quinta-feira, 6 de outubro de 2011

-TARCÍSIO TRINDADE, -JAIME JUNQUEIRO PRESIDENTES DA CÂMARA MUNICIPAL DE ALCOBAÇA


-DR. AMÍLCAR MAGALHÃES
(ILUSTREADVOGADO E DEPUTADO DA NAÇÃO)
-MÁRIO FADIGAS
(OPOSIÇÃO)

FLEMING DE OLIVEIRA
Nesse ano, foi nomeado Presidente da Câmara de Alcobaça, Tarcísio Trindade, de 37 anos, antigo vereador, que se vinha preparando, meticulosamente, para o lugar que exerceu até ao 25 de Abril, Director de O Alcoa, até 27.03.71, altura em que foi substituído por Adélio Viana Maranhão, com quem não mantinha ou passou a não manter relações de grande cordialidade.
Tanto assim que, a propósito de um comentário de O Alcoa, sobre o estado de sujidade da areia da praia de Paredes, Tarcísio Trindade contratacou a coberto do seu Jornal de Alcobaça, no número de 16 de Junho de 1971, sem meias medidas, e com uma inusitada violência verbal, dizendo que será mais uma crítica à Câmara Municipal que o referido semanário tem publicado, numa linha de conduta surpreendente, já que nós, como toda a gente com um mínimo de formação, julgaríamos que um jornal católico, etc., etc., não publicaria mentiras aleivosas, nem críticas de má fé (…).
Tarcísio Trindade era, segundo assegrava O Alcoa, aparentado com algumas das mais antigas famílias da Vila, e sucedeu a um apagado Presidente de Câmara e bondoso Jaime Horácio Pacheco Junqueiro.
Segundo se dizia em certos meios da Vila, cremos que com verdade, Junqueiro nunca compreendeu as razões da sua exoneração ao fim de dois mandatos, em que pouco mais fez que inaugurar alguns obras projectadas anteriormente, como lavadouros, fontanários, escolas, Posto Clínico, Mercado Municipal e Parque de Campismo, receber Juscelino Kubitschek de Oliveira, os Príncipes de Mónaco e por duas vezes Américo Tomás. Junqueiro talvez nunca tivesse calculado que um dia pudesse ter chegado pollítica e socialmente tão longe. Sabe-se que, depois de deixar a Presidência da Câmara Municipal em 1969, mandou fazer cartões de visita onde no lugar habitualmente reservado a profissão, estava escrito Ex-Presidente da Câmara de Alcobaça. Jaime Junqueiro faleceu em Abril de 1972. Começou a sua vida profissional em Alcobaça, como Fiscal da Comissão Reguladora das Moagens de Ramas. Depois foi secretário do Crémio da Lavoura, em cujo organismo chegou a gerente. Fez parte da Comissão Concelhia de Alcobaça da U.N. e da vereação nas Câmaras Municipais presididas por Júlio Biel e Joaquim Augusto de Carvalho.
Quando Mário Vazão assumiu a direcção de O Alcoa as relações entre este e o Jornal de Alcobaça passaram a ser muito cordeais. Tarcísio Trindade revia-se na figura política de Manuel Carolino, que homenageava sempre que podia, e que tal como ele era dono de um jornal.
Quando Tarcísio Trindade se perfilava metodicamente, para ser reconduzido num segundo mandato como Presidente da Câmara, decisão o que não era totalmente pacífica, tanto ao nível local como distrital, e era preciso constituir a vereação, sem sobressaltos e com alguns ares de abertura política, o Dr. Amílcar Magalhães por ugestão do Governador Civil, contactou Mário Fadigas, pedindo-lhe para terem uma conversa.
Afinal, o que é que o Dr. A. Magalhães, Deputado da Nação, pretendia?
Tão só, sondar Mário Fadigas para fazer parte da nova vereação municipal, presidida por Tarcísio Trindade. Como toda a gente sabe, Mário Fadigas era e é um homem dito de esquerda, republicano por tradição, mas sem grande intervenção, pelo que ficou um pouco admirado com o convite, mas dado o respeito e a consideração que o Dr. Magalhães lhe merecia, não excluiu liminarmente a proposta, dizendo que a podia aceitar, mas…, precisaria que lhe fosse assegurado que os seus correligionários republicanos de Alcobaça, teriam o mesmo respeitoso tratamento político. Isto é, que a Situação lhes reconhecesse a mesma idoneidade moral para servir a causa pública. Perante esta objecção, o Dr. Amílcar Magalhães respondeu que, por ele, aceitava a contraproposta, mas não podia assumir o compromisso em nome de outrém. Queria isto dizer que, por si, não haveria problemas políticos, muito menos pessoais, mas poderia haver reservas por parte do poder político local, distrital ou nacional. Mário Fadigas, não obstante as divergências políticas, sempre teve boas relações com o Dr. Amílcar Pereira de Magalhães, reconhecidamente conservador, mas não propriamente salazarista. Pelo contrário, ao que se diz, eram relações meramente cortezes e institucionais as de Trindade com o Dr. Magalhães.
O Dr. Amílcar Magalhães nasceu em 1909, no lugar de Porto do Carro-Leiria, no seio de uma família abastada, antes de a vida de seus pais ter dado algumas voltas. Teve dois irmãos mais novos, sendo um Advogado em Leiria e outro industrial de cerâmica. Muito jovem foi viver para os Montes, aonde veio a casar e o seu pai tinha a vida organizada, como comerciante de fazendas, mercearia e pequena indústria de resina. Seu pai, Joaquim Pereira de Magalhães, a quem já nos referimos atrás, era um republicano assumido e anticlerical, ideias que de alguma forma transmitiu aos filhos, embora tivesse frequentado o Seminário de Leiria, onde fez os estudos básicos. Como militante republicano Joaquim Magalhães, chegou a ser procurado em casa, nos Montes, por tropas ao serviço da monarquia que, de baioneta em punho, a vasculharam de alto a baixo, só a tendo abandonado quando o oficial que as comandava viu, com enorme surpresa, um crucifixo pendente numa parede. De facto, sua esposa D. Joaquina, era pessoa crente e praticante. Joaquim Pereira de Magalhães encontrava-se nesse momento prudentemente refugiado, num escoderijo existente numa sua propriedade. Desde pequeno, o jovem Amílcar gostou de assumir responsabilidades, que o pai aos poucos lhe foi confiando. Gostava muito de contar que, com cerca de 12 anos, o pai o encarregou de ir de comboio a Lisboa, tratar com um cliente um negócio de resina, de que se terá saído bem. A devido tempo, com os pais a viver transitoriamente em Coimbra, depois de ter estudado no Liceu de Leiria, licenciou-se na Faculdade de Direito, em 1936, tendo como colegas de curso e amigos os Dr. Fernando Maia de Carvalho, Manuel Casanova, Antão Santos da Cunha e José Guilherme Melo e Castro, este referido atrás, a propósito do convite para as eleições para a Assembleia Nacional. Terminado o curso, estagiou em Coimbra, com um Advogado muito conhecido, Dr. Abranches Ferrão e por alturas de 1939, abriu em Alcobaça um escritório de advogado respeitado, conceituado e com boa clientela, onde trabalhou até 1982, altura em que faleceu. Sem favor, era o que se pode qualificar como um distinto e exemplar advogado, à moda antiga (embora com pouco ar de tribuno).. Pessoa de temperamento aparentemente frio, pouco loquaz, cristão mas não praticante, prezava a oratória do Dr. Salazar, que achava adequada para o País, o que realçava, com um gesto largo da sua mão direita. O Dr. Amílcar Magalhães era do tempo em que, uma frase bem elaborada, escrita ou falada, correspondia a uma pessoa de educação e cultura humanista, onde os clássicos ainda não tinham desaparecido dos vícios de leitura ou dos manuais escolares. Assistiu com mágoa, aliás pouco expressa publicamente, ao final do Império, embora reconhecesse que nada podia ser feito em contrário. Recordamo-nos de lhe ouvir dizer que a ocupação dos territórios da Índia, não constituiu uma surpresa nem muito menos o fim do mundo, onde se formou e desenvolveu. Quando se deu o 25 de Abril, não perdoou a Caetano o falhanço, nem acreditou no mérito político de Spínola, que tinha alguma dificuldade em aceita pelo snobismo. Pessoa afável, algo idealista, mas também pragmático, não muito expansivo, escreveu em 1942, com pouco anos de profissão, um texto que publicou sob o título O POLÓNIA ASSALTA A SOGRA E PALMA-LHE OS BENS que bem o definia, na sua postura ético-profissional. Daí destacamos que (…) no caminho percorrido (como vemos ainda não tinha sido longo, pois era o advogado mais novo da Comarca de Alcobaça) até aqui, pudemos ter visto já o bastante para chegarmos à confrangedora certeza de que a profissão escolhida, longe de nos trazer sempre aquela benéfica recompensa espiritual que em outros tempos visionámos, se transforma, antes, num longo rosário de desgostos e desilusões. É que a vida é cheia de surpresas. (…) Acreditava bastante na importância da justiça célere ponderada. Como reagiria hoje?
Joaquim Meneses, recordava do Advogado Dr. Magalhães a postura sóbria, correcta e leal, e que por alturas do Natal mandava sempre uma garrafa de porto, mas do bom, a cada um dos elementos do Posto da G.N.R.. Investiu grande parte do seu património, em propriedades rústicas nos Montes, de onde era natural a esposa, nas quais produzia vinha e fruta e dedicava muito do seu tempo disponível.
Nunca se apurou, se foi porque não quis, nunca fez parte ou se identificou com a Ala Liberal, de Sá Carneiro, Balsemão, Miller Guerra, Magalhães Mota e outros, ou foi Caetano e a A.N.P. que o não quiseram, na nova e última Assembleia Nacional (AN). A partir de 1971, havia que começar a considerar a escolha/eleição dos novos vereadores para a Câmara Municipal, e de acordo com algumas promessas de Caetano desejava-se que fosse uma representação activa, jovem e impulsionadora, recaindo não só em determinadas elites, mas entre os seis a escolher, estejam englobadas pessoas, que pela sua profissão ou formação, possam ser úteis em todos os sectores primordiais da vida da nossa terra.
Em Dezembro de 1971, tomaram posse os novos membros do Conselho Municipal de Alcobaça para 1972/1975 que passou a ter a seguinte constituição: Presidente da Câmara Municipal-Tarcísio Trindade; Representante das Ordens Profissionais-Dr. Amílcar Pereira de Magalhães; Representante das Misericórdias (Alcobaça e Aljubarrota)-Fernando Alua Soares; Representante do Comércio-Raul dos Reis Gameiro; Representante da Lavoura-Bento Jácome de Sousa; Representantes da Juntas de Freguesia do Concelho-Firmo Lisboa, Martinho Duarte, António da Silva Marques (Santeiro) e Bernardo Matias Coelho; Representante da Indústria Têxtil-Francisco Ferreira Rodrigues; Representantes das Casas do Povo (Alcobaça e Alfeizerão)-respectivamente João Henriques Domingues e Joaquim Machado Ferreira; Representante dos Empregados de Escritório-Alberto dos Santos Duarte Vieira. O Conselho Municipal elegeu desta vez sem sobressaltos, os seguintes vereadores: Adelino Rodrigues da Costa e Joaquim Pedro de Sousa, professores, José Mateus, comerciante, que transitaram da vereação cessante, Manuel João Coelho da Bernarda, arquitecto, Helder dos Santos Lopes, industrial, e Manuel Alberto Tomás Correia, gerente comercial. A 28 de Julho de 1973, tomou posse no Salão Nobre do Governo Civil de Leiria como Vice-Presidente da Câmara, o Dr. João Pereira Leão Costa, que veio substituir o Engº Rui Tomás Pereira Marques. Estiveram presentes nessa concorrida cerimónia, entre muitos outros, o Presidente da Comissão Distrital da A.N.P., Engº Lemos Proença, o Deputado Dr. Amílcar Pereira de Magalhães, o antigo Presidente da CMA, Provedor da Misericórdia e Presidente da Comissão Concelhia da A.N.P. (que fez um discurso de conteúdo muito nacionalista), Joaquim Augusto de Carvalho, Comandantes Distritais da P.S.P. e G.N.R., o Presidente da CMA (cujo discurso além de destacar os méritos de inteligência e aprumo do empossado, salientou a estima e confiança dos administradores, empregados e operários da grande empresa onde desempenha importante cargo, a vontade de todos participarem, ainda que ignorados, no tempo presente deste país remoçado, deste Portugal Novo de Rui Sanches e Veiga Simão, neste Portugal Novo de Marcello Caetano) Tarcísio Trindade e Vereadores, Presidentes das Juntas de Freguesia e Regedores de Alcobaça, Pároco e Vigário de Alcobaça, José Emílio Raposo de Magalhães, responsáveis por estabelecimentos de ensino, dirigentes de colectividades e muitas senhoras. Pela mesma portaria do Ministério do Interior que nomeou o Dr. Leão Costa, o Engº Rui Tomás Marques foi louvado pelo aprumo, zelo e competência com que exerceu o seu cargo.

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