NÃO TENHO VERGONHA
(da nossa História)
Apontamento in O ALCOA
Tenho
acompanhado com muito interesse as iniciativas que a Câmara Municipal de
Alcobaça tem desenvolvido no referente à animação cultural/entretenimento, bem
como à preservação e divulgação da memória coletiva da nossa Terra e
consequentemente da nossa Gente.
Não
tendo nascido alcobacense, há perto de 50 anos aqui vivo, trabalho e socializo.
As
iniciativas da Câmara Municipal, muito concretamente através do pelouro da
cultura, têm ajudado a preservar e divulgar a nossa identidade, enquanto
comunidade que não se restringe aos tempos da Ordem de Cister, nem ao Portugal
democrático pós 25 de abril.
Nesta
missão de divulgar especialmente a história recente de Alcobaça, seja em livros, artigos de jornal ou
revista, vou recordando episódios algo esquecidos, se não insólitos ou
controversos, mas que não deixam de integrar a memória coletiva e identitária
da região.
Gosto de
nos meus textos referir pessoas muito concretas de quem ouvi falar, com quem me
encontrei e convivi, com as virtudes e defeitos de qualquer um, identificáveis
e personalizados.
São
estes os responsáveis pela Alcobaça que temos neste século XXI e deixaremos, pessoas importantes como nós,
como já referi uma vez.
Um assunto,
porém salvo melhor opinião, merece me um especial destaque, para que possa
se dada alguma satisfação àqueles, e que já não são muitos, bem como às
respetivas famílias, amigos ou vizinhos.
Durante
13 anos, ao lado de muitos milhares de outros portugueses que cumpriram serviço
militar no Ultramar, também estiveram alcobacenses que sem lhes ser pedida
opinião – nem podiam votar – viram a sua vida e planos interrompidos, noutros
mesmo terminados definitivamente.
Se é
certo que a grande maioria dos alcobacenses que cumpriram serviço militar em
África regressaram, ainda que nalguns casos com mazelas, outros houve que por lá ficaram e os respetivos
corpos não tiveram o direito de regressar à sua terra natal, abandonados
e esquecidos que foram e estão, o que é injusto.
Acho que
compete à sociedade alcobacense e ao poder que a representa (no caso concreto a
CMA) respeitar a memória dos que nos antecederam ou connosco viveram, pese
embora possa haver, pontualmente, algumas dúvidas acerca do contexto em que atuaram,
o que para mim é agora de todo irrelevante. Não tenho/temos vergonha da nossa
gesta africana, nem no que me fiz respeito da minha passagem pela bolanha da
Guiné.
Ficaria
bem ao nosso Município honrar a memória dos que conforme um alegado Desígnio Nacional
– ainda que parcialmente concretizado – deram a sua juventude ou supremo bem da
vida.
Sei não
ser viável, nem possível identificar todos os rapazes alcobacenses que
ao longo de 13 anos cumpriram serviço militar honrada e honrosamente em
África, porém outrossim identificar os que não regressaram. Essa lista foi me
fornecida pela Liga dos Combatentes (Delegação de Alcobaça) e por mim já foi
publicada respeitosa e comovidamente.
Sei que
V. Exª e este jornal, têm sensibilidade para estudar e desenvolver este assunto
e não desdenham, colaborar na iniciativa de deixar uma marca duradoura que
lembre aos ainda vivos (e cada vez são menos) famílias dos demais e vindouros,
o esforço ingente do que considero, cumprir a Portugalidade.
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