quinta-feira, 8 de setembro de 2011

(II) NO TEMPO DE D.PEDRO, D. INÊS E OUTROS Histórias e Lendas que o tempo não apagou (COMEMORAÇÕES INESIANAS)


Inês de Castro, tanto quanto se sabe, nunca veio a Alcobaça. Em vida, como é óbvio. Mas D. Pedro veio muitas vezes ao Mosteiro, não só no tempo em que se lavravam as sepulturas, como depois da transladação de Inês.
Afonso Lopes Vieira (1876-1946), grande amigo de Alcobaça, além de poeta foi um bom prosador, embora menos conhecido. Como prosador, os títulos das suas obras são, de per si, esclarecedores do interesse que demonstrou pelos assuntos nacionais, temas da tradição histórica e literária (Inês de Castro na Poesia e na Lenda, (1913), A Paixão de Pedro, o Cru). Natural de Leiria, esteve muito afetivamente ligado à sua região, povoada de mosteiros, castelos e memórias. Vieira confessava-se, um bom português e, sem razão, mau poeta, mas de acordo com os melhores críticos era tão bom numa, como na outra coisa. O seu nacionalismo, não obstante ser monárquico, assentava na ideia do reaportuguesar Portugal, tornando-o europeu, para o que contribuiu, quer como cidadão esclarecido e miilitante, opondo-se ao regime saído do golpe de 1926, quer como erudito criando, traduzindo, adaptando, proferindo conferências, participando em campanhas de civismo estético, quer ainda como homem viajado, visitando Espanha, França, Bélgica, Itália, Norte de África, Angola ou, Brasil, ou mesmo criando uma atmosfera de sadio cosmopolitismo no círculo intelectual de sua casa, em S. Pedro de Moel.
Não foi, por certo, alheio a este voluntário apostolado cultural o facto de Lopes Vieira ter pertencido a uma geração de homens animados por ideais renascentistas, homens para quem literatura e Pátria eram realidades co-naturais, cabendo a uma, a missão orientadora e a outra, uma entidade fundamentalmente espiritual/linguística.
Sabe-se que possuía, num relicário sobre a mesa de trabalho, uma madeixa do cabelo de Inês de Castro.
Lopes Vieira referia-se a Alcobaça, como, Poderosa como uma fortaleza, vasta como uma nobre Vila, farta como um celeiro assentado no vale de terras férteis que os monges brancos tinham desbravado por suas mãos nos tempos heroicos da colonização, logo depois de Dom Bernardo de Claraval os ter mandado de França, brilhava no reino como cabeça sapiente e governava, através de largos coutos e povoados, boa parte da terra portuguesa. Afeiçoara-se Dom Pedro a estes monges e renovara-lhes ricas doações; talvez a amizade começasse no tempo em que Afonso, o Bravo, os processara, cerceando-lhes rudemente o senhorio. Foi, pois, no Mosteiro de Alcobaça, que Dom Pedro logo pensou; havia de ser na sua Igreja, a mais vasta Ordem de Cister, que Dona Inês ficaria sepultada como Rainha de Portugal, aos pés do altar da Capela de São Pedro, no cruzeiro. Desde logo também determinou fazer, quando morresse, ao lado dela, a fim de testemunhar pela presença dos seus ossos, a verdade do santo enlace que os unira.
Não há provas irrefutáveis do casamento de D. Pedro e Inês (Fernão Lopes tem muitas reservas, que não se eximiu a expôr), embora ele tenha proclamado ao País, declarado solenemente e sob juramento que o realizou em segredo em Junho de 1354 mas em dia que não recordava…. A palavra do rei, e declarantes foram a prova do casamento, mas para tanto talvez devamos repensar a questão, de acordo com o conceito menos formal da Idade Média.
Parece possível afirmar que D. Pedro nunca a esqueceu, ele que viveu ainda mais 12 anos. Todavia, dois anos após a morte de Inês de Castro, teve um filho de D. Teresa Lourenço, dama galega, que veio a ser o D. João I, herói de Aljubarrota, Mestre de Avis, fundador da gloriosa II Dinastia. Depois da morte de Inês, D. Pedro não voltou a casar, nem a amancebar-se. Filhos, apenas este, o que ninguém levou a mal pois nobre que se prezasse, tinha um rancho de filhos legítimos e um outro de bastardos.
Por testamento, D. Pedro determinou que fosse sepultado em Alcobaça, no lugar onde temos a nossa sepultura, na qual mandou escrever o seu angustiado adeus, Até ao Fim do Mundo, um amor para além da própria morte. O alcobacense Frei Fortunato de S. Boaventura leu Este é o fim do Mundo, o Prof. Reinaldo dos Santos O Princípio e o Fim do Mundo e o Prof. António de Vasconcelos Daqui Espero o Fim do Mundo. Estes historiadores, leram a seu modo as 12 letras, o que demonstra a condição da História, onde cada um lê de acordo com os respetivos olhos…
(CONTINUA)

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