segunda-feira, 14 de janeiro de 2019



NO TEMPO DE PESSOAS “IMPORTANTES” COMO NÓS
50 Anos da História de Alcobaça Contada através de Pessoas
Campagnolo, João Lameiras de Figueiredo, diz que a minha história foi influenciada desde o seu início pela implicação cívica e política da minha família materna (e alcobacense) na sociedade portuguesa. Com efeito, no seguimento das greves estudantis em Lisboa, no ano de 1962, e da atividade política então desenvolvida, a minha Mãe (Maria Olímpia Lameiras de Figueiredo Campagnolo) viu-se constrangida a sair do País. “Caiu” literalmente sobre o meu Pai (Henri Campagnolo) na cidade de Paris, e eu acabei por nascer nesta cidade, no dia 21 de Setembro de 1964. Este foi, aliás, um facto que me fez sofrer durante muitos anos pois preferia então ter nascido em Alcobaça, a exemplo do que veio a acontecer com o meu único irmão (Manuel) em 8-11-1965. Sendo os meus pais investigadores em Ciências Humanas no Centre National de la Recherche Scientifique (C.N.R.S. - Paris) e tendo-os acompanhado nas suas missões/deslocações profissionais, a minha formação pré-graduada não foi “linear”: O Ensino pré-primário decorreu no Jardim de Infância em Suresnes – França e no Jardim Escola João de Deus – Alcobaça. Tive aulas domiciliárias (leccionadas pelos pais) em Timor-Leste. O Ensino primário decorreu na "Ecole Passage Ricault" em Paris 13 – França, e na Escola Primária de Alcobaça (exame da 4ª classe em 1974, logo após a revolução de 25 de Abril de 1974). O Ensino Secundário decorreu na Escola Preparatória Frei Estevão Martins (então situada no interior do próprio Mosteiro de Alcobaça), na ”Paddington School” em Sydney – Austrália e na Escola Secundária de Alcobaça; terminei o ensino secundário com média de 17,5 valores (o que me deu acesso a uma vaga no Ensino Superior). Devo salientar que o período histórico pós revolucionário em Portugal se repercutiu de forma dolorosa nesta fase de ensino secundário pois a realidade, na altura, é que as crianças também eram arrastadas pelo clima de exclusão/discriminação/recriminação política das respetivas famílias, e eu não fui exceção.
Felizmente, a integração numa família numerosa e muito unida permitiu ultrapassar esta violência, permitindo-me obter os bons resultados escolares referidos assim como o ulterior reconhecimento social numa Vila (depois Cidade) que sempre prezou os “seus filhos”. Numa fase crucial da adolescência em que devia escolher qual o meu futuro estudantil/profissional, aconteceu a doença profundamente incapacitante do meu avô João Lameiras de Figueiredo, médico ilustre desta Terra. A gravidade da doença, e, sobretudo, a forma como me confrontou com o (mau) funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (em termos clínicos e sobretudo éticos, a vários níveis…), influenciou definitivamente as minhas decisões ulteriores: apesar de ter uma vaga em Portugal, decidi ir estudar Medicina para Paris. No entanto, após 3 anos de “emigração”, e apesar de ter ultrapassado um concurso de seleção particularmente difícil, as saudades do País e da família fizeram-me regressar a Portugal. Como não havia um Curso de Medicina em Alcobaça, vi-me compelido a emigrar cá dentro, para o que então considerava como “horrível” cidade de Lisboa. Entrei na Faculdade de Medicina de Lisboa (localizada no Hospital de Santa Maria). A partir daí, o percurso académico foi menos conturbado: finalizei o Curso de Medicina em 1991 com média de 17,04 valores, e, após o meu Internato Geral e após o Concurso nacional para escolha da Especialidade, entrei em 1994 no Internato de Ortopedia (de início no Hospital de Curry Cabral e, a partir do 2º ano, no Hospital de Egas Moniz, em Lisboa). Concluí a especialidade no ano 2000, com a média de 18,3 valores. Por opção familiar e filosófica/política permaneci sempre vinculado ao Serviço Nacional de Saúde (como Funcionário a tempo inteiro), embora num curto período de 3 anos, logo após a conclusão da especialidade, tenha também exercido clínica privada em Alcobaça. Não era esta definitivamente uma atividade que me entusiasmasse, pelo que me dediquei desde então exclusivamente à Medicina pública, à Investigação e ao Ensino (tendo sido inclusivamente Assistente de Ortopedia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa durante 4 anos, até 2008, altura que coincidiu com a minha transferência do Hospital de Egas Moniz para o Hospital Dona Estefânia, onde continuo, até hoje, a exercer Ortopedia exclusivamente infantil. Fiz ainda várias pós-graduações: Traumatologia Desportiva, Medicina Desportiva, Posturologia Clínica (todas em França), mas destaco a de Hidrologia e Termalismo, pois fui influenciado pela experiência da minha Avó materna (Maria Ilda Lameiras de Figueiredo), única mulher detentora, durante numerosos anos, de uma exploração termal em Portugal (Termas da Piedade).Também contribuí gratuitamente durante numerosos anos para o tratamento dos doentes com Paralisia Cerebral na área de Lisboa e das crianças com problemas ortopédicos no Hospital de Alcobaça. Do ponto de vista familiar, tive dois filhos de um primeiro casamento: o João Henrique (nascido em 1995) e o Pedro Manuel (nascido em 1997), que se tornaram centrais nas minhas opções de vida; com efeito, até 2012, apesar de ter sempre trabalhado em Lisboa, mantive a minha residência em Alcobaça, fazendo quase diariamente as idas e voltas entre as duas cidades, de forma a poder acompanhar os meus filhos, persuadido de que eles teriam uma infância mais completa, mais aberta e mais confiante, permanecendo em Alcobaça… Alguns anos após o meu divórcio, encontrei em 2008 aquela que se tornaria na minha esposa, Camille Pascal, francesa, mas com raízes culturais múltiplas, e com inúmeras capacidades, e que se foi apegando progressivamente a Alcobaça, conseguindo, após ultrapassar várias barreiras (nomeadamente linguísticas e administrativas), criar uma empresa na Cidade, e que agora contribui para o enriquecimento da gastronomia local com as suas criações. Resta-me completar com outros dados pessoais relevantes: as 6 costelas italianas e as 6 costelas francesas, somadas às 12 portuguesas explicam um pouco minha personalidade, sendo que todas elas (costelas) são benfiquistas (facto genético familiar indesmentível...). A prática desportiva, ultimamente centrada na prática do ténis e o gosto pela música, pelo cinema, pela leitura e pelas viagens, são outras das ocupações que tenho de forma mais recorrente. Finalmente, qual o futuro? Após terminar o meu percurso na Medicina, penso ter capacidade para poder ainda apoiar as pessoas em estruturas de defesa dos consumidores, assim como ajudar a minha esposa em empreendimentos de alojamento/gastronomia e eventuais tópicos culturais e amparar os meus filhos, caso eles o necessitem.
Campos, Aníbal, vulgo Manjerico.
JERO escreveu no Região de Cister (9 de janeiro de 2014 e reeditado em Arco de Memória’s) as seguintes notas:
De seu nome Aníbal Campos nasceu por volta dos anos 20, devendo a sua alcunha ao padrasto de sua avó de Turquel. O Manjerico morava para os lados da Guarita – numa das saídas da Vila para as Caldas da Rainha e era guardador de gado (cabras e ovelhas), razão porque andava sempre com o seu cajado. Era homem de poucas palavras, falando quase que só por monossílabos. Era uma pessoa pacífica que vivia para o seu trabalho. Impressionava o seu eremitismo, a começar pelo lugar isolado onde morava. A Guarita em causa situava-se na antiga Cerca do Mosteiro, para os lados da Fonte Nova. Nunca constituiu família sendo tratado – quando em certa altura da sua vida esteve bastante doente – por uma cunhada.
Na sua vida pacata foi notícia por causa duma aparatosa queda que sofreu numa boleia na mota do Luís Capador (pai do atual proprietário da taverna do mesmo nome). O Capador (Pai) apanhou-o em Évora de Alcobaça para o levar até Turquel. Quando chegou ao seu destino e convidou o Manjerico para se apear não tinha o pendura. Voltou para trás e veio a encontrar o Manjerico em Évora. Tinha caído logo na altura do arranque da potente mota e em vez de chegar a Turquel só viu foi estrelas. Estava escrito que se dava mal com viaturas de 2 e 4 rodas e, no ano de 1979, veio a ser vítima de um atropelamento numa passadeira de peões, junto ao Parque de Campismo, que lhe custou a vida. Teria então cerca de 60 anos de idade.
Campos, (Bispo) D. António, Alcobaça revia-se com gosto e respeito, na pessoa do seu conterrâneo, D. António de Campos, Bispo de Fabiana, Auxiliar de Lisboa e mais tarde Vigário Episcopal de Santarém.
Tanto assim, que lhe prestou uma grande homenagem, em Janeiro de 1955, primeiro no Salão Nobre dos Paços do Concelho e depois à noite no Cineteatro, onde lhe foi entregue o anel episcopal, oferecido por alcobacenses. D. António de Campos, uma grande figura da Igreja, um ilustre alcobacense, veio inesperadamente a falecer na Nazaré, aonde se encontrava de férias, em Agosto de 1969, vítima de uma fuga de gás.
As comemorações do 5 de outubro de 1974, foram organizadas pelo PCP e MDP/CDE com o apoio da CA da Câmara Municipal, dominada por aquelas forças partidárias. Da parte de manhã, no cemitério da Vila usou da palavra Firmo de Almeida, que homenageou os democratas republicanos falecidos, sem verem a liberdade. No Largo do Mosteiro, houve um comício presidido por António Luís Ventura, tendo como oradores Vítor Ferreira, Mário Amaral, Maria Olímpia Lameiras e José H. Vareda. Após inflamados discursos de modelar antifascismo e slogans de igual teor, foi votado que a Travessa da Cadeia, hoje Travessa Dom Maur Cocheril (monge cisterciense francês, grande amigo de Alcobaça), passasse a chamar-se Travessa 16 de Março. Mas tal não foi levado à prática.
Um dos pontos altos da manifestação, foi o descerrar de uma placa atribuindo o nome de Praça 25 de Abril, à denominada Praça Dr. Oliveira Salazar. José Vareda, (MDP/CDE), propôs ainda que fosse retirado o nome do respeitado alcobacense, o Bispo D. António de Campos, a uma das ruas da Vila, sendo certo que a ideia  não colheu. Porém, a mando discreterioso de Jorge Silvestre (Presidente da CA da Câmara Municipal), o retrato daquele prelado, nascido em Alcobaça, a 9 de Abril de 1904, foi retirado do Salão Nobre da CMA, onde se encontrava, e levado para uma arrecadação, de onde mais tarde voltou a ser  exposto em local nobre, como hoje acontece.
Leia-se aqui Jorge Silvestre e Fleming de Oliveira em No Tempo de Salazar, Caetano e Outros e No Tempo de Soares, Cunhal e Outros.
-D. António de Campos foi objeto de homenagem à sua memória no Mosteiro de Alcobaça, no dia 30 de outubro de 2004, aquando do centenário do seu nascimento e quinquagésimo aniversário da sagração episcopal.
Câncio, José, faleceu com 96 anos, na Macalhona, no dia 1 de agosto de 2006.
Homem rural, vivendo sempre no meio agrário, nunca conduziu veículo motorizado nem mesmo uma bicicleta. O seu meio de transporte foi sempre a tração animal. Graças à sua particular aptidão para injeções, este homem simples e solidário calcorreava se necessário os caminhos da sua aldeia, Macalhona, e da vizinhança, para levar a um necessitado mesmo desconhecido, alguns meios de cura que a assistência social, só mais tarde passou a dispensar.
Grande conversador, tinha sempre uma boa história para contar. Nos últimos tempos graças a agravamento do estado de saúde, a filha Otília, viúva depois de perder brutalmente o marido nos EUA, bem como a neta e bisnetos, eram o seu principal apoio e amparo.
Canez, Anabela Nicolau Marques, nasceu a 17 de novembro de 1965, em Ribafria-Benedita.
Tem Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas (estudos portugueses e franceses) pela Faculdade de Letras da Univ. Lisboa, Mestrado em Literaturas Românicas pela F.S.C.H. da Universidade Nova de Lisboa.
É professora do Ensino Secundário, desde 1991, pertencente ao Quadro do Agrupamento de Escolas D. Filipa de Lencastre /Lisboa, investigadora do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional.
Tem participação em encontros/colóquios e colaborado em publicações diversas nesta área da Literatura Portuguesa.
É autora do livro Canções de Embalar - Cultura e Tradição e professora pela IGEC na Scuola Europea di Varese/Italia.

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