quinta-feira, 6 de outubro de 2011

-MARCELO CAETANO, VEIGA SIMÃO E OUTROS, VISITAM A BENEDITA -Manuel Ferreira Castelhano

Fleming de OLiveira

Em 8 de Abril de 1973, Marcelo Caetano, deslocou-se a Benedita, numa visita dita particular, mas que se revelou de grande projeção política e social pelo apoio que lhe deram a Câmara Municipal de Alcobaça, a Junta de Freguesia (em cuja sede descerrou uma lápide alusiva), Escolas, Filarmónica de Turquel, bem como a população em geral. Deslocando-se à Rua Heróis do Ultramar, Caetano descerrou uma placa toponímica, tendo discursado o antigo furriel miliciano Manuel Ferreira Castelhano, Secretário da Junta de Freguesia, em nome de antigos combatentes, inclusivé alguns da Maiorga que se encontravam presentes. Caetano visitou algumas empresas, tanto da indústria, como da agricultura, o Centro Social e finalmente a Cooperativa de Ensino e Cultura (Externato Cooperativo), aonde foi cumprimentado pelo Director Pedagógico, Dr. Gonçalves Sapinho, demais membros dos corpos diretivos, pessoal docente e alunos e no fim assinou o respetivo Livro de Honra. A visita terminou no Salão Paroquial, aonde foi servido um lanche.
José Vinagre, sobre esta visita, numa altura em que não tinha intervenção política, recorda que em 1973 ocorreu a que seria a primeira e última visita de Marcelo Caetano que referiu que depois de ter visto a realidade a nossa terra, deveria ser tomada como exemplo do país, pelo dinamismo e vontade de progresso, na resolução e empenho para os seus problemas, quer ao nível das dificuldades financeiros, culturais e sociais. Esta declaração foi destacada na imprensa nacional e, principalmente, na imprensa local de Alcobaça e teve importância no desenvolvimento, a curto prazo, da Benedita. Acrescentou Vinagre, num depoimento que nos prestou que, nesse mesmo dia, Marcelo Caetano descerrou uma placa toponímica com o nome Rua Heróis do Ultramar e uma outra com o seu busto na praça principal de Benedita. Quatro meses depois, já em plena revolução do 25 de Abril, ambas as placas foram destruídas por jovens entusiasmados pelo período revolucionário, o que originou uma autêntica revolta popular, criando um descontentamento generalizado na freguesia, e que se veio a alastrar à cidade de Rio Maior e mais tarde com consequências em Alcobaça, tanto no cerco ao edifício da Câmara Municipal, bem como à sede do Partido Comunista Português.
Segundo Vinagre, a visita de Caetano, e os acontecimentos revolucionários pós 25 de Abril, despertaram nele e outros jovens, um desejo de participação ativa na sociedade.
A esta visita esteve especialmente ligado Manuel Ferreira Castelhano, regressado de Angola em Junho de 1965, aonde prestou serviço militar como furriel miliciano e que já era militante político. Em 1971, foi eleito Presidente da Direcção do Instituto da Nossa Senhora da Encarnação, Cooperativa de Ensino e Cultura, Externato da Benedita, cargo que exerceu durante vinte anos, quase ininterruptamente.
O Governador Civil de Leiria, José Damasceno de Campos convidou-o para fazer parte da Junta de Freguesia. A esse imprevisto convite, que o deixou admirado e honrado, respondeu inicialmente que por um lado era muito novo para essas andanças, já era Presidente da Direcção do Externato, que o ocupava muito tempo, era dirigente do futebol (Beneditense) além de, ter outras atividades no âmbito da Paróquia. Damasceno de Campos respondeu-lhe oh amigo Manel, pois é precisamente por isso, que eu o quero convidar e vc. vai aceitar.
E assim, acabou por aceitar, assumindo as funções de Secretário, num executivo presidido por António da Silva Marques, Santeiro, cujo alcunha vem do tempo do avô, escultor artesanal que fazia santos, de que ainda resta um no museu da Igreja da Benedita. António da Silva Marques, recentemente falecido, era relojoeiro de profissão e com um estabelecimento junto à rotunda da Avenida da Igreja-Benedita.
Castelhano goste de salientar, que as suas atividades eram exercidas por puro gosto de participar e colaborar, que tinha uma profissão e modo de vida, pois quando regressou do Ultramar foi trabalhar numa empresa de construção civil de natureza familiar, como sócio e gerente. Sem pretender auto elogiar-se, reconhece que tinha um ascendente cultural sobre os colegas da Junta, que lhe adivinha de um maior conhecimento do mundo e contacto com governantes. Quando era necessário fazer certo tipo de intervenções públicas e políticas de maior responsabilidade, como discursos, o Presidente da Junta de Freguesia encarregava-o de o representar. Nesses momentos, Castelhano nunca se arrogou a louros que não lhe competiam, apresentando sempre o Presidente, como o primeiro e principal responsável pela gestão dos assuntos da Freguesia.

A visita do Ministro da Educação Veiga Simão a Benedita, foi combinada entre si e Tarcísio Trindade. O Prof. Veiga Simão, fez uma visita ao Concelho de Alcobaça, tendo almoçado no Refeitório do Mosteiro, uma boa e tradicional Lagosta Suada. Tão preocupado estava com o discurso que teria que fazer, que Castelhano ainda se lembra que nem apreciou o pitéu.
Veiga Simão tomou contato com a realidade sócio-económica e a obra do Externato, e a pedido da Direcção criou o Ciclo Preparatório da Benedita. Estes estudos já eram ministrados no Externato, mas pagos pelos alunos/cooperantes, não pelo Estado, o que veio a acontecer a partir daí. Como o Externato tinha grandes dificuldades económicas e uma dívida pendente de 300 contos, Veiga Simão assumiu nesse dia o pagamento do encargo.

Mas verdadeiramente importante foi a visita de Marcelo Caetano.
Voltemos ao tema.
Certo dia o Governador Civil de Leiria, numa das conversas e reuniões que tinham com frequência em Leira, perguntou a Castelhano, como quem não dá grande importância: Oh amigo Manel, vc. gostaria que o Senhor Presidente do Conselho (Marcelo Caetano) visitasse a Benedita?
Perante isto, Castelhano recorda-se que ficou como que meio atordoado e respondeu, que isso era a melhor coisa que nos poderia acontecer. É natural que Damasceno de Campos, ao fazer-lhe essa pergunta, já o tivesse em mente. Assim que Castelhano regressou à Benedita, a primeira coisa que fez, foi falar com os colegas da Junta, dando-lhes conhecimento da hipótese, tendo sido de imediato encarregado de junto do Governo Civil, organizar os pormenores.
Passado algum tempo, o Governador Civil convidou-o e à Junta a irem a Lisboa, fazer pessoalmente o convite a Marcelo Caetano, o que aconteceu na sua casa, na zona de Alvalade, situada por trás da Igreja de S. João de Brito. Recebidos no alpendre da moradia de Caetano, que na altura ia a sair para a rua, obviamente de chapéu que nunca dispensava, Damasceno de Campos, apresentou-os: Senhor Presidente trago aqui a Junta de Freguesia mais dinâmica do meu Distrito, que o vem convidar para fazer uma visita à sua terra.
Caetano, com um sorriso, aparentemente tímido, disse que tenho muito gosto, tenho muito gosto. Temos então que começar a preparar os pormenores.
Entre o convite a Caetano e a sua deslocação à Benedita, decorreram cerca de dois meses. Castelhano reconhece que na altura, houve uma certa inconsciência no convite, do que seria receber em visita o Presidente do Conselho, bem como não se apercebeu da importância que isso iria ter no futuro próximo.
Tendo em conta que, há algum tempo a Junta de Freguesia tinha decidido mandar fazer um medalhão em bronze com a efígie de Caetano, para colocar num espaço nobre da terra, foi decidido acelerar o projecto, junto da escultora lisboeta Stela Albuquerque. O local, era no centro da Benedita. A visita de Caetano foi apoteótica, afirmação sem exagero da nossa parte, conforme registos que sobreviveram e depoimentos que recolhemos.
O discurso de boas vindas do Presidente da Junta de Freguesia a Caetano, foi preparado em conjunto por Manuel Castelhano e Gonçalves Sapinho, além do próprio Presidente, António Marques.
Foi nessa altura que Caetano proferiu aquela que ficou como a grande imagem de marca da deslocação e é recordada ainda hoje: depois de ver esta grande realidade, eu digo que a Benedita deve ser apontada como um exemplo ao País.

Entre as visitas de Veiga Simão e Marcelo Caetano, ali se deslocaram os Ministros Rui Sanches, Baltasar Rebelo de Sousa e Silva Cunha, bem como variados Secretários de Estado.
A Benedita passou a estar no mapa. Castelhano diz que quando o Governador Civil de Leiria, daí em diante queria exemplificar o progresso do Distrito, servia-se do exemplo da Benedita, fazendo convites a governantes para a visitar.

Depois do 25 de Abril, um grupo minoritário, tentou apagar momentos da história da Benedita, eliminando referências colectivas, como o padrão onde estava o medalhão com a efígie de Caetano ou partindo a placa da Rua Heróis do Ultramar. Esta placa, depois de alguns mimos e cenas chocantes, voltou a ser posta no lugar que ainda ocupa, embora não mais o medalhão com a efígie de Caetano, que se encontra à guarda da Junta de Freguesia.

Em 21 de Outubro de 1973 foi inaugurada pelo Governador Civil de Leiria, Damasceno de Campos, um padrão comemorativo da visita de Caetano à Benedita, aonde fora colocada a sua efígie, ao que muitos diziam ser muito expressiva, bem como um Parque Infantil, construído pelos rapazes da Casa Pia !!!
Em Janeiro de 1974, a Câmara Municipal de Alcobaça deliberou, por aclamação, agraciar Damasceno de Campos, com a Medalha de Ouro do Município, dado haver cessado funções como Governador Civil. Pela mesma altura, foi decidido atribuir o nome de Damasceno de Campos, que ainda se mantém, à praça na Benedita aonde se encontrava implantado o padrão alusivo à visita de Caetano. Era nesta praça que durante muito tempo se realizou, o mercado semanal.
A Medalha de Ouro, de autoria de José Aurélio, anteriormente apenas fora atribuída a Marcelo Caetano, Rui Sanches, Ministro das Obras Públicas, e a Veiga Simão Ministro da Educação. A cerimónia, realizou-se no Salão Nobre do Governo Civil, encontrando-se presentes os principais dignitários do regime no concelho de Alcobaça, com destaque para um grupo da Benedita.

Pela mesma altura, na sede da A.N.P., em Lisboa,, tomaram posse os novos dirigentes distritais de Leiria, sendo o nomeado Presidente, o Engº Lemos Proença e vogal o Dr. Amílcar Pereira de Magalhães, até então Presidente da Comissão Concelhia de Alcobaça. Foi o antigo Presidente da Câmara Municipal, Joaquim Augusto de Carvalho, acabado de ser eleito Provedor da Misericórdia de Alcobaça, que assumiu as funções de Presidente da Comissão Concelhia da A.N.P. Também, por esta altura, Junho de 1973, o alcobacense António Sanches Branco tomou posse do cargo de Governador Civil da Horta, conferida pelo Ministro do Interior, Gonçalves Rapazote, lugar que manteve até ao 25 de Abril.



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