sexta-feira, 18 de janeiro de 2019



NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS

50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas


Machado, Ana Isa, de 14 anos, foi eleita no dia 27 de novembro de 1999, Rainha do Carnaval. de Turquel de 2000, num espetáculo marcado por uma interessante coreografia, onde não faltou luz e música a condizer.
Esta jovem que mereceu ainda o título de Miss Simpatia, foi secundada por Fátima Dias, como 1ª Dama de Honor e Ana Paula Gonçalves, a quem coube o título de 2ª Dama de Honor.
O evento que foi organizado pela Associação de Jovens de Turquel, contou com a participação de 17 candidatas ao título, ficando a decisão final a cargo de um júri composto, entre outros, por Teresa Salvador, Afonso Vicente, Vice-presidente do Hóquei clube de Turquel, Herminio Rodrigues, vereador da Câmara de Alcobaça, e de Mário Jordão, bailarino e manequim profissional.
A tarefa do Júri não foi fácil, dada a beleza, graciosidade e e jovialidade das candidatas, que desfilaram em três quadros diferentes.
O ponto alto do espetáculo, foi a peça coreografada por Isabel Cristina e levada a palco pelas 17 candidatas, que dançaram dois temas, mostrando os dotes físicos e artísticos.
Animou o evento, um grupo de alunos do Dino’s Health Club, de Turquel, que efetuou demonstrações de aeróbica, step e spent.
Machado, Francisco Ascenso, nasceu no dia 2 de janeiro de 1946, no lugar de Montes.
Sou natural de Montes, onde nasci em 1946, pouco depois do fim da 2ª Guerra, quando ainda se fazia sentir o racionamento de alguns produtos nomeadamente o açúcar. A angústia provocada por uma tal medida em fase tão precoce, dois a três anitos, ter-me há levado a criar pequeno aprovisionamento para possível consumo ulterior, rapidamente esquecido. Resolvi, durante breve ausência da minha mãe, pôr uma ou duas colheres do dito no fundo de um prato e escondê-lo num pequeno recanto fechado, onde se guardava provisoriamente a roupa suja. Antes mesmo de a roupa ir para lavar, a minha mãe só teve que seguir o carreirinho das formigas entretanto estabelecido até descobrir o saboroso troféu e pôr em causa uma tal postura preventiva. Os psicólogos lá saberão, mas não me surpreenderia que fracassos quejandos possam ter convergido no estabelecimento do meu perfil mais observador e menos interventivo.
A infância foi passada nos Montes, onde a esforçada D.ª Ester conseguiu viabilizar a minha instrução primária.
Nesses tempos, era o improviso que supria as carências mediáticas. Mas, mesmo somando as inesquecíveis festas da Ribeira no tempo das amêndoas, o Corpo de Deus em Cós por altura das cerejas, a Nossa Sr.ª da Luz, que apareceu em 1603 no sítio onde brota a Fonte Santa, celebrada na Castanheira no tempo das castanhas, S. Vicente e Stª Marta padroeiros dos Montes e uns poucos mais de santos votados na corda de aldeias em redor, sobrava muito calendário.
Salões festivos e abrilhantadores de bailes, para além dos Sequeiras, também escasseavam ao tempo.
Uma vez por outra, dava-se arrumo a uma adega, limpava-se a preceito lagar e chão térreo, um “petromax a carbureto” e mais alguns improvisos ad hoc e estava quebrada a rotina.
Dessa vez foi o Salazar a abrilhantar o baile. O Salazar tocava, é uma maneira de dizer, concertina. Os anos já pesavam o suficiente para lhe fazer pender a cabeça depois das onze. Ficou sentado numa cadeira, que o não segurava dos lados, dentro do lagar que fazia de palco. A concertina devia, por certo, ter sido herdada em novo dum qualquer antepassado com ouvido mais duro.
Ajudado por um copito entre duas modas, lá ia trazendo de volta o fole da concertina que a cabeça tinha acompanhado na descida, contornando a coxa. Havia algum alívio nestas recuperações. Adivinhar os ritmos desafiava os mais dotados melómanos. Era custoso.
Por vezes o petromax ia abaixo. Havia velas, recuperava-se o petromax.
A concertina sabia do dono como cão de cego. Foi a vez de colaborar e pfff..... Rompeu-se o fole, não botava som. O Salazar abriu as mãos em leque de ambos os lados da concertina e encolheu os ombros com ar resignado e ensonado.
O adesivo venceu sobre as demais soluções sonoplásticas rapidamente avançadas por largo espectro de técnicos voluntários e diligentes. Resultou mais alguns compassos e pfff....   e mais adesivo e mais umas notas e pfff...  até esgotar o adesivo e pfff.....
Nova consulta generalizada e a criatividade esgotou-se num sugerido emprego de pingos de estearina de vela logo recusados pelo Salazar, concertina às costas, que a soneca não podia esperar mais.
 “O Salazar é que estava podre de sono! “ quando não a concertina saía dali como nova, cosida ou colada, ou fosse lá como fosse. Os pingos de vela talvez durassem menos que sebo em nariz de cão, mas muito mais difícil era transformar o palheiro do Veneno em sala de cinema gabinete de projeção e tudo, e não falhava.
O monte dos fardos do palheiro podia distribuir espectadores, sentados, até ao telhado. O écran era um lençol na outra parede, de viés. A parede em frente não servia, era de tábuas com “frinchas” por onde entrava a luz que perturbava a acção. Tipo código de barras.
A máquina de projeção era de desenvolvimento vertical e havia lá fora um antigo motor de camião que alimentava um gerador para pôr aquilo a funcionar.
Ao lado da máquina de projeção havia um microfone com função decorativa. Uma senhora de meia-idade, anafada, queixo apontado ao microfone, substituía de viva voz a banda sonora. Antecipava o desenrolar da acção, tomava partido, profetizava a punição dos maus, incentivava a vingança dos bons, acalmava a ansiedade dos espectadores, - era assim um António Lopes Ribeiro muito mais prolixo, sem António Melo para cumprimentar os senhores espectadores e acompanhar ao piano.
O “Zé do Telhado” reunia as preferências. As duas quadrilhas montadas, a do João Pequeno, maus até à indignação, e a do Zé do Telhado, eram irreconciliáveis até aos cavalos. Por tudo e por nada era tiroteio bravio. Cada disparo era nitidamente referenciado por gigantesca nuvem de fumo de fazer tossir.
A máquina de projeção engasgava indistintamente a meio da cavalgada, do tiroteio, da elaboração dos planos. Os bonecos esperavam um pouco, um senhor alto e forte desligava a máquina, pedia luz, velas, pilha, petromax, puxava as pontas da fita, cortava bocadinhos de filme que os miúdos avidamente arrecadavam para mirar de contra luz no dia seguinte, a locutora aproveitava para explicar cenas seguintes ou detalhar episódios passados, tudo explicadinho, a assistência não desarmava. Era fifty / fifty, tempo útil / empanque.
Retomada a projeção, andava um bocadinho para trás, as perninhas dos cavalos a trote pareciam um cruzar rápido de palitos trrrr  .....  e era reposta a acção.
As cavalgadas tinham o seu quê de estranho. O galope era por vezes lento e com tremeliques para de imediato adquirir o ritmo de coelho na carreira.
A cena capital já está próxima. A câmara faz um grande plano dum capanga do João Pequeno; mau aspeto, barba por fazer, pontaria cínica, prolongada. O Zé do Telhado está em pose distraída, heroico, olhos postos no firmamento. A locutora explicou em que é que estava a pensar. Vê-se a fumarada do disparo certeiro. Tudo parece estar perdido mas, abnegação extrema, um dedicado companheiro do Zé apercebe-se da trajetória certeira da bala, lança-se em voo e, com sacrifício da própria vida, salva a vida do Zé do Telhado. Intersectou a trajetória da bala com o próprio corpo! A locutora anuncia a vingança do Zé logo após a exéquias e mais duas ou três reposições da fita ....  FIM.
Depois fui estudante. Primeiro em Leiria onde fiz o liceu e depois na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa onde fui a geólogo.
Machado, José Luís, com o pseudónimo de Zito, nasceu na Benedita em 15 de abril de 1933.
Personalidade muito ativa e eclética, carpinteiro e industrial de profissão, exerceu ainda ocupações e cargos como correspondente dos jornais Distrito de Leiria, Gazeta da Nazaré, O Alcoa, A Voz de Alcobaça, O Século, Diário de Noticias, Diário Ilustrado, Correio da Manhã, Notícias das Caldas, Região de Leiria, Jornal Poetas e Trovadores, Diário do Ribatejo, Região de Rio Maior, Chefe da redação do Jornal de Alcobaça, Secretário da Junta Cadastral da Benedita, funcionário da Junta de Freguesia da Benedita, Presidente da Direção da ABCD, Secretário do Ginásio Clube de Alcobaça e correspondente bancário.
Pertenceu a Comissão de Rapazes para a Construção da Nova Igreja Paroquial da Benedita, à Comissão do Salão Paroquial, foi Secretário do Conselho Paroquial, Animador de Teatro e Cinema, Criador do projeto para o Brasão da Vila de Benedita, sócio fundador do Externato da Benedita, sócio nº. 1 da Associação Portuguesa de Ilusionismo de Lisboa, sócio do Clube Ilusionista Fenianos do Porto, sócio protetor do Clube Artes Mágicas/Barcelona, sócio do Grupo Cultural e Filantrópico os José, repórter de corridas de bicicleta, sócio fundador e nº1 da ABCD, sócio nº. 1 Fundador da ADESO, sócio fundador da Rádio Voz da Benedita, fundador da Associação de Damas de Leiria (sediada então na Benedita) e Seccionista de damas da ABCD.
Foi autor da monografia regional Tempo Imemorial, do livro de poemas Voz do tempo e do opúsculo Tempo de Ser Vila. Compilou Tempo de Sempre e Tempo de Progresso, versando, além de outros, temas de cariz religioso.
-José Luís Machado, contou que em 1983, aconteceu um caso invulgar, senão único no País, um avião de treino, por avaria no motor, depois de sobrevoar a zona, viu-se forçado a aterrar na EN 1, próximo de Cadeeiros/Benedita. E foi vê-lo ao local.
Mas eis como o Diário de Notícias, relatou o acontecimento:
Um piloto da Força Aérea Portuguesa, fez o milagre de descer com o seu avião na principal estrada do território do continente, num local onde os desastres de viação são constantes e mortais, sem sofrer uma beliscadura, mantendo o aparelho incólume e sem esbarrar em nenhuma das viaturas que percorriam naquele momento a via rápida. Um avião de treino da FAP – um shipmunk da Base da Ota - perdera o motor, o que na gíria da Força Aérea significa que o motor deixou de funcionar, ao sobrevoar a zona da Venda das Raparigas, da EN nº1, nas imediações de Rio Maior. A manhã chegava ao fim. O trânsito era nessa altura menos intenso do que o normal. O piloto não hesitou entre aterrar num campo lavrado, em que o aparelho muito sofreria, e a pista que a estrada Lisboa-Porto lhe oferecia: escolheu esta. Aproveitou uma clareira no trânsito e oi poisar, suavemente, num local a cerca de três quilómetros do entroncamento para Alcobaça.
Testemunhas oculares disseram que o piloto mostrou grande coragem e sangue-frio ao aterrar na estrada e desviar o avião para a erma, como se estivesse a arrumar um automóvel na Avenida da Liberdade.
Alguns condutores que no momento se aproximavam do local, surpreendidos por um objeto desconhecido que rolava na estrada e faiscava reflexos do sol do meio-dia, pisaram o acelerador e afastaram-se. E quando o avião se imobilizou e o piloto saiu lesto da carlinga para se pôr de pé sobre uma das asas, tentando identificar a paisagem que o cercava, poucos se afoitaram a acercar-se dele.
Centenas de pessoas, entre as quais José Luís Machado, acorreram ao local, além das muitas outras que durante a tarde ali circularam em automóveis, cada um comentando o caso a seu modo.
O avião seguiu depois num camião próprio da Base de Ota, após desmontadas as asas. -Machado, pôs termo à vida, em 1 de março de 1994.
Machado, José Pereira, em 1946, quando se começou a construir a fábrica da Cibra/Cimentos Brancos, em Pataias, foi para lá trabalhar, como jornaleiro rural a ganhar 28$00 por dia (não 20$00 por dia, que era a jorna corrente na agricultura), tendo como instrumento de trabalho a pá, picareta e carro de mão, que tão bem conhecia da terra.
O trabalho começou nas obras de terraplanagem, que prolongaram por um longo ano. Terminadas estas, e pelo mesmo ordenado, foi transferido para o armazém, o que para ele foi como uma promoção, o reconhecimento do mérito, pois como dizia deixou de ficar à chuva ou ao vento, e criou-lhe condições para pensar em casar-se. No serviço do armazém, ficou até se reformar, atingindo as funções de Encarregado Geral.
José Machado, louvava-se nunca ter tido qualquer sanção, repreensão ou cometido qualquer erro digno de nota, não obstante fazer a contabilidade e o registo das entradas e saídas do armazém, que aliás tinha muito movimento, de uma forma exclusivamente manual. Os computadores só chegaram à Cibra depois de se ter reformado.
-Faleceu em 2014 em Coz, onde residia e detinha a chave do Mosteiro, de que era  o guardião (voluntário, disponível e gracioso).
Machado, Turíbio da Encarnação, nasceu a 20 de novembro de 1947, em Pataias.
Figura respeitada pela população local, começou a trabalhar aos 10 anos e assegura que teve muitas profissões ao longo da vida. Foi barbeiro, escriturário, guarda-livros e Técnico Oficial de Contas, que exerceu até 2009. Sempre ligado à sua terra, fez parte da Direcção de várias associações culturais, entre as quais a Casa da Cultura e o Jornal de Pataias. Técnico de Contas, foi Presidente da Junta de Freguesia de Pataias de 22 de janeiro de 1983 a 3 de janeiro de 1986, eleito como independente em lista do PS, tendo como Secretário José Rui André Custódio, empresário, natural de Burinhosa e Fernando Custódio Vitorino, empresário, natural de Martingança Gare (que veio a ser o primeiro presidente da Junta de Freguesia de Martingança, após a desanexação da Freguesia de Pataias).
O pai de Turíbio, foi funcionário da Junta de Freguesia, o que de certo modo terá iniciado o gosto do filho pela questão autárquica. Turíbio Machado foi Presidente da Casa da Cultura de Pataias.
Segundo se diz, este militante do PS, por ter aceite a desanexação da Moita e Martingança da Freguesia de Pataias, o partido não o reconduziu nas eleições seguintes para a Junta de Freguesia.
Enquanto Presidente da Junta assumiu, normalmente, uma postura muito reivindicativa, alegadamente na defesa dos interesses de Pataias, o que acarretou alguns conflitos, nomeadamente com o Presidente da Câmara, J. Rui Coelho. Servimos para dar receitas à Câmara mas pouco recebemos.
É pois muito crítico em relação ao  papel da Câmara de Alcobaça no desenvolvimento daquela que é a sua freguesia. Foi a única experiência autárquica e política, finda a qual se afastou, manifestando-se desiludido com a forma como funcionam a política e as máquinas partidárias.
Cansei-me de andar a lutar contra moinhos de vento, justificou.
-Abriu em novembro de 1985, a Escola Preparatório/Secundária de Pataias, com algum atraso é verdade, pois o edifício já tinha ficado pronto a ser utilizado em novembro de 1984, mas por falta de mobiliário não pode funcionar nesse ano escolar, como a Junta reclamava.
-Turíbio Machado escreveu entre 1998 e 2000 o livro Deserdados, que publicou em edição de autor.
Ao trazer à estampa este livro, faço-o sem ter a pretensão de me arvorar em escritor, muito menos em qualquer intelectual ou erudito da Língua Portuguesa, da qual, por dificuldades de percurso não tive a adequada formação académica. Faço-o dentro das minhas limitações e tão só, porque achei do maior interesse transmitir para a posteridade boa parte da cultura e sentimentos de um povo que, muitas vezes sem saber ler nem escrever - e dentro dos condicionalismos e escassez de recursos que marcaram significativamente o período que mediou entre o início da primeira grande guerra, o final da segunda e se prolongou depois pelas guerras de África – tentava, e de alguma forma conseguia minimizar o sofrimento que a conjuntura económico-política da altura impunham. Esse povo, que procurava viver à margem da política então vigente, acabou por ver-se de certo modo manietado por ela, sofrendo na carne os problemas das guerras de África que lhe despedaçaram o coração e algumas vezes os próprios filhos. Foram essa cultura, essa humildade, em suma, essa forma de estar do povo da minha terra, que me motivaram a realizar este trabalho que retrata a região de Pataias naquele período marcante, nomeadamente nos anos sessenta do século XX.

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