segunda-feira, 10 de outubro de 2011

GUERNICA




-PICASSO,
GUERNICA E
A PROPAGANDA.

FLEMING DE OLIVEIRA



Se Guernica, de Picasso foi utilizado como elemento de propaganda por parte dos republicanos contra os nacionalistas, a história seguinte, a não ter fundamento, o que se admite, poderá funcionar como contra-resposta dos nacionalistas.
A tela foi solenemente apresentada ao público, com o nome Guernica, pelo próprio Picasso e por Max Aub, Sub-Comissário da Exposição, na inauguração do Pavilhão de Espanha, na Exposition Internationale des Arts et Techniques, em Paris, no dia 4 de Maio de 1937. Logo na inauguração, Max Aub enfatizou que muito se iria falar daquela pintura. As gravuras que testemunhavam a tragédia de Guernica, provocada pela aviação alemã, A Legião Condor, aliada dos franquistas, estavam a ser divulgadas pela imprensa internacional, que assim fornecia a única informação que não suscitava liminares reservas. Quanto ao demais, aquilo que as agências internacionais remetiam para as redacções dos jornais nacionalistas, chegava e sobrava para deixar desconfiadas as pessoas e a opinião pública. A máquina de propaganda dos nacionalistas nada deixava passar no território sobre o seu controlo, que escapasse à sua verdade. Pelo que, imagens terríveis dessa povoação basca, foram prontamente acompanhadas de despudorados desmentidos, do género os aviadores bolchevistas continuam a sua táctica de bombardear as cidades abertas da retaguarda e tentaram mais uma vez bombardear Saragoça. Mas os aviões de caça nacionalistas levantaram voo e derrubaram um avião bolchevista.
Logo a obra converteu-se num dos símbolos publicitários do Governo Republicano, até ao fim da Guerra Civil e mesmo no exílio. O quadro transformou-se num manifesto contra a guerra, que ultrapassou claramente a sua natureza estética.
Guernica acabou por ter uma grande importância política e social, mas não devemos deixar de o ver como uma obra de arte. Se fosse apenas um manifesto contra a guerra não seria um grande quadro. Guernica é uma obra de maturidade [Picasso pintou-a aos 56 anos], uma síntese do que o pintor viu, do que aprendeu e fez até àquele momento da sua vida. Tudo o que ele amou está lá.
O quadro foi entendido como a resposta de Picasso ao brutal bombardeamento alemão a Guernika-Lumo.
Durante muitos anos, as reproduções de Guernica, substituíram as da Última Ceia, de Leonardo da Vinci, em muitos lugares, tal como lembra o escritor espanhol Manuel Vicent. A figura de Picasso transcende a própria pintura.

Porém, se se atentar nas datas do bombardeamento e da apresentação da obra, admite-se que pode não ser mesmo assim, conforme os republicanos. O bombardeamento de Guernica (Guernika-Lumo) ocorreu na tarde de 26 de Abril de 1937, pelas 16h,40m (há quem fale em 1500 vítimas, há quem diga 7000, mas isso seria a totalidade dos habitantes…). Todavia, isso não altera o seu significado histórico e político. O bombardeamento de Guernika-Lumo ao longo de cerca de 4horas consecutivas, foi o primeiro ocorrido na Europa sobre uma população civil indefesa, uma localidade desmilitarizada. Era dia de mercado, muitas pessoas morreram, durante o ataque ou nos dois dias seguintes, enquanto os escombros estavam ainda a arder.
Em breve, o acontecimento começou a ser noticiado e amplamente comentado em Paris. Mas o quadro foi apresentado cerca de uma semana depois do acontecimento. Trata-se de uma obra de grande envergadura, com 3,5m de altura por 7,77m de largura. Picasso, chegou a declarar que tinha demorado 60 dias a executá-la. Pensar que o quadro foi iniciado e completado entre 27 de Abril e 3 de Maio de 1937, não explica a contradição com aquela informação. Uma conclusão pode-se eventual, mas não seguramente, extrair. O trabalho de Picasso não foi inspirado, nem representa o bombardeamento de Guernica, pelos alemães, aliados dos nacionalistas. A história do quadro Guernica terá começado em Janeiro de 1937, quando Max Aub encomendou a Pablo Picasso, por ordem do Governo Republicano, um mural para ser exposto no Pavilhão de Espanha, mediante o pagamento de 150.000 francos. Em vez de um mural, foi executado aquele painel, enorme, em óleo sobre tela. Se foi Picasso, Max Aub ou outro qualquer, que anteviram o seu grande potencial e se lembraram de baptizar o quadro de Guernica, nos breves dias que antecederam a inauguração da exposição, é facto que dificilmente poderá ser esclarecido. Desde então, Guernica tem sido objecto de estudo, crítica, opinião e inspiração um pouco por toda a parte. Representará mais uma impressiva visão sobre os horrores da guerra?

Segundo alguns, a tensão expressa no quadro lembra Los Horrores de la Guerra, de Goya. A denominação da obra e a propaganda republicana desencadeada a partir daí, representou uma operação político-mediática em que participou Pablo Picasso, como eventualmente esta versão nacionalista. Alguns espanhóis, obviamente não afectos aos republicanos, mas não necessariamente comprometidos com os nacionalistas, adiantam que o quadro estava pronto antes, ou em adiantada execução quando ocorreu o bombardeamento de Guernica, e Picasso previa chamar-lhe Lamento en La Muerte del Torero Joselito, evocando a memória do toureiro Joselito, caído na arena de Talavera de la Reina, numa tarde de 16 de Maio de 1920. Não sabemos, e o facto em si não nos parece verdadeiramente relevante, mas é sabido que Picasso dedicou grande atenção aos temas taurinos, desde a juventude. Observando a tela, podem distinguir-se touros e cavalos, num paroxismo de drama e morte. O que não se consegue descortinar são aviões, casas, guerra ou bombardeamentos. Mas quanto a isso lá saberá o pintor aquilo que quis representar!

Depositado no Museum of Modern Art, de Nova Iorque, o quadro permaneceu fora de Espanha até 1981, ano em que foi recebido no Museu do Prado. Picasso havia determinado que o quadro só deveria vir para Espanha, quando o país vivesse em democracia. Construído o Museu Rainha Sofia, em 1992, foi transferido para o lugar que hoje ocupa. Guernica define a identidade do nosso museu, disse a directora do Rainha Sofia, Ana Martínez de Aguilar, tal como a Mona Lisa define o Louvre.




FLEMING DE OLIVEIRA

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