segunda-feira, 3 de outubro de 2011

(I) QUANDO O CAMARADA CUNHAL IA SENDO APANHADO À MÃO EM ALCOBAÇA (AGOSTO DE 1975)



-Cunhal sai escoltado (por “gorilas”) pelas traseiras do Pavilhãogimno desportivo de ALcobaça
-José Alberto Vasco esteve lá.
-Rosalina Martins enervou-se, pensou logo nos seus ricos
filhos e socorreu uns jornalistas canadianos.
-Luís Graça, ainda salazarista, colaborou com o PPD.
-Timóteo de Matos do PC, tem uma versão diferente.
-O MRPP “justifica” os incidentes.
-O CDS numa sessão no Alqueidão da Serra, com Manuel
Ferreira Castelhano e outros, mas com um discurso pouco
mobilizador.

O comício do PC marcado para a noite de sábado, dia 16 de Agosto de 1975 em Alcobaça, constituiu a primeira sessão pública promovida por aquele partido, após a instauração do clima de violência a que o País, de norte a sul, assistiu no Verão Quente e concretamente em Alcobaça, dias antes, como contámos.

Esta iniciativa, que pretendia ser de afirmação ou de desagravo protagonizado por Álvaro Cunhal, não foi bem aceite em Alcobaça, cujas gentes em geral não se sentiram honradas com tal distinção, que reputaram de provocação.
Para Rogério Raimundo, o PCP fez vários comícios contra a reacção, pela liberdade, contra os assaltos das sedes do PCP e MDP, nas terras onde houve essas acções. Quis mostrar que não havia medo e que utilizava a força do direito de reunião. Curioso que os contra-revolucionários só atacaram o comício do PCP em Alcobaça. O camarada Américo Areias considera que naquele dia esteve quase a começar uma guerra civil em Alcobaça. Perante o tiroteio e o apedrejar da cobertura do Pavilhão Gimnodesportivo houve a mobilização de todas as forças do PCP. Ele diz que o que valeu foi a competência dos militares que vieram limpar toda a zona à volta do Pavilhão.
A avaliação do comportamento dos militares ao longo do PREC, suscita opiniões díspares. Já notamos acusados de estarem com a reação, de não tomarem posição e de bom e competente trabalho!
O PC tinha feito uma ampla cobertura publicitária do comício, com panfletos, faixas nas ruas e caravanas auto com altifalantes a anunciar a presença do Secretário-Geral, o camarada Álvaro Cunhal, bem como de Joaquim Gomes, membro do Comité Central. Durante o dia correram em Alcobaça, os boatos mais desencontrados, que grupos provenientes de Alhandra e da cintura industrial de Lisboa, vinham assegurar a resposta aos reacionários e fascistas alcobacenses. Por isso, as pessoas da vila, mesmo alguns afectos ao PC, retraíram-se de aparecer.
O ambiente no Pavilhão Gimnodesportivo de Alcobaça, com muitos militantes provenientes da Marinha Grande, Santarém, Alhandra, Seixal e Almada, era inicialmente de grande expectativa de acordo com Mário Vazão, que lá se deslocou e entrou para tomar algumas notas para O Alcoa. Como não era de rejeitar a hipótese de incidentes, estavam também presentes, repórteres nacionais e estrangeiros de França, Inglaterra e Canadá.
Até às 22h nada fazia prever, a uma pessoa mais desatenta ou desconhecedora do ambiente, o que se iria passar. Aos poucos, pequenos grupos, depois umas centenas de pessoas de vários pontos do Concelho e mesmo de fora, começaram a juntar-se no exterior e a apedrejar o pavilhão, bem como a cantar e proferir palavras de ordem provocatórias aos que chegavam e se preparavam para entrar. De dentro houve resposta, com armas de fogo a disparar contra os contestantes, causando alguns feridos, transportados para o Hospital, um dos quais, Joaquim Elias Vicente, que ficou internado. No interior, Rui Baltazar, o grande animador de serviço, referindo-se ao recente ataque à sede do PC em Alcobaça, cujas consequências lhe deixaram mazelas, mas que não lhe retiraram o ortodoxo e inabalável fervor militante (hoje em dia sócio de uma panificadora de estrutura familiar em Valado de Frades), frisou que a acção preparada meticulosamente durante um mês, não visava só aquele centro de trabalho, pois que a tomada da Câmara, do Hospital e da Cooperativa, estava nos objectivos dos fascistas alcobacenses. Aquele membro do PC, comunicou ainda que na altura em que ocorreram os incidentes de Julho em Alcobaça, elementos do PS, de Valado de Frades, se prontificaram a ajudar os camaradas comunistas, a defender a casa de trabalho, o que não aconteceu, tanto quanto se sabe, nem porquê, mas que não obstante motivou vivas e aplausos.
Entretanto, o comício prosseguia. Cerca das 23h, depois do vidreiro António Dionísio ter falado e procedido à leitura, aliás com manifesta dificuldade…, de duas moções de apoio ao PREC, os acontecimentos precipitaram-se. Alguns elementos afectos ao PC que, na entrada, montavam o serviço de segurança, em resposta às pedras e aos insultos que lhes eram dirigidos, começaram a atirar objectos contra os manifestantes de forma indiscriminada, usar instrumentos contundentes, um das quais atingiu Manuel Augusto Coelho e a disparar, para o ar, armas de fogo. Francisco Presciliano de Sousa, sofreu um ferimento na vista e tal como Fernando Laurentino foi evacuado para Lisboa, enquanto Segismundo Marques de Sousa, atingido com chumbo de uma caçadeira, teve de ser transportado de urgência para os HUC.
No interior do pavilhão, o ambiente era de excitação. A assistência, que mais tarde se avaliou em cerca de 2.000 pessoas, entoava, para se reconfortar, A Internacional e o Avante Camarada. Álvaro Cunhal subiu ao palco e dirigiu-se aos presentes, manifestando a esperança/certeza que, de novo, seriam restauradas as liberdades democráticas em Alcobaça, anunciando que na Vila se realizaria em breve uma grande festa-comício. Os tempos nunca se revelaram adequados a essa festa, apesar de assegurar que tenham confiança, camaradas, porque as dificuldades temporárias serão supridas e os criminosos fascistas receberão os castigos que merecem, pois o momento de crise da Revolução há-de passar.
Uma das ambulâncias que levava um ferido para o hospital, foi atingida à pedrada, já que os manifestantes julgaram, que ia escondido lá dentro e em fuga, o próprio Álvaro Cunhal. Mas não era verdade, este saíra previdentemente por outro lado, devidamente enquadrado pela sua encorpada segurança. No exterior do pavilhão havia agressões de parte a parte, mesmo com o disparo de armas de fogo, de arremessos de cocktails molotov, que só vieram a terminar quando, pelas 2h30 chegaram forças do RI 7 de Leiria, e RI 5 de Caldas da Rainha que, com rajadas de metralhadora para o ar, dispersaram os manifestantes, que barricavam as saídas com pedregulhos, toros e postes de cimento e permitiram a evacuação final do pavilhão.
O Rádio Clube Português, conforme a sua linha editorial de vanguarda/progressista, acompanhou, quase em directo, e acicatou os acontecimentos de Alcobaça e pelas 5h da madrugada do dia 17 anunciou ao País que, no comício do PC, realizado em Alcobaça, com a presença de destacados elementos do partido, entre os quais Álvaro Cunhal e Joaquim Gomes, bandos de fascistas estão a causar graves distúrbios de que podem resultar pesadas consequências, assinalando-se já vários feridos. Apelou à solidariedade e acção dos trabalhadores e democratas com esta situação que, como muitas outras que se vêm registando, parece visarem a destruição das liberdades, bem como alertou para o perigo em que se encontraram os comunistas em Alcobaça.
Graças a este apelo, alguns automóveis transportando de comunistas da região, munidos de caçadeiras, matracas e barras de ferro, deslocaram-se à Vila de Alcobaça, em socorro dos camaradas, já nada tendo feito porque os incidentes haviam acabado e o pavilhão não tinha ninguém.

(CONTINUA)

FLEMING DE OLIVEIRA

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