segunda-feira, 3 de outubro de 2011

(III) QUANDO O CAMARADA CUNHAL IA SENDO APANHADO À MÃO EM ALCOBAÇA (AGOSTO DE 1975)



-Cunhal sai escoltado (por “gorilas”) pelas traseiras do Pavilhãogimno desportivo de ALcobaça
-José Alberto Vasco esteve lá.
-Rosalina Martins enervou-se, pensou logo nos seus ricos
filhos e socorreu uns jornalistas canadianos.
-Luís Graça, ainda salazarista, colaborou com o PPD.
-Timóteo de Matos, PC, tem uma versão diferente.
-O MRPP justifica os incidentes.
-O CDS numa sessão no Alqueidão da Serra, com Manuel
Ferreira Castelhano e outros, mas com um discurso pouco
mobilizador.


Luís Graça, da Ataíja, que pontualmente e por iniciativa própria colaborava com o PPD, também esteve presente junto ao pavilhão.
Luís Graça considerou o ambiente como febril, tanto de um lado (de fora) como do outro (de dentro), e, contrariamente ao que se chegou a temer ou dizer mais tarde, só alguns populares que o cercavam, estavam armados com caçadeiras.
Luís Graça, deparou com muita gente das suas relações especialmente da Ataíja, Aljubarrota e Moleanos, que esteve envolvida na contestação ao PC, no assalto à sede, e desta vez à presença de Álvaro Cunhal que rotulavam de provocatória e acintosa. E se houvesse oportunidade apanhavam-no. Manuel de Almeida, de Turquel, nos seus 23 anos e que havia regressado não há muito da Guiné de onde trouxe um louvor individual numa operação de fuzileiros realizada na zona do rio Cacine (fronteira com a Guiné-Conacri, tinha gizado um golpe de mão.
Embora os sitiantes não se tenham apercebido da saída, Luís Graça assegura que Cunhal se refugiou num barracão perto do Pavilhão, devidamente enquadrado por seguranças, os célebres “cubanos” que o depois o colocaram, são e salvo, no automóvel, frustrando assim o plano de Manuel Almeida, que a concretizar-se ficaria para a História, como o homem que apanhou Álvaro Cunha à mão!
Depois destes acontecimentos, que incomodaram muito os moradores da zona da Gafa, que não pretendiam mais estar sujeitos a arruaças de consequências funestas e selváticas reuniram-se e aprovaram que fosse transmitido à CA da CMA, o desejo que o pavilhão não fosse mais cedido a qualquer organização política, para objectivos afins, de acordo com o respectivo Regulamento de Utilização.

Para Timóteo de Matos, atacar a sede do PC era, descer muito a sul. A sede de Leiria tinha sido destruída e a da Marinha Grande, ficava perto. A Marinha Grande era um dos grandes bastiões do PC, pelo que não se podiam correr riscos. Havia que agir e fazer uma demonstração de força que desanimasse o inimigo. Assim decidiu o PC pelo que foi programado, para o fim do Verão, um comício, em Alcobaça, no pavilhão Gimnodesportivo. Anunciava-se a presença de Álvaro Cunhal e, deste modo, tanto para o PCP como para a direita, estava bem claro que muito se jogava ali. Ou os comunistas conseguiam fazer o comício e a direita sofria duro revés ou, pelo contrário, era impedida a realização do comício e a direita saía por cima e com força para continuar os assaltos a seu bel-prazer.
Enfim, era um dilema do género, tudo ou nada. ELP, MDLP e CDS, organizaram-se mas também estavam presentes muitos elementos do PPD e do PS a aplaudir. Rio Maior trocou o leão pela moca e uma direita trauliteira, armada de varapaus e espingardas (e fósforos), desceu do Minho em vinte autocarros, instigada pelos senhores abades reaccionários e veio por esse país abaixo, rumo a Alcobaça, gritando Morte aos Comunistas.
Mas também por cá, confessa Timóteo de Matos, se organizou o festim, Vamos esfolá-los vivos ! E continua que, chegado o dia, o Pavilhão ficou praticamente cheio. Iniciou-se o Comício do PC. Os sitiantes deram início ao ataque para a conquista do pavilhão. Foi dado o sinal com uma provocação e o arremesso de pedras para a porta. Mas as pedras não eram as únicas armas dos assaltantes que dispunham de caçadeiras e pistolas em não menos quantidade das que tinham os defensores, que passaram imediatamente ao ataque. Foi uma luta desnecessária e estúpida que poderia ter tido consequências terríveis, reconhece Timóteo de Matos. Os comunistas, melhor organizados, apoiados e comandados por camaradas vindos da Marinha Grande, foram avançando a pouco e pouco, muro a muro, poste a poste, sempre ao som de tiros de um e do outro lado.
Cremos que não terá sido assim como conta Timóteo de Matos que acrescenta, que no Pavilhão, fechado logo após a abertura das hostilidades, reinava uma boa organização e cantava-se para afastar nervos e receios. Entravam, trazidos pela segurança, de quando em vez, alguns prisioneiros ou feridos que ali eram assistidos por médico e enfermeiros. Quando chegaram os militares, já os sitiados tinham consumado o seu contra-ataque e lutava-se em baixo, junto ao prédio onde hoje está instalado o Snack Bar Gafa.
Talvez também não tenha sido bem assim, mas Fleming de Oliveira, não pode assegurar, pois nesse fim-de-semana estava ausente de Alcobaça.
Os militares chegados safaram os atacantes de uma punição ainda maior até porque, às notícias da rádio de que o comício em Alcobaça, com Álvaro Cunhal, estava a ser atacado por elementos de direita, responderam os comunistas de Almada e Barreiro e a partir dessa hora começaram a chegar carros e carros, mais de trezentos contei eu carregados de gente.
E se tivessem chegado mais cedo?
Como estavam as coisas, a guerra civil poderia ter começado ali. Felizmente tudo ficou resolvido e às três da madrugada a calma reinava em Alcobaça. Conheço e sou amigo de alguns alcobacenses que estiveram neste ataque. Hoje não estão orgulhosos do seu feito, aliás não conseguido
Por sua vez, o MRPP, através da Comissão da Zona Engels, comunicava que
(…) O Partido social-fascista do lacaio do social-imperialismo Barreirinhas Cunhal, actua tomo um tonto. Pensa que à custa de tanto bater com a cabeça na parede há-de resolver os seus problemas. Tarefa inglória. Actuando dessa forma, não conseguirá outra coisa senão dores de cabeça cada vez maiores.
(…) O P”C”P tem largas dezenas de sedes destruídas, perdeu o direito de falar em largas regiões, e a sua força e expresso nacional só é comparável à do seu filhote primeiro, o M”D”P/C”D”E.
(…) O P”C”P argumenta que os assaltantes “não passam de bandos de fascistas”, de “provocadores” reaccionários”, etc. Toda esta argumentação não passa de uma provocação feita ao povo, visa atirar parte do povo contra outra parte do povo e acumular, assim, os factores de uma provável guerra civil. É seguindo este raciocínio cunhalista que os apaniguados deste partido atiram a matar sobre os milhares de pessoas que assaltam as suas sedes, sob o pretexto de que são os fascistas.
(…) Na tentativa de justificar o que encontram, e no sentido de desviar a atenção dos operários das verdadeiras causas destes ataques, o P”C”P argumenta que os assaltantes “não passam de bandos de fascistas”, de “provocadores” reaccionários”, etc. Foi seguindo tal raciocínio que para o comício de Alcobaça foram amados ate aos dentes, inclusivé com metralhadoras, cocktails molotov, etc. Será que foi preciso mobilizar as suas milícias social-fascistas do Norte a Sul rara convencer o povo de Alcobaça e arredores de que é reaccionário e fascista?
Esta foi a mais nojenta das provocações feita ao povo de Alcobaça e arredores e a resposta dada a tal provocação foi a mais justa e correcta, tão justa e correcta que obrigou o testa-de ferro do social-imperialismo Barreinhas Cunhal a meter o rabo entre as pernas e a sofrer a maior humilhação que se pode ter, ser escorraçado pelo povo. Ao perder o direito de falar em Alcobaça e logo a seguir ao Porto, o P”C”P sofreu duas das maiores derrotas da sua história e esses acontecimentos são a expressão do evidente isolamento completo e total desse partido.
(…)

Em Outubro de 1975, o CDS realizou num sábado à noite, uma sessão de esclarecimento, no edifício da escola primária do Alqueidão da Serra, tendo como oradores, Manuela Gonçalves, de Porto de Mós, Abel Santiago, de Caldas da Rainha e Manuel Castelhano, de Benedita. Este, ao fim da tarde, teve de participar uma sessão em Évora de Alcobaça, num frigorífico de fruta virado recinto político, cujos assentos, para os que não estavam de pé, eram as paletes de madeira. Estando atrasado, Manuel Castelhano telefonou para o Alqueidão da Serra, a saber o ponto da situação, comunicando que iria demorar algum tempo, pelo que iniciassem a sessão, sem esperarem por si. Quando se encontrava próximo do Alqueidão da Serra, Castelhano encontrou um grupo de populares, que indo pela estrada, se revelavam exaltados, falando alto e gesticulando. Sem saber quem eram, parou e um pouco inquieto, pois nunca se assumiu nem como herói, nem mártir, perguntou se havia algum problema, ao que um lhe respondeu que um grupo de comunas os tinha atacado com insultos e à pedrada, ao perceberem que se iam dirigir para a escola, onde estava prevista a sessão do CDS, pelo que não tinham lá entrado. Ao mesmo tempo foi-lhe dito que um filho da Drª Manuela tinha sido atingido com uma pedra numa mão e fraturado um dedo, pelo que teve de ser levado ao hospital.
Nesse tempo, havia no lugar, um pequeno mas aguerrido e barulhento grupo esquerdista, bem como alguns homens que, embora trabalhassem como calceteiros para a Carpintaria e Serração Mecânica da Benedita, de que Castelhano era sócio e gerente, não eram, nem de perto, nem de longe, simpatizantes do CDS. O edifício da escola estava cheio, no exterior encontravam-se pessoas que não conseguiram entrar, tanto mais que não haviam sido retiradas as carteiras escolares. Ainda no átrio, Manuel Castelhano percebeu que no interior, estava instalado burburinho, com apupos e contestação à intervenção de Abel Santiago. Todavia, ao entrar, Castelhano foi imediatamente reconhecido por um dos calceteiros, que disse em voz alta, alto aí, não há mais barulho, chegou o sr. Manel que é nosso patrão e amigo. Merece respeito.
Perante isto, os agitadores acalmaram e a sessão passou a prosseguir com quase total normalidade, até depois da meia-noite. No fim, os oradores e populares, trocaram impressões em ambiente de cordialidade, tendo sido exprimida a vontade de os tornar a receber. Mas o PPD foi aí o mais votado.
Na campanha para as eleições legislativas de 1976, o CDS apresentava-se com uma linguagem interessante, tentando entrar no estilo da época, mas no seu caso pouco expressiva ou mobilizadora.
(…) Depois de perseguido nas épocas gonçalvista-otelista-corvachista, de ter assistido a ataques e à destruição de muitas das suas sedes e à prisão de alguns dos seus militantes, o CDS apresenta-se hoje ao eleitorado como o partido da humildade e da coerência democrática. O CDS tem o programa mais consentâneo com a realidade nacional e com os interesses de todos os portugueses.
(…) O lema do CDS é a justiça social para todos. O CDS defende a harmonia entre o capital e o trabalho. O CDS condena o patrão quando este pretende apenas explorar o operário. O CDS condena o operário manipulado partidariamente que, por querer, prejudica a sua produtividade. Capital e trabalho, em base de justiça social são absolutamente necessários à reconstrução do País.
(…) O CDS é um partido do Centro e repudia qualquer forma de ditadura. É um partido dinâmico e progressista. É um partido de vocação europeia.
É um partido que preconiza uma sociedade sem classes, com acesso de todos à propriedade privada, resultando esta do trabalho livre e honesto de cada um.

O PREC revelava, ao fim e ao resto, menos consistência do que aparentava.
Era patente o carácter pouco representativo de alguns grupos que exerciam o poder político e militar, tal como resultou das eleições para a Assembleia Constituinte. A luta no hemiciclo da Assembleia Constituinte, nos quartéis e nas ruas vai endurecer, o Conselho da Revolução recusar a entrega da Rádio Renascença à Igreja e do jornal República aos proprietários e redactores.
Foi por essa altura que o PS fez o Comício da Fonte Luminosa, em que pediu a demissão de Vasco Gonçalves e em seguida saiu do Governo, seguido uma semana depois pelo PPD.O clímax aproximava-se.


FLEMING DE OLIVEIRA

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