segunda-feira, 13 de abril de 2020

OS BONS TEMPOS DE NAMORAR


OS BONS TEMPOS DE NAMORAR

FLeming de OLiveira

Q
uando as meninas eram chamadas donzelas (no tempo dos meus bisavós, segundo ouvia dizer lá por casa), os beijos traziam doenças, os olhares eram tidos por indecentes, o aperto de mão era impróprio, e tudo se resumia a serenatas com bandolins e violas., os rapazes eram chorosos, escreviam versos, sonhavam um dia ver “os lindos pezinhos tão delicados que respiram rosas”, ou pelo menos os tornozelos, liam poetas e outros românticos ou os mais “burros” decoravam fórmulas de cartas amorosas retiradas na literatura de cordel. Muitos casamentos eram feitos por contrato, ou porque um dia o rapaz viu de esguelha a donzela através da mantilha, quando acompanhada pela mãe à porta da igreja e ficaram “apaixonados”. Depois, cheios de coragem iam à casa do futuro sogro pedir a mão da pequena, isto é, após noites de mais serenatas e mais suspiros. As noites de serenata começavam tarde, na sacada, a menina postava-se recatadamente detrás das venezianas e aparecia discretamente como “quem não quer a coisa”. O rapaz cantava coisas simples que falavam de “beleza, meus suspiros, meus ais”; os pais policiavam as serenatas, e por vezes jogavam água quente das janelas mais altas misturada com dichotes, “para espantar os moços cujas intenções não conhecemos”. Os rapazes eram tratados de senhores, e os namoros, mesmo de longe, terminavam em casamento, como impunham as regras.

D
epois (no tempo dos meus avós) veio a “idade do portão”, quando às meninas era permitido pelos pais, “embora a contragosto meu e de minha mulher que achamos bem fazer as coisas à moda antiga como no nosso tempo”, namorar no portão. As mães ficavam acordadas dentro de casa, e de vez em quando “vinham ver as modas”, falar sobre o tempo.

D
epois (talvez já no tempo dos meus pais), veio a idade da sala. Primeiro, era o namoro de sofá, em frente da mãe, do pai e dos manos. Depois a permissão para namorar na porta, desde que cuidadosamente iluminada por uma lâmpada de 100 velas, pelo menos. Muito calados era mau sinal…
Estes namoros ainda terminavam, quase sempre, em casamento. O rapaz ia a casa da rapariga, mas não tinha direito de sair a não ser acompanhado dos manos, mãe e outros parentes. Se quisesse ir ao cinema ou baile, era ele quem suportava a despesa, pagava para todos.

D
epois (no meu tempo) veio o automóvel (que era do pai) que tomou conta de tudo. Começou no tempo do jazz, do rock-and-roll, quando as loucuras do Elvis Presley eram o modelo para os jovens que começavam a querer namorar longe de casa. Levavam as namoradinhas, que mascavam chicletes, coisa antigamente proibida para moças.
 
A
gora o namoro, quando calha, ainda termina em casamento. Mas, além de uma série de dificuldades surgidas por causa do tempo e das complicações da vida moderna, alguns conservadores acham que muito do romantismo do casamento já acabou, e não há remédio.
Mas, apesar da evolução do modo de namorar e o seu objetivo, uma coisa é necessária para que exista um bom namoro, um pouco de amor, como nos “bons” tempos de outrora.




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