quinta-feira, 17 de janeiro de 2019





NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS


30 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas



Cocheril, Dom Maur, nascido em 1914 em Vitré/ França, foi monge cisterciense que dedicou parte importante da sua vida ao estudo da história das Abadias da Ordem de Cister, no que era especialista, com destaque para a de Alcobaça.
Doutorado em Heráldica da Ordem de Cister e Paleografia Musical, particularmente sobre manuscritos cistercienses de canto do século X, aliás dos mais antigos que se conhecem, foi investigador do Centre National de la Recherche Scientifique/Paris, académico correspondente da Academia Portuguesa de História e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Destemido, participou em ações da Resistência Francesa durante a II Guerra.
Proferiu muitas conferências sobre a temática cisterciense em Espanha, França e Bélgica. Em Portugal foi conferencista e por diversas ocasiões, em cidades como Alcobaça, Guimarães e Lisboa.
O Estado Português, agraciou-o com o grau de Oficial da Ordem de Cristo, em 1960, como reconhecimento pelos estudos realizados sobre as antigas Ordens Militares de raiz cisterciense.
Foi o primeiro monge cisterciense a oficiar missa no Mosteiro de Alcobaça, após a extinção das Ordens Religiosas.
Traduziu do latim, manuscritos e publicou cerca de 40 livros sobre a temática Cisterciense e as Ordens Militares bem como tudo o que com estas se relaciona, sendo que o exemplar mais cabal para a História do Mosteiro de Alcobaça é Alcobaça, Abadia Cisterciense de Portugal, embora tenha sido autor de outros.
Faleceu em 1982 na Abadia de Notre-Dame de Port-du-Salut/ França.
Em Alcobaça, no ano de 1990 à antiga Travessa da Cadeia, foi atribuído o nome de Travessa D. Maur Cocheril e, nesse ano, Veríssimo Serrão proferiu uma conferência evocativa daquele.
-As comemorações do 5 de outubro de 1974, foram organizadas pelo PCP e MDP/CDE com o apoio da Câmara Municipal. Da parte de manhã, no cemitério da Vila usou da palavra Firmo de Almeida, que homenageou os democratas republicanos falecidos, sem ver a liberdade. No Largo do Mosteiro, houve um comício presidido por António Luís Ventura, tendo como oradores Vítor Ferreira, Mário Amaral, Olímpia Lameiras e José Vareda. Após inflamados discursos de modelar antifascismo e slogans de igual teor, foi votado que a Travessa da Cadeia, hoje Travessa Dom Maur Cocheril, passasse a chamar-se Travessa 16 de Março. Mas tal não foi levado à prática.
-Nos 25 anos decorridos sobre o seu falecimento, Rui Rasquilho escreveu o apontamento que se passa a transcrever:
“No final dos anos 50, num dos institutos da antiga Sorbone ainda fervilhante de vida, o estudante e bibliotecário que eu era então, viu aparecer junto do escritório, um monge como ele jamais verá:
Um monge vestido com o seu hábito cisterciense: cogula branca e escapulário preto, que vinha consultar algumas obras difíceis de encontrar em qualquer outro lugar de França, com o fim de fazer uma edição crítica de um manuscrito do século XVI.
O monge era D. Maur Cocheril que à época preparava a edição da Peregrinatio Hispanica do irmão Claude de Bronseval”.
Foi este homem que eu conheci e com o qual convivi nos anos 70, graças a um amigo comum, o Eng. José Manuel Natividade Coelho.
As palavras com que iniciei este texto que pretendo de homenagem a um cisterciense notável são de Andrée Diniz Silva “Maître-assistant” na Univerisdade de Paris III.
D. Maur Cocheril deixou-nos aos 68 anos, a 25 de novembro de 1982. Completam-se agora 25 anos. Notável historiador da Ordem de Cister, nutria um desmesurado amor por Alcobaça, que podemos avaliar por um excerto do seu livro “Cister em Portugal” (Edições Panorama – 1965).
“Escuta, Alcobaça, minha abadia, escuta enquanto Deus me conservar cá em baixo, no meu pobre farrapo carnal, em qualquer parte que me encontre, até ao instante supremo em que os meus olhos se fecharem para sempre, a luz desta terra porque te amei e compreendo, nunca te esquecerei, Alcobaça! Ó Alcobaça! Meu Mosteiro”.
Amigo de várias gerações da Família Natividade, Dom Maur foi investigador do Centre Nationale de La Recherche Scientifique, sócio correspondente da Academia Portuguesa de História e possuía a Legião de Honra devido à sua heroica ação durante a II Guerra Mundial, sobretudo no Norte de África. Portugal deu-lhe a Ordem de Cristo, no grau de Oficial pelos seus sérios estudos sobre as Ordens Militares ligadas a Cister.
Era um monge branco, desde os seus 28 anos e nunca escondeu que os horrores da Guerra e a forma como a ela sobreviveu o levaram ao fogo por Deus. Infelizmente houve quem, após a sua morte, se servisse do seu espólio, na Abadia de Port du Salut, de forma menos correta, mas isso são outras histórias.
Foi um notável interventor no Primeiro Congresso Internacional para a Defesa do Património, realizado em Alcobaça, no distante ano de 1976, numa parceria entre a ADEPA e a Secretaria de Estado da Cultura. (…) A obra é vasta e Dom Maur Cocheril contribuiu com os seus trabalhos para um melhor conhecimento de Alcobaça e Coz, os dois Mosteiros Cistercienses que existem no nosso concelho. Dom Maur ia além dos artigos de jornal e escreveu obras consistentes e fundamentais.
Tive o raro privilégio de conduzir Dom Maur duas ou três vezes no meu carro entre Lisboa e Alcobaça, e nessas horas de viagem pude apreciar a humildade que dava grandeza a este homem bom. A sua simplicidade era desarmante, o seu conhecimento de grande solidez. O seu afeto de uma generosidade rara. Gostava de ver o corpo deste verdadeiro cisterciense, no interior do Mosteiro de Alcobaça. Seria uma homenagem que nos honraria a todos.
Leia-se Maria Augusta Trindade Ferreira.
Coelho, Acácio, vulgo Serol, que nasceu em Alcobaça, a 16 de maio de 1920, foi motorista de praça, homem em geral bem-disposto e que, segundo os amigos, vivia com otimismo.
Foi casado com Rosa Piorro, que lhe sobreviveu cerca de 10 anos.
Fez parte do corpo de Bombeiros Voluntários de Alcobaça, foi músico na Banda de Alcobaça, componente do Rancho do Alcoa e baterista na Orquestra Típica. Constituiu alguns conjuntos de música ligeira que atuavam em bailes e festas populares da região.
Dizia a rir que, uma vez, foi preso por ofender a religião (estava a cantar à porta da igreja uma música revolucionária e proibida, o que lhe valeu passar uma noite no Posto da PSP), que tinha pena de não ter casado de noite, para ninguém o ver. Pertenceu à Banda do Mestre Arnesto, como membro honorário.
-Faleceu a 7 de fevereiro de 1999.
Leia-se aqui Rosa Piorro.
Coelho, António, nasceu em Alfeizerão no dia 20 de agosto de 1912.
Foi criado pelos avós com quem viveu até aos 10 anos em Vale da Rica/Famalicão. Frequentou a escola primária de Famalicão e por isso fazia todos os dias cerca de 4 km a pé. Tendo o pai regressado ao Brasil quando ele tinha 8 anos, continuou a viver com os avós durante algum tempo e depois do falecimento destes foi para a Nazaré para casa de um tio. Na Nazaré esteve até aos 14 anos, viveu tempos de sacrifício até que um dia um amigo o convidou ir para Lisboa trabalhar numa mercearia. Em 1932, já cumprido o serviço militar, teve a sorte de lhe calhar algum dinheiro na lotaria, pelo que resolveu dar novo rumo à vida, regressando à Nazaré, onde se estabeleceu como comerciante. Como não virava a cara ao trabalho, arranjou uma situação desafogada, que lhe permitia ir frequentemente a Alfeizerão visitar amigos e familiares. Em 2007, era considerado o homem mais idoso de Alfeizerão.
António Coelho, era possuidor de um interessante e já raro Morris Minor, de que nunca se quis desfazer, apesar de inúmeras propostas nesse sentido e com o qual participou nalguns encontros de carros antigos em Alcobaça.
Coelho, Diana Tereso, nasceu na Benedita a 26 de maio de 1984.
É licenciada em Ciências da Educação e pós-graduada e mestre em Educação Especial. Faz acompanhamento pedagógico/escolar de crianças com dificuldades de aprendizagem e é formadora nesta área.
É a autora do livro Dificuldades de Aprendizagem Específicas: Dislexia, Disgrafia, Disortografia e Discalculia, isso é, o primeiro livro em Portugal que reúne e descreve de forma sucinta e acessível estes problemas, tão presentes nas salas de aula.
-Diana Coelho tem dedicado a vida ao apoio, intervenção e aplicação de projetos e atividades muito direcionados para crianças com necessidades educativas especiais.
É de extrema importância que os docentes (das várias disciplinas do ensino regular e do ensino especial), mas também os psicólogos, os pedagogos, os psicopedagogos e todos os outros profissionais que diariamente interagem com crianças com dificuldades de aprendizagem (específicas), estejam preparados para realizar uma intervenção adequada às necessidades das mesmas. O papel dos encarregados de educação, em articulação com os profissionais, é também de fulcral importância no desenvolvimento dos seus educandos, pois embora a criança passe grande parte do dia na escola, não deixa de procurar em casa compreensão e auxílio para as suas dificuldades. Importa ainda realçar que estas crianças podem precisar de apoio reforçado em momentos muito precisos do seu percurso escolar, tornando-se indispensável que os que as acompanham reúnam as ferramentas necessárias para identificar esses períodos e saibam responder, de forma eficaz, a essa necessidade de apoio, o que poderá fazer toda a diferença num futuro próximo.
Independentemente do seu papel ou funções, todos partilharão um mesmo objetivo: o de melhorar as condições de aprendizagem do(s) seu(s) educando(s) e, consequentemente, os resultados por ele(s) alcançados. Por isso, não desistam!
Coelho, Eduardo Vieira, nasceu a 23 de fevereiro de 1945 em Alcobaça e aí residiu até concluir a quarta classe.
Acompanhou os pais para Leiria onde residiu até completar o Curso Comercial. Para prosseguir estudos foi para Lisboa fazer o Curso de Agente Técnico de Construções e Minas, no Instituto Industrial. Foi sempre bom aluno, sem ter que repetir anos letivos e em 1972/1973 frequentou e concluiu o Curso de Engenharia e Construção Civil, no Instituto Superior de Engenharia. Em 1997/1998, efetuou pós-graduação em Engenharia (Higiene e Segurança), na Universidade da Beira Interior/Covilhã.
Iniciou atividade profissional na CP, que teve de interromper para prestar serviço militar e comissão em Moçambique até 1971. Em 1973, regressou a Alcobaça, vindo a fazer parte da SOLCOA como sócio até 1977.
Foi sócio fundador de Estúdio 90 estabelecimento de fotografia. Embora o seu percurso académico tenha sido efetuado fora de Alcobaça, manteve a esta terra uma forte ligação afetiva que o levou a intervir cívica e socioeconomicamente. Foi  cofundador da Interact, ADEPA, Presidente da Direção do CEERIA, da Associação de Pais da Escola D. Pedro I, do Rotary Club e membro da Loja Maçónica Gomes Freire/Leiria.
Segundo a viúva, era um apaixonado, romântico, idealista, e generoso, valores que defendia tão solidamente como uma árvore. Preocupava-se com o estado cívico e socioeconómico do país, previa os problemas que iríamos atravessar.
Vivia angustiado por não conseguir ajudar a resolver estes graves problemas. Era um visionário.
Fez parte da primeira Vereação da Câmara Municipal de Alcobaça, depois do 25 de abril, eleito em lista do PS (embora tivesse militado anteriormente no MDP/CDE), e cuja equipa era composta por Miguel Guerra (Presidente-PS), Martiniano Rodrigues (PS), Fleming de Oliveira (PPD) José Rafael Serralheiro (PPD), Mário Tanqueiro (PPD) e Manuel Ferreira Castelhano (CDS). Também foi Presidente da Assembleia de Freguesia de Alcobaça (eleito em lista PS), durante um mandato.
-Pôs termo à vida em 2000.

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