terça-feira, 21 de junho de 2022

NÃO TENHO VERGONHA (da nossa História) - Apontamento in O ALCOA

 

NÃO TENHO VERGONHA

(da nossa História)

Apontamento in O ALCOA

 

Tenho acompanhado com muito interesse as iniciativas que a Câmara Municipal de Alcobaça tem desenvolvido no referente à animação cultural/entretenimento, bem como à preservação e divulgação da memória coletiva da nossa Terra e consequentemente da nossa Gente.

Não tendo nascido alcobacense, há perto de 50 anos aqui vivo, trabalho e socializo.

As iniciativas da Câmara Municipal, muito concretamente através do pelouro da cultura, têm ajudado a preservar e divulgar a nossa identidade, enquanto comunidade que não se restringe aos tempos da Ordem de Cister, nem ao Portugal democrático pós 25 de abril.

Nesta missão de divulgar especialmente a história recente de Alcobaça, seja em livros, artigos de jornal ou revista, vou recordando episódios algo esquecidos, se não insólitos ou controversos, mas que não deixam de integrar a memória coletiva e identitária da região.

Gosto de nos meus textos referir pessoas muito concretas de quem ouvi falar, com quem me encontrei e convivi, com as virtudes e defeitos de qualquer um, identificáveis e personalizados.

São estes os responsáveis pela Alcobaça que temos neste século XXI e deixaremos, pessoas importantes como nós, como já referi uma vez.

 

Um assunto, porém salvo melhor opinião, merece me um especial destaque, para que possa se dada alguma satisfação àqueles, e que já não são muitos, bem como às respetivas famílias, amigos ou vizinhos.

Durante 13 anos, ao lado de muitos milhares de outros portugueses que cumpriram serviço militar no Ultramar, também estiveram alcobacenses que sem lhes ser pedida opinião – nem podiam votar – viram a sua vida e planos interrompidos, noutros mesmo terminados definitivamente.

Se é certo que a grande maioria dos alcobacenses que cumpriram serviço militar em África regressaram, ainda que nalguns casos com mazelas, outros  houve que por lá ficaram e os respetivos corpos não tiveram o direito de regressar à sua terra natal, abandonados e esquecidos que foram e estão, o que é injusto.

 

Acho que compete à sociedade alcobacense e ao poder que a representa (no caso concreto a CMA) respeitar a memória dos que nos antecederam ou connosco viveram, pese embora possa haver, pontualmente, algumas dúvidas acerca do contexto em que atuaram, o que para mim é agora de todo irrelevante. Não tenho/temos vergonha da nossa gesta africana, nem no que me fiz respeito da minha passagem pela bolanha da Guiné.

Ficaria bem ao nosso Município honrar a memória dos que conforme um alegado Desígnio Nacional – ainda que parcialmente concretizado – deram a sua juventude ou supremo bem da vida.

 

Sei não ser viável, nem possível identificar todos os rapazes alcobacenses que ao longo de 13 anos cumpriram serviço militar honrada e honrosamente em África, porém outrossim identificar os que não regressaram. Essa lista foi me fornecida pela Liga dos Combatentes (Delegação de Alcobaça) e por mim já foi publicada respeitosa e comovidamente.

 

Sei que V. Exª e este jornal, têm sensibilidade para estudar e desenvolver este assunto e não desdenham, colaborar na iniciativa de deixar uma marca duradoura que lembre aos ainda vivos (e cada vez são menos) famílias dos demais e vindouros, o esforço ingente do que considero, cumprir a Portugalidade.

 

 

 

 

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