segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CULTURA, TURISMO CULTURAL E ECONOMIA. MOZART, LORCA E CHOPIN.


FLEMING DE OLIVEIRA
(I)
Quando há algum tempo estive na Áustria, tive oportunidade de ver quando o nome/marca Mozart, significava em termos de marketing. Para os austríacos em geral, e não apenas os de Salzburgo, Mozart é marca, desde os festivais de música, os chocolates, os gifts mais simples, vulgares ou inacreditavelmente pirosos. Mas a verdade é que mesmo que isso não seja propriamente cultura se vende e conta…
Na Andaluzia está a verificar-se um fenómeno com algumas semelhanças. Hotéis, restaurantes, escolas, mesmo as de condução auto, ruas, aeroporto de Granada, barcos, eventos, exposições, um prémio internacional de poesia ou um ciclo de flamenco, levam ao limite o nome de Lorca (Frederico Garcia Lorca), o que converte o poeta não apenas numa referência cultural, mas num importante chamariz para os turistas e uma significativa fonte de receitas.
A residência da família Rosales, em Granada, na qual o autor de Bodas de Sangue se refugiou durante uns dias, antes de ser preso e fuzilado pelos nacionalistas, transformou-se num hotel cujo restaurante, especializado na cozinha andaluza/granadina, se chama El Rincon de Lorca.
O gerente de um restaurante andaluz, aonde fui jantar por mero acaso, tomou a iniciativa de confecionar pratos com o nome lorquiano e decorar as paredes com motivos literários e recordações pessoais alusivas. Estrangeiros, nomeadamente japoneses, perguntam com frequência pela localização do túmulo do escritor. Homossexuais passaram a escolher aquele restaurante para realizar as suas festas, e muito especialmente, a partir de 2005, as de casamento. As autoridades responsáveis pelo turismo na Andaluzia, reconhecem a importância destas referências lorquianas e esperam que a figura do poeta venha a ser uma referência turística internacional de Granada, ao mesmo nível da Alhambra.
Também se prevê, para breve, a expansão da rota lorquiana. Empresas exploram já esta rota, especialmente dirigida a estrangeiros, passando pela casa onde o poeta gozou parte da infância, a qual recebe por ano cerca de 20.000 visitantes. Claro que há opiniões contrárias, ditas mais intelectualizadas e contra esta corrente, quanto ao mérito das iniciativas mercantilistas, como o caso do ecologista/verde M (…), que diz que É uma pena que um poeta universal como Lorca, seja utilizado desta forma adulterada, pois o seu nome deveria ser independente do negócio, puro e duro, além de que é incorreto como pessoas tiram partido disso. É necessário separar bem as coisas, sem prejuízo de se saber que, a maioria dos estrangeiros, só sabe da homossexualidade do poeta e da sua trágica passagem pela Guerra Civil espanhola.

CONTINUA

Sem comentários: