terça-feira, 12 de dezembro de 2023

CAPELINHA EM ALPEDRIZ DESTRUÍDA. INVASÕES FRANCESAS

 Foi nesse domingo que, energúmenos de Alpedriz, estupidamente e sem sentido destruírem à picareta, a capelinha que, no tempo das invasões francesas, fora utilizada como estrebaria e alojamento de soldados invasores e era uma memória. Durante as Invasões Napoleónicas a vila foi ocupada pelas tropas de Junot [1] tendo a população local se refugiado nos pinhais e bosques circundantes. Na mesma capela e suas dependências, esteve aquartelada uma guarnição militar francesa que foi derrotada nas Linhas de Torres Vedras pelas tropas do Exército Anglo-Luso. Apesar de os efeitos se terem sentido de Norte a Sul do País, o sofrimento das populações nem sempre foi o mesmo. A região mais afetada terá sido Estremadura, entre o Mondego e as Linhas de Torres e entre o Tejo e o Mar. Durante um ano, a lei foi feita por tropas à solta, desertores, salteadores calcorreando aldeias, torturando e roubando quem se atravessasse no caminho. Nesta terra de ninguém, nada escapou, culturas, gado, sepulturas, edifícios saqueados ou incendiados. As invasões, deixaram marcas na sociedade portuguesa, que ainda perduram. À fome e aos assassínios, e acompanhando as vagas de desalojados e de órfãos, sucederam-se as epidemias. Regressados a casa, as populações encontraram a destruição e os campos estéreis. A escassez de géneros tornou-se aflitiva e os preços dispararam. Só muito lentamente a situação se normalizou. Nunca a população civil portuguesa vivera um período tão trágico. Nunca mais, felizmente, o voltou a viver. Por isso, as invasões francesas, persistem na memória popular. A guerra, foi sempre muitíssimo danosa para o património, pelo roubo e vandalismo que a acompanham. Os atentados levados a cabo pelos franceses constituem algo que registam as famílias ou escritos de contemporâneos que os viveram e sofreram, com destaque para os realizados em instalações religiosas e que merecem, talvez, mais detalhe que as violações e outros atentados aos direitos humanos. O património sofreu tanto ou mais pelo vandalismo ou ofensa que propriamente pelo roubo, pois a maioria dos franceses optava pela apropriação de dinheiro, ouro e prata, cálices, imagens anéis e joias, objetos de pequenas dimensões, que depois rentabilizavam. Com o terramoto de 1775, os franceses foram grandes responsáveis pela ausência em monumentos, museus, arquivos e bibliotecas, de inúmeros valores, que neles se deveriam encontrar. Se Leiria, em 5jun1808, havia penado com o Massacre da Portela, a III Invasão foi muito gravosa e as consequências mais diretas, em termos sociais, económicos e políticos acabaram por potenciar a Revolução de 1820. Em princípios de março de 1811, as tropas francesas espalhadas pela região centro, levaram a cabo ações violentas e represálias, que culminavam com o incêndio de cidades e aldeias, como aconteceu em Porto de Mós, Alcobaça, Nazaré, Batalha, Leiria e Pombal. Não conhecemos memórias de combatentes portugueses exclusivamente dedicadas a este período. São abundantes, porém, os relatos feitos pelos britânicos. Poder-se-á dizer que o português viveu a guerra, pelo que não precisava que lha contassem ou recordassem. Mas nada disto justifica a estupidez supra relatada.

 

 


[1] A “1ª Invasão Francesa” ocorreu entre 1807 e 1808, executada numa acção conjunta de França e Espanha, tendo a comandar o Gen. Junot que prometeu vir libertar Portugal da tutela britânica e iniciou a invasão ocupando Lisboa no dia 30 de Novembro e tomando a presidência do Conselho do Governo. 

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