OS BONS TEMPOS DE NAMORAR
FLeming de OLiveira
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uando as meninas eram
chamadas donzelas (no tempo dos meus bisavós, segundo ouvia dizer lá por casa),
os beijos traziam doenças, os olhares eram tidos por indecentes, o aperto de
mão era impróprio, e tudo se resumia a serenatas com bandolins e violas., os
rapazes eram chorosos, escreviam versos, sonhavam um dia ver “os lindos pezinhos tão delicados que
respiram rosas”, ou pelo menos os tornozelos, liam poetas e outros
românticos ou os mais “burros” decoravam
fórmulas de cartas amorosas retiradas na literatura de cordel. Muitos
casamentos eram feitos por contrato, ou porque um dia o rapaz viu de esguelha a
donzela através da mantilha, quando acompanhada pela mãe à porta da igreja e
ficaram “apaixonados”. Depois, cheios
de coragem iam à casa do futuro sogro pedir a mão da pequena, isto é, após
noites de mais serenatas e mais suspiros. As noites de serenata começavam
tarde, na sacada, a menina postava-se recatadamente detrás das venezianas e
aparecia discretamente como “quem não
quer a coisa”. O rapaz cantava coisas simples que falavam de “beleza, meus suspiros, meus ais”; os
pais policiavam as serenatas, e por vezes jogavam água quente das janelas mais
altas misturada com dichotes, “para
espantar os moços cujas intenções não conhecemos”. Os rapazes eram tratados
de senhores, e os namoros, mesmo de longe, terminavam em casamento, como impunham
as regras.
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epois (no tempo dos
meus avós) veio a “idade do portão”,
quando às meninas era permitido pelos pais, “embora a contragosto meu e de minha mulher que achamos bem fazer as
coisas à moda antiga como no nosso tempo”, namorar no portão. As mães ficavam
acordadas dentro de casa, e de vez em quando “vinham ver as modas”, falar sobre o tempo.
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epois (talvez já no
tempo dos meus pais), veio a idade da sala. Primeiro, era o namoro de sofá, em
frente da mãe, do pai e dos manos. Depois a permissão para namorar na porta,
desde que cuidadosamente iluminada por uma lâmpada de 100 velas, pelo menos.
Muito calados era mau sinal…
Estes namoros ainda
terminavam, quase sempre, em
casamento. O rapaz ia a casa da rapariga, mas não tinha
direito de sair a não ser acompanhado dos manos, mãe e outros parentes. Se
quisesse ir ao cinema ou baile, era ele quem suportava a despesa, pagava para
todos.
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epois (no meu tempo) veio
o automóvel (que era do pai) que tomou conta de tudo. Começou no tempo do jazz,
do rock-and-roll, quando as loucuras do Elvis Presley eram o modelo para os
jovens que começavam a querer namorar longe de casa. Levavam as namoradinhas,
que mascavam chicletes, coisa antigamente proibida para moças.
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gora o namoro, quando
calha, ainda termina em
casamento. Mas , além de uma série de dificuldades surgidas
por causa do tempo e das complicações da vida moderna, alguns conservadores
acham que muito do romantismo do casamento já acabou, e não há remédio.
Mas, apesar da evolução
do modo de namorar e o seu objetivo, uma coisa é necessária para que exista um
bom namoro, um pouco de amor, como nos “bons”
tempos de outrora.
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