O 25 de Abril
António
Valério Maduro, Historiador
O 25 de Abril para quem o viveu, mesmo
jovem, representa um tempo de memórias e de emoções.
Essa alvorada trouxe esperança
transformadora e mobilização social. Consagrou a liberdade e os direitos
humanos, um bem tão necessário como o pão para a boca. Portugal vivia tolhido no
campo da cultura e das mentalidades, era uma espécie de “Portugal dos Pequenitos”,
conservador, tradicionalista e iletrado. Pôs termo a uma guerra colonial, que
dizimou e mutilou gerações de portugueses em nome do Império, uma guerra
insustentável e amplamente condenada pela comunidade internacional, cuja
palavra de ordem era, desde a criação da ONU, descolonizar. Trouxe um regime
demoliberal e a promessa de uma democracia participativa, com as dores de parto,
mas que se tem vindo a consolidar com uma maior participação da sociedade
civil, embora ainda insuficiente. A democracia foi acompanhada da construção do
Estado Social, a Segurança Social, o Sistema Nacional de Saúde, a expansão da
Escola Pública, contributos indispensáveis para a igualdade de oportunidades e
de direitos, de um país que se começou a projetar para todos. Assegurou ainda a
entrada de Portugal na CEE, atual União Europeia, um empurrão para o
desenvolvimento em todos os domínios da sociedade. Foi graças a Abril que os
portugueses abriram o olhar sobre o mundo, tornaram-se menos preconceituosos,
mesquinhos e intolerantes e alcançaram o direito de cidadania plena.
Por tudo isto, Abril continua a ser muito
para mim. Por tudo isto, o acontecimento protagonizado por jovens militares irreverentes
e inconformados com o estado decadente do país deve constituir um património da
memória coletiva, uma mensagem de que as conquistas alcançadas podem, se não
cuidarmos delas, ser revertidas e os avisos são infelizmente muitos.
Comemorar Abril não se pode, de facto,
resumir a um ritual e a um revivalismo, mas a uma promessa de que podemos e
devemos ser melhores como sociedade.
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