quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SAUDADES DO ANTIGAMENTE



Saudades do antigamente?
Às vezes, temos uma saudade enorme do tempo em que as mulheres eram donas de casa e os homens chefes de família. Por favor, não fiquem incomodados com esta linguagem fora de moda, eventualmente considerada como bafienta/reaccionária. Sabemos que não se pode andar para trás, e nem achamos que o caminho seja esse, mas podemos considerar ainda assim algumas coisas boas que existiam e, quem sabe, adaptá-las na medida do possível aos nossos dias.
Presentemente, a mãe quase não tem tempo para os filhos (coisa que as Avós têm sempre), pois precisa trabalhar fora de casa. A sua correria mal lhe permite momentos de descontracção em família. Muitas vezes estão todos juntos, embora cada qual numa sala. A mãe na cozinha, o pai na sala, o filho no quarto. Antigamente não era assim. Havia, aparentemente pelo menos, mais proximidade e calor nos lares. As mulheres (e que dizer das Avós?) sabiam cozinhar e fazer coisas apetitosas. Muitos adoravam os seus petiscos e visitas chegavam por vezes sem avisar, para almoçar.
As mulheres costuravam as roupas da família e os maridos trabalhavam para angariar o sustento aos seus. Ambos tinham orgulho em possuir uma família equilibrada e feliz. Faziam os possíveis e impossíveis para que os filhos pudessem estudar e tivessem brinquedos.

Hoje em dia, por mais que se esforcem, não lhes sobra dinheiro pois todo faz falta. Ambos trabalham como loucos, dormem mal, comem correndo, vivem ansiosos e com medo do futuro. Parece que todos lhes exigem mais e depois ainda mais. A esposa insatisfeita, os filhos consumistas, o patrão ávido por lucro. Já não se sabe onde buscar refúgio nos momentos de desolação. Onde será que nos perdemos? Será que é possível começar a competir e disputar para ver quem era melhor?
Hoje muitos jovens casais constroem casas, mas não de forma empenhada na edificação do lar, porto seguro para a criação dos filhos e convívio em família. E sofrem pelos desencontros que poderiam ser evitados, se a visão não estivesse obstruída pelo hedonismo, onde cada qual busca somente o seu prazer. Temos saudades das bolachinhas, biscoitos ou compota de amoras da Mãe, dos passeios com o Pai, das reuniões em família, … das cantigas de roda. José Machado, como nós, tem saudades destas letras e músicas.
Quem não se lembra, pois, da infância e das cantigas de roda, das cantigas de ninar que se aprendiam? Aprendiam-se em casa com o(a)s avós, com as mães, na escola com o professor primário, e era sempre uma alegria quando alguém sugeria para cantar uma música.
Atualmente, as cantigas de roda não são muito cultivadas, pois foi hábito que se perdeu em casa. Recordemos apenas duas:
Atirei o pau ao gato, tô, tô//mas o gato, tô, tô//não morreu, reu, reu //dona Chica, cá, cá //assustou-se, se //do berrô, do berro, que o gato deu. //MIAU!
ou também
Ó malhão, malhão,//que vida é a tua?//Ó malhão, malhão,//que vida é a tua?//Comer e beber, ó terrim, tim, tim,//passear na rua//comer e beber, ó terrim, tim, tim,//passear na rua.
Ó malhão, malhão,//ó malhão d'aqui,//ó malhão, malhão,//ó malhão d'aqui,//se dançar, dancei, ó terrim, tim, tim,//se fugi, fugi//se dançar, dancei, ó terrim, tim, tim,//se fugi, fugi.
Ó malhão, malhão,//ó malhão vai ver,//ó malhão, malhão,//ó malhão vai ver,//as ondas do mar, ó terrim, tim, tim,//ai, onde vão ter//as ondas do mar, ó terrim, tim, tim,//ai, onde vão ter.
Ó malhão, malhão,//ó malhão do Norte,//ó malhão, malhão,//ó malhão do Norte,//quando o mar está bravo, ó terrim, tim, tim,//faz a onda forte//quando o mar está bravo, ó terrim, tim, tim,//faz a onda forte.
Ó malhão, malhão,//ó malhão do Sul,//ó malhão, malhão,//ó malhão do Sul,//quando o mar está manso, ó terrim, tim, tim,//faz a onda azul//quando o mar está manso, ó terrim, tim, tim,//faz a onda azul.

Tenho, sim, saudades do antigamente!

FLEMING DE OLIVEIRA

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