sexta-feira, 18 de janeiro de 2019




NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas


Gonçalves Sapinho, José, natural do Sabugal, fixou-se na Benedita na década de 1960, para dar aulas no Externato Cooperativo, depois de cumprir o serviço militar nos Açores.
Casou com Maria Adelaide, professora do Ensino Básico, em 1963, com quem teve três filhos. Frequentou o Seminário do Fundão, experiência que considerou gratificante, apesar do pouco tempo que lá esteve.
Em 1970, assumiu a direção pedagógica do ECB, que ocupou durante cerca de três décadas, o qual muito valorizou. Na Benedita, foi cofundador e primeiro Provedor da Santa Casa da Misericórdia e esteve ligado a diversas associações culturais, desportivas, recreativas e paroquiais, que acompanhava de perto e muito atentamente.
Ao trabalho na educação e no associativismo, Gonçalves Sapinho aliou a intervenção política. Foi Deputado à Assembleia Constituinte (gostava de dizer que votou a Constituição com lágrimas nos olhos, porque tinha a perceção que estava a votar a arquitetura da democracia portuguesa) e à Assembleia da República entre 1976 e 1979 e no ano de 1996, Presidente da Assembleia Municipal de Alcobaça entre 1976 e 1979 sucedendo a Vasco da Gama Fernandes (Presidente da Assembleia da República) que se demitiu, Membro e Presidente da Assembleia de Freguesia da Benedita, fundador e primeiro presidente dos Conselhos Diretivos da ANAVIL /Associação Nacional de Vilas Não Sede de Município e da ANAFRE/Associação Nacional de Freguesias, que teve durante anos a sede na Benedita, apoiante da candidatura presidencial de Maria de Lurdes Pintassilgo.
Em 1997, regressado ao PSD, de quem se havia desligado e com quem nem sempre teve fácil relacionamento, Gonçalves Sapinho foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, vencendo Miguel Guerra, enfraquecido e doente, função que exerceu durante três mandatos consecutivos. PS e PSD reeditaram nestas eleições o empate das primeiras eleições, com 127 presidências de câmara cada, mas ainda com ligeira vantagem para os socialistas, que mantiveram Lisboa, em coligação com a CDU e a UDP. A coligação comunista, CDU, começou a perder terreno no Alentejo e recuou para as 41 presidências de câmara. Mas a maior queda foi do CDS, que segurou apenas a presidência em oito municípios. O PPM voltou à presidência do único município que antes detinha: Ribeira de Pena.
Em 2001, foi tempo de vitória absoluta do PSD (Alcobaça incluída) que levou à demissão do Primeiro-ministro António Guterres, com o discurso do pântano, proferido em plena noite eleitoral. A derrota dos socialistas saldou-se pela perda de municípios como Lisboa, Porto, Coimbra e Faro. A vitória do PSD abriu caminho a Durão Barroso, que três meses depois chegou à liderança do Governo. Os social-democratas conquistaram a presidência de 157 municípios (15 em coligação com o CDS), enquanto os socialistas se quedaram pelos 113. A CDU passou a ter apenas 28 presidentes de câmara e o CDS quase desapareceu do mapa autárquico, com apenas três municípios. Foi nestas eleições que, pela primeira vez, se candidataram grupos de independentes, tendo conquistado três câmaras.
Reeleito em 2005 com maioria absoluta (e pela última vez), na muito concorrida tomada de posse em 28 de outubro, na Sala do Refeitório do Mosteiro de Alcobaça, Sapinho anunciou que espera uma política construtiva e propostas viáveis e exequíveis da oposição, e sobretudo, espera lealdade. Para o autarca, não temos todos que estar de acordo mas temos de ser leais. Mais referiu ser gratificante, mesmo visto sob a óptica da humildade, e sem arrogâncias, receber o apoio, significativamente acrescido, dos cidadãos eleitores, em termos absolutos e relativos, ganhar claramente em 17 das 18 freguesias, nas quais se inclui a freguesia de Alcobaça, aumentar o número de vereadores no Executivo municipal e de representantes na Assembleia Municipal. Julgo ser rigoroso se interpretar este amplo apoio como um sinal claro de confiança, de reconhecimento pelas respostas adequadas a cada eixo natural de desenvolvimento, pelo que foi executado, iniciado ou planificado, pelas obras estruturais e estruturantes e pela forma como foram assegurados os meios financeiros.
Gonçalves Sapinho alertou que irá fechar os ouvidos e a boca ao disse-que-disse, ao boato, à notícia envenenada, condição para decidir sem condicionalismos e com serenidade. Quem se sente condicionado para tomar decisões não pode, não deve, assumir estes cargos. Vamos ser dialogantes, mas não vamos empatar decisões sob a capa e em nome de um diálogo serôdio.
Gonçalves Sapinho referiu mais que se o Mosteiro de Alcobaça é a joia da coroa, também temos de colocar em agenda o Convento de Coz, o castelo e os museus do concelho.
Em 2009, o PSD anunciou que Sapinho não se iria recandidatar, por motivos de saúde. As eleições confirmaram o Advogado Paulo Inácio, do PSD, ao tempo Presidente da Assembleia Municipal, como seu sucessor o qual ainda se encontra (2016) no exercício de funções (2º mandato).
Desde que abandonou a CMA, Gonçalves Sapinho passou grande parte dos dias em São Martinho do Porto, onde residia há alguns anos, mantendo como cargos as Presidências da Mesa da Assembleia Distrital de Leiria do PSD e o Conselho Fiscal do Instituto Nossa Senhora da Encarnação, que integra o Externato Cooperativo da Benedita/ECB.
Nasceu em 28 de agosto de 1938 no Sabugal e faleceu em 9 de setembro de 2011.
O concelho que durante anos foi a sua casa, foi escolhido para última morada e nas cerimónias que antecederam o funeral, estiveram presentes centenas de pessoas. Foi celebrada missa na Igreja Paroquial da Benedita e o corpo ficou em câmara ardente no Centro Cultural a que deu o nome. No dia seguinte, após uma homenagem em frente à Câmara Municipal, missa e exéquias fúnebres celebradas no Mosteiro de Alcobaça, Gonçalves Sapinho foi a sepultar em São Martinho do Porto.
-Obviamente que não teve unanimidade nas decisões que tomou ao longo dos seus três mandatos e foi alvo de críticas. Muitos alcobacenses continuam a não apreciar as alterações feitas pela requalificação urbana de 2005 e não esquecem o antigo jardim frente ao Mosteiro, que foi suprimido e substituído por um terreiro tido como próprio de uma abadia cisterciense.
Também o investimento em 2008 na compra da Quinta da Serra para a Área de Localização Empresarial da Benedita por 5,5 milhões de euros foi alvo de muitas críticas.
No mesmo ano, o executivo de Gonçalves Sapinho fez mais um avultado investimento na compra da Quinta da Cela em Alfeizerão por 3,5 milhões para o novo Hospital do Oeste Norte. Quase nove anos depois esta propriedade municipal continua sem qualquer rentabilização, sendo certo que a cidade de Alcobaça e o seu concelho bem precisa de um Hospital novo.
-Gonçalves Sapinho foi uma personalidade do maior destaque no período pós 25 de Abril em Alcobaça e região de Leiria.
Gonçalves Sapinho é referido inúmeras vezes, neste Dicionário.
Goucha, Fernando Hipólito, nasceu a 2 de abril de 1908 em Alcanena, tendo vindo para Alcobaça com oito anos, donde aliás era natural a família da mãe.
Fez a 4ª. classe em Alcobaça e começou a trabalhar com o tio Alberto Hipólito, armazenista de vinhos. Ainda jovem foi tentar a sorte no Brasil, mas ao fim de três meses, não gostando do ambiente de violência, regressou a Alcobaça indo trabalhar no Lar Residencial, onde esteve cerca de 20 anos e assumiu, a partir de certa altura, funções de Tesoureiro, sem prejuízo de manter um part-time no tio Alberto.
Como não podia ser ao mesmo tempo negociante de vinhos e trabalhar para o Estado, constituiu uma sociedade com um amigo da Batalha. Quando deixou o Lar Residencial e por já não haver incompatibilidade de funções, estabeleceu-se em nome individual, no ramo de vinhos e derivados, atingindo um importante volume de negócios que manteve até quase à data de falecimento em 21 de janeiro de 1991, no Montepio de Caldas da Rainha.
Nunca teve filhos e viveu na Avenida João de Deus, onde se encontravam os depósitos de vinho e escritórios.
Foi Presidente da Direção dos Bombeiros (fevereiro de 1950) e Vereador da Câmara Municipal de Alcobaça (antes do 25 de Abril).
Gostava de contar que um dia escreveu uma carta ao Prof. Salazar, queixando-se de um auto que a Junta Nacional do Vinho lhe tinha instaurado, e que reputava injusto. Salazar deu-lhe resposta escrita, complementada ao fim de algum tempo por uma Lei de Amnistia (que também abrangia o seu caso
Graça, Maria de Assunção Oliveira Cristas Machado da, mais conhecida apenas por Assunção Cristas, nasceu em Luanda a 28 de setembro de 1974.
A a 3ª Conferência Made in Cister: Fruticultura, promovida pelo semanário Região de Cister, no dia 6 de setembro de 2015, num pomar do Paúl da Cela, contou entre os oradores com o presidente da Associação dos Produtores de Maçã de Alcobaça, o presidente da Cooperativa Agrícola de Alcobaça, representantes da Cooperfrutas e do Portugal Fresh. A sessão de encerramento da conferência esteve a cargo da Ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, que anunciou a formalização da candidatura do Regadio da Cela a fundos comunitários.
Esta iniciativa, que integrou o programa da Festa da Fruta na Cela, abordou o setor da fruticultura e em especial a Maçã de Alcobaça que é uma imagem de marca da região e do País. O setor da fruticultura assume especial relevância nos concelhos de Alcobaça e Nazaré, territórios utilizados para a agricultura, desde a presença da Ordem de Cister no Mosteiro de Alcobaça.
Além da conferência pública, o Região de Cister, anunciou que irá editar uma revista alusiva ao setor e apresentará um documentário em vídeo sobre a fruticultura.
-Assunção Cristas e o Secretário de Estado das Florestas Francisco Gomes da Silva participaram no dia 10 de abril de 2014 numa ação de limpeza da Mata Nacional do Valado de Frades.
A iniciativa foi promovida pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas no âmbito do projeto Portugal pela Floresta e serviu para Assunção Cristas salientar a importância destas ações quando o tema dos incêndios florestais não se encontra na ordem do dia. Trata-se de uma demonstração do trabalho que se pode e deve fazer pela floresta numa época em que esta não é notícia, essencial para nos prepararmos e prevenirmos a situações mais difíceis que ocorrerem no Verão.
-O Governo está a avaliar a possibilidade de instalação de um centro de competências da fruticultura na Estação Vieira Natividade, em Alcobaça, cenário que recolhe apoio entre os autarcas do Oeste. Os presidentes dos municípios que integram a OesteCim reuniram e chegou-se a um consenso de que a Estação Vieira Natividade seria o local mais apropriado para receber o Centro de Competências, adiantou Paulo Inácio.
O presidente de Câmara de Alcobaça relembrou que o projeto, que será candidato no âmbito dos novos fundos comunitários, irá contar com a participação de empresas, associações e institutos públicos, tendo já sido assinado um protocolo entre o INIAV e a Universidade de Coimbra para o efeito.
Embora sem confirmar a sede do Centro de Competências em Alcobaça, após uma visita à Mata do Vimeiro, Assunção Cristas sublinhou que o importante é encontrar os atores certos e conseguir ter um caderno de encargos muito claro. Não se está a criar uma estrutura nova, está-se a potenciar aquilo que são as estruturas e os recursos das várias entidades, reforçou a Ministra da Agricultura.
Assunção Cristas salientou, ainda, que o trabalho desenvolvido na Mata do Vimeiro, que classificou de laboratório vivo, vai ser aproveitado para o centro de competências do sobreiro, instalado em Coruche.
Para Daniel Subtil, presidente da Junta do Vimeiro, a visita da ministra vem renovar o que já foi feito para dar vida à mata, considerando que tem sido feito mais nestes últimos anos do que anteriormente, uma vez que o espaço esteve ao abandono durante alguns anos.
-Passos Coelho, líder da coligação (PSD-CDS) PaF, para as eleições legislativas de 4 de outubro de 2015 e candidato a Primeiro-ministro, visitou no dia 28 de setembro de 2015 a empresa de calçado Sindocal, da Benedita, para conhecer a sua realidade e a condição dos seus 96 trabalhadores. Também esteve presente Assunção Cristas.
Leia-se aqui Pedro Passos Coelho.
-Assunção Cristas, sucessora de Paulo Portas na liderança do CDS/PP, desde 13 de março de 2016, esteve de visita a Alcobaça no dia 27 de abril de 2016, a convite da estrutura local do partido para inaugurar a nova sede da Concelhia de Alcobaça, que se encontra de portas abertas à comunidade num edifício na rua D. João V, junto ao Mosteiro.
A líder dos centristas elogiou o esforço da concelhia para aumentar o número de militantes em Alcobaça. O País tem muito trabalho pela frente para conseguir crescer e só com o contributo de todos é que isso é possível, acrescentou a ex-ministra da Agricultura e Mar do Governo de Pedro Passos Coelho. A inauguração da nova sede do partido, marca a abertura da campanha do CDS-PP às eleições autárquicas do ano de 2017. Ainda durante a visita a Alcobaça, Assunção Cristas visitou as instalações da Goanvi, central de engarrafamento de bebidas, localizada na Maiorga. A escolha recaiu sob a empresa dado que foi uma das cinco mil empresas que mais cresceram na Europa há dois anos e por se tratar de uma empresa classificada como PME Líder. De acordo com Luís Vieira, administrador do Grupo Parras, que gere a empresa, a Goanvi faturou, no ano passado, qualquer coisa como 20 milhões de euros e exporta cerca de 80% da produção. A antiga ministra, muito ligada ao setor agroalimentar, considera que a empresa é um exemplo de sucesso num mercado globalizado e competitivo.
-Assunção Cristas, esteve em Alcobaça em visita particular e fez questão de visitar a Mostra de Doces e Licores Conventuais2016, no próprio dia da inauguração, 17 de novembro.
Estes políticos encontram-se sempre em campanha!!!
Graça, Rafael Barata Gagliardini, nasceu na Madeira, veio para o continente com 5 anos, sendo o segundo de 11 irmãos.
Estudou e formou-se na Universidade de Medicina, do Porto, com alta classificação. Depois de ter estado a trabalhar em Lisboa, foi efetuar uma especialização em Paris. Casado em 1930, fixou residência em Lisboa, aí abriu consultório.
Na memória de muitos, ainda está presente o sorriso e boa disposição de um homem que fez muito pela vilae seus habitantes. Era tratado carinhosamente como o Dr. Graça.
Aos 25 anos, Gagliardini Graça foi a São Martinho do Porto passar férias com a família. Na ocasião, o médico residente da vila, Dr. Acácio, encontrava-se doente (aliás em breve faleceu) e, ao saber da presença de um colega, pediu-lhe colaboração. Gagliardini Graça prontificou-se e, desde logo, começou a assistir os doentes e por lá se veio a fixar.
Era um tempo em que visitava a cavalo as aldeias vizinhas, na procura de quem precisava de ajuda. Pouco recebia e por vezes era em galinhas, ovos, batatas. Sorridente, e bem-disposto, estava pronto a ajudar. Durante 22 anos, prestou assistência médica gratuita aos filhos dos militares da 3ª. Região Militar de Tomar, que vinham para a colónia balnear de São Martinho. Clínica geral e obstetrícia (muitos filhos da terra nasceram com o seu apoio) foram as suas especialidades durante 30 anos, numa época em que os meios e instrumentos médicos, eram escassos. Mais tarde, especializou-se em estomatologia. Teve dois consultórios, um em São Martinho e outro nas Caldas da Rainha. O tempo livre, era dividido entre Salir do Porto, Vale de Maceira, Casal Pardo, Serra da Pescaria, e toda a freguesia de São Martinho do Porto.
Pelo espírito solidário e benemerente, foi condecorado com o Grau de Oficial da Ordem de Benemerência, presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros Voluntários, delegado de saúde e presidente da Junta de Turismo de São Martinho.
Entre 1976 e 1977, Gagliardini Graça foi secretário de Gonçalves Sapinho, quando este era presidente da Assembleia Municipal de Alcobaça, no mandato em que sucedeu a Vasco das Gama Fernandes, que pediu a demissão.
-Faleceu em 25 de março de 1982. Teve 8 netos, e embora não tenha conhecido o mais novo, fez o parto do primeiro.
Quis o destino que não vivesse para além dos 76 anos. Partiu na sequência de um acidente rodoviário, deixando de luto não só a família e amigos, mas também as comunidades de São Martinho e Salir do Porto.
Granada Costa, Maria Judite Isidoro, nas suas próprias palavras esclareceu que, o ano de 1944 estava no seu início e o mês de janeiro dava os primeiros passos, quando no dia 12 nasceu. Surpresa talvez para seus pais que gostariam de ter um rapaz, pois já tinham uma menina com 8 anos. Nasceu em casa como era hábito nesse tempo. Foi crescendo rodeada de muitos mimos de seus pais, Olívia Isidoro e Eurico Granada e de sua irmã Julieta Granada. O seu lar era rico em paz, carinho e muita ternura. O ouro do seu berço era uma forte e inquebrantável liga de amor. Nascera numa dura época em que a 2ª guerra mundial continuava a ceifar vidas, mas não se lembra de ter sentido qualquer falta. O que nessa altura não sabia, também devido à sua  tenra idade, era que para  poder comer um pouco de carne ou pão, sua mãe ou a sua irmã passavam longas horas nas filas de racionamento, das célebres senhas. Seu pai era comerciante e ganhava para sustentar a família. Não pode deixar de referir que em sua casa havia sempre um ou outro animal, encontrado abandonado e socorrido, passando a fazer parte da família. Com 6 anos de idade, entrou para a escola primária-Escola Primária Oficial do Asilo da Infância Desvalida do Dr. Álvaro Possolo e este nome significava que a essa  escola estava agregado um lar de crianças do sexo feminino que a frequentavam. Situava-se também na rua onde nasceu-Rua Frei Fortunato.
Gosta de pensar nessa sua primeira escola, um Livro com muitas páginas e dezenas de histórias. Histórias vividas, de amizade e companheirismo, de meninas que cresceram juntas, partilharam sonhos, viveram quimeras. Era o seu pequeno mundo, que se estendia à sua família e amigos e ía um pouco mais além do lugar onde vivia. Do restante mundo em constante turbilhão pouco ou nada sabia. Era o tempo em que sem televisão, as histórias infantis escutadas com os ouvidos encostados ao rádio, faziam parte do seu imaginário.
Terminou a 4ª classe com dez anos e ficou em casa tentando, teimosamente, contrariar a vontade de seu pai, que não queria que ela continuasse a estudar. Ele, seu pai, que era o melhor pai do mundo, dizia que as meninas deviam aprender a costurar e a bordar, duas “coisas” que ela abominava (sem ofensa para ninguém). Com o apoio de sua mãe e irmã conseguiu convencê-lo e inscrever-se na Escola Técnica de Alcobaça, onde fez o Ciclo Preparatório. Foi depois estudar para Leiria e como seu pai era comerciante, como já foi referido, resolveram inscrevê-la no curso Geral do Comércio. Quando terminou, entrou para o Magistério Primário também em Leiria-1962, que terminou em 1964. Entretanto, a fim de poder contribuir para o orçamento familiar, foi dando explicações, como nessa época se dizia. Lembra-se de ter oferecido à sua mãe uns lindos sapatos comprados com o primeiro dinheiro que ganhou.
Relembrando a infância e as suas brincadeiras, lenço-queimado, rodinhas, cabra-cega entre outras, a que mais gostava era a de brincar às escolas e que lhe permitia ser professora.
Assim acabado o curso teve oportunidade de realizar, verdadeiramente, o seu sonho, ser professora.
Foi numa escola primária do concelho de Alcobaça, que durante alguns anos exerceu as suas funções. Apesar das dificuldades, dados os poucos recursos em materiais didáticos, inexistência de funcionários auxiliares, de limpeza da escola, entre outros, foram anos inesquecíveis. As suas alunas, cerca de 40, foram as primeiras flores do seu jardim, que foi crescendo em múltiplos matizes e doces aromas.
Por motivos pessoais, casamento, mudou para Lisboa em 1972, vivenciando então, as experiências de uma grande cidade: transportes apinhados, longas distâncias de casa à escola, filas de carros quase parados, gente correndo sempre apressada, sempre cansada. Por outro lado existia um sem número de opções apelativas e difíceis de selecionar, espetáculos, cinema, exposições de arte, conferências, museus.
Teve a grande oportunidade de se matricular no curso de História da  Faculdade de Letras de Lisboa, em 1975, que terminou em 1979. Mais um sonho que se tornou realidade.
Continuou a dar aulas, agora no ensino secundário lecionando a disciplina de História.
Na Escola Secundária da Damaia onde exerceu durante dez anos, fez uma profissionalização em exercício de dois anos. Lecionou em mais duas escolas e nos últimos onze anos de serviço, fixou-se em Massamá na Escola Secundária Stuart Carvalhais, de onde passou à aposentação.
Os seus alunos eram para si, em primeiro lugar pessoas a quem devia todo o respeito. Só respeitando seremos respeitados. Empenhou-se numa prática pedagógica apontada para o sucesso dos alunos, como a melhor forma de realização profissional, tendo sempre presente a falibilidade do seu ser, como pessoa, mas a certeza de que quando a nossa vida é pautada pelo amor ao próximo, as dificuldades transformam-se em vitórias.        
Em inícios da década de oitenta, fundou juntamente com outros professores a Associação Portuguesa de Professores Cristãos Evangélicos, sem qualquer fim lucrativo, tendo como objetivo a formação de professores numa vertente pedagógico/cristã, condição relevante na transmissão de valores e na formação dos jovens.
Abraçou o Cristianismo por convicção e fé depois de uma real experiência com Jesus.
É membro da Igreja Evangélica Batista de Alcobaça, onde colabora, integrando um grupo de crentes, na orientação de Estudos Bíblicos, “que lhe tem permitido fortalecer a sua caminhada com Deus”.
Em regime de voluntariado, durante 20 anos, exerceu cargos no corpo diretivo da Fundação Vida Nova, instituição fundada pela Igreja Batista de Alcobaça e vocacionada para o ensino de crianças, desde o Berçário até às Atividades de Tempos Livres.
Apoiou, também em regime  de voluntariado, uma instituição de  proteção a crianças, no concelho de Sintra e mais recentemente assistência a idosos, como voluntária do Coração Amarelo.      
Colabora desde 2012 com a Universidade Sénior de Alcobaça, onde leciona a disciplina de História.
Convívio familiar, convívio com os amigos, a ternura dos seus três gatos, a companhia de muitos livros, são condições imprescindíveis no dia-a-dia da sua vivência física.
Em todo o seu o percurso, que continua a gostar de recordar, passaram apenas alguns dias,meses,anos?
A palavra-chave da sua vida:
Amor.  
Granada, Eurico dos Santos, nasceu na Pederneira a 11 de janeiro de 1910, tendo ido, com poucos meses para Figueiró dos Vinhos, com os pais.
A convite de José Malhoa, seu pai foi trabalhar para a vila, como artífice do ferro. Aos 9 anos ficou órfão de pai, tendo por isso regressado à Nazaré, para casa dos uns tios paternos, com quem viveu uns anos.
Os tempos eram duros e por isso, depois de ter completado o ensino primário, veio com 14 anos trabalhar para Alcobaça, iniciando  carreira comercial como empregado na firma João Ferreira da Silva. Alguns anos mais tarde foi admitido, como sócio.
Em 1933 casou com Olívia Isidoro, com quem partilhou mais de 60 anos de vida.
Na década de 1960, abriu com outros comerciantes, o primeiro supermercado em Alcobaça.
Foi um homem estimado pelos que com ele privaram, quer pela sua dignidade, quer pelo seu temperamento alegre e comunicativo. Apelidado de comerciante honesto e embaixador da alegria, percorreu durante anos como viajante, os concelhos de Alcobaça, Nazaré e Porto de Mós, onde granjeou amigos.
Era um contador de histórias. Os que melhor o conheciam, sabiam que muitas vezes era ele o protagonista dessas peripécias. Ator de teatro (amador) e declamador, participou em eventos de solidariedade, alguns destinados a juntar receitas para ajudar pessoas doentes, impedidas de trabalhar e sem meios de subsistência. Era frequentemente acompanhado nestes gestos solidários, pela filha mais velha, Julieta Granada, que cantava o fado.
Outras vezes, visitava a cadeia, levando um pouco de alegria e conforto, aos que estavam privados da liberdade.
Registe-se aqui o escrito em O Alcoa, de Orlando Pedrosa: De Eurico Granada se pode dizer ser uma figura popular inconfundível, possuindo aquela graça natural, que só os eleitos possuem.
Suas filhas, definem-no como homem de convicções democráticas, de coração aberto aos outros, abraçou a Fé em Cristo no final da sua vida. Um pai amoroso e querido, que de todos foi amigo. Solícito a ajudar, desfeito a desculpar, a confiar desmedido. Recordamos a ternura do seu olhar, seu ar de dança ao andar. Sempre alegre e a brincar, disfarçava as agruras, decerto para não chorar. Com ele, a vida era mais doce. Ensinou-nos, com seu sorriso amável, o valor incalculável do amor e da amizade.
-Faleceu em 18 de outubro de 1997.

Sem comentários: