu destaque a este espetáculo apelando para a necessidade de os alcobacenses que ainda não são sócios do Círculo, se inscrevam, dando desse modo o seu apoio moral e material a uma coletividade cultural que deve merecer o maior interesse e cujo progresso depende, como é óbvio, do auxílio que lhe possa prestar.
Como solistas apresentaram-se Maria de Lurdes Feliciano, com a graça e à vontade habitual, bem como pela primeira vez Maria de Fátima Modesto e Gilberto Coutinho, que prometem enriquecer a orquestra com bom canto, pois possuem bom timbre e modelação de voz, mas acusam ainda o receio de enfrentar a plateia [79].
A O.T.C. foi convidada a participar em 2 de outubro de 1960, na sessão de inauguração do 1º. Festival/Exposição do Vinho Português, do Bombarral, no Teatro Eduardo Brasão.
António Gavino realizou o último espetáculo como regente da O.T.C, em 25 de março de 1961, pois foi viver para Lourenço Marques para reger a Orquestra da Rádio Club de Lourenço Marques, estação que lançou a cançonetista e fadista Alexandra [80]. Colaborou neste espetáculo [81], o Grupo Jograis de Santarém. A Gavino sucedeu Alves Coelho (Filho) [82] que conferiu ao agrupamento maior dinamismo, e a consagração nacional. Francisco Ramos André referindo-se a Alves Coelho (filho), fê-lo nos moldes seguintes [83]: Maestro a quem cabe presentemente a responsabilidade da direção técnica do conjunto, deve-se, além do esforço no aperfeiçoamento, uma parte da projeção ultimamente atingida em face dos seus vastos conhecimentos nos meios artísticos do país.
Assegurava Francisco Ramos André, que perdurou na memória dos que tiveram oportunidade de assistir, o primeiro Recital da Orquestra Típica de Alcobaça, sob a regência do Maestro Alves Coelho (filho), a 4 de Novembro de 1961 em que colaboraram, Gina Maria, Madalena Iglésias, Maria Cândida, Maria do Espírito Santo, Artur Garcia e o locutor Henrique Mendes. Dª. Graciete de Vasconcelos, esposa de Alves Coelho (filho)e acordeonista, apresentou uma seleção da opereta Viúva  Alegre. Com a sala decorada com chitas de Alcobaça e superlotada, as palmas e bravos sucederam-se a premiar o nível atingido pela música popular portuguesa através da O.T.C., o estilo e a personalidade das vozes conhecidas e queridas, apresentadas com humor e espírito. A associarem-se ao evento estiveram presentes, Silva Tavares e esposa Dª. Albertina Tavares. A crítica salientou na atuação da Orquestra Típica, as interpretações de Senhora do Almurtão (Cancioneiro Popular), Cancioneiro (Alves Coelho e Avelino de Sousa), e Cantigas de Portugal (Rapsódia de Alves Coelho (filho) [84]. Terminado o espetáculo, foi oferecida uma ceia, no Restaurante Corações Unidos [85]. Aos brindes falaram o Dr. Amílcar de Magalhães [86], Maestro Alves Coelho (Filho), Joaquim A. Carvalho e a fechar, para agradecer as homenagens prestadas, o autor da letra de Alcobaça.
A 16 de dezembro, perante o sucesso do dia 4 e antecipando o Natal, realizou-se nova apresentação da Orquestra Típica. A primeira e segunda partes foram preenchidas com a O.T.C. e a terceira com a colaboração graciosa de consagrados artistas da rádio e da televisão [87].
A partir daqui, a O.T.C. ganhou estatuto e passou a colaborar com a E.N., nos Serões para Trabalhadores, transmitidos em direto, a realizar espetáculos na R.T.P., aonde se deslocou, pela primeira vez, a 14 de maio de 1961, e mais quatro vezes no ano seguinte, e a fazer gravações. Lembra Maria Luísa Dionísio que, alguns convites tinham de ser recusados, uma vez que eram necessários por vezes 2 autocarros para transportar a formação do grupo, instrumentos incluídos e que uma solista num rosto emoldurado por um chapéu de abas, um lenço tombado sobre os ombros, com graciosidade, iniciava o espetáculo a cantar, Os provérbios e rifões // Enraizados na nossa raça, // Atravessam gerações // Na linda loiça de Alcobaça.
O coro respondia, Alcobaça, // Podes crer que tenho apreço, // Por tudo quanto é progresso, // Mas o antigo não passa.
Alcobaça, // Nesse teu Mosteiro velho // Bem velhinho, existe um espelho // No valor da nossa raça.
Com canções de carácter popular, no espírito e moda do tempo que cumpria, se inseria e a que não fugia, a O.T.C, apresentou-se no TVClube, com intenção de levar aos nossos espectadores um conjunto de bom nível e oferecer-lhes um programa variado, aliciante, de características diferentes, muito próprias [88].

Belo Marques, tinha ascendentes na Batalha, os avós por parte da mãe que foram portageiros (?) na ponte velha, onde passava a antiga EN1 [89].
Contou a Maria Luísa Dionísio, que sua mãe que se encontrava grávida, numa visita que fez aos pais, que viviam na dita ponte, acabou por dar ali á luz. Belo Marques, portanto, nasceu na Ponte da Batalha/Ponte da Boitaca ou Boutaca.
Era tanto o entusiasmo de Alves Coelho (Filho) que, grande parte dos contactos com vista a espetáculos, eram de sua iniciativa. A esposa, D. Graciete, que tinha curso superior de música, tocava acordeão. O trabalho dos ensaios era repartido pelo casal, a esposa a ensaiar o coral, o marido a orquestra. Alves Coelho (Filho) e mulher vinham de verão ou inverno, com bom ou mau tempo, duas vezes por semana de Lisboa, aonde regressavam terminado o ensaio, pois só raramente ficavam em Alcobaça a dormir a convite de elementos do grupo.
Maria Luísa Dionísio, como solista, primeiro soprano, e filha do Diretor/Tesoureiro José Dionísio dos Santos, sentia que tinha obrigações especiais, não direitos, como manter a voz em bom nível, que tanto quando se recorda nunca lhe falhou. Figura de destaque no grupo coral, nele entrou com 18 anos, numa altura em que já trabalhava em Alcobaça como empregada de balcão. Contando consigo, houve um período em que, no grupo coral, havia nada menos que 12 Marias. Ao mesmo tempo, assegurava a boa apresentação do estandarte, e a das camisas e fardas dos instrumentistas. Quando os espetáculos se realizavam em Alcobaça, tinha também como Rosa Maria Coelho e outros, a tarefa de coordenar o arranjo da sala, de modo a não haver repetições na decoração, não obstante ser quase sempre inspirada nas chitas tradicionais. Todavia, num espetáculo realizado por alturas de maio foi decidido, para variar, fazer uma decoração à base de cestos em palha, os quais foram decorados com giestas apanhadas na serra. Maria Luísa Dionísio recorda, um espetáculo realizado no Cineteatro que coincidiu com o seu dia de aniversário, pelo que para não perturbar e distrair os demais elementos ou o Maestro, resolveu não dizer nada a ninguém. Antes do espetáculo, Alves Coelho (filho) foi jantar a casa de seus pais, mas com a preocupação de ter tudo em condições para a noite, que apenas no dia seguinte os lembrou do aniversário [90].
Eram cerca de 50 os elementos que compunham a O.T.C, distribuídos pelos vários naipes e os instrumentistas. Não havia ensaiadores de naipes competindo ao maestro faze-los separadamente e quando adequado juntava-os todos [91]. Segundo Francisco Ramos André em 1961[92] Já efetuámos mais de 500 ensaios, tendo os componentes percorrido muitas centenas de quilómetros, com grande sacrifício, pois há alguns que vivem nos arredores.
A partir de certa altura começou a colaborar com a O.T.C., o alcobacense António Jorge Moreira Serafim, excelente intérprete de oboé, que vivia em Lisboa, irmão do tenor Fernando Serafim. António Serafim, era primeiro oboé na Orquestra Sinfónica Nacional, na Orquestra Gulbenkian e na Banda da Força Aérea. Na O.T.C, atuava (graciosamente), e quando necessário era substituído, por Leal Calqueiro, que vinha do Seixal e pertencia à Orquestra do Timbre aí sedeada. Na O.T.C., os aplausos, uma ceia, um ramo de flores ou uma saída, eram suficientes para recompensa. Os seus componentes, sacrificavam-se para ocorrer às necessidades da coletividade ainda que em dia de trabalho, se necessário com algum prejuízo deste e eram todos residentes na região de Alcobaça. Alguns recordam o António Bolola, da Maiorga, flautista jovial, que tinha dificuldade em encontrar o caminho da casa depois de uma ceia bem regada [93]. A parte instrumental, era composta por 8 bandolins, 4 guitarras, 6 violas, 1 flauta, 1 oboé, 3 clarinetes, 2 violões, 2 bandoletas, 2 acordeões e 1 bateria. O baterista, era o taxista Acácio/Serol  [94] pai das  5 Marias que atuavam no coro e mais uma a tocar bandolim. Mas este não era o único caso, pois havia um outro em situação parecida, o da família de José Teopisto. O coro era constituído por raparigas em geral solteiras, e homens, muitos deles casados. Entre todos, havia as mais variadas profissões, como estudantes, carpinteiros, serralheiros, empregados de comércio, bancários e donas de casa, segundo os dados de 1961/62 fornecidos por J. Crespo. As meninas deslocavam-se para os ensaios ou regressavam a casa na companhia das mães, pais ou irmãos. Sós, nunca. Ao longo dos anos estabeleceram-se alguns namoricos (poucos), que terminaram no altar. Estes namoricos tanto ajudaram a sedimentar, como a fragmentar o grupo, especialmente no caso de casamento.

A vestimenta do grupo deveu-se a sugestões do Professor Joaquim Vieira Natividade e esposa Dª. Irene Sá [95].
Conforme Fernando Manuel Zeferino, deve-se ao Sr. Prof. Dr. Vieira Natividade, que o adaptou do trajo rico usado outrora pelos habitantes da região alcobacense [96].
Maria Luísa Dionísio, que ainda conserva a sua farda, e Rosa Coelho referem que nos primeiros tempos, por falta de verba, os homens usavam calça preta e camisa branca, enquanto as senhoras uma saia preta e camisa branca. Em ambos os sexos, no lado esquerdo da camisa encontrava-se bordado o emblema da O.T.C., inspirado no do C.A.A.C. Na Orquestra, aonde inicialmente não havia intérpretes femininos, os homens usavam o fato tradicional da região da Serra dos Candeeiros, que consistia numa calça castanha escura tipo serrobeco [97], camisa branca lisa, colarinho e punhos bordados a azul e vermelho, cinta preta e jaqueta castanha clara. Quando houve subsídios, os fatos da O.T.C. passaram a ser iguais e fornecidos por esta. A vestimenta, originária da Serra, era muito usual na região de Alcobaça, com exceção de Valado de Frades, sujeita à influência da Nazaré. Quando um elemento do grupo saía tinha de devolver o fardamento, salvo se quisesse comprá-lo. Maria Fernanda quando saiu [98] devolveu o seu, pois não tinha condições para ficar com ele.  A entrada de elementos femininos para a Orquestra foi, em parte, devida ao facto de a esposa de Alves Coelho (Filho), Dª. Graciete, nela tocar acordeão. As roupas femininas eram confecionadas pelas modistas Olga Simões Vasco e Marília Silva e as masculinas por Quim alfaiate, na Rua Miguel Bombarda  [99].

Os anos de ouro da O.T.C. decorreram, na década de 1960, com os presidentes Engº Sousa e Brito e Dr. Amílcar P. de Magalhães.
José António Crespo e Maria Luísa recordaram um Serão para Trabalhadores no Pavilhão dos Desportos (atualmente Carlos Lopes), a 16 de março de 1961, organizado pela E.N., transmitido em direto, em colaboração com a F.N.A.T. e dedicado ao Grupo Desportivo da Companhia dos Telefones. Colaboraram na primeira parte, o conjunto muito em voga de Jorge Machado, Natércia da Conceição, os artistas cabo-verdianos Fernando e José Queijas, bem como os cançonetistas Elsa Vilar, Alberto Ramos [100] e Maria Amélia Canossa [101].
De acordo com a organização, haveria músicas tristes ou alegres, os fados de Lisboa que todas as noites nascem sem pedirem licença a ninguém. Basta que uma guitarra se encontre ao lado de uma viola e que a presença de uma castiça cantadeira se interponha entre ambas, para que os fados surjam e Malhoa esteja presente com a sua mágica paleta. A segunda parte foi preenchida com a O.T.C. após cum breve intervalo, para alguns momentos humorísticos de José Viana [102]. Era intenção propalada tanto pela E.N., como pela F.N.A.T., o propósito de apresentarem nestes Serões, as Orquestras e Conjuntos da nossa terra que possuam verdadeira categoria [103].
Em entrevista [104], Francisco Ramos André informou que a O.T.C. a partir da primeira exibição, fizemos em 1957 nove espetáculos em várias localidades, entre as quais Vila Nova de Ourém, Leiria, Óbidos e Caldas da Rainha. No ano de 1958 quatro e em 1959 oito, com relevo para as audições na exigente e conhecedora Santarém e no Pavilhão dos Desportos em Lisboa, transmitida pela Emissora. No ano passado mais sete apresentações e no ano corrente já vamos em cinco exibições, duas das quais na Televisão e uma na Emissora.
Cumpre recordar o Recital de Solidariedade, de 3 de abril de 1962 em Alcobaça também a favor dos pobrezinhos, com a colaboração da Orquestra Ligeira da E.N. e os imprescindíveis  Alice Amaro [105], António Calvário [106], Artur Garcia [107], Gina Maria [108], Guilherme Kjölner [109], Madalena Iglésias [110], Mara Abrantes [111], Maria Candal [112], Maria Marise [113], Simone de Oliveira[114], Teresa Paula [115] e Trio Harmonia [116]. As virtuosas senhoras que compunham a organização, obtiveram donativos em géneros alimentares e roupas, pelo que muito satisfeitas admitiram fazer no ano seguinte outro evento beneficente.
No sábado, 4 de novembro seguinte, a O T.C.[117] fez um Recital no Cineteatro da vila, convidando artistas da Rádio e R.T.P. Este espetáculo foi tão bem-sucedido, que no dia 16 de dezembro pré-anunciando o Natal se repetiu, com a presença dos mesmos artistas (Madalena Iglésias, Artur Garcia, Maria do Espírito Santo [118]) e ainda de Graça Maria Rosado [119], Mariette Pessanha [120]. Gina Maria estaria presente se o avião que a trouxer de os Açores chegar a Lisboa, a tempo de depois se deslocar para Alcobaça.
Gina Maria afinal esteve presente, pois o avião chegou a tempo de se fazer transportar de táxi o que muito satisfez os alcobacenses que lhe tributaram calorosa receção.
O Dr. Amílcar Magalhães foi entre 1961 e 1963, Presidente da Direção do C.A.A.C.[121], sucedendo ao Eng º. Sousa e Brito. Fizeram parte da Direção, José Crespo (secretário-geral), Manuel Lemos Pereira da Silva (secretário adjunto) [122], José Dionísio dos Santos (tesoureiro) e Leopoldino dos Santos (vogal).
Crespo gostava de sublinhar, no que é seguido por Maria Luísa Dionísio, Maria Fernanda e outros, que o ambiente do grupo neste tempo era muito bom, sem prejuízo de problemas (pontuais) facilmente sanados, decorrentes de cada um pretender dar o melhor, todos sentiam uma grande solidariedade entre si, ajudavam-se no fia a dia e davam poucas faltas. Os diretores não enjeitavam colaborar na organização do espetáculo, arrumando, levantando cadeiras e mesas, preparando o palco, a cena ou a instalação elétrica ou suportando mesmo alguns encargos não reembolsados.
No dia 11 de fevereiro de 1962, a O.T.C. com  Maria Luísa Dionísio, Maria do Rosário, Maria de Lourdes, José Teopisto, Olegário José e Valdemar do Nascimento, como solistas, apresentou-se em Montes, na sede da Associação que funcionava numa Adega do Dr. Magalhães. O edifício que foi sede da Associação Recreativa Montense até 1968, com exceção da zona dos depósitos aéreos e subterrâneos, era em chão térreo. Montava-se um palco com pano de cena, um pequeno bar onde se serviam rissóis, copos de branco ou tinto e pirolitos, colocavam-se bancos e cadeiras, bem como uma instalação sonora emprestada por um eletricista com loja à Pissarra. Na segunda parte do espetáculo dos Montes (para maiores de 6 anos), apresentado por A. Canário, cujo ingresso não era barato, pois as cadeiras custavam 12$00 e o peão 7$50, participaram ainda Artur Garcia e Graça Maria Rosado. A casa estava superlotada, houve pessoas que ficaram à porta, e José Crespo recorda, para além do sucesso da apresentação, uma ceia oferecida pelo Dr. Amílcar Magalhães [123]. A adega/sala de espetáculo fora afanosamente preparada durante cerca de 15 dias, o chão térreo arranjado, limpa de ervas a zona envolvente e preparados uns precários sanitários. O pessoal agrícola do Dr. Magalhães não recusou colaboração. A instalação sonora foi especialmente cuidada, pois os artistas lisboetas eram exigentes e muito caprichosos [124].
Também ali decorreram sessões de fados castiços e por lá passaram, apesar das insuficiências de eletricidade, António Calvário, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias ou Gina Maria. O fornecimento generalizado de luz elétrica no concelho de Alcobaça começou tardiamente, mais propriamente na segunda metade séc. XX. Até aí, os alcobacenses de Évora, Turquel, Maiorga, Montes, Alfeizerão ou os serranos, usavam para iluminação, candeias de azeite, candeeiros de petróleo, lanternas e petromaxes. As candeias de azeite eram de lata e possuíam um bico, que suportava uma torcida, feita de um pouco de pano. Produziam uma luz fraca, eram leves e penduravam-se num prego ou num local à mão. Nos lagares e adegas, usava-se preferencialmente uma candeia de azeite de maior volume, com quatro bicos e torcidas. Os alunos estudavam em casa à luz de candeeiros a petróleo, tal como as senhoras faziam malha, costura ou a lide da casa. Os candeeiros a petróleo eram geralmente de vidro. Alguns tinham um pé alto, como se vê com alguns com finalidade meramente decorativa. As torcidas vendiam-se na mercearia, drogaria e estabelecimentos semelhantes. Para acender um candeeiro a petróleo, retirava-se a chaminé e chegava-se à torcida um fósforo. Para apagar o candeeiro, levantava-se a chaminé e apagava-se a chama com um sopro. Nas casas havia suportes para os candeeiros, colocados estrategicamente como na mesa-de-cabeceira do quarto de dormir, na mesa de refeição ou ao pé do lume. Havia candeeiros apropriados para a rua ou em palheiros munidos de uma pega para transporte. As charretes tinham lanternas redondas. A eletricidade não esteve de todo ausente do Concelho de Alcobaça até à II Guerra e alguns anos seguintes. Havia lanternas elétricas, as foxes para iluminar o caminho. Em noites sem lua, os caminhos rurais eram percorridos, em completa escuridão. No entanto, as pessoas tinham uma espécie de instinto inato que lhes permitiam pôr sempre o pé, no sítio certo e seguir os percursos corretos.
As aldeias tornaram-se paisagens deprimentes. Os novos abandonaram a casa dos pais para construir a crédito uma nos terrenos agrícolas de que viveram os antepassados, enquanto a terra só passou a ser valorizada pelas suas potencialidades de construção. A cultura mudou?
Não. Só se transferiu da aldeia para a cidade. No século XX, especialmente depois do último quartel, o mundo rural transformou-se radicalmente, sem que Alcobaça se tivesse revelado exceção. Nessa altura, o País ainda produzia mais de metade do que comia, havia um certo equilíbrio entre o mundo rural e a cidade. A crescente urbanização, o desenvolvimento da indústria, a modernização da agricultura e o êxodo rural fizeram desaparecer formas de vida ancestrais. Hoje produz-se um quarto do que se gasta à mesa, desmantelou-se uma cultura e sabores que demoraram gerações a construir [125].
De acordo com a Plateia [126], a homenagem a Silva Tavares e à O.T.C, realizada em Alcobaça, constituiu uma parada dos melhores artistas da Rádio e TV nacionais, e uma orquestra da categoria que é a de Tavares Belo. Uma casa cheia e um público ansioso que, não regateou aplausos quando Fernando Correia, alegre e comunicativo locutor da E.N, anunciou o início do espetáculo.
Na primeira parte, Silva Tavares, foi alvo duma significativa ovação quando se acabou de ouvir Alcobaça. Fernando Correia [127] e Artur Peres apresentaram na segunda parte, Gina Maria, Domingos Marques [128], Trio Harmonia, Cristina Maria e Alice Amaro, acompanhados pela Orquestra de Tavares Belo [129]. Na terceira parte, foram chamados ao palco, o homenageado, o Maestro Eduardo Loureiro, chefe da Secção de Música Ligeira da E.N.[130], os Maestros Melo Pereira, chefe da Secção de Música Ligeira da R.T.P., Belo Marques e um representante da Editora Valentim de Carvalho. Subiram ainda ao palco, o presidente da CMA, Jaime Horácio Junqueiro e Vereadores, bem como, o Presidente do C.A.A.C ., Dr. Amílcar Magalhães
Jaime Junqueiro dirigindo-se a Silva Tavares enfatizou que, temos Vª. Ex.ª como filho de Alcobaça, pois esta vila é como uma pátria para a qual corre sempre que pode. No seguimento desta intervenção entregou o diploma que o torna filho adotivo e cidadão de Alcobaça.
O Dr. Magalhães, elogiou as pessoas e a ação de Belo Marques e Silva Tavares, tendo este dito que eu gosto de Alcobaça, como gosto daquilo que gosto. Gosto da minha mulher, porque gosto. Em seguida, recordou a história de Alcobaça, e a sua criação original [131].
Quem cantou pela primeira vez Alcobaça, foi Cidália Meireles, que tendo ido trabalhar para o Brasil, cedeu o lugar a Maria de Lurdes Resende que canta desde que se lembra, como em 1957 contou à revista Flama. Assim que nasceu, começou a berrar, tarefa a que se dedicou durante o primeiro ano de vida, para grande desespero e insónia dos pais. Ao crescer, ganhou a convicção de que um dia seria cantora profissional, talvez até de ópera. Os pais opuseram-se com veemência e só aos 18 anos se estreou em palco, embora com o nome de Maria de Lurdes, porque Resende era o nome da família que a tinha contrariado na sua ambição. Maria de Lurdes Resende, ganhou popularidade ao serviço das cantigas. Alcunhada gentilmente de A Feia Bonita, deu a resposta adequada, popularizando a cantiga A Feia [132]. Alcobaça foi um grande êxito, em Portugal e além-fronteiras e passou a fazer parte obrigatória do seu repertório [133], e mesmo de outros artistas.
Num gesto, que sensibilizou os presentes, Silva Tavares, abraçou na pessoa do Presidente da Câmara a vila de Alcobaça, após o que atuaram Maria Marise, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, a brasileira Mara Abrantes e conjunto de guitarras de Raul Nery [134], todos acompanhados pela Orquestra de Tavares Belo. A O.T.C., ofereceu aos participantes do espetáculo, que o foram a título gracioso, uma lembrança a testemunhar e a agradecer o contributo de cada um e todos, para o êxito do evento.
A 23 a 27 de julho de 1962, decorreu em Lisboa o XIX Congresso da União Internacional dos Advogados /Union Internationale des Avocats. Inscreveram-se 286 juristas, representando os seguintes países: Alemanha Ocidental, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Irão, Israel, Itália, Jugoslávia, Líbano, Luxemburgo, Portugal, Síria, Suíça e Turquia. Os temas gerais versados no Congresso, politicamente inócuos, foram O advogado e a vida económica o O problema da defesa dos direitos e dos interesses das minorias dos sócios nas sociedades comerciais. Foi Presidente deste Congresso, o Professor Doutor Adelino Palma Carlos [135]. Da Comissão Executiva fizeram parte António Madeira Pinto (vice-presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, como Secretário Geral), José de Magalhães Godinho [136], José Maria Gaspar [137] e Vasco da Gama Fernandes [138]. O Advogado e Presidente do C.A.A.C, Dr. Amílcar P. de Magalhães, convidou a O.T.C. a fazer uma apresentação antes do almoço que se realizou no Mosteiro de Alcobaça, a 25 de julho [139].
Nesse ano, a 27 de outubro, a O.T.C. deslocou-se à sede da Academia de Santo Amaro [140], para uma  apresentação de responsabilidade em que participaram Graça Maria, Artur Garcia e José Nobre, com locução de Pedro Moutinho, que nunca dispensava uma orquídea branca na lapela do casaco [141]. Para esta apresentação realizaram-se ensaios extras e algumas meninas estavam tão nervosas que não jantaram para poderem comer uma gemada a fim de aclarar a voz. O final ocorreu em ambiente de apoteose. Durante algum tempo esta deslocação foi tida como um dos grandes momentos do grupo. O ano de 1962 foi provavelmente no conjunto o de maior sucesso da O.T.C.
Em janeiro de 1963, realizou-se Alcobaça, um espetáculo estilo Melodias de Sempre.
Colaboraram (graciosamente como corrente), Artur Garcia, Madalena Iglésias, Mara Abrantes, Maria Marise, Gina Maria, Elsa Vilar [142], Maria Fernanda Soares [143], Domingos Abrantes [144], o Grupo Coral e Instrumental  Melodias de Sempre [145], acompanhado por António de Melo ao piano [146]. A locução esteve a cargo de Fialho de Gouveia [147], Fernando Correia e Henrique Mendes. Os artistas utilizaram guarda-roupa cedido por Anahory, figurinista das revistas do Parque Mayer. A O.T.C., executou o seu tradicional programa, que recebeu fortes e prolongados aplausos. O Coral, já creditado pelas suas vozes e harmonia dos naipes, também se distinguiu pelo valor dos solistas, merecendo com inteira justiça as palmas com que o distinguiram. Do programa, “Cantigas de Portugal” e “Senhora do Almurtão” merecem lugar destacado pela beleza musical e valor do conjunto. Após a 1ª. e 2ª. partes, preenchidas com a Orquestra Típica e Coral, teve lugar  terceira parte com Francisco António, Maria Marise e Alice Amaro, que cantaram números conhecidos que o público aplaudiu com prolongadas salvas de palmas. Durante os intervalos e para os mesmos fins de beneficência, foi leiloada a poesia manuscrita de Silva Tavares Faz bem sem olhar a quem, escrita para esta festa pelo poeta, sempre pronto a proteger os pobres. Fernando Correia apresentou o evento, tornando-o equilibrado com algumas anedotas e comentários, com peso e medida, que o público saboreou e aplaudiu [148].
No ano de 1963, a O.T.C. realizou um espetáculo na Maiorga (com Maria da Glória e Eugénia Maria), outro em Valado de Frades (com Maria Fernanda Soares e Artur Garcia) e gravou um disco na Casa Valentim de Carvalho, não nos seus estúdios, mas em Alcobaça. A primeira audição deste disco a 23 de Março, constituiu um momento emocionante na sede do C.A.A.C. e foi reservada aos diretores, componentes da O.T.C. e poucos convidados. Foi instalado um gira discos emprestado, fez-se silêncio e perante a reação muito positiva [149], logo se pensou gravar outro a curto prazo, como forma de angariar receitas. Nessa tarde foram vendidos uns 15 discos. Rosa Maria ainda guarda um, mas já não o ouve há muito [150], tal como Ana  Maria de Magalhães (Fleming de Oliveira). Alguns foram enviados para o Brasil, Estados Unidos, França e 3 para militares a prestar serviço em África, mas a gravação não se consumou como sucesso comercial. A gravação de discos era mais uma questão de prestígio (que muito emocionava o agrupamento), do que forma de angariar receitas. Mesmo nos espetáculos a venda era reduzida.
Na engalenada alameda de entrada na Quinta da Cova da Onça, promovido pelo C.A.A.C., realizaram-se em 1963 os festejos dos Santos Populares. Ali funcionou uma quermesse com barracas de tômbola de panelas e tachos, de ginjinha, de rifas, de comes-e-bebes (com serviço de amêijoa, frango no espeto, sardinha assada, etc.), bem como barracas dos mais variados artigos, onde predominavam a louça de fabricação alcobacense. A O.T.C. marcou presença na última noite. A R.T.P. veio filmar o espaço da Cova da Onça, onde estavam a decorrer as festas, para utilizar num programa que a O.T.C. veio a apresentar em direto [151]. Desde o Stº. António, que ali se vinham a realizar festejos, nos quais se exibiram, além de consagrados artistas, o Orfeão da Sociedade Central de Cervejas, sob a regência de Alves Coelho (Filho). Mas foi a noite de S. Pedro, que se revelou especialmente notável, uma noite chuvosa e ventosa nada agradável, que começou pelas 22h, com a exibição do Rancho Folclórico Mar Alto. Um grande momento da noite consistiu na apresentação de Há Mercado em Alcobaça.
Maria do Rosário da Silva, nasceu em Alcobaça, a 6 de outubro de 1942. Possuidora de voz de contralto, com 18 anos, integrou a O.T.C. onde foi solista, interpretando O Mangerico, de Alves Coelho (Filho). Com Olegário do Nascimento fazia dueto, interpretando Os Serranos. O Mangerico foi apresentado no dia de Stº. António, num programa da R.T.P. Depois foi, e com enorme sucesso, apresentado na Cova da Onça. O Mangerico foi dedicado por Alves Coelho (Filho), a sua esposa Dª. Graciette, pois cada verso era iniciado com uma letra do nome desta, como esclareceu Maria do Rosário que forneceu a letra. Gosto de ver toda a gente, // Rua abaixo aos tropeções, // A ver a marcha contente, // Com arquinhos e balões.
Imensas luzes e cor, // E fácil de decorar, // Toda a gente tem de cor, // Trovas singelas de amor, // E fáceis de decorar.
Os resultados dos santos populares foram inferiores ao que seria de esperar. O público compareceu regularmente, sendo as noites de maior receita, as duas primeiras e a última. O estado do tempo não permitiu que os festejos tivessem maior luzimento. Feitas as contas, a receita foi diminuta, pois foram grandes tanto as despesas de adaptação do local como o nível dos espetáculos.
As relações entre Dª Graciette e Eugénia Lima, ambas acordeonistas de mérito, não eram ao que corria as melhores. A título de curiosidade refira-se que aos 13 anos, o pai tentou inscrever a filha Eugénia no Conservatório de Lisboa, mas os responsáveis disseram-lhe que o acordeão não tinha entrada naquela instituição. O acordeão que esta considerava melhor, foi oferecido ao Santuário de Fátima, dias antes da sua morte a 4 de abril de 2014 em Rio Maior. Eugénia Lima foi homenageada a 28 de janeiro de 1990, na Maiorga, numa iniciativa da Sociedade Filarmónica Maiorguense que, aproveitando a comemoração dos 65 anos de carreira da artista, lhe quis agradecer o apoio e amizade que dedicou à localidade.
As despesas da O.T.C. eram grandes pelo que a Camara Municipal passou a contribuir com 6000Esc no início do ano, mais 6000Esc no segundo semestre. Também colaboravam o Governo Civil de Leiria, a Fundação Gulbenkian, o Banco Raposo de Magalhães, o Rotary Clube de Alcobaça e por vezes os corpos sociais. Sobre a questão financeira, Fernando Manuel Zeferino havia contado em 1961 numa entrevista a O Alcoa que eram os próprios elementos fundadores que despendiam as importâncias necessárias para conserto de instrumentos, para pagamento de transportes do Maestro e executantes e muitas outras despesas. O Sr. Gavino apenas começou a vencer ordenado depois da primeira apresentação a público, que se deu em 1 de Maio de 1957. Cada um de nós adiantou enormes quantias pois, como podem verificar neste balancete, durante o tempo em que trabalhou a Comissão Organizadora, movimentos 59.344§50. Não sabemos onde e como obtivemos esta enorme verba.
Em 1964, os festejos dos Santos Populares realizaram-se na cerca do Asilo da Fundação Maria e Oliveira com Maria Fernanda Soares e Artur Garcia [152] Fernanda Pacheco, Luís Piçarra [153] e Gina Maria [154], Margarida Amaral, Fernanda Pádua [155], Lina Maria, Max [156] Carlos do Nascimento [157], e Simone de Oliveira [158].
Alcobaça tem // um mercado original // Pois que toda gente que aqui vem // Vai a dizer bem, //Nunca diz mal.
Vende-se de tudo // Que é antigo e que é moderno, //Tecidos de chita e de veludo // E frutas do verão, em pleno Inverno.
Se depois chegar, // Em passando o nono mês // Um bebé bonito p’ra alegrar, // Terá que comprar // Mas para três… // E depois virá o tal dia que é preciso // Ensinar aquilo que ouviu já//Para que o rapaz tenha juízo…
Só nos prende // Um pormenor //Não se vende //Aqui amor…
(Estribilho)
Quem quiser // Escolher// A mulher // P’ra viver, //E pensar // Vida sã //Para o lar // De amanhã, // Só precisa comprar // Valiosos bragais, // E depois … // É casar, // Nada mais!
A O.T.C. recebeu no dia 14 de dezembro de 1963, a Orquestra Típica Albicastrense. O agrupamento alcobacense organizou uma caravana automóvel, que esperou os visitantes no limite do concelho e os acompanhou ao edifício da Câmara Municipal, onde a chegada foi festejada com foguetes e música pela Filarmónica Vestiariense [159].
Segundo o Reconquista [160], a caravana albicastrense, esperada em Aljubarrota por mais de uma dezena de carros, apesar da chuva que persistentemente caía, foi a escoltada até ao largo fronteiro ao edifício dos Paços do Concelho, onde foi recebida pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal, pela digníssima vereação, direções do Centro Alcobacense de Arte e Cultura, da Orquestra Típica de Alcobaça, etc., e por muito povo que ali acorreu ao ouvir a salva de morteiros e as girândolas de foguetes que foram deitados.
A banda de música, em frente aos Paços do Concelho executou alguns números musicais. Recebida pelo Presidente do Município, dirigiu-se a comitiva para o salão nobre, onde apresentaram cumprimentos os representantes da Orquestra Típica Albicastrense Dr. Leal Freire, Visconde do Alcaide e Tenente Manuel Dias Caetano. À noite, o sarau do Cineteatro começou com a exibição da O.T.C., seguida pela Orquestra Típica Albicastrense e, finalmente, um acto de variedades, em que atuaram Artur Garcia e Simone de Oliveira, bem como, os locutores Henrique Mendes [161] e Leite Pereira [162]. No final [163], foi servido o opíparo copo de água no Restaurante Bau aos tos elementos que tomaram parte no sarau, tão abundante e variado que, no fim apesar de se encontrarem presentes mais de 150 pessoas (…) dir-se-ia que estava intacto. As meninas da O.T.C. desdobraram-se a solicitar às senhoras de Alcobaça, que oferecessem um prato, quente ou frio.
Luisinha Doce estava tão cansada, que durante a ceia, o que mais lhe apeteceu foi sentar-se, ficar quieta, esticar as pernas, fechar os olhos e… descansar.
Com Dª. Celeste, proprietária do Restaurante Corações Unidos, havia sempre disponibilidade para que quando algum artista tivesse que jantar antes do espetáculo, ou ficar para o dia seguinte, o fizesse em sua casa em condições especiais. É de realçar a colaboração da população de Alcobaça, quando se realizavam espetáculos no Cineteatro, com a presença de artistas de fora e de nomeada, os quais se deslocavam em geral graciosamente, e a convite do maestro Alves Coelho (Filho). A finalidade, usual, era angariar fundos, para uma determinada obra e aqueles colaboravam. A propósito da deslocação da Orquestra Típica Albicastrense, o Jornal do Fundão [164], destacou o calor da assistência na sala repleta de assistentes, a receção e boas vindas calorosas daquelas gentes onde a arte não morreu, ao contrário do que se passa em Castelo Branco, cuja população dá pouco apoio à sua Orquestra Típica. João da Gardunha [165], lastimou como foi chocante, doloroso mesmo, verificar a indiferença com que a cidade (Castelo Branco) acolheu o espetáculo anual da Orquestra Típica Albicastrense que lhe foi dedicado. E foi tanto mais notória essa impressão dolorosa, porque, apenas dois dias antes a mesma O.T.A., após uma receção grandiosa e inenarrável na vila de Alcobaça, culminou essa visita com uma atuação que perdurará através o espaço e o tempo na memória daqueles que a ela tiveram a dita de assistir, tal o nível a que se alcandorou, devido ao brio dos seus dedicados componentes.
Segundo o República [166], a O. T. C. não precisa de apresentações, é mais do que conhecida no país e apreciada pelas suas exibições no programa da RTP-Melodias de Sempre.
A O.T.C. deslocou-se à Figueira da Foz a 7 de novembro de 1964, para cumprir um contrato com o Casino, aonde alcançou êxito perante um salão cheio, fez uma dedicatória à cidade anfitriã e a Maria Clara [167] intérprete da Canção da Figueira. Recorde-se a letra:
Rainha do mar português // Figueira // Que tem mais azul todo o mar // Figueira //A serra onde tu te revês // Figueira // Parece um milagre a passar // Figueira.
O mar // de bravura // E altura // Sem par, // Sorri na Figueira da Foz. // O mar // que não pode // Nem pede // Lugar, // Sorri na Figueira da Foz. // O mar // que por vezes // Revezes nos traz // Sorri na Figueira da Foz. // Se o mundo quiser // Conhecer // Sonho e paz //Que venha à Figueira.
Esta apresentação, talvez o ponto alto do ano, implicou uma preparação especialmente cuidada e deixou imperecíveis recordações em Maria Fernanda carcereiro que ficou extasiada com o ambiente totalmente estranho (onde noutras circunstancias não tinha entrada), até pela ceia que se seguiu. À Figueira da Foz deslocaram-se familiares e amigos para em conjunto viverem um momento que reputavam relevante na vida do agrupamento. Este espetáculo em nada desmereceu do de Oeiras. Em ambos os casos houve a satisfação de ver correspondido o esforço ao resultado [168].Tendo bisado várias canções e alcançado notável êxito, a OTC foi felicitada pela capacidade artística evidenciada e concretamente o Maestro Alves Coelho (Filho), demonstrando que orquestras puramente amadoras, podem proporcionar espetáculos de alto nível, quando o esforço de conjunto resultar proficiente, fruto duma íntima cooperação. A satisfação demonstrada pelo Casino Peninsular, deixou antever a possibilidade de um contrato para o ano seguinte, o que teria agrado muito, mas não veio a acontecer.
O C.A.A.C.[169], organizou um almoço de confraternização, onde estiveram presentes o Chefe dos Serviços Musicais da E.N., Alves Coelho (Filho) e esposa. Após o almoço usaram da palavra o presidente Fernando Neves Raposo de Magalhães [170], Fernando Afonso Ramos e Raul dos Reis Gameiro [171].
Na direção presidida por F. Raposo de Magalhães sublinha-se a presença muito ativa e útil de António Rosa. Este que faleceu em 3 de abril de 2020 aos 93 anos, era figura muito estimada e que marcou concretamente também a Associação de Defesa e Valorização do Património Cultural da Região de Alcobaça. Apaixonado pelo património e pela arte (sem esquecer a música por isso se interessou pela O.T.C.), deu um forte contributo aquela instituição ao longo de mais de duas décadas. A História da ADEPA jamais poderá ser escrita sem si, testemunhou um elemento da Direção, considerando que António Rosa, organizou cerca de duas centenas de visitas culturais a Portugal e Espanha e, marcou fortemente a vida desta instituição, dos alcobacences e de todos os que o rodeavam. António Rosa foi homenageado pela ADEPA atenta a dedicação, trabalho e amizade, em abril de 2017, num almoço surpresa que reuniu cerca de 200 pessoas. Também colaborou com outras instituições de Alcobaça.
Em colaboração com a E.N. e a F.N.A.T., em maio de 1965, a O.T.C. participou num Serão para Trabalhadores [172], no Liceu Camões-Lisboa, dedicado ao pessoal da Soponata, em que atuaram a Orquestra Ligeira da E.N., sob a regência de Tavares Belo, o Conjunto Quatro de Espadas [173], Isabel Fontes e Ivone de Andrade [174], Artur Garcia, Coro Misto da E.N. e Orquestra e Simone de Oliveira. A primeira parte do nosso tradicional Serão caracteriza-se por um belo desfile de melodias, impondo mais uma vez, o bom gosto dos nossos compositores. O lugar aos novos será preenchido pela rubrica de revelações, Novos Artistas, testemunho claro do incentivo que a EN proporciona aos esperançosos cançonetistas que procuram, ansiosamente, o rumo da consagração. Saliente-se, ainda, a intervenção do Coro Misto que sublinhará, acompanhado da Orquestra Ligeira da EN, dirigida por Tavares Belo, a inesquecível melodia de Raul Ferrão Abril em Portugal. Momento de beleza musical estará também a cargo do Coro Feminino, revivendo a já famosa página de Tavares Belo Dois Tempos de Jazz. Na segunda parte, atuou a O.T.C., no intuito de variar os elencos destes tão populares passatempos recreativos, organizados pela EN em colaboração com a FNAT, mais uma vez depois de tantos êxitos colhidos, volta à ribalta artística do nosso Serão para Trabalhadores, o Coral de Alcobaça, que tanto tem contribuído para a divulgação do rico folclore português. Além do conjunto vocal associa-se o relevo musical da sua conhecida Orquestra Típica. Este conjunto, bem como o Coral são dirigidos por Alves Coelho (Filho) e todas as suas interpretações obedecem a um seletivo reportório de melodias, onde está presente a alma do povo nos seus cantares e desgarradas.
Na noite de 22 de maio de 1965, a O.T.C. participou num Sarau organizado pelo Grupo de Instrução Popular da Amoreira/Costa do Sol. Era o fruto da bem sucedida deslocação a Oeiras. Segundo o Jornal Costa do Sol [175], foi uma notável façanha a presença da O.T.C., que se deslocou gentilmente à Amoreira, conjuntamente com a artista de Cascais, Natalina José [176]. Alves Coelho (Filho) sublinhou ser constituída por amadores, gente simples e rude que ganha o seu pão cavando os campos. Segundo o jornal, único senão foi não ter prolongado um pouco a exibição, para dar ainda mais provas do merecimento.
Maria Luísa Dionísio e Maria Fernanda recordam um espetáculo no Reformatório Central de Lisboa Padre António Oliveira, aonde Alves Coelho (Filho) era professor de música. No Reformatório, havia oficinas de variadas atividades, como carpintaria, serralharia, tipografia ou cartonagem, pelo que houve a gentileza por parte da organização em oferecer a cada membro da O.T.C., um bloco encadernado com a dedicatória Recordação do Reformatório de Caxias. Apreciados foram tanto estes blocos-notas que passaram a ser utilizados, para registo das letras ou pautas de música.
No espetáculo da O.T.C. em Alcobaça, no dia 13 de janeiro de 1968, dia de aniversário de Rosa Maria Coelho (a quem nos camarins cantaram os parabéns), na primeira parte exibiram-se os ranchos folclóricos de Celestino Graça, Grupo Infantil de Dança Regional de Santarém, Grupo Académico de Danças Ribatejanas, Rancho Folclórico do Bairro de Santarém. A O.T.C. apresentou-se sob a regência do maestro fundador, António Gavino que se encontrava de férias, vindo de Moçambique.
A 17 de maio de 1969, com Alves Coelho (Filho) o C.A.A.C. para comemorar o seu 12º. aniversário, realizou um Sarau, onde colaboraram, a nossa querida Maria de Lurdes Resende, intérprete inolvidável da Canção de Alcobaça e Libânia Feiteira, a grande revelação da arte de declamar.
No dia seguinte, o C.A.A.C. organizou pelas 14h um torneio de tiro aos pratos, colocando em disputa 2 meias libras de ouro. Ao mesmo tempo [177], houve um torneio para amadores, para aqueles que nunca atiraram aos pratos.
Pouco depois, a O.T.C. foi convidada pela R.T.P. a fim de participar no programa transmitido (em direto) a partir do Teatro Variedades, bem como em um outro no Pavilhão dos Desportos, onde atuaram também as Orquestras Típicas de Santarém, Castelo Branco e Estremoz, transmitido em direto pela R.T.P., que finalizou com uma atuação conjunta das 4 Orquestras, dirigidas pelo Maestro Melo Pereira.

Alves Coelho (filho) não iria reger a OTC por muito mais tempo.
Silva Tavares, foi um amigo de Alcobaça, com quem mantinha uma forte ligação afetiva, frequentava com assiduidade e considerava como a sua segunda terra. Recuperou nas Termas de Piedade, após uma grave doença, como referirá adiante Simões Muller. O Café Restaurante Bau era um dos seus pousos habituais para conviver e mesmo trabalhar. Diz-se que aí escreveu muita poesia. Por testamento de 1969, veio a legar alguns bens à CMAlcobaça, como os seus retratos de autoria de Luciano dos Santos (óleo) [178], de Eduardo Malta (lápis) [179], de José Contente (pastel) [180], livros de que foi autor, numerados, assinados ou por si rubricados, as pastas que utilizava profissionalmente, um cofre em mármore contendo terra do quintal da casa natal em Estremoz, uma máscara em bronze do seu amigo, poeta brasileiro Olegário Mariano [181] e uma luxuosa encadernação de O Cardeal Cerejeira, da autoria do Pd. Moreira das Neves, na qual existia dedicatória do purpurado. Mas também legou à Biblioteca Municipal de Estremoz mais de uma dezena de manuscritos, um bronze, uma tela e as insígnias das suas condecorações. Embora haja quem não confira grande relevância à sua obra para o Fado, pode dizer-se que foi poeta com alma fadista. Amália Rodrigues cantou dele Ceu da Minha Rua, Elogio do Xaile ou Que Deus me Perdoe e Alfredo Marceneiro A Casa da Marquinhas, Mariquinhas 50 Anos Depois e Fado da Balada.
Em 1970, realizou-se no Teatro Monumental/Lisboa uma festa de homenagem a Maria de Lurdes Resende, comemorativa dos seus 25 anos de vida artística e organizada por um grupo de colegas, cuja receita foi destinada à Liga Portuguesa contra o Cancro (delegação do Sul). Presidiu Américo Tomás, que condecorou a artista, tendo Alcobaça comparecido em massa, através da Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórdia, Orquestra Típica, Bombeiros, Ginásio Clube de Alcobaça e Grémio do Comércio. Todos presentes (incluindo Belo Marques que leu uma saudação [182]), para expressar quanto a apreciavam e lhe estavam gratos.
Maria de Lurdes Resende nunca misturou as funções maternais e a vida artística. Cada uma no seu lugar. Por isso, foi uma mãe extremosa, e que o digam as filhas Paula Helena e a Isabel Alexandre.
O apreço a Maria de Lourdes Resende era muito e de há muito. Em 26 de novembro de 1951, no seguimento de um espetáculo no S. Luís/Lisboa, Silva Tavares enviou-lhe um bilhete, que esta sempre guardou carinhosamente, onde manifestava orgulho por ter contribuído para a revelação da sua linda voz aos microfones da E.N. e pela sua intervenção em Cantigas Que Já Cantei e Mais Cantigas neste memorável S. Luís [183].




















CAP. IV

-MARIA DE LURDES RESENDE
E
OUTROS-
Em 1995, Maria de Lurdes Resende foi alvo de uma expressiva homenagem em Alcobaça. Pelas 14h realizou-se uma concentração no Largo do Mosteiro, e cerca de três quartos de hora depois, chegou a homenageada que, sentiu o calor dos aplausos dos alcobacenses.
Seguidamente organizou-se um cortejo no qual se integraram o grupo das Majoretes, a Banda de Alcobaça e populares, que desfilaram em direção à Câmara. Sempre que há festa em Alcobaça, as senhoras têm o (bom) costume/gosto de colocar vistosas colchas à janela (sem esquecer as chitas de Alcobaça), pelo que nesse sábado 29 de abril, foi um dia para ver as janelas a transbordar de cor e alegria.
Miguel Guerra [184] deu as boas vindas à homenageada que assinou o Livro de Honra do Município e numa breve alocução disse que se sente alcobacense [185] pois a aceitação do público move-me e faz-me pensar que nasci aqui.
Onde quer que atuasse, Alcobaça era número obrigatório. Quanta vez terá sido pedido e repetido?
Há quem me conheça melhor por Maria de Lourdes d’Alcobaça, do que por Maria de Lourdes Resende! Seria, pois, uma tremenda ingratidão não terminar a minha longa permanência nos palcos, em Alcobaça. Para mim é altamente gratificante verificar como sou querida nesta terra, cujas belezas nunca me cansei de cantar.
Em seguida o cortejo dirigiu-se para a rua a que foi dado o nome Maria de Lurdes Resende, que liga às ruas Belo Marques e Silva Tavares. Junto à placa toponímica, o Presidente da Assembleia de Freguesia, Engº. Eduardo Vieira Coelho [186] recordou a emoção que sentiu quando, numa manhã de domingo de 1968 a prestar serviço militar em Moçambique, ouviu referir Alcobaça e Maria de Lurdes Resende.
Sensibilizada por em cada alcobacense ter um amigo, disse que agora já podem mandar-me para a minha rua. Que hei-de dizer? Que estou muito feliz! Só um povo maravilhoso como é o de Alcobaça me poderia proporcionar esta alegria. Um abraço de gratidão a todos os alcobacenses.
À noite, o cineteatro decorado com chitas de Alcobaça, estava repleto por um público atento e participativo, que ora escutava em silêncio, ora rebentava em aplausos com que mostrava a satisfação e a sintonia com os artistas que fizeram história. A abrir a sessão, Orlando Pedrosa de Carvalho [187] com uma intervenção fluente e poética, lembrou nomes notáveis da história de Alcobaça, onde enquadrou a excecional voz de Maria de Lurdes Resende. Atuaram a Banda de Alcobaça sob a batuta do jovem maestro Pedro Marques, o grupo de música popular alcobacense Dois Rios, que brindou o público com dois temas inéditos a incluir no próximo CD, Maria José Valério, Arlindo de Carvalho, Alice Amaro, Mariete Pessanha, e Margarida Amaral. A primeira parte finalizou com a entrega de presentes à homenageada, em tal quantidade e expressividade que a levaram a exclamar parece que estou no Natal. A apresentação esteve a cargo de Artur Agostinho [188] que referindo-se a Maria de Lurdes Resende afirmou que é um emblema da música Portuguesa, Fernando Pessa, Igrejas Caeiro [189], Etelvina Lopes de Almeida [190], Isabel Wolmar [191] que sublinhou que orgulhamo-nos da vossa terra, pois sabem amar os artistas. Armando Marques Ferreira [192] e Eugénia Maria [193], em conjunto dirigiram-se ao público com um Boa noite, poeta Silva Tavares! Boa noite maestro Belo Marques! Boa noite Maria de Lurdes Resende! Boa noite Alcobaça! Não se limitaram a fazer um cumprimento de circunstância, resumiram o sentido da festa. Na homenagem à intérprete, tinham de estar o autor da letra, o compositor da música e a vila inspiradora da canção que correu mundo e não se esquece facilmente. Depois do intervalo, sob a direção de Jorge Machado atuaram artistas como Trio Diana, Matilde e Carlos Mendonça, seguidos de Alice Amaro, Gina Maria, António Alvarinho, Margarida Amaral, Fernanda Baptista, Maria José Valério [194], Paulo Alexandre [195], Maria Abrantes, Mariette Pessanha, Lina Maria, Deolinda Rodrigues [196], Júlia Babo [197], Alexandra, Simone de Oliveira, Anita Guerreiro, Maria Dulce e Carlos Guilherme [198]. No final veio a apoteose com abraços, lágrimas, sorrisos e mais ofertas, sendo depois das 3h da manhã que o pano desceu.
No espetáculo, foram lidas mensagens de Manuel Frexes, Subsecretário de Estado da Cultura, do Pd. Horácio Correia, da Moviplay, e um telegrama a partir de Barcelona enviado por Madalena Iglésias.
O Noticias de Loures destacou: Senhora grande a cantar // cantigas que o Povo entende // É Portugal a vibrar // A nossa Lurdes Resende. Que Deus de saber profundo // A proteja e a todos nós! // P’ra mesmo no outro mundo // Ouvirmos a sua voz.
Igrejas Caeiro, notou as não mensagens da RTP, da Rádio Difusão Portuguesa e da Rádio Clube Português, que não chegaram, e a quem a artista tanto deu, mas hão-de chegar um dia, pois preocupam-se com as telenovelas…
A Câmara Municipal de Alcobaça decidiu que autores e intérprete passaram a ser vizinhos na geografia da vila, mercê da atribuição dos seus nomes a três artérias da parte alta da Gafa.
A Banda de Alcobaça na sua lembrança, consignou que vão passando as águas dos rios. Na ponte para o futuro, fica a voz a cantar Alcobaça…
A finalizar, artistas e convidados subiram ao palco onde foram brindados com um ramo de flores, com a Banda de Alcobaça a tocar Alcobaça e artistas e público a cantaram em uníssono.
A partir daqui, começaram as saudades. Quem melhor que um poeta, é capaz de transmitir o que os corações sentem no momento da despedida?
Saudades! Ânsias… coração magoado… // E os olhos soltam lágrimas, chorando, // E as lágrimas subtis vão suavizando // O nó que, na garganta, está formado.
Toda a ventura de se ter amado, // Nossos lábios febris, sempre cantando, // Nossas almas viris sempre sonhando, // Serão visões, um dia, no passado.
E as nossas almas, pálidas, velhinhas, // Voarão num voo convulso de andorinhas // Aos tempos que não tornam a volver.
Ao longe! Ao longe, ó trágicas verdades! // Pois já me sinto cheio de saudades //Só de pensar que um dia as hei-de ter.
Segundo o Voz de Alcobaça [199] pôr de pé uma festa como a que Alcobaça distinguiu Maria Lurdes Resende, não foi tarefa fácil. Se muito boa gente o reconhecerá, até por experiência própria, em iniciativas de índole semelhante, outros há, todavia, que por nunca terem feito nada por ninguém, nem mesmo pela terra que os viu nascer, embora recomendem que se deve de dar sentido à palavra bairrismo, ignoram completamente os cuidados e as preocupações exigidas pela complexidade da organização. Apesar de todas as dificuldades que os tempos atuais apresentam, os mesmos 8 alcobacenses que, em 1987, concretizaram o agradecimento público ao Maestro Belo Marques, constituíram-se de novo, em Comissão, para igual procedimento a Maria de Lurdes Resende. Para isso contaram com o apoio condicional da Autarquia Alcobacense e com a prescindível colaboração do empresário António Fortuna, um amigo que tenha aberto sempre a sua porta quando Alcobaça a ela bate. E sem obrigação nenhuma, acrescente-se!
Para a posterioridade, aqui ficam os nomes dos mentores desta festiva jornada:
António Sanches S. Branco,
Francisco Oliveira Ramos André,
Joaquim Matias Ferreira,
José António Crespo,
osé N. Patrício Lemos da Silva,
Manuel de Lemos Pereira da Silva,
Orlando Pedrosa de Carvalho
Raúl dos Reis Gameiro


Muitos foram os autores que compuseram/escreveram para Maria de Lurdes Resende. Correndo o risco de se esquecerem nomes relevantes, podem-se destacar Nóbrega e Sousa, Jerónimo Bragança, Sousa Freitas, António José, Fernando Carvalho, Carlos Ruas, Duarte Pestana, Zélia Rosa Pinto, Dinis Manuel, José Mesquita, Ferrer Trindade, Graciete de Vasconcelos. Para estes e outros, Maria de Lurdes Resende teve já em 1963, palavras de reconhecimento: Sem boas canções, dificilmente poderá assistir-se ao triunfo de um cançonetista, por isso não posso esquecer os que arrancaram à sua inspiração, sem dúvida um dom de Deus, as belas melodias que tenho interpretado. A todos devo uma palavra de agradecimento muito sincero. Permitam-me uma citação especial a Belo Marques. Para além do que compôs, foi ele quem mais me ensinou ao longo dos primeiros anos da minha carreira artística.
-SILVA TAVARES-
Silva Tavares foi objeto de homenagem póstuma em Alcobaça, em 24 de junho de 1972 [200], com a presença do Presidente da Câmara Tarcísio Trindade [201], vereadores, o presidente da  Junta Distrital de Leiria, o Deputado Amílcar Magalhães, representantes da E.N. e R.T.P., David Mourão Ferreira (em representação da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais), o escritor e amigo pessoal Adolfo Simões Müller [202], o Presidente da Câmara de Estremoz [203], e a viúva Dª. Albertina Ramos Silva Tavares, diretores dos estabelecimentos de ensino particular e oficial do Concelho, representantes da imprensa regional e nacional, etc.. Presentes com os seus estandartes, apresentaram-se as Filarmónicas da Maiorga e da Vestiaria, Grupo Desportivo Pataiense, Bombeiros Voluntários de Alcobaça e de S. Martinho do Porto, Grémio do Comércio de Alcobaça, Sindicato Nacional da Indústria Têxtil, Ginásio Clube de Alcobaça e do C.A.A.C. Depois da intervenção institucional de Tarcísio Trindade, usou da palavra Adolfo Simões Müller [204].Finda a cerimónia, foi descerrada uma lápide com o nome do homenageado na rua a que foi dado o seu nome, no então chamado bairro das Casas da Caixa de Previdência [205].
-BELO MARQUES-
Cerca de um mês antes do falecimento de Silva Tavares, Belo Marques foi também objeto de uma homenagem em Alcobaça. Figura representativa de uma época da música portuguesa (cujo epicentro de prólogo residiu na E.N., quando foi inaugurado o Serão para Trabalhadores), Belo Marques faleceu no dia 27 de março de 1987, em Sobral de Monte Agraço, onde vivia retirado dos palcos [206]. A sua verdadeira atividade profissional como se referiu supra começou em 1918, ao tocar a bordo dos paquetes das carreiras da Europa, Brasil e Argentina, o que fez durante onze anos. Radicou-se, em seguida, em Lisboa onde obteve os primeiros êxitos como maestro e compositor, após o que foi para Moçambique. Em Lourenço Marques, diretor do Rádio Clube de Moçambique, organizou várias orquestras e um orfeão. Ao regressar a Lisboa fez parte da E.N. criando a Orquestra Típica Portuguesa, um êxito no género, contando por sucessos cada  apresentação em que acompanhou os artistas em voga como Calvário, Artur Garcia [207], Simone, Madalena Iglésias, a Orquestra de Salão e os Quarteto e Sexteto de Música Clássica. Entre as inúmeras suas composições destacam-se Alcobaça  e A Feia, dedicada esta a Maria de Lurdes Resende. Dirigiu no Teatro Nacional de São Carlos, que contou com a presença do Presidente da Republica Óscar Fragoso Carmona, a Orquestra Sinfónica Nacional que executou a sua Fantasia Negra (a partir de temas africanos), que despertou interesse pela originalidade. No funeral incorporou-se uma representação de Alcobaça.
-SERAFIM CHAMUSCA-
Em measdos de 1969, Alves Coelho (filho) abandonou a O.T.C, por motivos nunca devidamente explicados para fora, sendo substituído por Serafim Nunes Chamusca.
Chamusca nasceu em Nespereira/Lousada a 4 de janeiro de 1901, onde iniciou os estudos musicais com 11 anos, sob a direção do pai.
Entre 1964 e 1967 foi Maestro da Banda da Maiorga e professor de música (canto coral) [208] na Escola Técnica de Alcobaça/E.T.A., falecendo a 31 de julho de 1969. A sua passagem pela O.T.C., foi curtíssima e nada relevante, desde logo pelo carisma de Alves Coelho (filho) pelo que a saída deste acelerou o fim que Chamusca não conseguiu evitar.
Em 11 de Maio de 2014 a Sociedade Filarmónica Maiorguense levou a cabo uma homenagem nacional ao Maestro e Compositor Serafim Nunes Chamusca. A Câmara Municipal de Alcobaça, associando-se à homenagem, recebeu os convidados oficiais nos Paços do Concelho, estando presentes o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier e o secretário de Estado do Orçamento, Hélder Reis. Apesar da sua curta passagem pela Maiorga, é considerado um importante elemento no desenvolvimento musical da Filarmónica Maiorguense da música no concelho de Alcobaça, pois com uma vida dedicada á música filarmónica, deixou um vasto conjunto de composições e arranjos.
As grandes referências da O.T.C. iam desaparecendo, envelhecendo ou afastando-se e o agrupamento, sem capacidade de renovação, começou a passar por dificuldades cada vez maiores. Os ensaios eram pouco frequentados, por vezes entrecortados com discussões fúteis, pelo que por falta de condições não se aceitavam os convites que, ainda iam surgindo.
O grupo definhava rapidamente sem capacidade reação e o 25 de Abril aproximava-se.












CAP.V

O P.R.E.C. TAMBÉM PASSOU POR ALCOBAÇA
-ELEIÇÕES NO C.A.A.C.-
Com o 25 de abril de 1974 criou-se um marco entre um antes e um depois. Em termos políticos, o que era identificado com o antigo regime passou a ser rotulado de direita, reacionário. Despojadas de cidadania política, as elites comprometidas com o regime deposto (como Presidentes de Câmara ou cargos na Administração de nomeação política) sofreram a primeira vaga do processo de saneamento. As estruturas paramilitares e de repressão foram de pronto desmanteladas (L.P., M.P., P.I.D.E.), os respetivos dirigentes encarcerados e os barões do salazarismo levados ao exilio.
Liquidadas as elites de primeiro plano, o campo dos opositores , alegados ou supostos opositores à Revolução, rumou para as figuras de segundo plano, imunes das repercussões da justiça transicional vindas de quadrantes como área nacional-católica ou a ligada/conformada com o Salazarismo ou o Império, mais que ao regime em si.
Alguns autores conferem pouca atenção à importância dos movimentos sociais como elemento importante para a compreensão do processo revolucionário português. Trata-se de algo que ocupa posição secundária em narrativas que privilegiam os aspetos políticos, através dos atores militares e partidários. Outros relevam a espontaneidade do movimento popular no dia 25 de Abril, o que terá contribuído para a imediata sensação de força expressa pelo golpe. Assim se explicaria a correlação entre a explosão popular e a legitimidade da atuação militar, pois após terem sido aclamados os militares passaram a demonstrar relutância em contrariar qualquer movimentação popular. A legitimidade de ação do M.F.A. passou a confundir-se com o processo de transformação da sociedade, de modo que o movimento militar se tornou autoridade referenciada popularmente para intervir na resolução dos diversos problemas.
O C.A.A.C. também não ficou imune a movimentos populares de saneamento e assalto ao poder que ocorreram por Alcobaça [209]. Assim sendo, impunha-se substituir os corpos sociais por outros conforme os princípios e objetivos da sociedade socialista, pelo que foram marcadas eleições para 20 de dezembro de 1974.A lista candidata, aliás única, apresentou-se aos sócios (muito poucos os antigos e poucos que se inscreveram para o efeito) e ao público do modo seguinte:

PREÂMBULO
Tendo em conta as novas perspetivas que surgiram para a vida cultural do país e, portanto, para as associações de carácter cultural e artístico, um grupo de alcobacenses entrou em contacto com alguns elementos da última direção eleita, dando-lhe conta da sua vontade de ver de novo aberto a todos o CAAC.
Não tendo sido levantados quaisquer problemas pelos referidos dirigentes, foi-nos facultada a chave da Sede. Encarregámo-nos em primeiro lugar da limpeza das diversas salas e na constituição de um grupo de colaboradores, que se propôs reunir semanalmente para discutir as realizações a levar a efeito, bem como a reestruturação do CAAC.
Assim surgiram como primeiras realizações:
1-Exposição sobre a luta dos povos das colónias, na Sede.
2-Duas sessões de cinema na Sede, com a passagem do filme Couraçado Potemkin [210].
3-Participação do Círculo com um pavilhão na feira de S. Bernardo, onde esteve a exposição atrás referida.
4-Torneio de ping-pong aberto a todas as pessoas, tendo-se inscrito 45 concorrentes de todas as idades.
5-Banca de venda de livros.
6-A Sede tem funcionado todas as noites com os jogos (xadrez, damas e ping-pong), além de livros para todas as idades.
PROGRAMA
Em vias de realização a curto prazo:
-Um torneio de Damas.
-Uma gincana infantil.
-Passagem de filmes para crianças e uma tarde de pintura para crianças até aos 12 anos.
-UM MURAL-
A União das Freguesias de Alcobaça e Vestiaria/U.F.A.V. decidiu celebrar os cinco anos de existência [211] memorizando Maria de Lurdes Resende com um painel de arte urbana na fachada lateral de um prédio. Maria de Lurdes Resende faz parte da nossa identidade e levou o nosso concelho mundo fora, pois não há quem não conheça a canção, defendeu Isabel Fonseca. A pintura foi iniciada no dia em que a autarquia assinalou o aniversário (27 de outubro de 2018) e passados cinco dias, o mural da autoria de Daniel Eime [212], estava pronto.
O artista aceitou o desafio de transformar uma fotografia de Maria de Lurdes Resende numa pintura, sem que perdesse a identidade. É um painel exuberante pela criatividade e pela sua dimensão.
Na impossibilidade de estar presente, Maria de Lurdes Resende com 91 anos, enviou uma carta à U.F.A.V.. Não imaginam como estou feliz com esta vossa homenagem, Alcobaça é a minha terra do coração e também a canção que estará sempre ligada à minha carreira e à minha vida. Curiosamente a canção que se tornaria um exlibris não foi feita para mim, mas para a Cidália Meireles que a estreou no espetáculo Jogos Florais de Alcobaça nos anos 1940. Entretanto a Cidália foi para o Brasil e nunca mais voltou a cantá-la. E felizmente o seu autor, o maestro Belo Marques deu-me a canção. A partir daí nunca mais deixei de a cantar, levei Alcobaça comigo ao longo de 50 anos para todo o País e por todo o mundo e ai de mim que não a cantasse, era imediatamente reclamada, pedida e exigida. Mas não era um sacrifício para mim, pelo contrário. Mesmo quando não fazia parte do alinhamento do programa, eu adorava incluí-la porque sempre foi uma das minhas preferidas também. O impacto da música de Alcobaça na minha carreira foi imensurável, como imensurável é o carinho que tenho por esta cidade e pelos seus habitantes que sempre me receberam tão bem e sempre me deram tanto. Trago-vos sempre no meu coração e não podia ficar mais sensibilizada com mais esta homenagem desta terra e do seu povo por quem só recebi carinho e amor”, acrescentou, deixando a promessa de ir ver ao vivo o mural, porque quem passa por Alcobaça não passa sem cá voltar.
O Alcoa porém publicou ! que, em conversa com o jornal, a intérprete do tema Quem passa por Alcobaça agradeceu e manifestou-se feliz pela homenagem. Maria de Lurdes Resende declarou que, “embora seja do Barreiro, Alcobaça é a minha segunda casa”. Isabel Resende, filha da cantora, reforçou o facto de a mãe ficar muito sensibilizada com todas as homenagens que recebeu de Alcobaça e recordou os tempos de criança, em que a cidade de Alcobaça sempre foi um lugar especial.
Sendo que quem passa por Alcobaça, não passa sem voltar, agora também passa para ver este painel de arte urbana.
Era mais que justo ter esta iniciativa pois, nenhum outro teve ou tem o alcance da música interpretada por Maria de Lurdes Resende, referiu Isabel Fonseca, no final da sessão da Assembleia de Freguesia (extraordinária), que antecedeu a inauguração do painel.
Os grupos que integraram a 5ª. edição do Festival in Jazz de Alcobaça, foram desafiados pela União das Freguesias de Alcobaça e Vestiaria  a interpretar Alcobaça numa versão jazz. Assim, Pedro Nobre Quinteto, South River Jazz Band, Big Band Lisbon Swingers e a Orquestra Ligeira da Sociedade Filarmónica Vestiariense, apresentaram versões jazzísticas de Alcobaça. O festival decorreu em 26 e 27 de outubro de 2018 entre a Biblioteca Municipal, o Cineteatro e a Sociedade Filarmónica Vestiariense [213].



[1] 15 de agosto de 1963.

[2] Crespo possuía um bom espólio com recortes de notícias em jornais, fotografias e outras recordações, que a filha Fátima mantém e facultou
-José António Crespo, nasceu a 23 de janeiro de 1926 em Leiria. Vindo viver para Alcobaça com cerca de 2 anos, a sua primeira profissão foi barbeiro, aliás durante poucos meses, pois passou a empregado da Resinagem Nacional, Ld.ª, onde esteve 9 anos. Crespo, foi Presidente da Junta de Freguesia de Alcobaça durante 3 mandatos consecutivos, eleito em lista do P.S.D.. Também foi correspondente do Diário de Notícias e Comércio do Porto até à eliminação dos correspondentes e responsável pela secção desportiva de O Alcoa. Dirigiu a Revista O Campista, do Clube de Campismo e Caravanismo de Alcobaça, foi Diretor do Clube de Natação de Alcobaça, da Orquestra Típica e Coral de Alcobaça (onde não atuava), da (renascida) Banda de Alcobaça, dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça, do C.E.E.R.I.A., da A.D.E.P.A., cofundador e diretor do Cister Sport da Alcobaça e do Ginásio Clube de Alcobaça durante 15 anos. Colaborou nas Comemorações dos 100 anos do Hospital de Alcobaça, com a Liga Portuguesa contra o Cancro, a Comissão de Elevação de Alcobaça a Cidade onde desempenhou papel muito relevante, e pertenceu à comissão de homenagem a Belo Marques e Maria de Lurdes Resende. Era pessoa generosa e como dizia gostava muito de trabalhar em prol de Alcobaça. Apreciava especialmente o campismo, para o que tinha uma caravana que utilizava de verão e inverno no País e Espanha. Colecionava compulsivamente jornais, revistas, fotografias, sendo uma grande preocupação a sua arrumação.

[3] De acordo com Fernando Manuel Zeferino em meados de 1956, o Coral de Rio Maior visitou-nos e proporcionou-nos uma ótima audição no nosso Teatro, por iniciativa do saudoso alcobacense José Coito de Pinho, ao tempo residente naquela vila. O Coito de Pinho adoeceu entretanto, e regressou a Alcobaça. Falava constantemente na hipótese de se criar aqui uma Orquestra e, de tal modo nos galvanizou, que combinámos a vinda, a título experimental, do Maestro Gavino. Este senhor veio e, antes mesmo de estudar as possibilidades de fundar um agrupamento, marcou logo o primeiro ensaio nessa semana, precisamente em 13 de Novembro de 1956. E o que é curioso é que, nessa noite e com somente 23 elementos a Sala do Rancho do Alcoa ouviu música, embora deficiente.

[4] António Máximo Gavino Simões do Couto nasceu a 18 de abril de 1923, na Golegã. Fundou e dirigiu a Orquestra Típica Scalabitana, a Orquestra Típica de Alcobaça, a Orquestra Típica do Rádio Clube de Moçambique, sendo até aos últimos dias regente da Orquestra Típica de Rio Maior. Criou a Marcha Ribatejana, para além de outras composições. Foi diversas vezes homenageado pelo seu contributo na valorização da música popular, nomeadamente pela Câmara Municipal de Santarém que lhe outorgou o título de Scalabitano Ilustre. Faleceu a 21 de junho de 2005.

[5] A Orquestra Típica de Santarém formou-se em 1946, mas foi em março de 1947 que se integrou no Orfeão Scalabitano, como uma das suas secções. António Gavino, músico amador e autodidata, de 23 anos, foi o seu fundador. Criador da Marcha Ribatejana, António Gavino imprimiu à orquestra um cunho pessoal, tendo conseguido a continuidade da música popular e regional do Ribatejo.

[6] Fernando Manuel Zeferino Santos, intérprete de Guitarra Portuguesa, vivia na Av. João de Deus-Alcobaça, trabalhava no Grémio dos Comerciantes de Alcobaça (rua Miguel Bombarda) e faleceu em 1964, de doença prolongada. Foi um dos grandes entusiastas da criação e implantação da Orquestra Típica, a quem dedicou muito do seu tempo e disponibilidade. Possuía uma excelente voz e era um fadista de qualidade, ombreando com os melhores de Portugal. Pessoa muito bem-disposta e sociável, apreciava os convívios boémios, que frequentemente se prolongavam pela noite e, eventualmente lhe terão agravado a saúde.
-Francisco Zeferino Santos, seu filho, em entrevista a 16 de abril de 2020, facultou o espólio fotográfico que o pai deixou, que oportunamente se publicará

[7] Francisco Oliveira Ramos André, nasceu na Maiorga em 12 de fevereiro de 1928 e faleceu com a 28 de outubro de 2014. Foi Técnico Oficial de Contas e fez parte de quase todas as instituições e associações do Concelho de Alcobaça, algumas das quais como fundador tal como a O.T. onde tocava viola
-Num acidente de viação, quando se deslocava a Lisboa ao serviço do Corpo de Escuteiros de Alcobaça de que era chefe, numa camioneta emprestada pela Câmara Municipal, com uma avaria que o motorista desconhecia, os seus três ocupantes ficaram feridos, sendo Francisco André o mais grave. O braço ficou esmagado tendo por isso de lhe ser amputado o braço. Isto causou-lhe enorme mágoa e implicou uma forte alteração na sua forma de estar na vida.
-Era um colecionador compulsivo dizendo que tinha cerca de 6000 fotografias e centenas de recortes de jornais, espólio que a viúva conserva e facultou.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[8] Os diretores da O.T.C., foram suportando do seu bolso algumas despesas, tal o empenho no sucesso da causa, como se irá referir de novo,

[9] O Alcoa.

[10] Manuel Neves Duarte, conhecido localmente por Manuel Carcereiro, pai de Maria Fernanda foi o último guarda da prisão comarcã de Alcobaça. Quando esta encerrou, foi para Leiria, como guarda dos Serviços Prisionais onde terminou a carreira, em 1980, aos 60 anos de idade.
-As cadeias das comarcas estavam entregues a um funcionário privativo, o carcereiro, sob a fiscalização do magistrado do Ministério Público que, por inerência legal, exercia as funções de diretor.
-Decreto de extinção das cadeias de comarca-Decreto-Lei n.º 49040

[11] Desconhecia o que isso significava, portanto, a razão porque fora catalogada dessa forma.

[12] O Alcoa 1961.

[13] O restaurante não servia apenas pratos portugueses, mas um dos seus sucessos eram o leitão à bairrada e o bacalhau à brás.

[14] O Alcoa de 28.12.1963.


[15] A Banda de Alcobaça retomou atividade em janeiro de 1985, graças ao empenho de um grupo de Alcobacenses que criou uma escola de música. Esta veio a dar resultados positivos, pois desde então a Banda de Alcobaça tem vindo a afirmar-se no panorama musical português devido ao repertório executado, mais próximo de uma orquestra de sopros ou mesmo de uma banda sinfónica do que de uma banda filarmónica tradicional, e à qualidade dos seus jovens músicos, que foram concluindo a sua formação musical. A qualidade musical atingida e a constante procura de repertório novo e desafiante, longe da sonoridade filarmónica tradicional, culmina na utilização de cordas na sua formação e na alteração da sua denominação para Banda Sinfónica de Alcobaça.
-O Coro da (renovada) Banda de Alcobaça, formado em 2013, veio colmatar uma lacuna na oferta musical do concelho, constituindo uma oportunidade de várias gerações se encontrarem e partilharem experiências, vivências e, acima de tudo, a música coral. Este agrupamento apresenta um repertório bastante variado, percorrendo um alargado espectro musical e temporal que vai da música sacra à música tradicional portuguesa e a temas contemporâneos de música popular. O Coro da Banda de Alcobaça tem realizado inúmeros concertos. Participou na apresentação da ópera “Romeu e Julieta”, de Charles Gounod no Cistermúsica 2016. Em 2017 levou a vários palcos do concelho de Alcobaça e com grande sucesso um projeto conjunto com a Banda da Sociedade Filarmónica Maiorguense onde se destacam Musicais de referência, como Porgy and Bess/Gershwin, Os Miseráveis/Schönberg e “West Side Story”/Bernstein.

[16] Presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Alcobaça, durante a I República. Eurico Pereira de Araújo Rosa/E.A., ainda estudante, começou a destacar-se através da participação em círculos político-republicanos de Alcobaça, bem como pela escrita em o Semana Alcobacense, onde redigia editoriais, artigos e os versos Remoques, sob o pseudónimo de X, ao lado de Pereira Zagallo, Afonso Ferreira, Raúl Proença ou Bernardo Villa-Nova, o que lhe era facilitado por também ser tipógrafo, circunstância que lhe permitia compor os textos que redigia.
-Foi avô paterno do médico Jorge G. Araújo.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros, No Tempo de Reis, Republicanos & Outros e No Tempo dos Bóeres em Portugal.

[17] Depois da notoriedade granjeada enquanto repórter na B.B.C., realizou a primeira emissão em direto da R.T.P., em 7 de Março de 1957, na Feira Popular de Lisboa. Entrou para os quadros da RTP apenas a 1 de janeiro de 1976, já com 74 anos. A expressão “E esta, hein?” veio a marcar a sua carreira como repórter televisivo. A expressão surgiu como substituto dos palavrões que tinha vontade de dizer quando denunciava situações menos agradáveis do quotidiano do país. Neste contexto, era por vezes criticado por privilegiar nas suas sátiras os políticos cuja ideologia não partilhava, poupando em geral os que pudessem ser conotados com a esquerda. Reformou-se em 1995, com 93 anos de idade. Fernando Pessa morreu a 29 de abril de 2002, em Lisboa, poucos dias depois de completar cem anos.

[18] José Teodoro, diretor da Sociedade Filarmónica Recreativa Pataiense.

[19] Nasceu em Turquel em 23 de maio de 1850, e aí faleceu, em 10 de novembro de 1943. Foi professor primário em Turquel e depois, quando, em 1882, o comendador Pedro José de Oliveira fundou a escola do Vimeiro, foi José Diogo Ribeiro regê-la a convite do fundador. Revelou-se um notável pedagogo e revelou também o seu valor em trabalhos arqueológicos, folclóricos, etnográficos e morais.
-Publicou: Memórias de Turquel, 1908; A Arvore; Turquel Folclórico (Superstições, Usos, Costumes, contos, linguagem popular, crenças e medicina popular), 1927; Aditamento às Memórias de Turquel, 1930; O Código de Civilidade, 1933 e 1936; Segundo Aditamento às Memórias de Turquel, 1941.
-Escreveu para vários jornais e revistas, assim como colaborou em obras de outros autores.

[20] António Barbosa Guerra, nasceu em Coz, no seio de uma família de agricultores. Para além de agricultor, foi empresário do comércio de carnes e da restauração nos anos de 1960 e início de 1970, no Café Trindade/Alcobaça. Com sensibilidade e voluntarismo, teve intensa atividade na vertente social, sendo importante o contributo para a criação da Creche da Maiorga, a Orquestra Típica e Coral da Maiorga, o acompanhamento da Sociedade Filarmónica Maiorguense e a intervenção como Presidente do Grémio das Associações de Comerciantes de Carne. Foi Vereador da Câmara Municipal de Alcobaça (1982, pela AD, em representação do PPD/PSD).

[21] Natural de Azeitão, iniciou a atividade musical com 7 anos. Foi professor de Educação Musical no Ciclo Preparatório e dirigiu as bandas da Maiorga, Santiago do Cacém e o Coral de Azeitão. Anteriormente, passou pela Banda Militar, pela Banda da Armada, tendo feito parte de orquestras ligeiras de teatro, rádio e televisão.
[22] Intransigente defensor do Estado Novo, foi Administrador do Concelho, Presidente da Comissão Administrativa Municipal, Presidente da Câmara. Exerceu funções autárquicas durante dezassete anos, em períodos críticos, e de forma por vezes controversa e férrea, criando amigos e inimigos.

[23] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.

[24] Urbano Tavares Rodrigues.
[25] Costa, Alberto Bernardes da, futuro político socialista (Ministro da Administração Interna do XIII Governo Constitucional, chefiado por António Guterres), publicava poesia em O Alcoa e aí assinava uma coluna, onde fazia crítica.
-É natural de Évora de Alcobaça, onde nasceu em 16 de agosto de 1947.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós

[26] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.

[27] Oração foi a canção que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção 1964, que teve lugar em Copenhaga a 21 de março de 1964 interpretada em português por António Calvário. Esta foi a estreia de Portugal no concurso e consequentemente a primeira vez que foi ouvida a língua portuguesa naquele festival.

[28] Voz de Alcobaça. Gerardo era conhecido como o Grande Carola.

[29] António Jorge Pinto da Costa Barros, é mais conhecido por Jorge Barros. Como autor ou coautor está ligado a dezenas de livros na sua maioria com a chancela de editoras bem conhecidas nos quais o seu conceito de fotografia é sublinhado.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[30] Agostinho Pessanha Gonçalves, nasceu a 29 de dezembro de 1946, em Cinfães. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, fez estágio para advocacia com José Henriques Vareda, Advogado em Leiria e apoiante da CDE. Pessanha Gonçalves, por sugestão (política?) do patrono, abriu escritório em Alcobaça. Imediatamente ao 25 de Abril de 1974, fez parte do grupo que tomou de assalto a Câmara Municipal de Alcobaça, ao abrigo da legitimidade revolucionária, e assumiu-se como vereador.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Soares Cunhal e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.
[31] Estes irmãos, ambos tenores, assumiram-se como das grandes referências da O.T.C.
-Segundo JERO, no dia em que foi aprovada a candidatura portuguesa do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, veio de imediato à sua memória o alcobacense Olegário do Nascimento, falecido num acidente de viação no dia 14 do mês de agosto de 2009. À sua maneira, o Galhito foi o melhor fadista alcobacense de todos os tempos. No texto que lhe dedicou aquando do falecimento, publicado em O Alc o em 27 de agosto de 2009 referiu: Nos bons velhos tempos de solista da Orquestra Típica de Alcobaça (juntamente com o seu irmão Valdemar) na regência do Maestro António Gavino acumulou sucessos. Seguiu-se a sua fase fadista com múltiplas apresentações e outros tantos êxitos pessoais, sem as devidas compensações materiais. Faltou-lhe então um golpe de asa e uma mão amiga para lhe abrir as portas certas do mundo do fado. Com o seu modo desprendido e pouco interesseiro que o caracterizava, o Galhito. também não terá lutado o que devia e terá passado ao lado de uma grande carreira de fadista. Depois emigrou por longos anos para a Alemanha, onde trabalhou duramente e…não fez fortuna. Quando regressou dedicou-se a outras vidas. Era um homem íntegro, amigo do seu amigo, que não nasceu para ser rico. Contentava-se com pouco e viveu à sua maneira.
-O filho facultou fotografias, que serão publicadas com uma eventual edição em papel.
[32] J. António Crespo.
-Panfleto publicitário.

[33] Camarotes e frizas:75$00: 1ª. plateia:17$50; 2ª. plateia:15$00; 3ª. plateia:12$50; 4ª. plateia 10$00; 1º. Balcão: Fila B e C: 15$00; 1º. Balcão: Fila D e E 12$50; 2º. Balcão 7$00; 3º. Balcão 6$50.

[34] Esta orquestra não era propriamente de dança e dela fizeram parte, entre outros, Mercedes Campeão, ao piano, e Joaquim Calçada, ao rabecão.
-J. António Crespo.

[35] Grande defensor do folclore ribatejano e considerado um dos grandes etnólogos do País, Celestino Graça promoveu estudos das tradições, usos e costumes do Ribatejo. Para preservar o folclore ribatejano fundou e dirigiu o agrupamento Pescadores do Tejo (1955), o Rancho Folclórico do Bairro de Santarém (Grainho e Fontainhas, em 1956), o Grupo Infantil de Danças Regionais de Santarém (1956) e o Grupo Académico de Danças Ribatejanas  (1957). Faleceu em Santarém, em 24 de Outubro de 1975, aos 61 anos.

[36] Edição de 4 de maio de 1957, socorrendo-se o não identificado articulista, não sabemos de que fonte.

[37] Edição de 9 de maio de 1957, em notícia não assinada, porventura de J. Crespo, o correspondente em Alcobaça.

[38] Fernando Serafim nasceu em Alcobaça em 1933, filho de José Serafim conhecido possuidor de talento vocal sendo até conhecido por José Canta Bem. Concluiu o Curso de Canto no Conservatório Nacional e foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Itália, onde estudou técnica vocal. Logo depois foi para a reputada Alcademea Mozart/Salzburg onde estudou 2 anos, com uma bolsa do Instituto para a Alta Cultura. A sua carreira como concertista, contou com a colaboração, muito próxima, de Fernando Lopes Graça.

[39] Voz de Alcobaça in, Suplemento Especial, dedicado a Maria de Lurdes Resende.
- A estreia da canção acontecera em Alcobaça, durante um espetáculo a favor da Misericórdia,

[40] Edição do PCP/Alcobaça.
-Texto policopiado facultado por Altino do Couto Ribeiro.
-Albino Serrano trazia consigo muita propaganda clandestina.

[41] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.

[42]  Depois da II Guerra surgiu em Alcobaça o semanário O Alcoa, mais propriamente em 27 de Dezembro de 1945, tendo como Diretor o Engº. Agrónomo João Maria Sousa e Brito, então com 35 anos (nasceu a 24 de junho de 2010). A partir de 1948, o Pe. Manuel José Vitorino assumiu-se como seu Administrador, enquanto Sousa e Brito passou a acumular as funções de Diretor e Editor até falecer em 1962. Foi o primeiro Diretor da E.T.A./Escola Técnica de Alcobaça. Muito popular, prestável, comunicativo e com espírito associativo, pertenceu a inúmeras instituições, como os Bombeiros e Hospital da Misericórdia, nestes dois casos presidente da A.G.. Gostava de frequentar o Restaurante Bau da parte da tarde mesmo para trabalhar. Conta Mário Vazão que o conheceu muito bem e à respetiva família, que foi o Engº. Sousa e Brito quem lhe deu o primeiro emprego na secretaria da E.T.A., com o ordenado de 20$00 por dia e que este escrevia e falava muito bem, qualidades que explicam o convite para dirigir O Alcoa.
-Não sendo natural de Alcobaça, aqui se encontrava há três décadas quando faleceu em circunstâncias nunca bem esclarecidas.

[43] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.
-Jaime Junqueiro, foi um muito discreto presidente do município e, segundo dizia, nunca compreendeu as razões da sua exoneração ao fim de dois mandatos, em que pouco mais fez que inaugurar algumas obras projetadas anteriormente, receber Juscelino Kubitschek de Oliveira, os Príncipes de Mónaco e por duas vezes Américo Tomás. De facto, embora não por ele, Alcobaça estava no mapa e nenhuma visita de prestígio passava por Portugal sem visitar Alcobaça. A indicação do seu nome surpreendeu a população de Alcobaça, mas não os afetos à U.N. e embora sabendo-se que a sua nomeação pelo Governador Civil Olímpio Duarte Alves tenha sido provisória, por interina, o certo é que ficou até 1969. Soube-se que no final dos primeiros quatro anos da sua presidência, devolveu verbas poupadas em obras que não foram realizadas. Depois de deixar a Presidência da Câmara Municipal em 1969, mandou fazer cartões-de-visita onde estava escrito Ex-Presidente da Câmara de Alcobaça. Começou a sua vida profissional em Alcobaça, como Fiscal da Comissão Reguladora das Moagens de Ramas. Depois foi secretário do Grémio da Lavoura, em cujo organismo chegou a gerente. Fez parte da Comissão Concelhia de Alcobaça da U.N. Faleceu em abril de 1972.
-A tomada de posse de J. Junqueiro no Governo Civil de Leiria teve a presença dos principais dirigentes distritais da U. N. e outros afetos ao regime. Lidos e assinados os autos de posse, o Governador Civil de Leiria fez o elogio do novo presidente da Câmara, que sempre se mostrou disposto a todos os sacrifícios durante a sua nomeação interina. Referiu-se também com palavras elogiosas ao Dr. José Nunes Franco, que, apesar dos afazeres da sua vida profissional, como médico, aceitou a vice-presidência da Câmara. Em seguida o Dr. Aníbal Correia, em nome da U.N., disse do verdadeiro nacionalismo dos empossados que através dos mais variados e elevados cargos, deram provas da maior dedicação e frutuoso trabalho. O Capitão Silva Mendes, depois de recordar as dificuldades no desempenho de tão espinhosos cargos, lembrou a ação notável do antigo presidente J. A. de Carvalho e disse estar seguro que os empossados continuariam a obra em curso e promoveriam outras bem e progresso de Alcobaça. Também o Pe. Luís da Costa, Vigário e Pároco de Alcobaça, disse conhecer de há muitos anos os empossados e a consideração de que gozavam no concelho.
-O Alcoa.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.
-JERO.


[44] J. Crespo.

[45] Nossa Senhora da Piedade é o coração do concelho.

[46] Edição de 11 de agosto.

[47] O Mensageiro.

[48] Anita Guerreiro, nome artístico de Bebiana Guerreiro Rocha Cardinali (Lisboa13 de novembro de 1936) começou a carreira profissional de cantora aos 16 anos, como candidata ao Tribunal da Canção, embora cantasse desde muito pequena na escola e na coletividade Sport Clube do Intendente. Foi madrinha de várias marchas populares em Lisboa/Stº. António.


[49] Mais conhecida por fazer parte do Coro Feminino da E.N., o que lhe conferia popularidade e reconhecimento e menos por ser intérprete individual.

[50] A ideia de criar uma Casa do Artista foi trazida do Brasil por Pedro Solnado, sobrinho do ator Raul Solnado

[51]  7 de setembro.

[52] Miguel Elias foi Presidente da direção entre 1966 e 1968. Comerciante foi também elemento da direção do Ateneu Desportivo de Leiria.

[53] Maria de Lurdes Resende interpretou, apela primeira vez, a Canção de S. Martinho, com letra de Silva Tavares e música de António Gavino.

[54] Entre os irmãos Olegário, Valdemar e o maestro havia um código utilizado nos espetáculos quando aqueles se apercebiam que o público se encontrava mais desatento. Eles estavam virados para o público e o maestro de costas. Assim, perante a constatação, mandavam-lhe uma mensagem para alterar o repertório para peças mais vibrantes.
-J. Crespo.
-JERO.
[55] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.
-Rafael Barata Gagliardini, nasceu na Madeira, veio para o continente com 5 anos, sendo o segundo de 11 irmãos. Estudou e formou-se eme Medicina no Porto, com alta classificação. Depois de ter estado a trabalhar em Lisboa, foi efetuar uma especialização em Paris. Casado em 1930, fixou residência em Lisboa, aí abriu consultório. Aos 25 anos, Graça foi a São Martinho do Porto passar férias com a família. Na ocasião, o médico residente da vila, Dr. Acácio, encontrava-se doente (aliás em breve faleceu) e, ao saber da presença de um colega, pediu-lhe colaboração. Gagliardini Graça prontificou-se, e começando a assistir os doentes por lá se veio a radicar. Faleceu em 25 de março de 1982.

[56] Vasco António Rodrigues Sant'Ana  (Lisboa28 de Janeiro de 1898-Caneças13 de Junho de 1958), mais conhecido como Vasco Santana, foi um dos maiores atores de cinema e teatro portugueses.

[57]  3 de outubro de 1957.

[58] O Alcoa.

[59] Idem.

60 Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.
-Joaquim Augusto de Carvalho natural de Ílhavo, veio para Alcobaça na década de 1930. Foi fundador da Crisal e Presidente do Clube Desportivo Comércio e Indústria de Alcobaça. No mandato de Júlio Biel, foi vereador e Presidente da Comissão Municipal de Turismo. Tomou posse como Presidente da Câmara a 9 de Outubro de 1953. O seu mandato, fortemente ligado à aplicação do II Plano de Fomento, permitiu-lhe investir em várias frentes, nomeadamente, na eletrificação. As visitas internacionais também marcaram o seu mandato como aconteceu com Hailé Selassié, Imperador da Etiópia, a Princesa Margarida, de Inglaterra, e a Rainha Isabel II, de Inglaterra. Esta última visita impulsionou a grande transformação da Praça Oliveira Salazar, de onde foi retirado o Edifício do Jardim-Escola João de Deus Ramos.
-O Pd. João de Sousa, nasceu no Bárrio, a 29 de dezembro de 1925. Na história recente do Bárrio, o Pd. João de Sousa foi uma figura incontornável, polémica, o que lhe acarretou dissabores, como refere Orlando Pereira, antigo Presidente da Junta do Bárrio e que com ele muito privou. Ativo e enérgico, por vezes em excesso, nada havia ou se fazia no Bárrio e arredores em que não participasse ou opinasse. A sua influência, inclusivamente política, chegou a Alcobaça, onde foi Provedor da Santa Casa da Misericórdia. A sua grande obra (material) foi a construção da Igreja Nova, que demorou alguns anos. O Pd. João de Sousa, foi responsável pela construção da Casa Paroquial e o grande impulsionador do Círio do Bárrio, que em agosto de cada ano, em jeito de procissão e liderado por um juiz com bandeira, muito concorrida, onde não faltava banda de música, ia até Santa Suzana de Landal (Caldas da Rainha), onde era recebido festivamente. Em 1959, com os seus 34 anos, o Pd. João de Sousa, veio a ser transferido para a Paróquia de Odivelas. Todavia vinha com alguma regularidade ao Bárrio, celebrar a missa dominical, altura em que a igreja se enchia, pois era um excelente orador/pregador. A Junta de Freguesia na comemoração do cinquentenário da Igreja Nova, prestou-lhe em 13 de julho de 1997 homenagem com a construção de um monumento da autoria de Fernando Pedro (escultor e músico, natural do Bárrio vivia na Benedita, há vários anos. Faleceu em dezembro de 2919 com 74 anos. Como compositor musical foi autor do sucesso Mulher da Nazaré). Pregador notável, a sua ação alastrou em defesa da terra e da população em favor da qual desenvolveu uma ação notável. Contudo nos últimos anos em que esteve à frente dos destinos da paróquia do Bárrio, viveu incompreensões. O Pd. João de Sousa, faleceu em Lisboa em 29 de novembro de 2003 e encontra-se sepultado na sua terra.
-Embora tenha sido Pároco no Bárrio durante pouco tempo, deixou marcas ainda recordadas.


[61] Intérprete da Canção das Caldas, música da autoria de Nóbrega e Sousa. Elemento do Coro Feminino da E.N., fez parte do Quarteto Feminino, da mesma Estação. Também solista da Orquestra Típica Portuguesa, foi cantora na rádio e televisão, com vários discos gravados.


[62] Não nos foi possível recuperar as pautas e letras.

[63] Letra de Moreira da Câmara e música de Nóbrega e Sousa.

[64] Não nos foi possível recuperar as pautas e letras.

[65] Caldas da Rainha foi elevada a cidade a 26 de agosto de 1927.
-A presença da O.T.C. inseriu-se numa iniciativa que pretendeu exaltar os valores de grandeza de uma terra que viu recompensado o seu desenvolvimento económico, cultural e social com a atribuição, por decreto de 1927, do estatuto de cidade.
-Caldas da Rainha ascendeu ao lugar de única cidade da Estremadura, depois de Lisboa e Setúbal.

[66] U.F.A.V.

[67] J. A. Crespo.

[68] Violista meritório que acompanhou os principais fadistas portugueses e com quem gravou discos.

[69] Francisco Perez Andión nasceu em Vigo a 12 de fevereiro de 1932. Aos 12 anos mudou-se para Lisboa onde a família tinha dois restaurantes. Tomou contacto com o fado na Adega Perez de seu avô, mais tarde herdada por seu pai e que tomou o nome de Retiro Andaluz. Os poetas Henrique Rêgo e Francisco Radamanto, os fadistas Fernanda Maria, Júlio Vieitas, Júlio Proença e João Maria dos Anjos foram os primeiros com quem fez amizade e acompanhou. Aos 19 anos estreou-se como violista profissional na “Parreirinha de Alfama”. Ao longo da carreira acompanhou os grandes nomes do fado, tanto em Portugal como em digressões no estrangeiro. Berta Cardoso, Alberto Ribeiro, Fernando Maurício, Celeste Rodrigues, Fernando Farinha, Teresa Tarouca, Maria de Lurdes Resende, Hélder Moutinho, Julieta Estrela, Mariza, Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Maria Amélia Proença, Mafalda Arnauth, Camané são alguns dos que acompanhou. Faleceu a 27 de novembro de 2004

[70] Conjunto de harmónicas vocais.

[71] 5 de fevereiro de 1959.

[72] Presidente da Câmara e descendente de António Ginestal de Machado este que, entre outras funções, foi deputado, Ministro da Instrução Pública e Presidente do Ministério durante a Primeira República.

[73] Nome que assumia o grupo coral, que veio a integrar a Orquestra Típica de Alcobaça.

[74]  Maria Luísa Dionísio.

[75] Idem

[76] Natural de Alcobaça, o Dr. José Nascimento e Sousa dedicou grande parte da sua vida ao exercício da medicina, em que se licenciara em Coimbra. A sua afinidade com o Estado Novo, levou-o, em 1942, a assumir a Presidência da Comissão Concelhia de Alcobaça da União Nacional e, quatro anos mais tarde, a Presidência da Câmara Municipal.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.

[77] O Alcoa, de 28 de junho de 1960.

[78] Região de Leiria, de 26 de maio de 1960.

[79] O Alcoa.

[80] Maria José Canhoto nasceu em 25 de Abril de 1950 na Soalheira/Fundão. Optou inicialmente pelo nome Marizé mudando depois para o nome artístico Alexandra. Esteve em Moçambique onde cantava na Rádio Clube de Moçambique como Maria José Canhoto. Como Marizé colaborou com o Man Matos Trio, regressando a Portugal em 1976.

[81] Desta vez para maiores de 6 anos.

[82]Alberto Alves Coelho (Alves Coelho, Filho) seguindo as pisadas do pai (João Rodrigues Alves Coelho), maestro e compositor, foi autor de interessantes temas de música popular. Escreveu também poesia. Ficou muito ligado a Alcobaça onde foi maestro da O.T.C., e como dizia, se sentia muito bem. Maria Luísa, Maria Fernanda e Rosa Maria Coelho salientam a afabilidade e o dinamismo de Alves Coelho (Filho), que por vezes se exprimia de forma temperamental, mas que não era mais que fruto da ansiedade de obter bons resultados.
-Alves Coelho (Filho) e mulher foram, aliás, padrinhos de casamento de Maria da Graça Coelho, irmã de Rosa Maria, casamento que teve de ser adiado pelo facto de a O.T.C. ter nesse dia um compromisso com a R.T.P., transmitido em direto.
 Ver adiante.
 (Ficou muito ligado a
[83] Francisco Ramos André in, O Alcoa.

[84] Idem.

[85] O frango na púcara, o bacalhau à Corações Unidos e os filetes de pescada, eram especialidades deste restaurante.

[86] Sogro de Fleming de Oliveira.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.
-Amílcar Pereira de Magalhães nasceu a 22 de setembro de 1909 no lugar de Porto do Carro/Leiria, no seio de uma família de agricultores. A devido tempo, com os pais a viver em pontualmente Coimbra (o pai foi archeiro na Universidade), depois de ter estudado no Liceu de Leiria, licenciou-se em 1936 na Faculdade de Direito, tendo como colegas de curso e amigos (Dr. Henrique Trindade Ferreira, de Alcobaça, seu companheiro de casa), os Drs. Fernando Maia de Carvalho, Manuel Casanova, Antão Santos da Cunha e José Guilherme Melo e Castro, sendo este quem vindo a Alcobaça por indicação de Marcelo Caetano, lhe fez convite para as eleições de 1969 para a Assembleia Nacional, onde fez parte da Comissão de Obras Públicas e Comunicações. Apoiante do regime nunca fez parte da U.N., embora em 1969 tenha concorrido na versão caetanista pré-A.N.P.. Era um distinto e exemplar advogado à moda antiga, embora com pouco ar de tribuno. Pessoa de temperamento aparentemente frio, cristão, mas não praticante, prezava o estilo da oratória do Dr. Salazar. Foi membro do Conselho Municipal de Alcobaça, Presidente do Grémio da Lavoura de Alcobaça e Vogal da Direção da Federação da Lavoura da Província da Estremadura, Presidente do C.A.A.C./Círculo Alcobacense de Arte e Cultura, numa altura de especial pujança desta instituição e da Orquestra Típica e Coral. Amílcar Magalhães era do tempo em que, uma frase bem elaborada, escrita ou falada, correspondia a uma pessoa de educação e cultura humanista, onde os clássicos não tinham desaparecido dos vícios de leitura ou dos manuais escolares. Tendo sobrevivido à revolução do 25 de abril, poucas vezes dividiu redutoramente o mundo português em esquerdas e direitas. Apreciava, em Salazar a capacidade intelectual e de mestre jurista, e condescendia com o seu dedo em riste apontado ao ouvinte ou interlocutor, para vincar a ideia. Todavia, não aceitou que essa oratória ou a praxis política, por mais bonitas ou empolgantes que fossem as intervenções ou palavras, fundamentasse um pretexto de violentar o cidadão. Dadas as suas origens no campo, compreendia bem a mentalidade da sua gente e tinha-a bastante em conta, na vida profissional. Faleceu a 21 de fevereiro de 1982.

[87] Idem.
[88] Idem.

[89] Reveja-se supra.
-A família de José Ramos Belo Costa Marques du Boutac  (Batalha, 25 de janeiro de 1898/Sobral de Monte Agraço27 de março de 1987) em 2013 doou o seu espólio ao Arquivo Distrital de Leiria.
-Não apuramos se Boutac apelido que consta de seu nome, decorre de ter nascido na Ponte do Boutaca/Batalha.
-A construção da Ponte da Boutaca, nome associado a uma propriedade de Mestre Boutaca no local, teve início em 1862, como testemunha a gravação num marco colocado na valeta da estrada que, de norte para sul, dá acesso à ponte.

[90] Este incidente foi contado entrecortado com melancolia e sorrisos.

[91] Maria Fernanda carcereiro.

[92] Francisco Ramos André,

[93] Crespo, Maria Fernanda e Francisco R. André.

[94] Acácio, vulgo Serol, nasceu em Alcobaça, a 16 de maio de 1920, foi motorista de praça, homem em geral bem-disposto e que, segundo os amigos, vivia com otimismo. Fez parte do corpo de Bombeiros Voluntários de Alcobaça, foi músico na Banda de Alcobaça, componente do Rancho do Alcoa e baterista na O.T.C. Constituiu alguns conjuntos de música ligeira que atuavam em bailes e festas populares da região. Dizia que, uma vez, foi preso por ofender a religião (estava a cantar à porta da igreja uma música revolucionária e proibida, o que lhe valeu passar uma noite no Posto da P.S.P., tinha pena de não ter casado de noite, para ninguém o ver. Pertenceu à Banda do Mestre Arnesto como membro honorário. Faleceu a 7 de fevereiro de 1999.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[95] Joaquim Vieira Natividade, (1899-1968) foi figura cimeira entre os silvicultores europeus do século XX. Nascido em Alcobaça, formou-se no Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, em Engenharia Agrónoma (1922) e Engenharia Silvícola (1929). Em Londres e em Coimbra especializou-se em genética e citologia tendo, mais tarde, fundado e dirigido o Departamento de Pomologia da Estação Agronómica Nacional, o Centro Nacional de Estudos e Fomento da Fruticultura e a Estação de Experimentação Florestal. Entre 1930 e 1950, Natividade foi diretor da Estação Experimental do Sobreiro, em Alcobaça. O seu trabalho assumiu um papel fulcral na construção e consolidação da investigação florestal, em Portugal. Ficou também conhecido pelos seus trabalhos na área da fruticultura tendo publicado mais de uma centena de estudos científicos. Em fevereiro de 1968, inaugurou a Estação Nacional de Fruticultura em Alcobaça, tendo falecido em novembro seguinte.
-Irene de Sá Natividade, mais conhecida como Irene Sá, nasceu no Porto em 28 de novembro de 1900 e faleceu a 15 de julho de 1995 em Alcobaça. A partir dos 3 anos viveu em Alcobaça, e cedo manifestou tendências artísticas que mais tarde, como esposa do Prof. J. Vieira Natividade (com quem casou em 1923), iria desenvolver em convívio artístico-literário com personalidades de relevo, como Afonso Lopes Vieira, Alberto de Sousa e Sousa Lopes. Em 1916, começou a pintar aguarela e óleo. Dedicou-se à cerâmica, a partir de 1925.A pintura e a tapeçaria de Irene Sá Natividade foram admiradas em várias exposições e exaltadas pelas críticas mais exigentes. Em 1951, realizou a sua primeira exposição em Alcobaça. Um ano mais tarde, seis das suas mais ricas e belas tapeçarias foram expostas no Secretariado Nacional da Informação/S.N.I.. Em 1954, expôs no Porto. Anos depois, uma das salas do Museu José Malhoa, em Caldas da Rainha, foi emoldurada por uma das melhores coleções de tapeçaria vista na cidade. Encontra-se representada com duas aguarelas, na sala II do Museu de José Malhoa. Outras obras, encontram-se em instituições públicas e coleções privadas.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[96] Fernando M. Zeferino in, O Alcoa.

[97] Pano grosseiro de lã, amarelado ou acastanhado, semelhante ao burel.

[98] Teve de abandonar a O.T.C. pois não podia conciliar o trabalho na Casa Espanhola com o apoio ao pai Manuel Duarte carcereiro que ficara doente.

[99] José Alberto Simões Vasco.

[100] Alberto Ramos nasceu em 1930 e gozou de popularidade em finais da década de 1950 e nos inícios da década de 1960 e cujo percurso musical, à semelhança de outros cançonetistas do seu tempo, se eclipsou de forma abrupta durante a década de 1960. Da sua discografia, destaca-se no seu primeiro disco de 1959, Beijinho Doce, com acompanhamento do Conjunto de Hélder Reis

[101] Maria Amélia Canossa nasceu em 1933 no Porto. Após ser considerada Princesa da Rádio 1951, e Rainha da Rádio 1952, depressa se tornou Rainha do Estádio das Antas, como intérprete da marcha e do hino do F.C. Porto, ainda hoje ouvido no início de cada jogo do clube, já mesmo no Estádio do Dragão. Nasci numa família portista e cresci vindo ao futebol com os meus pais, com o meu avô. Sempre fui portista. Quando foi preciso concluir o Estádio das Antas e me pediram ajuda, fazendo espetáculos, entreguei-me ao F.C.Porto como artista e colaboradora. Com as festas pró-estádio das Antas cantava a marcha, de João Manuel e Carlos Dias. Quando o estádio ficou pronto, achei-o tão bonito e surgiu o hino (gravado em 31 de março de 1952) que ainda está aí cheio de força e para durar.

[102] José Viana, começou por desenhar e pintar. Chegou a cenógrafo, encenador, autor, cantor, compositor, mas foi como ator que se tornou mais conhecido, sobretudo na revista e televisão. O primeiro emprego que teve, foi como retocador de gravura. Ainda como pintor, em 1947, integrou a 2ª. Exposição Geral de Artes Plásticas, organizada pelo Movimento de União Democrática/M.U.D., onde a polícia política lhe confiscou alguns quadros “impertinentes”. O ator/pintor ficaria também conhecido pela sua faceta política, que o levou a filiar-se no PCP, opção nunca compreendida pela maioria. Isso nunca o impediu de ter acesso à TV e a um público diversificado.
-A 1 de Maio de 1975, os Bombeiros Voluntários de Alcobaça, comemoraram os seus 87 anos, pelo que organizaram um vasto programa que abrangia uma romagem ao cemitério, projeção de filmes, baile, almoço-convívio, homenagens, apresentação de uma nova ambulância e variedades. Ao fim e ao cabo, à escala de Alcobaça, expressavam-se as contradições de um processo que nesse dia teve o seu ponto mais elevado no Estádio 1º. de Maio, em Lisboa. Ao cair da tarde, em Alcobaça, lambidas algumas feridas de uns mimos e com os ânimos mais serenados, houve um espetáculo de variedades com um José Viana muito comprometido virulento e cáustico, livre das peias de qualquer censura. José Viana morreu em janeiro de 2003, vítima de um acidente de viação em Lisboa.
-Em Alcobaça, terra muito conservadora, não colhia especial aceitação nem no tempo dio PREC.

[103] O Alcoa 1961.

[104] Francisco Ramos André in O Alcoa.

[105] Incidentalmente fadista, é sobretudo lembrada pelas interpretações de marchas. De inconfundível cabeleira loura, nasceu em Lisboa em 1936. Alice Amaro conquistou um público fiel ao longo dos anos de 1960, cativado pelo modo alegre e desinibido como atuava.

[106] Em 1961 venceu o seu primeiro título de Rei da Rádio. Ganhou o Festival da Canção em 1964.

[107] Conhecido como Rouxinol, por se ter estreado com o tema Rouxinol dos Meus Amores.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.
-Ver adiante.


[108] Gina Maria pode dizer pouco ao público de hoje, mas quem estava atento à canção nacional nas décadas de 1960 e 1970 recorda-a como uma das vozes que mais popularizou o reportório de matriz folclórica.
.
[109] Cantor lírico, nasceu em Lisboa, a 15-02-1911, onde faleceu a 6-12-1984. Guilherme Kjölner atuou em quase todos os palcos nacionais e muitos estrangeiros. Em 21 de Novembro de 1975, constituiu o ponto final da sua carreira, que durou 46 anos e que foi a mais longa que algum artista lírico português teve.

[110] Madalena Lucília Iglésias do Vale de Oliveira Portugal (Lisboa24 de outubro de 1939 / Barcelona16 de janeiro de 2018), venceu o Festival R.T.P. da Canção1966 com “Ele e Ela”. A par de Simone de Oliveira, e Calvário tornou-se numa das vozes mais relevantes do chamado nacional-cançonetismo que dominou na década de 1960.
-Casou em 1972, abandonou a carreira artística e foi viver para a Venezuela. Grávida de oito meses, ainda fez um programa na Televisão Venezuelana, mas deixou de atuar até os filhos terem cinco anos. Depois, voltou a atuar esporadicamente na televisão venezuelana para fazer um programa. Em 1987, mudou-se para Barcelona, aonde viveu até falecer com 78 anos.
-What Happened to Madalena Iglésias?, foi um grande êxito, criado por Filipe La Féria em 1989. Em 1989, Filipe La Féria apresentou na Casa da Comédia aquele musical tendo por base a rivalidade entre Madalena e Simone de Oliveira.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[111] Mara Abrantes, nasceu no Rio de Janeiro a 31 de Maio de 1934. Cantora de sucesso e atriz radicou-se em Portugal em 1958. Foi presença assídua na E.N., R.T.P. e espetáculos por todo o País durante a década de 1960.

[112] Começou a cantar no Candal/Gaia e foi aí que nasceu o seu nome artístico. Uma vez que era conhecida como a Miúda do Candal, mais tarde, já em Lisboa decidiu adotar o nome Maria Candal. Cantou em concursos, e atuou ao lado Amália Rodrigues. Mas não se ficou só pela música pois fez teatro amador.

[113] Maria Marize, teve uma carreira com cerca de quinze anos, desde a viragem da década de 1950 até inícios de 1970, pouco antes da sua prematura morte. Em termos discográficos, a quase totalidade dos seus registos situou-se na primeira metade dos anos de 1960. Em meados da década de 1960, participará no programa de grande sucesso da RTP, Melodias de Sempre em que Jorge Alves mostrava as vozes do momento a interpretar repertório do passado. Maria Marize fazia aí um dueto de sucesso com Artur Garcia.

[114] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[115] Maria TERESA Ramos de PAULA Brito, nasceu em Lisboa a 23-10-1944 e faleceu a 7-11-2003. Foi uma das primeiras vozes femininas a desenvolver uma carreira no âmbito da emergente música pop. Estreou-se no início da década de 1960 na E.N. O seu primeiro trabalho discográfico em1962, no qual é acompanhada pelo conjunto de Hélder Martins, incluiu composições de música ligeira. Era uma cantora promissora quando veio a Alcobaça.

[116] O Trio Harmonia veio a conquistar em 1969 o primeiro lugar no Campeonato do Mundo de Harmónica Vocal em Zurique. Era composto por Raúl de Figueiredo Mendes, Hermenegildo Francisco Mendes e José António dos Santos Correia. Ainda ganhou por mais duas vezes este trofeu.

[117] J. Crespo
-Maria Luísa Dionísio
-Dr. A. Magalhães.

[118] Uma das boas fadistas do seu tempo e atracão de revista que a par da voz castiça era detentora de uma beleza que valorizava a participação no palco. Não imitou ninguém e manteve sempre um estilo próprio. Nasceu em Lisboa em 1938 e muito popular retirou-se da atividade artística prematura e voluntariamente.

[119] Não encontramos dados artístico-biográficos referentes a esta artista.

[120] Nascida no Barreiro, cedo foi prestar provas na E. N. Mais tarde com Melodias de Sempre tornou-se artista bastante popular, tendo efetuado inúmeros espetáculos de norte a sul, bem como no estrangeiro nomeadamente Brasil e participou em festivais. Fez teatro de Revista.

116 Referia muitas vezes que apreciou o exercício deste mandato.
-O Dr. Magalhães tocava bandolim nas reuniões familiares. A filha ainda conserva este instrumento.

[122] Fleming de Oliveira in, No tempo de Soares, Cunhal e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.
-Manuel Lemos Pereira da Silva, Somel, nasceu a 27 de setembro de 1924 em Albergaria-a-Velha. Tendo chegado a Alcobaça em tenra idade, sentia-se alcobacense de alma e coração. Em rapaz, fez parte do Rancho O Alcoa e ao longo de algumas dezenas de anos colaborou graciosamente com O Alcoa, através de pequenos apontamentos em que sob o anagrama Somel chamava a atenção, para pequenos problemas da vila. A partir de 25 de abril, começou a estar presente, discreta e pacientemente, em todas as sessões (à segunda-feira de tarde) da Câmara Municipal, inicialmente sentado no espaço reservado ao público (de vez em quando tomando breves apontamentos) e depois a aproximar-se do executivo (Miguel Guerra, Fleming de Oliveira, José Rafael Serralheiro, Mário Tanqueiro, Eduardo Vieira Coelho, Martiniano Rodrigues e Manuel Ferreira Castelhano) e a emitir como que inadvertidamente, algumas pequenas observações. Com o tempo, foi criando alguma familiaridade com a vereação, passando a ser conhecido pelo Sétimo Vereador (a vereação tinha 7 elementos presidente incluído) e, que por vezes, levava algumas bolachinhas ou rebuçados, que distribuía sub-repticiamente quando havia uma pausa. Manuel Lemos representou o Alcobaça Futebol Clube, foi atleta e dirigente do Ginásio Clube de Alcobaça, integrou ainda os órgãos diretivos da Banda de Alcobaça (antes e depois do seu ressurgimento) e da O.T.C. em vários mandatos. Faleceu no dia 24 de agosto de 2014.

[123]  A Direção veio a agradecer ao Dr. Amílcar Pereira de Magalhães a despesa que este suportou no valor de 2500 escudos, com a deslocação.


[124] José Crespo.
[125] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros.

[126] 10 de maio de 1962.
-Foi lançada em 1 de abri de 195l. Era uma revista, com muitas fotografias a preto-branco, e diversos artigos relacionados com o mundo do espetáculo nacional e estrangeiro. Durante muito tempo, era uma das janelas onde era permitido contemplar, subtraídas das roupinhas exteriores, as mais belas mulheres da música, cinema e televisão. A Plateia teve grande sucesso, sobretudo nas primeiras duas décadas de publicação, mas terminou em 1986.

[127] Fernando Lopes Adão Correia, nasceu em Lisboa a 16 de julho de 1935. Iniciou carreira aos 19 anos na E.N. onde atingiu a categoria de locutor de 1ª classe. Trabalhou no Record. colaborou com a Rádio Comercial na secção de desporto. Na TSF relatava jogos de futebol e animava o programa Bancada Central. Foi despedido da T.S.F. quando assumiu o cargo de diretor do jornal gratuito Diário Desportivo, de que foi fundador e o primeiro diretor. Passou para a Rádio Clube onde apresentou Lugar Cativo”. Na TVI foi apresentador do Contra Ataque e colaborou com a equipa da Rádio NFM onde voltou aos relatos e diariamente apresentava as Conversas de Café com Carlos Dolbeth e a Bancada Nova. Retomou a experiência na C.N.R. e Rádio Amália. Colabora com o canal Sporting TV e com a T.V.I. Fez parte da estrutura de comunicação do Sporting, como porta-voz de Bruno de Carvalho, o que não foi bem compreendido. É autor de livros sobre o desporto e rádio

[128] Nascido no Alvito, Domingos Filomeno Marques viveu em Beja até aos 18 anos, altura em que veio para Lisboa cumprir o sonho de cantar. Depois de receber aulas de canto prestou provas na E.N. em 1942, estreando-se um mês depois. A sua voz de tenor, de notável timbre e agilidade, aliava-se a uma grande desenvoltura na representação e a uma boa figura. Não admira que se torne protagonista em operetas e musicais. Trabalhou em todos os teatros do Parque Mayer e no Teatro Apolo. Teve igualmente atuações no Teatro Nacional de São Carlos, em pequenos papéis com música de Ruy Coelho. As suas qualidades de ator e a sua figura elegante levaram-no a ser ator em alguns filmes. Com o tempo desapareceram os papéis para tenores e, após cumprir contrato de quatro anos no Maxime partiu para Angola onde, confessadamente, viveu alguns dos melhores anos da sua vida. Em 1975 regressou a Portugal.

[129] Armando Alberto Tavares Belo, foi maestro e compositor.
-Notabilizou-se na área da música ligeira, tendo composto músicas para artistas como Corina FreireBeatriz CostaLaura AlvesAlice AmaroAnita GuerreiroDeolinda Rodrigues e Max, entre outros, e ainda obras de cariz erudito (nomeadamente dois concertos para piano e orquestra). Do seu vasto currículo como maestro, registe-se que dirigiu a Orquestra da R.T.P. no 1º. Festival R.T.P. da Canção, em 1964, e que criou uma orquestra de jazzSwing, com êxito nos anos de 1940 e 1950. Durante anos seguidos até ao 25 de Abril de 1974, foi o dirigente e regente principal da Orquestra Ligeira da Emissora Nacional.

[130] O maestro e compositor Eduardo Loureiro foi um prolífico e bem-sucedido compositor da música ligeira portuguesa dos anos de 1950 e 1960, principalmente do modelo inserido no “aportuguesamento” idealizado por António Ferro, e praticado na E.N. durante décadas. Este “aportuguesamento” consistia em que maestros e compositores, concebessem música ligeira de acordo com os ideais e princípios do Estado Novo, ou seja, demonstrar e espelhar o ideário do Salazarismo, fosse o desprestígio da riqueza, historietas de faca e alguidar sobre amores desencontrados, a exaltação da cidade, vilas, aldeias e costumes portugueses. Eduardo Loureiro foi uma das suas figuras principais e fulcrais, sendo responsável por alguns êxitos, entre eles Envergonhada, Menina Bem, São Pedro de Muel ou A Filarmónica d’Aldeia, celebrizada em 1991 por Maria de Lourdes Resende. No entanto, Eduardo Loureiro ficou mais conhecido devido a decisões importantes e polémicas que tomou como Diretor de Programas na E.N., e que modificaram o curso da nossa música, desde a extinção da Orquestra Típica Portuguesa e da Orquestra de Salão da E.N., para atribuir exclusividade à Orquestra Ligeira, no campo da música popular.

[131] Cidália Meireles e irmãs, Milita e Rosária demonstraram, desde muito jovens vocação artística participando, no Porto, em recitais poéticos e coreográficos e em emissões infantis. Com dezasseis anos, Cidália Meireles começou a cantar na E.N. Em 1943, formou o Trio Irmãs Meireles. Este grupo especializou-se no folclore português, mas interpretava igualmente canções românticas, boleros, foxtrotte e outras músicas. O trio foi ensaiado e dirigido pelo maestro Tavares Belo que lhe fez vários arranjos para cantar com orquestra, ou à capela. O grupo alcançou bastante êxito, e obteve em 1944, o primeiro prémio do concurso de Conjuntos Vocais, o primeiro de muitos outros. Nas digressões pelo estrangeiro, fazia questão de se apresentar com trajes típicos portugueses e interpretar músicas do folclore nacional.
-Reveja-se supra.

[132] Chamam-te feia // Não te importes tudo mente // Não se discute o gosto de ninguém, // A água pura mata a sede a muita gente // E ninguém sabe o gosto que ela tem.
Deixa falar, mentir e mal dizer // Que basta um meigo olhar // P’ra tudo desfazer. // Porque beleza // É fugidia como a aurora // E poucos sabem onde ela mora.
Vou por fim tirar afronta // Dessa tonta cabecita // E dizer à boca cheia // Mas que feia… tão bonita!
Chamam-te feia // Porque não sabem sentir // A formosura duma alma boa, // O mundo fala // Mas não vê o teu sorrir // Só diz mentiras porque fala à tôa
O teu olhar // Tem dentro um não sei quê, // Que nos faz meditar // Num livro que se lê. // Repara ainda // Na camélia delicada // É muito linda // Mas não cheira // A nada.
Vou por fim tirar afronta // Dessa tonta cabecita // E dizer à boca cheia // Mas que feia… tão bonita.

[133] Com mais de 200 músicas gravadas, foi precisamente em Alcobaça que Maria de Lourdes Resende foi homenageada por ocasião dos seus 50 anos de carreira, num evento com vedetas contemporâneas, autores, compositores, amigos e familiares e que decorreu no Cineteatro de Alcobaça no dia 29 de abril de 1995.
-Ver adiante.
-A União das Freguesias de Alcobaça e Vestiaria celebrou cinco anos de existência, mas a prenda foi para Maria de Lurdes Resende, eternizada na fachada lateral de um prédio, junto aos campos de ténis.
-Ver adiante.

[134] Como instrumentista acompanhou os nomes de referência até à década de 1980, entre os quais, Alfredo MarceneiroBerta CardosoHermínia SilvaMaria Teresa de NoronhaAmália RodriguesFernando FarinhaTristão da Silva, Maria Tereza TaroucaTony de Matos ou Carlos do Carmo.
-Recebeu em 2005 o prémio de consagração de carreira, da Fundação Amália Rodrigues.
-Em 10 de junho de 2012 foi condecorado  com a Ordem de Mérito-grau comendador.

[135] Informação da Ordem dos Advogados/Conselho Geral.
-Adelino Hermitério da Palma Carlos (nasceu em Faro3 de Março de 1905 e faleceu em Lisboa25 de Outubro de 1992), foi professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, advogado e político. Personalidade forte, foi primeiro-ministro do I Governo Provisório entre 16 de Maio e 18 de Julho de 1974. Como 11º. Bastonário da Ordem dos Advogados Portugueses teve um importante papel na consolidação institucional e na internacionalização daquela corporação. Foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano/G.O.L.

[136] José Maria Barbosa de Magalhães Godinho,  nasceu a 12 de Fevereiro de 1909 e faleceu a 25 de Março de 1994. Licenciado em Direito, foi advogado, Provedor de Justiça de 1976 a 1981Vice-Presidente do Tribunal Constitucional de 1983 a 1989, Vogal do Conselho Superior da Magistratura, Delegado da Ordem dos Advogados ao Conselho da União Internacional dos Advogados e Presidente da Direção da Associação para o Progresso do Direito.

[137]  Professor na Faculdade de Direito de Lisboa.

[138] Vasco da Gama Fernandes, teve escritório de Advogado num primeiro andar da Rua 16 de Outubro/Alcobaça, quase na esquina com a Rua Alexandre Herculano. Em Alcobaça, a par da advocacia, que decorria com sucesso, também teve escritórios em Leiria e Porto de Mós, frequentava os meios intelectuais e da oposição. Deixando Alcobaça, radicou-se em Leiria, onde desenvolveu grande atividade profissional, e colaborou em iniciativas culturais. A sua ação política, caraterizou-se pela luta que desenvolveu, antes e depois do 25 de abril, a favor da República, das liberdades públicas, do socialismo em liberdade, da democracia, da tolerância, da cultura e da justiça social. Manifestou-se sistemática e persistentemente contra as arbitrariedades e totalitarismos, proferindo conferências, promovendo sessões comemorativas, participando em programas de rádio e televisão ou colaborando nos jornais, escrevendo centenas de artigos e crónicas, desempenhando funções em várias associações cívicas e políticas. Pertenceu ao grupo dos fundadores do P.S., na clandestinidade. Foi eleito, por Leiria, pelo Partido Socialista, Deputado à Assembleia Constituinte de 1976, de que foi Vice-Presidente, o primeiro Presidente da Assembleia da República depois do 25 de Abril, tendo-o sido por unanimidade de todos os partidos, e reeleito para um segundo mandato. Presidente da Assembleia da República, aceitou encabeçar a lista do P.S. à Assembleia Municipal de Alcobaça e embora as listas do PPD e CDS tivessem em conjunto mais votos do que a soma das restantes, conseguiu ser eleito contra Gonçalves Sapinho, após manipulação/compra de um voto. Todavia, Vasco da Gama Fernandes em breve veio a pedir a demissão. Membro da Maçonaria, faleceu em Lisboa em 9 de agosto de 1991
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Soares, Cunhal e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[139] Chegou-nos via J. Crespo a ementa do almoço, realizado no Restaurante Corações Unidos: Acepipes, Linguados à Beneditina, Frangos na Púcara à Fradesca, Lampreia de Ovos à Mosteiro, Frutas de Alcobaça e Café. Os vinhos, bem como a aguardente velhíssima eram JEM. Também foi servida Ginja de Alcobaça.
-Durante a visita aos Mosteiros de Alcobaça e Batalha, bem como ao Castelo de Leiria, fizeram breves palestras, respetivamente, o Professor Joaquim Vieira Natividade, Dr. Pais d’Almeida e Arquiteto Camilo Korrodi. Nesse dia, os congressistas deslocaram-se à Nazaré onde assistiram a um programa de folclore, Batalha e Leiria, em cujo jardim Municipal lhes foi servido um chá e atuou o Orfeão de Leiria.

[140] Academia de Santo Amaro é uma das mais antigas e prestigiadas coletividades de cultura, recreio e desporto, da freguesia de Alcântara, que, embora só fundada em 10/03/1946, é resultado da fusão, das 3 coletividades, já com pergaminhos, do Alto de Santo Amaro: Sociedade Filarmónica Esperança e Harmonia (fundada em 01/01/1865); Sociedade Filarmónica Alunos e Harmonia (fundada em 17/02/1868) e Grupo Dramático e Musical Apolo (fundado em 01/07/1915).

[141]  Maria Luísa Dionísio.
-Pedro Moutinho morreu com 80 anos. Membro de uma geração de grandes locutores como Artur Agostinho, Fernando Pessa, Maria Leonor (com quem foi casado), Curado Ribeiro ou Igrejas Caeiro, Pedro Moutinho trabalhou durante 34 anos na E.N. e colaborou na R.T.P. durante 12. Era tido como divertido, brincalhão e com uma enorme capacidade de improviso, pelo são muitas as histórias por si protagonizadas na E.N. Salazarista confesso, Pedro Moutinho orgulhava-se de uma vez ter apertado a mão a Oliveira Salazar. Embora afirmasse nunca ter dado pela censura, nunca ter sentido a presença dos fiscais dos programas, considerava que a dimensão política e humana do Presidente do Conselho era tal, que ninguém podia deixar de o respeitar. Reformado em 1976, Pedro Moutinho falava do 25 de Abril como a tal data. Alguns amigos aconselharam-no a pedir a reforma, pelo que receando o despedimento sem direito a indemnização, o locutor submeteu-se a uma junta médica. Estávamos no período do Vasco Gonçalves e não era de arriscar. Os médicos perceberam as razões da minha reforma.

[142] Elsa Vilar foi Miss Portugal 1962, o que lhe valeu ser convidada para fazer parte de elencos no Parque Mayer.

[143] Nascida em Lisboa, a 14 de maio de 1928, desde muito cedo se interessou pela música e revelou dotes vocais. Depois de ter passado pela Rádio Graça prestou provas na E.N., perante os Maestros Tavares Belo, António Melo e Belo Marques. Aceite, começou a trabalhar com o maestro Belo Marques, que dirigia a Orquestra Típica Portuguesa, formando um quarteto vocal feminino com Maria de Lurdes Resende, Maria Beatriz e Olga Maria. A estreia de Maria Fernanda Soares como solista fez-se num dos Serões para Trabalhadores, onde teve êxito. Mais tarde virá a fazer parte do Coro Feminino da Emissora Nacional, que a ocupará durante muitos anos em paralelo com a sua carreira de solista. Mas será presença assídua no programa da R.T.P. “Melodias de Sempre” e em operetas, que lhe dão a oportunidade de exercitar a sua paixão pela representação, paixão nunca emergente na sua vida de cançonetista, marcada por muitos sucessos.

[144] Não se trata, obviamente, do militante do P.C.
-Não conseguimos identificar este artista.

[145] Com forma de revista, recordando temas um pouco diferentes dos do yé-yé, surgiu Melodias de Sempre, teve em Jorge Alves uma apresentação à altura. O programa, era não só um grande espetáculo de televisão, mas um acontecimento consagrado pelo público. Só assim se justifica ter estado no ar durante 9 anos, marcando a década de 1960 no panorama televisivo português.

[146] António Luís de Melo, pianista, maestro e compositor, nasceu em Lisboa a 2-7-1903 e faleceu a 17-5-1975. Em 1935 entrou para a E.N. como pianista, e ali exerceu os cargos de Acompanhador, Diretor de Orquestras de Jazz, ligeiras, etc. Para os programas da E.N., compôs músicas ligeiras para peças radiofónicas que obtiveram êxito. Em 1936, convidado pelo Diário de Lisboa para musicar uma poesia premiada no seu Concurso do Vinho e da Uva, coube-lhe musicar versos de Rui Correia Leite, Vinhedos. Compôs para Canção de Lisboa uma canção para quarteto vocal e música de fundo e canções para outros filmes. Para o bailarino Francis compôs dois bailados para Orquestra Sinfónica. Fez parte do Gabinete de Estudos Musicais da E.N. e da Direção da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses.

[147] Em 1968 participou no PBX na R.R. Popularizado através da televisão, obteve reconhecimento com o  Zip-Zip, o primeiro talk-show da televisão portuguesa, gravado no Teatro Villaret, em que participavam também Raul Solnado e Carlos Cruz. Em 1970, após o fim do Zip-Zip, Fialho Gouveia e a equipa do PBX, a que se juntou Joaquim Furtado, integraram o Tempo Zip, primeiro na R.C.P., depois na R.R. Aquando do 25 de Abril de 1974, estava de serviço na R.T.P., com Fernando Balsinha, aquando da leitura do comunicado do M.F.A. Faleceu em Outubro de 2004.



[148] O Alcoa.

[149] J. A. Crespo.

[150] Rosa Maria.
-A gravação de discos era mais uma questão de prestígio (que muito emocionava o agrupamento), do que forma de angariar receitas. Mesmo nos espetáculos a venda era reduzida.

[151] A fim de preparar esta atuação na R.T.P., a O.T.C, teve de se apresentar logo de manhã nos estúdios, conforme informa Maria Fernanda, tendo aí estado todo o dia.
[152]  O conhecido e apreciado dueto de Melodias de Sempre.
-O Alcoa.

[153]  O mais internacional dos artistas portugueses.
-O Alcoa.

[154] 1º Prémio de interpretação em Espanha.
-O Alcoa.

[155] Uma promessa de futuro.
-O Alcoa.

[156] Madeirense, autor e intérprete do sucesso popular A Mula da Cooperativa e Pomba Branca.

[157] Rei da Rádio de Angola e apreciado artista da Rádio e da TV
-O Alcoa.

[158] Vedeta da voz de oiro e rainha da popularidade.
-O Alcoa

[159] O Alcoa.
-José Crespo.

[160] 22 de dezembro de 1963.
-«-Castelo Branco

[161] Henrique Mendes nasceu no bairro da Ajuda, em Lisboa. Casado com a atriz Glória de Matos, apresentou muitos programas em Portugal.
-Embora considerado galã português dos anos 1960, o apresentador viu a sua vida mudar a 25 de Abril de 1974. Através do Expresso, soube que ia ser afastado dos ecrãs, o que acabou por acontecer decorrido um ano, em que se manteve ao serviço da televisão, sem fazer nada, mas a receber o ordenado que lhe competia. A situação era-lhe muito penosa, por isso, tentou encontrar trabalho noutros locais. Sem o conseguir, Henrique Mendes e Glória de Matos, emigraram para o Canadá, onde apresentou noticiários e fez um programa para a comunidade lusa. Mais tarde, juntamente com um amigo, fundou a rádio Asas do Atlântico. Permaneceram no Canadá até 1979 quando o casal regressou a Portugal por incentivo de Raul Solnado, tendo Henrique Mendes sido nomeado diretor de programas da R.R. Aqui trabalhou durante mais 18 anos, dando voz a alguns programas, para além de outras funções. Foi à R.R. que Emídio Rangel, diretor da SIC, o foi buscar. Foi o rosto de programas como Ponto de Encontro, Às duas por três e entrou em séries como Médico de Família. Em 2002, foi distinguido pelo Expresso como uma das 25 figuras importantes do último quarto de século de Portugal e lançou o livro Um Homem Sorri com Palavras Leves uma viagem pelas memórias de um homem considerado por muitos um dos maiores comunicadores da televisão portuguesa.
                                                                

[162] Não conseguimos identificar este profissional.

[163] A Reconquista, de Castelo Branco.

[164] 5 de janeiro de 1964.

[165] Jornal do Fundão.

[166] 30 de julho de 1963.

[167] Maria da Conceição Ferreira, com o nome artístico Maria Clara (ao que se dizia por ter voz clara) nasceu em 5 de outubro de 1923 em Lisboa. Estreou-se profissionalmente na opereta A Costureirinha da Sé, levada a cena em 1943 no Porto, da autoria de Arnaldo Leite e Heitor Campos Monteiro, com António SilvaJosefina SilvaCostinha e António Vilar. Após o casamento com o catedrático Júlio Machado de Sousa Vaz (conhecido opositor do Estado Novo, neto materno do antigo Presidente da República Bernardino Machado), foi viver para o Porto. Maria Clara foi eleita Rainha da Rádio pelos leitores da revista Flama na década de 1960. Participou em espetáculos do Serão para Trabalhadores. Fez digressões ao Brasil. A artista, cuja voz cristalina foi sempre elogiada pela imprensa, teve alguns sucessos como Figueira da Foz, Zé Aperta O Laço e Hás-de Voltar. Trabalhou no Teatro de Revista e ficou ligada às Marchas de Lisboa, com destaque para a Marcha do Centenário, em 1940. Deu voz à Canção de Viana do Castelo, à Canção de Esposende e à Canção de Faro. No cinema participou em A Revolução de MaioTrês Espelhos e nos filmes televisivos A Tia EngráciaA Relíquia. Maria Clara faleceu com 85 anos, a 1 de Setembro de 2009 no Porto.

[168] O Casino da Figueira informou que não possui registos deste evento.

[169] O Alcoa, de 13 de fevereiro de 1965.
-Houve outras confraternizações e bailaricos animados por um acordeão ou concertina uma vez com uma banda da Vestiaria composta por 5 ou 6 elementos.
-Mara Fernanda.

174/175 Esclarece que foi o sócio (na Cruz de Cristo, Ld.ª.) e amigo Raúl Gameiro quem o convidou para presidir aos destinos do C.A.A.C./O.T.C. , em virtude de achar que a Orquestra Típica era não só uma mais-valia para Alcobaça, como também um ótimo agrupamento musical que valia a pena apoiar, que lutava com grandes dificuldades financeiras o que obrigou a que os próprios membros da direção contribuíssem por vezes com apoios em dinheiro e teve de se demitir quando passou a viver maior parte do tempo em Lisboa.
-Nasceu em Lisboa, a 12 de outubro de 1937, no seio de uma família muito conhecida em Alcobaça. Embora nunca tenha saído da Crisal/Atlantis durante os 53 anos que ali trabalhou, integrou os corpos gerentes de outras empresas e instituições. Em junho de 1974, integrado na lista de Francisco Pinto Balsemão, ganhou as eleições para o Automóvel Club de Portugal. A Lista de Balsemão foi eleita com 75% dos votos, naquilo que mais tarde se chamou a primeira eleição livre depois do 25 de Abril. Ficou apenas um triénio, atuando como Diretor/Secretário, porque não tinha tempo para conciliar o trabalho na Crisal com as solicitações do A.C.P. A partir do final da década de 1960, integrou o Conselho Fiscal da Macedo & Coelho S.A., em que se manteve durante largos anos. Pouco tempo depois, foi nomeado administrador da Sopursal-Soc. Industrial de Sal do Algarve. Mais tarde passou a seu Presidente do Conselho de Administração, função que desempenhou durante cerca de 13 anos, até à venda a uma multinacional. Foi ainda administrador (não executivo) da Resinagem Nacional, S.A./Alcobaça, durante um curto período. Na década de 1960, comprou 60% da Sociedade Automóveis Cruz de Cristo, Ld.ª., de que seu pai tinha sido sócio fundador. Também se interessou pela vida associativa de Alcobaça e foi presidente do C.A.A.C./O.T.C. e do Clube Alcobacense, sucedendo a Amílcar Pereira de Magalhães. A Direção presidida por Raposo de Magalhães, tinha como tesoureiro José Dionísio dos Santos (pai de Maria Luísa Dionísio), secretário Manuel Alberto Tomás Correia e vogais José Rodrigues Lucas, Manuel de Lemos Pereira da Silva (Somel), Joaquim Leopoldino dos Santos, Joaquim Pedro Coelho, José António Crespo (que não integrava o coro, nem a parte instrumental), Manuel Duarte Neves, Eduardo Bajouco de Figueiredo, António da Silva Rosa, Sérgio Iglésias, Luís Filipe Fernandes da Silva.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes Como Nós.


[171] Raul Gameiro nasceu a 26 de julho de 1921, em Argea/Torres Novas, tendo aí completado a instrução primária. Começou a vida profissional a trabalhar para a C.P., no Entroncamento e, em julho de 1946, veio para Alcobaça a fim de chefiar a central que efetuava a ligação (transporte de mercadorias) à estação de caminho-de-ferro da CP em Valado de Frades, propriedade da Sociedade de Automóveis Cruz de Cristo, Ld.ª. de que veio a ser sócio. Sempre muito ativo, Raúl Gameiro pertenceu aos corpos sociais de quase todas as instituições de Alcobaça, como o Ginásio, Grémio de Comércio, CEERIA, Hospital da Misericórdia, Orquestra Típica, ADEPA, Banda de Alcobaça, Associação de Chiqueda, Associação para o Desenvolvimento de Alcobaça, Clube Rotário (refundado) e Bombeiros Voluntários. Também participou nas comissões organizadoras de várias edições da Feira de S. Bernardo, na Homenagem ao Maestro Belo Marques e à cantora Maria de Lurdes Resende, bem como na Comissão Promotora da Elevação de Alcobaça a Cidade. Faleceu em 10 de junho de 2016.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes Como Nós.

[172]Serão Cultural e Recreativo para Trabalhadores, vulgo Serão para Trabalhadores era programa radiofónico organizado pela E.N., em associação com a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho/F.N.A.T, destinado a entreter os trabalhadores incutindo-lhes o ideário do Estado Novo. Foi uma ideia de António Ferro, chefe do Secretariado de Propaganda Nacional/S.N.I.. que surgiu em 1941, com programas de variedades organizados pela E.N. para divulgar compositores e escritores e as graciosas vedetas da rádio. Com o programa, a E.N. procurava entreter os trabalhadores e chamá-los para a obra do Estado Novo. Foi o programa mais longevo da E.N., pois durou até 11 de maio de 1974.

[173] O Conjunto 4 de Espadas foi um quarteto vocal formado em 1958 por Américo Lima, Fernando La Rua, Nuno de Almeida e Paulo Alexandre. Esteve alguns anos no ativo e atuou ao lado de celebridades estrangeiras e nacionais como Luís Mariano, Charles Aznavour, Louis Armstrong, Françoise Hardy, Sammy Davies Jr, Dalida, Alice Amaro, Cauby Peixoto, Simone de Oliveira, António Calvário, Alberto Cortez e Madalena Iglésias. Atuou nas mais importantes salas de espetáculos do nosso país e estrangeiras.

[174] Tanto esta, como Isabel Fontes, não conseguimos identificar.
[175] 29 de maio de 1965.
-Jornal regionalista de Oeiras e Cascais.

[176] Natalina José da Silva Soares, nasceu no Estoril, a 10 de Janeiro de 1939. Fez mais de 30 revistas, tournées como cantora e atriz, sendo considerada a Melhor Atriz de Revista-1987.

[177] O Alcoa.

[178] Luciano Pereira dos Santos  (Setúbal, 25 de março de 1911/Lisboa, 13 de dezembro de 2006). Pintor muito meritório realizou diversas exposições individuais em Portugal (LisboaPortoCoimbraGuimarãesAmaranteAlcobaçaSanto TirsoSetúbal, etc.) e em Espanha (MadridBarcelona e Palma de Maiorca). Em 1993, foi realizada exposição retrospetiva, pelo Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico/Museu de Alcobaça, na Ala Sul do Mosteiro. Em 2011, foram organizados, pela edilidade setubalense, vários eventos e exposições comemorativos do centenário do seu nascimento.
-É emblemático o quadro que se encontra exposto em lugar de destaque no edifício da CMAlcobaça.
Fleming de Oliveira in No Tempo de Pessoas Importantes como Nós

[179] Eduardo Augusto d'Oliveira Morais Melo Jorge Malta  (Covilhã28 de outubro de 1900 / Óbidos 31 de maio de 1967). Na sua extensa galeria de retratos, figuram nomes como Teixeira de PascoaesAquilino RibeiroAugusto de CastroAmália Rodrigues, Juan Belmonte e Manuel dos Santos; e na política, como Oliveira SalazarCardeal Cerejeira, Getúlio Vargas ou o político espanhol falangista José António Primo de Rivera. A 31 de Maio de 1958 foi feito Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada. Foi diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, de 1959 a 1967. A sua nomeação foi muito contestada, incluindo um abaixo-assinado, devido à sua assumida oposição à arte moderna. Era também membro efetivo da Academia Nacional de Belas Artes e correspondente da Real Academia de San Fernando de Madrid. Outra atividade de Eduardo Malta foi a de escritor. Escreveu romances e contos e sobretudo livros sobre a sua arte e porcelana de que era profundo conhecedor.

[180] José de Campos Contente  (Coimbra15 de Janeiro de 1907/Coimbra, Abril de 1957). Existem trabalhos seus na Escola de Belas Artes de Parma, Pinoteca do Rio de Janeiro e em muitos museus portugueses.

[181] Olegário Mariano Carneiro da Cunha  (Recife24 de março de 1889Rio de Janeiro28 de novembro de 1958) foi um poetapolítico e diplomata brasileiro. Era primo do poeta Manuel Bandeira.  Em 1918 foi representante do Brasil na Missão Melo Franco, como secretário de embaixada na Bolívia. Foi deputado à Assembleia Constituinte de 1934. Em 1937 ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados, depois foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira de Letras na Conferência Interacadémica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; Embaixador do Brasil em Portugal entre 1953 e 1954. Em 1938, em concurso foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição de Alberto de Oliveira, detentor do título após a morte de Olavo Bilac. Ficou conhecido como o Poeta das Cigarras, por causa de um de seus temas prediletos.


[182] Voz de Alcobaça .
-Exmºs Senhores.,
Ao receber o vosso convite para dirigir musicalmente o espetáculo promovido pela Liga Portuguesa contra o Cancro, logo aceitei com prazer a incumbência com aquele contentamento que qualquer pessoa deve sentir quando se trata de ser útil ao seu semelhante.
Contente, ainda, por me sentir mais ima vez em contacto com o nosso admirável público, do qual há muito ando afastado, mas que sempre estimei, pela consciência e simpatia com que acolhe qualquer artista, embora modesto como eu.
Estou velho, cansado e… cada vez mais feio.
Ah, mas tenho agora um amigo formidável! Um amigo tão amigo, tão intimo, que me faz estar a pronto a morrer por ele, porque é ele somente que me alegra o coração. Pois bem: este amigo é um velho baú, onde guardo infinitas recordações. Lá os encontro a todos: cantores, cançonetistas e cantadores. Um grande molho de artistas dos quais fui diretor e por eles dirigido algumas vezes. A música é isto. Há sempre à volta do compositor, quer à mesa de trabalho, quer seguindo-lhe os passos, milhares de colaboradores que, unidos por um só espirito, se conjugam num só todo. Deixei passar esta baralhada. Queria eu dizer na minha que, ao abrir de quando em quando o tal baú, cacifo das minhas saudades, não sei porquê encontro sempre ao de cima Maria de Lourdes Resende.
Era menina e moça, quando a conheci. Muito moça, muito menina e tão linda e humilde, tanto na fala como no porte que logo me prendeu a atenção. Também reparei, pelos seus nulos bens de fortuna, pertencer à minha família. Portanto, quem não é amigo dos seus amigos, não é amigo de ninguém, segundo diz a sabedoria popular.
Ensinei lhe tudo o que sabia e como podia. E escrevi para ela algumas melodias simples, procurando dar força à sua própria fraqueza. Não foi preciso esforço algum para conseguir êxito. Em breve a sua voz se tornou conhecida e o seu nome notado. O público, esse justo e admirável elemento, esclarecido e vertical acabou por lhe fazer justiça. Pela verdade devo dizer que para tal milagre a minha contribuição não teve importância alguma. Os artistas nascem quando nascem e nunca qualquer mestre poderá dizer com verdade ter feito algum. Quem acorda com fogo interior e traz uma luz no peito, chega sempre onde quer chegar. Para tanto todos os caminhos são bons, como são boas todas as veredas, embora por vezes tortuosas por nos conduzirem até Deus.
Olhe, Lourdes Resende, vou falar-lhe como grato amigo e seu admirador. Cante. Cante sempre essa sua canção que lhe nasceu no peito, porque é portuguesa e veio do povo ao qual você pertence. Como também ao povo pertence aquilo que o povo canta. Música ligeira? Canção ligeira? Que importa?! Uma canção que brota da raiz da terra, que nos foi berço, embora triste por vezes, já mais foi trôpega. Escute a nossa gente. Ela é que sabe escolher os intervalos musicais, que melhor se ajustam aos seus amores, às suas alegrias e também às suas mágoas e angústias. Se você, Maria de Lourdes, por ventura for escolhida para representar Portugal lá fora, não se deixe vencer pela pirotécnica nem por habilidades eletrónicas, que nascem agora para morrer logo. Por certo que lá chegarão bonitas canções para ouvir, mas poucas para escutar. Cante sem receio a sua canção e faça que os outros escutem tudo quanto nós somos. No fim, se nada ganhou, nada perdeu. Porque, com aquela gloriosa humildade que emprega quando canta, só nós temos a ganhar. Creia que honrou sempre sem vergonha a terra que é sua e nossa. Já não honra a sua terra aquele que a troca por alguma célula de valor. Este, só no fim da vida, reparará que era falsa. Por mim não trocaria a Maria de Lourdes Resende por qualquer arranha-céus musical.
Talvez que estas minhas palavras indiquem apenas as birrazinhas de um velho. Se assim é, valha-me Deus! Isto de ser músico e saber ou nada da música, corre hoje por certos perigos e arrisca-se um homem a várias quedas no conceito de certos senhores de arrebitadas orelhas, se não menos rebotadas línguas. Mas Maria de Lourdes Resende, é uma senhora boa e compreensiva. Pela parte dela, estou certo que poderei morrer na Paz do Senhor…

[183] Voz de Alcobaça em suplemento dedicado à artista e à festa de homenagem.

[184] Miguel Martinho Ferreira Guerra eleito nas eleições de 1976 nas listas do PS, e tornou-se o primeiro presidente de Câmara de Alcobaça depois do 25 de Abril. Antes, presidiu à Comissão Administrativa que geriu a autarquia até às primeiras eleições autárquicas em dezembro de 1976. Miguel Guerra perdeu em 1979 as eleições para João Raposo de Magalhães (PSD/AD), mas em 1989 voltou a conquistar a presidência da autarquia, que manteve até 1997.
-Fleming de Oliveira in No Tempo de Soares, Cunhal e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[185] O Alcoa.

[186] Eduardo V. Vieira Coelho nasceu a 23 de fevereiro de 1945 em Alcobaça. Iniciou a atividade profissional na CP, que teve de interromper para prestar serviço militar em Moçambique até 1971. Em 1973, regressou a Alcobaça, vindo a fazer parte da SOLCOA como sócio até 1977. Embora o seu percurso académico tenha sido efetuado fora de Alcobaça, manteve a esta uma forte ligação afetiva que o levou a intervir cívica e socioeconomicamente. Foi sócio fundador da Interact, ADEPA, Presidente da Direção do CEERIA, da Associação de Pais da Escola D. Pedro I, do Rotary Club e membro da Loja Maçónica Gomes Freire/Leiria. Fez parte da primeira Vereação da Câmara Municipal de Alcobaça, depois do 25 de abril, eleito em lista do PS (embora tivesse militado antes no MDP/CDE), e cuja equipa era composta por Miguel Guerra (Presidente-PS), Martiniano Rodrigues (PS), Fleming de Oliveira (PSD) José Rafael Serralheiro (PSD), Mário Tanqueiro (PSD) e Manuel Ferreira Castelhano (CDS). Também foi Presidente da Assembleia de Freguesia de Alcobaça (eleito em lista do PS), durante um mandato. Faleceu em 2000.
-Região de Cister.
-Fleming de Oliveira, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[187] Nasceu em 20 de novembro de 1926 e faleceu a 5 de abril de 2003.
-António Balbino Caldeira escreveu em O Alcoa um depoimento in memoriam.
-Fleming de Oliveira, in No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.

[188] Artur Agostinho nasceu em 25 de dezembro de 1920. Os primeiros passos no éter foram dados em 1938 na Rádio Luz. Seguiram-se Clube Radiofónico de Portugal, a Voz de Lisboa, a Rádio Peninsular e a R.C.P.. Entrou para a E.N. em 1945. Fez parte do departamento desportivo da R.R., nos anos de 1980, depois de ter sido um dos mais brilhantes relatores desportivos de sempre aos microfones da E.N. No cinema, participou em vários filmes de sucesso. Após o 25 de Abril, por ter trabalhado como repórter em trabalhos com pessoas do antigo regime, foi preso a 28 de setembro de 1974, ficando 3 meses em Caxias. Em agosto de 1975 decidiu emigrar para o Rio de Janeiro, aonde esteve até 1981. Artur Agostinho morreu a 22 de março de 2011, com 90 anos de idade.

[189] Igrejas Caeiro, nasceu a 18 de agosto de 1917. Estreou-se como ator em 1940 no Teatro D. Maria II, de onde seria expulso, por causa das suas posições políticas. Em 1940 entrou na E.N. onde chegaria a locutor de 1ª. classe antes de em 1948, ser vítima de um saneamento político juntamente com uma dezena de outros trabalhadores que só regressariam à estação estatal após o 25 de Abril de 1974. Em 1954, veria as suas atividades profissionais ligadas com os espetáculos públicos suspensas pelo Estado Novo, regressando passados 5 anos ao teatro. Após o 25 de Abril foi Deputado pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte e depois à Assembleia da República. Entre 1976 e 1979, Igrejas Caeiro foi Diretor de Programas da R.T.P. Regressando à política, foi Vereador da Câmara Municipal de Cascais durante o mandato de Helena Roseta, Comendador da Ordem da Liberdade a 9 de Junho de 1995 e distinguido com a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Oeiras. Em 2005 recebeu o Prémio de Consagração de Carreira e a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores. Morreu em Lisboa, aos 94 anos, em 19 de fevereiro de 2012.

[190] Etelvina Lopes de Almeida, nasceu no dia 17 de março de 1916, tendo falecido com 88 anos, a 30 de abril de 2004. Quando locutora na E.N., aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, talvez influenciada por Maria Lamas. Ligada a movimentos da oposição ao Estado Novo foi afastada da E.N., só sendo reintegrada em 26 de julho de 1974, na sequência da Revolução. Etelvina Lopes de Almeida, em 1969, fez parte da lista de candidatos a deputados pela Comissão Eleitoral de Unidade Democrática. Depois de Abril de 1974, foi deputada à Assembleia Constituinte pelo Partido Socialista e também à Assembleia da República. Na linha do seu interesse já revelado na Assembleia da República, foi convidada a presidir em Estrasburgo a uma sessão do Parlamento Europeu para os Idosos, em 1993, durante a qual foi aprovada a Carta Europeia para os Idosos. Em 1995, foi agraciada pelo Presidente Mário Soares com a Comenda da Ordem de Mérito que se destina a galardoar atos ou serviços meritórios no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da coletividade.

[191] Maria Isabel Marques Silva, nasceu em Lisboa a 21 de março de 1933 e faleceu a 21 de julho de 2019. Conhecida por Isabel Wolmar, foi artista muito conhecida do grande público por ter trabalhado para a rádio e RTP. Depois de uma carreira na rádio, entrou para a RTP em 1961 como locutora, locutora de continuidade e apresentadora de televisão. Em 1962 tornou-se repórter e pivot do Telejornal e produtora nos anos de 1970 e 1980. Saiu da RTP em 1989, mas regressou várias vezes nos anos de 1990 para participar em programas de televisão. Nos últimos anos de vida dedicou-se à literatura.

[192] Locutor da Rádio Clube Português, autor do programa da manhã Talismã.

[193] Sobre esta locutora, encontramos um saboroso apontamento de Vera Lagoa, de 7 de fevereiro de 1968, a propósito da sua homenagem por ter ganho um prémio da Casa da Imprensa. Da coluna de mexericos sociais, retiramos uma frase: Eugénia estreou um vestido que a emagrecia imenso, de gola e punhos brancos, que foi muito admirado. Na prosa, não sabemos qual o prémio que ganhou, nem o programa, nem o produtor, mas ficamos a conhecer a impressão causada pelo vestuário. Vera Lagoa, para além das opiniões políticas que produziu num semanário que dirigiu muito posterior a esta data, foi o modelo de comentário das revistas populares, de televisão e cor-de-rosa que existem hoje.

[194] Maria José Valério  (Amadora6 de Maio de 1933) é conhecida pela sua dedicação ao Sporting e por ser a intérprete da Marcha do Sporting, adotada como hino do clube.  O tema foi reeditado em single quando o Sporting conquistou o Campeonato Nacional de futebol em 1999/2000, tendo chegado ao primeiro lugar na tabela nacional de vendas.
-Uma das suas imagens de marca é usar o cabelo pintado de verde.
-Estreou-se em 1952 na E.N. Era sobrinha do maestro Frederico Valério, de quem gravou muitas canções. O seu nome foi ganhando projeção com temas como O Polícia Sinaleiro e ao atuar, nos Serões para Trabalhadores ao lado de artistas como Rui de MascarenhasGina Maria ou Paula Ribas. O seu maior sucesso é Menina dos Telefones, de 1962, da autoria de Manuel Paião e Eduardo Damas.


[195] Paulo Alexandre, é nome artístico artístico de Modesto Pereira da Silva Santos (Vouzela16 de Fevereiro de 1931) é  reconhecido especialmente pelo sucesso do tema Verde Vinho de 1977, uma tradução e adaptação do Griechischer Wein, de autoria de Udo Jürgens e editado em 1974.

[196] Deolinda Rodrigues Veloso, nasceu em Lisboa a 31 de dezembro de 1924, mas comemorava o seu aniversário a 1 de janeiro. Estreou-se como profissional no Baía, ao Parque Mayer e depois trabalhou noutras casas de espetáculo. Na Revista estreou-se no Teatro Apolo com Cartaz da Mouraria”ao lado de Hermínia Silva, Barroso Lopes e Costinha. Faleceu em outubro de 2015.

[197] Júlia Babo foi atriz, cantora e pintora. Começou a cantar bastante jovem. Interessou-se por outras artes como a pintura em cerâmica, tendo sido aluna de Lagoa Henriques. Fez teatro e gravou discos com canções populares do norte do país em que teve a colaboração do maestro Resende Dias. Os seus temas mais populares foram Ciranda Popular e O Arroz Está Crú. Morreu em Lisboa, com 78 anos, a 9 de Junho de 2007.

[198] Carlos Guilherme, nasceu em Lourenço Marques, em 1945. Passou a infância e juventude em Moçambique, onde frequentou o Liceu e cumpriu o serviço militar. Lançou um single e foi consagrado Rei da Rádio de Moçambique em 1970. O seu primeiro álbum, Canções de Amor, foi editado em 1990, onde evocava composições famosas dos anos de 1940 e 1950. Um dos temas era Guitarra Toca Baixinho, popularizado entre nós por Francisco José. O álbum Histórias de amor, foi editado em 1991. Em 1993 lançou Canções em Português. Em 1993 abriu a Temporada Comemorativa dos 200 anos do São Carlos, cantando Eugene Onegin/Tchaikovsky. Estreou a ópera de Alexandre Delgado, O Doido e a Morte em 1994, ano em que Lisboa foi Capital Europeia da Cultura. Em Setembro de 1997 fez a sua estreia no papel de Rodolfo em La Bohème. Em Macau cantou a parte de tenor na Missa de Santa Cecília/Haydn. Em 1999, de regresso ao São Carlos, estreou-se no papel principal da ópera La Borghesina/, de Augusto Machado, e foi Mercúrio na opereta Orphée aux enfers/Offenbach.


[199] 31.03, 1995
[200] Faleceu em 3 junho de 1964, após prolongada e dolorosa doença, na sua residência, na Avenida Infante Santo, 366-1º Esq. Contava 71 anos de idade.

[201] Foi Vereador da Câmara Municipal e Presidente Comissão Municipal de Turismo, no mandato de Horácio J. Junqueiro, e com 37 anos designado Presidente de Câmara funções que desempenhou de 7 de fevereiro de 1969 a 25 de abril de 1974 (18 de julho de 1974 é, porém, a data oficial do termo de funções), Presidente de Direção do Ginásio Clube de Alcobaça (durante sete épocas) e dos Bombeiros Voluntários, Diretor e Editor do jornal O Alcoa e Procurador ao Conselho Distrital e à Câmara Corporativa. Sendo Presidente da Câmara, fundou em 1971 o Jornal de Alcobaça, que durou até ao 25 de abril de 1974. Faleceu em Lisboa, aonde vivia, a 15 de março de 2011 perto de perfazer 80 anos, tendo nascido em Alcobaça a 11 de setembro de 1931.
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Salazar, Caetano e Outros e No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.
-Informações dos filhos.


[202] Quando (treze anos antes da doença que o prostraria e para sempre nos roubaria o seu convívio inesquecível) Silva Tavares teve uma crise gravíssima, de que viria, porém, a recompor-se surpreendentemente, foi em Alcobaça, nesta terra maravilhosa, que ele veio procurar – e encontrar – alívio para os seus males. Alívio no bálsamo dos ares e na pureza das águas, no sortilégio da paisagem e dos monumentos, e no carinho sem par dos amigos, desde os mais ilustres alcobacenses aos mais modestos mas nem por isso menos admiráveis filhos desta terra.
Aqui vim passar, então, alguns dias com ele, e sua Mulher, a srª D. Albertina Ramos Silva Tavares, na esperança de que uma companhia afetuosa, alicerçada em tantos anos de permanente e agradecido contacto, poderia contribuir, se não para o libertar do mal que o afligia, pelo menos para restituir ao seu espírito perturbado um pouco de confiança, base indispensável para uma possível recuperação.
Tive nessa altura oportunidade de verificar, ou melhor, de confirmar como esta nobre e formosíssima vila de Alcobaça, de tão esclarecidos pergaminhos, correspondia e que ele testemunhava através das suas vindas frequentes e dos seus não menos frequentes versos:
Quem passa por Alcobaça...
Aqui aprendi com ele a amar também esta terra, na visita pachorrenta às suas ruas e às suas lojas (em especial, às suas casas de antiguidades, de onde mal resistia a levar algumas); às suas fábricas de louça tradicional e ao seu mercado rumoroso e vive como uma colmeia:
Feira de S. Bernardo. Mês de Agosto // Mastros, bandeiras, música, festões // E gente sã que deixa ler, no rosto, // O que supõe guardar nos corações.
Como tudo é formoso, delicado, // Cheio de novidade, encanto e graça, // Para o ingénuo povo, endomingado, // Que hoje baixou à vila de Alcobaça...
Aos seus arredores e às casas dos seus amigos; e, sobretudo, naturalmente, ao Mosteiro de pedras venerandas com tantas histórias  para contar e que Silva Tavares conhecia e contava como poucos... E, num pulo até à Batalha, lá ia não poucas vezes olhar o soneto que o Poeta dedicara ao Soldado Desconhecido e que eu lera pela primeira vez numa edição de Albino Forjaz de Sampaio, consagrada aos melhores sonetos portugueses:
Quem é? Quem foi?... Anónimo, ignorado, // Morreu e a Morte o seu segredo encerra. // Tudo mistério, desde o seu passado  // Ao nome e aos anos que pisou a terra.
Chorou-o alguém? Amava? Foi amado? // Trevas tão densas nem o sol descerra // Sabe-se apenas que morreu Soldado // Honrado a Pátria, pois morreu na guerra!
Quem quer que sejas, ajoelha e reza. // Que importa o nome? A glória não despreza // Sublima, exalta o anónimo guerreiro.
Não é esta a altura de dedicar à obra de Silva Tavares o estudo crítico e atento que ela bem merece. Nem eu seria, aliás, a pessoas mais indicada para o fazer.
Quero, entretanto, lembrar que, numa nota despretensiosa que tive o prazer de escrever para o livro antológico “Vigília de sombras” –Cinquenta anos de Poesia–, afirmei: “De uma forma simplista –não há nada mais difícil do que classificar, arrumar, dividir –pode repartir-se por dois grupos a obra poética de Silva Tavares: o dos livros em que a redondilha atinge, como em Augusto Gil, as mais altas e luminosas expressões; e o dos poemas onde a inspiração é talvez mais profunda e o percurso mais longo, pois vem das próprias raízes da alma”.
Para ser, entretanto mais preciso, fazia ainda alusão à fase inicial do poeta, que abrange, entre outros, os livros “Luz poeirenta”, “Poemas de Olimpos” e “Claustros”, de carácter acentuadamente simbolista, e uma outra, mais circunstancial mas nem por isso de menos interesse, em que enfileiram obras como “Ronda de glória”, “Calendário de Lisboa”, “Sagres”, etc.
Assim, Silva Tavares aparece nas letras como sequaz do movimento simbolista que tivera em Eugénio de Castro o seu corifeu em Portugal, para não tardar a enfileirar ao lado de Fernando Pessoa e dos seus companheiros do “Orfeu”. Para mim, porém, a sua verdadeira e mais alta dimensão poética encontra-se quando ele se integra na linha tradicional da nossa poesia, quando, depois se aproxima do povo, o poeta anónimo, para afinal conjugar a singeleza da expressão com a profundidade dos conceitos.
Se me perguntassem quais os seus livros mais belos, e não obstante o muito apreço que tenho pelas suas redondilhas – e não falo agora no dramaturgo, no prosador, no homem de rádio, em tudo quanto Silva Tavares foi nas letras portuguesas, e sempre com a maior dignidade e o maior brilho – inclinar-me-ia sem hesitação para as obras da sua última fase, iniciada talvez com “Sinceridade” e prosseguida com “Casa Vazia”, “Viagem à minha infância” e “Verso e reverso”:
Eu também sou cavador. // Também tenho a minha enxada,// Também rego com amor // A terra por mim cavada.
Também tenho o meu arado// Na pena, que amo e bendigo! // E o papel é o chão lavrado  // E as letras são grãos de trigo.
Noutro passo, também de “Verso e reverso”, diz o Poeta:
Nunca protesto. Acho bem  // Sempre que alguém acentua, // Com ar de vago desdém, // Que os poetas andam na lua...
O destino, Deus o traça. // E o ser poeta é, no fundo, // Colher-se às vezes a graça //De não caber neste mundo!
É curioso que Silva Tavares, na curva da sua poesia, nos dá a imagem, tantas vezes repetida, dos que, havendo partido de posições iconoclastas, atingem um ponto de serem visão, de onde lhes é possível seguir, com sorridente ironia, os movimentos dos astros que sobem:
Li algures que a Poesia, // Cada vez mais transcendente, // Se libertou da folia // De entendê-la quem a sente.
Se não é muito pedir, // Gostaria de saber // Como é que pode sentir// Quem não consegue entender...
Noutro poema ainda – esse do livro “Casa Vazia” – regressa ao tema da simplicidade na poesia:
Ora, por esse tema, não havia // Motivo para crer que se viria
A pensar e a escrever como ao presente. // Não: – a Poesia, para ser Poesia, // Tinha de assemelhar-se ao transparente // Riacho de água corrente.
Silva Tavares não era um poeta de caneta de tinta permanente. Era, antes, a pena de um poeta permanente.
-Adolfo Simões Müller nasceu em Lisboa a 18 de Agosto de 1909 e faleceu a 17 de Abril de 1989. Foi um escritor e jornalista, autor de livros para o público juvenil, diretor do gabinete de estudos de programas da E.N. e produtor de programas para a rádio, bem como o autor do primeiro folhetim de rádio As Pupilas do Senhor Reitor.


[203] Jorge Costa de Sousa Maldonado.
-Exerceu funções entre 22 de abril de 1971 e 18 de junho de 1974.

[204]  O Alcoa.
[205] Região de Cister.

[206] Região de Cister
-Fleming de Oliveira in, No Tempo de Pessoas Importantes como Nós.
Belo Marques, desde a publicação do Edital municipal de 15 de dezembro de 2003 que é o topónimo da Rua C da Malha 3 do Alto do Lumiar, artéria que liga a Rua General Vasco Gonçalves à Avenida Carlos Paredes, e assim integra o Bairro da Música criado no local pela edilidade lisboeta desde então.

196 Artur Garcia nasceu em 15 de abril de 1937, em Lisboa. Entrou para a E.N. em 1955 tendo frequentado o Centro de Preparação de Artistas, onde se estreou ao lado de nomes como Maria de Fátima BravoIsabel Wolmar ou Simone de Oliveira. Em 1960 deixou o Centro de Preparação e ingressou nos quadros da E.N. Participou no III Festival da Canção Portuguesa, realizado em 20 e 21 de Agosto de 1961 no Casino da Figueira da Foz, com Canção do Passado, no primeiro Grande Prémio TV da Canção com Finalmente. No Teatro estreou-se em 1965, no Teatro Maria Vitória, com a revista Todos Ao Mesmo. Participou no Festival RTP da Canção de 1965 com Amor e Nasci, Sonhei, Cresci e Amei. Foi eleito Rei da Rádio em 1967 e 1968 e 1969, e neste ano granjeou o título de Príncipe do Espetáculo. Foi um dos grandes nomes do nacional-cançonetismo. A partir daí participou com sucesso em festivais nacionais e no estrangeiro. Após o 25 de Abril, diminuiu a atividade artística e passou a ser proprietário de uma loja de discos. Em 1977 realizou uma digressão, ao lado de Amália Rodrigues, pelos Estados Unidos e Canadá. Em 2005, no dia do seu aniversário, assinalou os seus 50 anos de carreira com um espetáculo no Fórum Lisboa.
-Reveja-se supra.

[208] Aqui foi professor de José Alberto Vasco que guarda dele, enquanto professor, boas recordações,
[209] Fleming de Oliveira in, No Tempo de Soares, Cunhal e Outros. O PREC também passou por Alcobaça.

[210] O Couraçado Potemkin é um filme mudo soviético dirigido por Serguei Eisenstein, realizado em 1925, onde se presenta uma versão dramatizada da rebelião ocorrida em 1905, em que os tripulantes do navio de guerra Potemkin se rebelaram contra os oficiais superiores.
- O  filme esteve proibido em Portugal até 1974.

[211] A União das Freguesias de Alcobaça e Vestiaria foi constituída no ano de 2013, no âmbito da reorganização administrativa do território (Lei n.º 22/2012, de 30 de Maio e da Lei nº 11-A/2013, de 28 de Janeiro), pela agregação das antigas freguesias de Alcobaça e Vestiaria.

[212] Daniel Eimi nasceu em 1986 em Caldas da Rainha. Dedica-se exclusivamente à pintura e arte urbana. Começou por fazer graffiti, depois a utilizar autocolantes, cartazes e stencil.
[213]  Região de Cister.



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