sexta-feira, 4 de janeiro de 2019


CAPÍTULO IV

NADOU SEIS QUILÓMETROS NOS AÇORES ATÉ CHEGAR A TERRA.




Os destroços do submarino alemão UB-581, foram encontrados a cerca de 900 metros de profundidade no Mar dos Açores por uma equipa de investigadores da Fundação Rebikoff-Niggeler.
  No dia 2 de fevereiro de 1942, ocorreu um combate entre submarinos alemães e navios da marinha de guerra britânica, ao largo da Ilha do Pico. Um submersível acabou por se afundar, tendo sido encontrado 75 anos depois, a mais de 800 metros de profundidade. Trata-se do maior achado arqueológico português a tal profundidade. A investigação já contava com 15 anos de trabalho e só em 2016, com a ajuda de um avançado submersível científico, foi possível aos investigadores Joachim e Kristen Jackobens, da Fundação Rebikoff Niggeler, confirmar a localização dos destroços do U-581.
  Kirsten e Joachim Jakobsen, investigadores da Fundação Rebikoff-Niggeler, conseguiram verificar a posição dos destroços do submarino através do sonar LULA 1000 (veja-se foto adiante) um submersível tripulado capaz de mergulhar até 1000 metros de profundidade, usado para investigação a grandes profundidades. A descoberta foi feita no dia 13 de setembro de 2016. O naufrágio do submarino encontra-se a sul da Ponta de São Mateus na ilha do Pico/Açores, afirmou Kirsten Jakobsen, que conjuntamente com o marido Joachim Jakobsen, encontrou os destroços do submarino. 
  Kristen Jakobsen, que vive há anos no Faial, adiantou que o UB-581 foi afundado a 2 de fevereiro de 1942 pela própria tripulação junto à Ilha do Pico, após ter sido perseguido e atacado pelo navio inglês HMS Westcott.
  O naufrágio transformou-se num autêntico recife de coral de águas frias. Está a 870 metros de profundidade e é uma oportunidade para estudo científico grande, porque foi colonizada por corais, sobretudo esponjas, referiu Kristen Jakobsen, sublinhando que estamos perante ecossistemas vulneráveis dos quais se sabe ainda muito pouco sobre as taxas de crescimento.
  Numa primeira fase, decorrida entre março e setembro de 2016, a equipa da Fundação Rebikoff-Niggeler localizou o sítio dos destroços do U-581, primeiro estudando os relatórios sobre o afundamento e, a seguir, usando equipamentos de alta tecnologia, incluindo métodos de deteção remota com sonar multifeixe e sonar de varrimento lateral.
  Em comunicado, a Fundação Rebikoff-Niggeler explicou que Kirsten e Joachim Jakobsen verificaram a posição dos destroços do submarino utilizando o submersível tripulado LULA1000 e que a prospeção decorreu com a devida autorização da Direção Regional da Cultura do Governo Regional dos Açores.
  Usámos tecnologias acústicas remotas para a busca e, devido à grande vigia panorâmica do nosso submersível, conseguimos encontrar visualmente o naufrágio, precisou Joachim Jakobsen.
  Para Kristen Jakobsen, que desenvolve com o marido tecnologia para investigação subaquática do meio marinho profundo, o facto de os destroços estarem no fundo do mar é por si só uma razão de proteção e salvaguarda deste património, que vai agora ser estudado no seu âmbito histórico, social e também do ponto de vista da biologia marinha.
  A Fundação Rebikoff-Niggeler é uma instituição de utilidade pública com sede na ilha do Faial. Opera o único submersível tripulado de investigação existente em Portugal, o LULA1000, com capacidade para mergulhar até 1000 metros de profundidade, com uma tripulação de três pessoas.
  Além dos projetos de investigação científica e mapeamento de habitats do mar profundo, o LULA1000 tem sido utilizado para realizar filmagens para documentários, em canais como a BBC, a National Geographic e outros.
 
  O UB-581 muito semelhante ao UB-693[1], foi um dos três submarinos destacados para afundar o britânico Llangibby Castle, danificado pelo torpedo de um submarino alemão. Mas a presença de três navios da Royal Navy tornou-o num alvo e seria afinal o destroier britânico HMS Westcott a fazer o ataque que o destruiu.
  Durante uma ação de espionagem noturna no porto da Horta, o submarino foi descoberto e perseguido pelo HMS Westcott que lançou várias cargas de profundidade, de modo a provocaram ondas de choque que fraturaram o casco, fazendo com que a água entrasse para o seu interior.
  O submarino foi abrigado a emergir, acabando por ser abandonado pela tripulação e auto afundado. O submarino foi assim ao fundo na madrugada de 2 de fevereiro de 1942. Quatro homens morreram e 41 sobreviveram.
  No momento da captura, o Tenente Werner Pfeifer, então com 29 anos (veja-se foto adiante), comandante do U- 581, protestou contra o que considerava um naufrágio ilegal, uma vez que o submarino tinha sido atacado e afundado, em águas neutras. O comandante dos destroieres britânicos analisou a queixa e concluiu que o U-581 havia sido afundado fora da zona de três milhas e rejeitou o pedido de Pfeifer para entregar os alemães às autoridades portuguesas.
  Um dos oficiais do U-581, Walter Sitek, nadou seis quilómetros para chegar a terra. Foi repatriado para a Alemanha através da Espanha (neutra) e sobreviveu à guerra[2].
  Em 2012, Wolfgang Pohl, o último sobrevivente da tripulação do U-581 que se afundara em fevereiro de 1942, de visita aos Açores, onde vinha com frequência para homenagear os camaradas, falou dos dias fatídicos da guerra. A entrevista foi emitida na Rádio Montanha, no dia 28 de setembro de 2012 e constitui, provavelmente, o derradeiro testemunho do último homem que navegara no submarino alemão. Pohl faleceu em 2016.
  O Governo dos Açores anunciou em setembro de 2017 que pretende classificar como património arqueológico subaquático, a zona onde este submarino se afundou, em 1942.
  A Direção Regional da Cultura e a Direção Regional dos Assuntos do Mar vão avançar com esta classificação, pelo seu valor histórico e cultural e também pelo seu valor científico, pois que os organismos que se fixaram no costado do submarino, devem ser estudados. 
 
  O UB-707 (tipo VIIC) foi provavelmente a primeira vítima dos aviões britânicos que operavam a partir das Base das Lajes, depois dos britânicos terem obtido autorização para montarem uma estrutura militar nos Açores.  O UB-707, comandado pelo Oberleutnant zur See Gunter Gretschel (nasc. a 26 de outubro de 1914 em Scheibe, Glatz, Silesia) e com 51 homens a bordo que faleceram, operou nas águas do Atlântico durante a II Guerra, onde afundou dois navios, antes de ser atacado a 9 de novembro de 1943, na posição 40.31 N e 20.17 W. Os destroços não foram localizados, muito menos explorados, pois são considerados como cemitério militar.
 
  Até meados de 1941, os Açores estavam praticamente indefesos. No início de 1941, Portugal não tinha condições para se defender de um eventual ataque alemão ao seu território.
  Na eventualidade de isso acontecer, Salazar virou-se para a velha aliada. Portugal propôs à Inglaterra que fossem iniciadas conversações com vista a aperfeiçoar o seu plano de defesa. Se Portugal possuísse militares treinados, armamento e uma moderna aviação e se a Inglaterra se comprometesse a defender o território em caso de invasão, talvez isso fosse o suficiente para dissuadir Hitler de um ataque. Só em meados de abril, Portugal informou a Inglaterra que os planos elaborados entre os dois países para uma eventual defesa de Portugal continental não eram viáveis.
  A Inglaterra propôs a retirada do governo Português para os Açores, onde se estabeleceria a capital, sob escolta da Marinha Britânica, mal os Alemães passassem os Pirenéus. Isto implicaria preparar as infraestruturas necessárias para assegurar a defesa das ilhas e a Inglaterra comprometia-se a enviar armamento para a defesa antiaérea e no auxílio na construção e ampliação de pistas de aviação no arquipélago
  O que a Inglaterra não disse, é que tinha o intuito de utilizar essas infraestruturas, no caso de perder Gibraltar.
  Salazar discordou. A retirada do governo para os Açores só se justificaria após um ataque alemão a Portugal, pois a entrada dos alemães em Espanha ou mesmo a tomada de Gibraltar não implicaria a perda de neutralidade portuguesa.
  Os ingleses não pretendiam intervir na Península, embora soubessem que Portugal possuía um exército com apenas uma divisão operacional, mal treinada e mal armada, sem hipótese de oferecer resistência.
  Fizeram vagas promessas de envio de armamento e insistiram ser essencial defender os Açores. 
  Pediram o envio de técnicos (à paisana) para estudar as instalações das ilhas (Açores, Madeira e Cabo Verde). Salazar recusou alegando que a sua presença seria detetada e poderia ser considerada uma provocação.
  Salazar não acreditava na vitória dos Ingleses na guerra pelo que tentou jogar com a neutralidade.
  Os Açores não dispunham de cobertura aérea, embora uma pequena força de aviões de reconhecimento com base no arquipélago, fosse o bastante para aumentar a eficácia do dispositivo de defesa. Efetivamente, os únicos hidroaviões que existem no nosso país não podiam permanecer nas ilhas por não haverem instalações adequadas.
  Impaciente com as recusas e delongas de Salazar, a Inglaterra elaborou planos de ocupação dos Açores e a 23 de abril de 1941, Churchill mandou preparar dois batalhões para ocupar o arquipélago bem como Cabo Verde e convidou Roosevelt a enviar uma esquadra aos Açores para ajudar no seu patrulhamento. Roosevelt recusou dizendo que não ser possível o envio da esquadra, mas os EUA apoiavam a ocupação militar dos arquipélagos, embora fosse necessário fornecer garantias de retirada no final do conflito, pois os Açores fazem parte do hemisfério ocidental e a opinião pública americana é muito sensível aos acontecimentos nessa zona.
  A partir de abril de 1941, o Exército Português reforçou o seu contingente nas ilhas. Em maio de 1941, foram enviadas para os Açores unidades antiaéreas no navio Lima e tropas de engenharia no navio Carvalho Araújo.
  O Maj. Humberto Delgado foi encarregado de acompanhar os trabalhos da implementação da pista nas Lajes. Abriu-se uma pista de terra batida e ergueram-se armazéns. No início de maio de 1941, após as vitórias alemãs na Grécia e na Cirenaica, e admitindo-se a queda da França e a perda do norte de África, Roosevelt ordenou que três navios de guerra e alguns aviões deixassem Pearl Harbour e se juntassem à esquadra americana no Atlântico e englobou as ilhas espanholas (Canárias) e portuguesas (Açores e Madeira) na Doutrina Monroe (que protege os interesses americanos permitindo-lhes uma intervenção na Europa).
  A 22 de maio, Roosevelt ordenou que se prepare a Marinha para ocupar os Açores, com um pré-aviso de 30 dias.
  Sem consultar Churchill acerca do arquipélago português, a 27 de maio de 1941, o Presidente Americano fez o discurso onde afirmou que a guerra se aproxima do hemisfério ocidental e que os EUA têm de controlar o Atlântico.
  O principal receio dos EUA consistia no caso das possessões portuguesas caírem em poder dos alemães. Com a posse dos Açores e de Cabo Verde, os alemães controlariam as principais rotas comercias do Sul do Atlântico e, no caso de aí estabeleceram bases militares, constituiriam uma ameaça ao hemisfério ocidental. Assim, os EUA não podiam deixar de considerar qualquer ação alemã nas ilhas portuguesas como o início das hostilidades contra o seu próprio território. O Presidente disse ainda que as tropas americanas estavam a ser colocadas em posições estratégicas e que não hesitaria em recorrer à força, se os seus interesses e defesa estivessem a ser colocados em risco. Nunca se referiu, porém, à soberania portuguesa sobre as Ilhas.
  Em inícios de junho, Churchill, transmitiu a Roosevelt que com o decorrer favorável das conversações entre Portugal e a Grã-Bretanha onde ficou definido que a defesa dos Açores será reforçada, possivelmente seria possível chegar a um acordo diplomático a curto prazo para a ocupação do arquipélago. Porém, independentemente da decisão de Salazar, temos de obter o controle das ilhas, no que a cooperação dos EUA será inestimável.
  A 8 de julho, Salazar recebeu uma carta do Presidente Roosevelt a garantir a integridade das ilhas. Mas Salazar não se mostrou convencido, e a sua já desconfiança em relação aos Americanos aumentou a partir daqui.
 Foi então que Salazar pediu a Carmona para se deslocar aos Açores de modo a ali afirmar a soberania portuguesa. Carmona durante a visita proferiu a enfática frase Aqui é Portugal, claramente indicativa da linha política nacional.
 No fim do ano de 1941, Churchill defendia junto dos americanos que não deviam ser tomadas quaisquer iniciativas em relação às ilhas atlânticas a não ser que a Península Ibérica fosse invadida e a Espanha permitisse a ocupação germânica.
  Os britânicos asseguravam ao Presidente Roosevelt que a amizade luso-britânica era firme e que as defesas das ilhas tinham sido aumentadas ao máximo, sendo que apenas uma questão de até que Portugal se juntasse aos aliados.
  Com base nestas garantias, o plano norte-americano para a ocupação dos Açores foi temporariamente posto de lado.
  Poucos dias antes da entrada em vigor do acordo, oficialmente anunciado em Londres e Lisboa a 12 de outubro, os cidadãos dos países do Eixo foram retirados dos Açores.
  A Grã-Bretanha e os EUA chamavam à zona dos Açores Azores Gap, Black Hole ou Black Pit, por ser uma zona onde os U-boats atacavam sistematicamente os comboios de navios aliados vindos dos Estados Unidos para a Europa e Norte de África.
  Só nos primeiros cinco meses de 1943, os Aliados perderam 365 navios.
  Os Açores encontravam-se numa localização estratégica da máxima importância para ambas as fações em conflito[3].




















[1] O submarino foi lançado em 25 de setembro de 1940 nos estaleiros Blohm & Voss, Hamburgo, inicialmente com o número de jardim 557, e comissionado em 31 de julho de 1941 pelo Kapitänleutnant Werner Pfeifer.
  U 581, sob o comando de Werner Pfeifer, partiu de Kiel em 13.12.1941. O barco operou, durante a transferência para a França, no Atlântico Norte. Não poderia afundar ou danificar navios nesse empreendimento. Após 11 dias e 2.186 nm, o U 581 chegou a St. Nazaire em 24.12.1941.
  O U-Boat fazia parte de uma pequena flotilha que esperava a saída do porto da Horta de um navio transportando soldados, o Llangibby Castle, danificado seriamente pelo torpedo de um submarino alemão. Aquele navio tinha sido atingido na popa a 16 de janeiro de 1942 e, sem leme, refugiara-se nos Açores, aí fez reparações e esperou por escoltas que o acompanhassem até Gibraltar.
Dados recolhidos da List of all U-boat Commanders e da Lista de submarinos de maior sucesso da Kriegsmarine na Segunda Guerra Mundial.
[2] O HMS Westcott (D47) era um destroier da classe W do Almirantado da Marinha Real Britânica que serviu na II Guerra, desempenhou um papel antissubmarino e escoltou numerosos comboios do Atlântico e de Malta.
  Werner Pfeifer, comandante do submarino entre 31 de julho de 1941 e 2 de fevereiro de 1942, nasceu em 2 de maio de 1912 em Dresden e faleceu em 31 de maio de 1993 em Butenbock-Harz.  Seu pai era um professor em Hanover. Frequentou o Herschelschule (importante estabelecimento escolar) em Hanover e completou lá em março de 1931 o Abitur (o correspondente ao nosso ensino secundário). Em outubro de 1932 visitou o HNS em Neustadt. Até março de 1933, visitou o Städtische Höhere Handelsanstallt em Hanover, antes de entrar na Reichsmarine em abril de 1934, onde fez uma progressão normal.
O Kptlt. Werner Pfeifer foi feito prisioneiro de guerra em 2 de fevereiro de 1942 pelos britânicos, sendo libertado em 17 de julho de 1947.
  Dados recolhidos da List of all U-boat Commanders e Lista de submarinos de maior sucesso da Kriegsmarine na Segunda Guerra Mundial.
[3] O HMS Westcott (D47) era um destroier da classe W do Almirantado da Marinha Real Britânica que serviu na II Guerra, desempenhou um papel antissubmarino e escoltou numerosos comboios do Atlântico e de Malta.
  Werner Pfeifer, comandante do submarino entre 31 de julho de 1941 e 2 de fevereiro de 1942, nasceu em 2 de maio de 1912 em Dresden e faleceu em 31 de maio de 1993 em Butenbock-Harz.  Seu pai era um professor em Hanover. Frequentou o Herschelschule (importante estabelecimento escolar) em Hanover e completou lá em março de 1931 o Abitur (o correspondente ao nosso ensino secundário). Em outubro de 1932 visitou o HNS em Neustadt. Até março de 1933, visitou o Städtische Höhere Handelsanstallt em Hanover, antes de entrar na Reichsmarine em abril de 1934, onde fez uma progressão normal.
O Kptlt. Werner Pfeifer foi feito prisioneiro de guerra em 2 de fevereiro de 1942 pelos britânicos, sendo libertado em 17 de julho de 1947.
  Dados recolhidos da List of all U-boat Commanders e Lista de submarinos de maior sucesso da Kriegsmarine na Segunda Guerra Mundial.

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