Nuno
Alves Caetano[1], com 17 anos, encontrava-se a
frequentar o então 6º ano do Liceu. Diz que, como a grande maioria da minha geração, vivia alheado da política, apesar de constantemente me lembrarem ser
sobrinho do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano. Por esse motivo, e
apesar de perceber a preocupação manifestada pelo seu Pai, o ponto alto desse dia 25 de abril de 1974, foi o não ter de ir às
aulas. Foi de pouca duração essa euforia pois, passados poucos dias, começava a
aperceber-me da realidade que me viria tocar pessoalmente cinco meses depois.
Efectivamente, e apenas por cometer o crime
de ser sobrinho de Marcelo Caetano, foi
preso sem mandado de captura na madrugada de 28 de Setembro, levado para o
RALIS, simulado o fuzilamento, e posteriormente para Caxias, onde permaneceu 56
dias até ser libertado sem justificação. Na prisão, estive duas vezes do isolamento
(antes de ser interrogado) e à parte umas ameaças durante os interrogatórios,
fui bem tratado. Contudo, no momento da minha detenção, simularam o meu
fuzilamento (e dos meus companheiros) no isolamento. Hoje sei que houve vários tipos de
sevícias, tanto físicas como morais, sobretudo morais, mas não posso afirmar
que fossem comuns. Agora que aconteceram, aconteceram. Sobre
este episódio escreveu Prisioneiros de
Caxias – 28 de Setembro de 1974, onde além do relato referente à sua
passagem por Caxias, registou o testemunho de outros detidos e respetivos
familiares. Aquando da detenção a coberto da legitimidade revolucionária telefonaram
para o COPCON[2] a dizer que estava ali um sobrinho do Marcelo e a pronta resposta foi tragam-no. Depois o MDP/CDE emitiu um
comunicado a dizer que tinham sido presos 12
notórios fascistas que tinham desempenhado altos cargos no antigo regime e um
desses 12, era eu! Após isso,
“democraticamente” foi-me vedado, pelos comités revolucionários, o acesso ao
ensino superior por ser “fascista”.
Nuno Caetano não comemora o 25 de abril pois, Foi um golpe de Estado com o único
objetivo de entregar o Ultramar. Depois transformou-se em “muitos 25 de Abril”
que levaram o País à desgraça. Temos uma crise moral que enquanto durar
impedirá o País de sair de qualquer crise
económica.
[1] Nuno
Alves Caetano, nasceu em Lisboa em dezembro de 1956. Formado em Gestão, é
empresário, tendo exercido cargos de Direção e Administração em empresas
nacionais e internacionais. É autor de vários livros, bem como de artigos de
opinião em jornais como “O Dia”, “Independente”, “Expresso”, “Diário de Notícias”, “O Diabo” e “Dário de Notícias da Madeira.”
-Escreveu
em 2018 o livro “Refugiados de Moçambique”, para o qual o ora aqui autor
prestou gostosamente colaboração.
-“O
Alcoa” 30nov2023,onde este apontamento foi publicado.
Sem comentários:
Enviar um comentário