FALANDO SOBRE A FAMÍLIA
FESTA/CONGRESSO F.O., EM MONTES-ALCOBAÇA
Fleming de OLiveira
Há muito tempo que tinha vontade de reunir na Casa dos Montes-Alcobaça, todos os FO, ramos de Miramar e de Matosinhos, mas isso não era de todo fácil de concretizar, porque se encontram dispersos.
Este ano de 2005, as coisas conjugaram-se no sentido de se poder demonstrar a importância da nossa referência comum, que se prolongará para sempre, a que não foi estranho, a disponibilidade e labuta da Aninhas, obviamente sem a qual nada feito. Entre outros pretextos, refiram-se os meus sessenta anos, os anos da Paula e o lançamento familiar de AS REGRAS DA CASA (ano 2005), preparado colectivamente ao longo do ano.
Esteve toda a gente, como era desejável, todos se manifestaram antes e depois qual coro oscilante, ritmado e harmónico de cabeças querendo, com tal, gesto manifestar a aquiescência à ideia. Criamos o Livro de Honra.
Claro, aqui, não é mais a Casa.
Longe estão, o som dos passos no soalho de madeira e na escada, forrados a alcatifa, entrecruzados com a melodia filtrada do chilrear, inaudível por força do hábito, enquanto ou quando havia meninos de uma ou outra geração ou o ralhar amável, misturado com o bater das panelas e tachos da Carminda, vindo da cozinha. É uma emoção ter pertencido aquela Casa, onde se partilhavam frases comuns, expressas embora cada qual a seu modo, onde mais que a aprendizagem, o crescimento e a luta pela técnica, foi o despertar dos sentidos, enriquecendo-nos mutuamente e criando os laços que perduram indelevelmente, apesar da distância e de algumas malandrices, naturais, como hoje diz a Náná. Parece-me que tudo aquilo era absolutamente normal e imprescindível da vida, desde a dor, quando havia, porque não?, a alegria, a paixão, a saudade, a melancolia, o afago, a angústia, quando havia, porque não?, o êxtase, com que abríamos o leque da afectividade na maior amplitude, com exuberância comovida nos momentos-chave como quando o Zico fez a última cadeira e acabou o curso de Direito em Coimbra, Pai de seis filhos.
Longe vão também os tempos em que em casa e os bons mestres, nos ensinavam que o melhor critério para avaliar uma pessoa é olhar-lhe na cara.
Esta prosinha vai crescendo no corpo e seguindo em afloramentos algo descontinuados. Pretende, à minha maneira, expressar momentos presentes e passados, recordações de gentes e lugares. Por isso, corre como uma ideia à moda do jazz, isto é, nasce de um pequena melodia que vai ganhando forma nos sucessivos ensaios.
Em tempos como os actuais a desertificarem-se, a amizade ou os afectos, palavras que mesmo assim andam nas bocas do mundo, a propósito de tudo e de mais alguma coisa, a Família, é seguramente um oásis aonde, é possível ainda beber-se de uma pura e feliz convicção.
Parece-me por vezes, nesta altura da minha vida, que os anos, se limitaram a passar, que perdi a capacidade de acreditar no presente e pior ainda no futuro. Dos meus tempos de rapaz, em Coimbra, em que na Julinha ouvia no gira-disco em vinil, com algum respeito, o Jacques Brel, recordo os versos que nos permitiam tomar diferentes barcos, seja um da Fé, outro do Cepticismo, um para Miramar, outro um dia para Alcobaça, Lisboa ou Figueira da Foz, pois cada um de nós, à sua maneira desajeitada, procura um porto.
E tal porto, mais do que um porto de chegada, é um lugar de começos, mesmo que de coisas simples e elementares, um porto de partida.
Quanto a mim, infelizmente suponho que nunca alcançarei esse porto, pelo menos o de chegada, embora gosto de saber que há lá em casa a Aninhas que, na sua enorme Fé, acredita que tal pode ainda acontecer. Se conseguir arrancar, talvez me deixe acordar por uma nova vontade de viver, independentemente da idade! O corpo parou de crescer, a minha importante saúde pode queixar-se de um conjunto de inclemências, mas o espírito será activo, enquanto preservar a música da vida e a riqueza de se sentir jovem.
No meu caso pessoal que tenho alguns problemas de saúde, gostaria de poder continuar a dar certa contribuição ao pessoal menor, dado que a vida é para se viver enquanto se vive e não nos faltam as heranças recebidas, que são a nossa maior riqueza.
A procura de afectos, carinho, comoção, amor, amizade?, ora nem mais, assim é que se fala!, na reunião do nosso Congresso FO, expressão possivelmente pomposa no dizer do Nuno FO, pois que lhe quis dar especial simbolismo e estado de espírito, determinou a convocação para o sábado, dia 5 de Março de 2005, por acaso nesse dia a Biquica também faz anos, em meu nome, do Nuno, do M e do D M, todos FO pelo lado masculino, com vista homenagear a Família, a sua promoção, não propriamente a apologia num estilo standard.
A N. diz que chega a comover-me ver os irmãos todos juntos, a acrescentar a isto todo o resto da família, cunhadas e cunhados, sobrinhos, sobrinhos netos, primos direitos que há muitos anos não via, para além dos filhos dos primos que desconhecia em absoluto. Isto mete-me muita impressão, porque quando éramos miúdos a relação era mais próxima. Entre nós, como não podia deixar de ser, tinha que haver as nossas quezílias, senão, não éramos irmãos.
Nós, FO, somos uma Família com laços fortes. Mesmo quando hoje ainda discutimos, discutíamos, aceitamo-nos como pessoas distintas, mas com uma identidade comum e isso é importante para o bem estar, felicidade, de cada um. Mas como família, também incorporamos alguns segredos ou contradições.
Normalmente, o irmão é o que está mais próximo e, no entanto, há tantas coisas que desconhecemos dele.
De alguma maneira, o silêncio a capacidade de não dizer algo, é potenciadora de uma enorme função familiar e social.
A coesão social ou familiar não pode assentar na mentira, obviamente, mas pelo menos na boa gestão do silêncio.
Contar a verdade nem sempre faz bem, por melhor que seja a intenção de uma Mãe, mas um história colorida pode fazer conviver melhor com a realidade.
Aqui está o cerne do meu especial interesse, que começou tão só com a tradição oral da nossa identidade comum, que o Zico mais tarde em Parentes Meus tentou registar e que agora tento imprecisamente desenvolver.
Quando nascemos em casa fomos, segundos depois, para o regaço da Zica, que começou logo a dizer que éramos bonitos, queridos e pouco depois, conjuntamente com o Zico, começou a contar quem eram os Avós ou os Tios.
Mais tarde, em momentos críticos da vida, fomos pondo algumas coisas em questão, como nos convencemos que podemos substituir essas lendas por verdades, ou vice versa. Eu sou quem dizem que sou, ou não sou quem dizem que sou? Não quero ter a consciência que estou a substituir, para os meus netos, uma lenda por outra tão verdadeira ou falsa quanto a que recebi à partida, embora aquela se adapte melhor ao desejo de quem gostaríamos de ser. Admito que há aqui recriação, pois a nossa identidade é o que queríamos, gostaríamos ser, com o que não conseguimos ser, acrescido do que nos contaram que éramos. Em suma, e sem pretender discorrer filosoficamente sobre um tema tão volátil, chego à conclusão que a nossa identidade não é nenhuma falsidade, mas necessariamente uma pequena e benévola ficção.
Nesta altura, assumo a ideia da morte com alguma naturalidade, não conformismo é claro. Mas a conclusão de que só temos uma única vida é tremenda, sendo este um espaço onde posso lutar contra isso e me leva, por momentos, a crer que estou a viver uma outra ou outras vidas.
O passado é um lugar estranho.
Todos os que andaram por lá connosco, estão hoje bem diferentes, mudados, com excepção dos que se já foram. Antigamente, não tínhamos tantas rugas, cabelos brancos e eu não andava trôpego e de bengala. Gostava de trautear, ainda que desafinadamente, o Elvis, a Françoise Hardy ou o John Halliday, ao mesmo tempo que dançava apertadinho se pudesse, e ainda andava na escola a ensaiar as primeiras letras. É daí que vem a minha mácula de romantismo vetusto e pardo, como diria a T., mas com salpicos de lamechice, como me imputa a Aninhas, que é muito pragmática e veemente no seu pulmão, como os filhos e netos bem sabem, o que fez de mim ainda aos sessenta, um incurável e tolo sonhador. Mas também sou capaz de olhar para certo passado com algum sarcasmo, rir-me das minhas próprias insuficiências e assumir, com complacência, a estupidez de outros. Por isso, me sinto perdido num tempo em que a gasolina é cara, os clientes vão aparecendo menos, os casamentos são precários, se não um luxo das elites político-religiosamente correctas, as pessoas aguentam-se com dificuldade em relações estáveis. E mesmo quando a vida está irremediavelmente longe do que foram alguns sonhos e desejos, gosto de ouvir e de trautear baixinho melodias tão simples e complexas como é pau, é pedra, é o fim do caminho, é o resto de tu, é um pouco sozinho, rezando para que sejam as águas de Março, fechando o verão e que haja uma promessa de vida no teu coração.
Numa época de intensidade de acontecimentos confusos, onde se conjugam a malvadez, a calúnia, o império dos sentidos, surge com frequência a ansiedade, a agitação ou aquilo que hoje, mais vulgarmente, se chama a depressão. Os problemas são mais que as soluções. Quando posso, gosto de parar um pouco.
Estas notas, são um excelente momento de pausa no dia a dia em que me desligo de uma certa turbulência ao redor, na procura de uma serenidade interior.
Quanto mais desligo, mais sereno fico, e quanto mais sereno fico mais lúcido estou, relativizando peripécias. Reputo-me pessoa algo lúcida, para criar condições para estabelecer a ponte entre o natural e harmonioso.
Na universidade da vida, mais do que na de Coimbra, aprende-se não ser possível que outros façam, ainda que remuneradamente, o que cada um tem de fazer por si. Mesmo enquanto Advogado, é a conclusão fatal a que há muito cheguei.
Quem o não fizer por si, deixa a tarefa por cumprir. Mas quem se disponibiliza ou tem condições para tal, vai descobrir potencialidades necessárias se não para refazer o caminho, pelo menos corrigir a trajectória.
Nesta caminhada pela vida, temos como referi necessidade de invocar mestres, pessoas com dons especiais, como um Cristo, ou tão só um Filósofo ou um Poeta, que nos ensinaram a sentir e ver a vida, na sua beleza e complexidade.
Esses mestres sabedores, podem ser pessoas comuns, que se cruzam connosco todos os dias, não precisam de ser de nome feito, basta uma postura humilde para retratar a vida com o seu exemplo.
Tenho necessidade de dedicar algumas notas à A., que é a pessoa que aceitou ser a Mulher, Mãe, Avó e tudo o mais, da nossa vida e governar a nossa Casa de Alcobaça. Que é capaz, mesmo cansada, de no Inverno se levantar de noite para puxar um cobertor de modo a não apanharmos frio, de nos ouvir ressonar, dizer disparates ou coisas menos agradáveis sem recriminações de vulto, embora um pouco veementes, que mesmo que não olhe todos os dias para nós, marido, filhos e consortes ou netos, olha todos os dias por nós, que sem tiradas poéticas, se dá e partilha sem reservas a vida, as preocupações e alegrias, fica em silêncio a pensar com os seus botões, com um pequeno e quase imperceptível tique de encolher os ombros, como diz a Paula, e embora não aprecie cozinha faz muito mais que o básico.
Quando era garoto, aprendi com o Zico a ler o jornal todos os dias, a não acreditar em todas as histórias e com alguns colegas do liceu a desconfiar das mulheres, para lhes descobrir todos os defeitos. As mulheres, as meninas, esticam sempre a corda, disse-me uma vez o meu amigo Rodrigo C. que era muito sabido, já fumava e bebia Macieira, não obstante os seus 13 ou 14 anos, nunca lhes dês o que te pedirem à primeira e nunca mostres que precisas delas. Claro que não segui esta prática com a Aninhas.
O N. FO que dá um especial relevo a estas questões dos afectos e da Família, disse-me sobre o Congresso FO que foi uma reunião esperada por muitos e intervencionada por alguns. Desde o momento em que o Fernando nos mobilizou para um evento familiar nunca antes realizado, pelo menos nos moldes propostos, surgiu por parte de cada um aquele entusiasmo próprio de quem se irá rever no sucesso global e que pretende incutir o seu cunho pessoal. Isto tem a ver com os preparativos que começaram muitos meses antes, quando cada qual emprestou algo da sua vivência e experiência pessoais na elaboração do livro, com relatos muito pitorescos, que viria a ser apresentado num dos momentos altos desse dia de Março. A minha colaboração foi, um modesto, mas muito empenhado trabalho de recolha de imagens e do seu tratamento sequencial apoiado por música de escolha muito criteriosa.
O N. FO, com gosto e amorosamente, como é desde pequenino e ao longo de mais de cinquenta anos bem vividos, comidos e rega(la)dos, recuperou para DVD filmes e imagens, algo esquecidos de todos nós, a partir dos anos 70, que se revelaram um sucesso e emocionantes para os mais novos e outros de chegada recente aos FO.
Reconheço que com um pouco mais de tempo melhoraria o efeito final. Teve sempre um objectivo: provocar algum impacto ou surpreender de alguma forma.
O que aconteceu, sem dúvida.
A Casa de Família, em Miramar, é a primeira imagem, que passa gradualmente de um preto e branco para um efeito de aguarela e depois se desvanece. Este trabalho seguir-se-á nos tempos próximos, pois muito há a fazer com aquelas e muitas outras imagens por enquanto guardadas. A reunião de Família, pomposamente apelidada de Congresso, não terá surgido só porque os seus promotores gostam de festas e de receber bem. Era algo que faltava, para celebrar o nosso sentido espírito de Família, para o manter vivo e transmiti-lo, e homenagear os F.O. ascendentes recordando e homenageando os ausentes. Como seria de esperar, também os F.O de Matosinhos mobilizaram-se, comparecendo na totalidade. O Zé trabalhou, afanosamente, para nos mostrar num powerpoint um pouco da investigação que fez sobre os nossos, remotos e desconhecidos, antepassados, durante uma viagem à Escócia. Excelente montagem fotográfica, acompanhada por cuidadosos e interessantes comentários .Após a recepção aos congressistas, seguiram-se as apresentações entre os vários primos que não se conheciam, com momentos de espanto, naturalmente, de quem já se tinha ouvido falar tanto, mas sem o conhecimento presencial, entre os mais novos. O salão ia aquecendo com as emoções a despertarem e a fornalha da lareira a ajudar. Aí o João começa a disparar flash’s e a captar com a sua mestria as expressões que se vão sucedendo por entre a passagem de copos do bom branco, verde branco e tinto, oferecido pelo meu amigo C., de Paredes, que acabou num ápice, não estivessem presentes os FO pois que, como aprendi na Casa de Matosinhos, em garoto com o Tio A. F., se puderem pegam numa mulher pela cintura e numa garrafa pelo gargalo…, que se erguem no ar. Seguiu-se o almoço organizado e preparado sob a batuta da Ana, que nunca deixa esses créditos por mãos alheias. Já na Adega/Salão do Alambique e das reuniões, como a T. lhe passou a chamar, adaptada para o efeito, se encontravam a mesa da Presidência, com cadeiras de madeira com assento de veludo antigo e costas altas como se impõe nestes momentos cerimoniais, uma mesa com toalha branca, uma garrafa de vinho tratado do Douro Fleming’s, e copos para os brindes da praxe, e as cadeiras da assembleia. Nada foi deixado ao acaso e até o aquecimento tinha sido previsto. De um lado, o antigo alambique servia de testemunho de épocas passadas, donde jorraram, no tempo do Dr. Amílcar, litros de aguardente, bagaceira, ainda hoje cuidadosamente conservada e sem pressas de envelhecer.
Do outro, um écran donde se esperaria ver um desfiar de memórias visuais surpreendentes.
Essas imagens têm mais de 30 anos desde o casamento em Alcobaça, aos baptizados em Miramar e Alcobaça, à primeira papa da Raquel, em Cinfães, os Zicos, a D. Ana e o Dr. Amílcar, e que o N. recuperou.
Estes filmes são como os caprichos.
Mudos, mesmo quando uma música dolente ou animada tenta amaciar as palavras que dissemos numa mocidade antiga e riscada do tempo, em que as nossas meninas apareciam muito compostinhas, de mala no antebraço, saia pelo joelho ou abaixo, os nossos meninos com calças à boca de sino e o Dr. Amílcar de chapéu escuro e gravata na praia.
Claro que a vida já não é como nesses filmes, mas é bom poder ver a fita sempre que apetecer, porque é verdadeira e aí nada mudou.
Conhecemos de sobra cada olhar, cada expressão de rosto, cada beijo dado.
A I. e a P., e a B., convém não esquecer, contribuíram para animar a assistência com a entrega de pequenos estandartes, que se agitavam com palavras de ordem à mistura.
Parecia quase um comício, dos tempos do PREC…
É hora das palavras e da solenidade, mas com a simplicidade, não somos de muita cagança, segundo se diz para consumo externo com mais ou menos verdade ou pelo menos cai bem dizer, que nos caracteriza. Dir-se-ia que os discursos tiveram a eloquência dos sábios, não necessariamente eruditos, com a moderação dos humildes. Penso que as palavras tocaram fundo na Família, pena que os discursos não tivessem sido lidos, pois teríamos certamente alguns excertos aqui.
A eleição do tio Mário para Presidente Honorário e Vitalício do Congresso, o próximo se houver e se não houver percalços de percurso serei eu, constituiu um reconhecimento da autoridade espiritual da grande Família F.O. e do carinho que todos lhe devotamos neste momento é ele, por direito próprio, o Patriarca.
Por fim, a entrega de volumes de Parentes Meus aos mais novos. Já no fim da festa, se estabeleciam conversas mais próximas entre os primos e se ponderava a possibilidade de se repetirem estes encontros, seria muito interessante.
Mas quem se candidata?
O Zé?, pois nos tempos que correm não é frequente juntarem-se primos em 5º grau! Só em famílias Grandes e Extraordinárias!
Neste e noutros assuntos, gosto muito de ouvir o P. S., mesmo reconhecendo-lhe alguns delírios de imaginação, que todavia me deixam encantado. O Paulo S. nunca se faz rogado para emitir um juízo, preferencialmente polémico.
Como foi isso, P.? ele que é um FO de gabarito há cerca de 30 anos e presentemente muito mais que honorário. Entende o P. S. que, não há reunião de família sem procura de socialização, conhecer os novos e abraçar os velhos, em doses maciças de gabação, de um para todos e de quase todos para um, em gostosíssima animação, espécie de alegria horizontal, entre algazarras de falação, às vezes até mete discurso, servida em doce emoção, juras e promessas, a favor de uma recordação a que não faltará sempre uma oportuna gravação e/ou até filmação. Os exageros na deglutição passam aos copos na comemoração ou mera confraternização, levantando de onde em onde uma ligeira preocupação, com este ou aquele, isto ou aquilo, imediatamente ultrapassada numa boa relação, que soa a colaboração na futurização abrangente da valorização.
Como se vê o P S., pessoa sensível, está em excelente forma intelectual e num estado de lucidez apreciável.
Quem supõe que ele é só músculo e beleza, está muitíssimo equivocado. Não é verdade Inês? E porque deixas mesmo ele tocar ad lib o cavaquinho?
E que mais, meu caro P. S.?
Tudo isto obriga ao profissionalismo da organização que, definida a localização os Montes é muito bom, Mira espectacular, ouviu Amigo e Compadre Gaspar? aposta numa participação e comunhão, várias raízes, um só tronco, muitos ramos, tendo a máxima atenção, para não faltarem bolos da Pousadinha, por exemplo, levando ao êxito a consagração. Pessoalmente acrescentaria a dignificação, Tio Mário e seguintes, que a convenção FO concretizou, na atribuição de uma afirmação plena de intenção com a aceitação geral eivada de convicção, sem excepção. Nada, nem a mais pequena divagação ganhou espaço de intervenção, nem tão pouco se afirmou a prossecução da mais humilde invenção. Foi como foi escrito e subscrito, comido e bebido, pois claro, sentido e vivido em permanente ovação.
O P. S. sentiu-se no dever de esclarecer, eventualmente junto de alguém menos letrado que um FO que possa vir a ler isto, ou seja, aqueles com a quarta classe feita administrativamente depois do 25 de Abril, o que aliás não é o caso de nenhum de nós, a propósito da forma ligeira como esteve a discorrer pois, que vários prefixos diferentes na forma e conteúdo mais variados e díspares se uniram pelo mesmo sufixo cão, e que tem pena que a fonética desta minha sensibilidade corresponda a um erro de ortografia, mas quem não sabe que ao ler à porta do Mercado do Bolhão o letreiro: BENDE-SE FRUTA! está imediata e cabalmente informado da pretensão?
Na cerimónia solene depois do almoço, presidida pelo Tio Mário, realizada na sala do Alambique cheia como um ovo, devidamente pintada, chão arranjado, mais ou menos bem/mal aquecida com salamandra e a gás, preparada com uma Mesa de Honra e cadeiras cerimoniais de veludo e costas altas ainda de Casa do Dr. Amílcar, a Paula e a Benedita até arranjaram, como disse, umas bandeirinhas FO, feitas em papel, que distribuíram para serem agitadas nos momentos de vibração, uma garrafa de Douro e uns copos para os brindes, abri a sessão dizendo umas palavras de circunstância, tal como depois o Zé, e finalmente o Tio Mário. Este falou bem, com a propriedade e sentimento que lhe reconhecemos, salientando as nossas origens comuns na Casa de Matosinhos e, muito especialmente, a sua relação com o Zico, o que nos deixou algo emocionados e sensibilizados. Como se isso não bastasse, como não bastava mesmo, leu-nos uma carta que guardava religiosamente e que o Zico lhe escreveu, pouco antes do seu casamento com a Tia M C, em 18 de Dezembro de 1942, que desconhecíamos, mas que não resisto em registar, graças ao B, e a transcrever:
Vezúvio
(local no Douro onde o Zico trabalhou pela primeira vez, após ter tirado no Porto o curso de Engenheiro Técnico/Instituto Industrial, como ao tempo se dizia e de que nunca gostou),
12 de Dezembro de 1942
Meu caro irmão:
É esta a primeira carta que te dedico, desde que para aqui vim. Não deves reparar que assim seja, porque as cartas que escrevo para os Pais dizem-te tanto respeito como a eles, porque todos são família e por isso igualmente queridos. Agora, porém, o caso é diferente; embora irmãos, embora amigos, a tua vida vai dentro em breve ser muito outra, porque vais constituir um novo lar, uma nova família e essa preencherá para futuro todas as tuas atenções, todas as tuas canseiras e afectos e por muito que te custe a acreditá-la, a verdade é que os que ficam, os que continuam a vida ordinária (devo esclarecer que ordinário significa aqui usual, do costume) não representarão já para ti senão uma parcela do que representavam. Embora não me sinta nesta ocasião com aspirações a D. Francisco Manuel de Melo, escrevendo uma Nova Carta de Guia de Casados, o que é certo é que não esqueço que sou teu irmão mais velho e que, muito embora, te não vá dar conselhos, de que graças a Deus não precisas, além de que tens em casa quem com mais acerto e experiência tos pudesse dar, deixa-me que te diga que fazes bem em casar. E crê que não é uma opinião emitida de ânimo leve, expressa, como tantas vezes se faz apenas por respeitaras ideias e as acções alheias. Não, esta é fruto de muito pensar no teu casamento. Já algumas vezes te tenho ouvido dizer que te prendes sem ter gozado a vida. Eu também já assim pensei a teu respeito. Hoje sou eu quem te diz que fazes bem. Gozar a vida como geralmente se diz significa quási sempre e com raras excepções: estragar a vida, criar hábitos falsos que lhe dão sabor apenas transitório e que, se não são vícios a eles se assemelham muito o mais das vezes. Criar um lar. Constituindo família, é chamar sobre quem dá esse passo responsabilidades que nunca mais se alijam e negá-las é tentar contra princípios cristãos que presidem às intenções mais nobres. Responsabilidades todos temos obrigação de as ter na vida e desgraçado de quem as não tem, como temos direito de aspirar a elas, mas nenhuma acredita, traz as compensações e os gozos espirituais que traz o casamento quando como o teu, é honesto e empreendedor. Tens o beneplácito absoluto dos que têm direito a te serem os mais queridos e quando o não tivesses tinhas a tranquilidade do teu espírito pela certeza do que pretendes e solidez de carácter que te distingue e se alguma vez uma pulsação mais acelerada te faz lembrar que vais modificar para sempre a tua vida um só instante, lembra-te do que acabo de te dizer e ri-te dela. Poderia dizer-te isto num discurso no Grande Dia, mas além de não ter jeito para falar, são coisas a que ninguém mais interessam e que só servem para gáudio da galeria a quem não ligo meio.
Meu caro Mário, ainda nos veremos se Deus quizer contigo solteiro, mas é esta a última carta que te escrevo nesse não menos agradável estado. Por isso recebe por conta um apertado abraço o teu irmão e sincero amigo
Fernando
O Tio M., além de cavaleiro tauromáquico amador, a sua grande paixão que praticava no redondel e com uma tourinha durante o trabalho, mesmo na fábrica de camisas da Rua da Picaria ou 31 de Janeiro, foi um bom garfo e copo de tinto, desportista nadador em estilo livre, guarda redes do Leixões ou keeper, expressão antiga e demodé que ainda utiliza. Um cavalheiro-marialva, lembro-me que quando há perto de 50 anos se começaram a divulgar os gira-discos, ofereceu aos Zicos um disco, ainda em vinil como é evidente, de 45 rotações, com o Fado do Caldas.
Para registar um depoimento consistente sobre o Tio M., quem melhor para isso que o de um Filho? Foi o que diligenciei junto do B. que me disse que, como tu bem sabes o meu Pai, é uma pessoa dotada de muito boas e variadas características.
É uma pessoa naturalmente com uma grande paixão pela Família, pelos seus mais próximos, mas também com enormes apetências para muitas áreas.
Como é usual hoje dizer-se, um homem multifacetado que se fez na Escola da Vida. É uma longa lista de traços e atitudes que o definem e que o tem acompanhado, ao longo de quase estes 85 anos. Anos bem preenchidos, com altos e baixos.
Se fosse o meu Pai a dizer, diria baixos e baixos mais bem preenchidos, tenho a certeza que têm sido.
O Tio M encontra-se em muito boa forma, intelectual e fisicamente activo.
Ainda monta a cavalo.
Recordo que, sempre se disse na Família, que tinha boa cabeça e memória. O que me é confirmado pelo B., para explicar o conteúdo dos versos melo-dramáticos sobre o Pijama, parodiando o tema Fado Hilário, que em tempos escreveu e que recitou no nosso Congresso.
(I PARTE)
O meu pijama velhinho//Tem uma enorme costura//Hei-de levar-te comigo//Quando for p’rá sepultura.
O meu pijama velhinho//Com que cuidados se trata//A ver se com muito jeitinho //Fará as Bodas de Prata.
Eu quero que o meu pijama//Tenha a mesma sorte que eu//Que quando acabar vá direitinho//Bater às Portas do Céu.
Ai o Mário disse em dia//Que jamais será lavado//Já tantas bolandas levou//Está quási todo rasgado.
Ao dormir com este pijama//Durmo quási que nú.//Fico c’as costas de fora//Do pescoço até ao cú.
Até aqui tu bem chegaste//Nas costuras é qu’eu estouro//Chegaste às Bodas de Prata//Veremos se chegas às d’Ouro.//As calças que foram compridas//Não passam de velhos calções//Já não podem ser descidas//Devidos aos grandes rasgões.
Já foi novo e foi bem feito//Como a coisa se transforma!!!//Agora que está tão velhinho//E se encontra quási desfeito, //Depois de tanto serviço//Será justo, coitadinho, //Possa passar à reforma.
(II PARTE)
A história deste pijama//Que tem pilhas de piada,//Só o lava a Maria Cândida//Com vergonha da criada.
Talvez isso vos interesse//E vós gostásseis de ve-lo,//Talvez a moda pegasse//E servisse de modelo.
Passadas as Bodas de Prata//Não mais o visto digo eu,//Irá p’rá Feira da Ladra//Ou p’ra qualquer outro museu.
O que conto é chalaça//Que agora me lembrou//P’ra qualidade que muito tem//Muito tempo ele durou.
O que mais piada tem //Que se ria quem quiser,//Não gastei nele um vintém//Quem m’o deu foi a Mulher.
Se alguém m’o vir vestido//E vir a figura que faço//Vendo o pijama assim em tiras//Chama-me logo, um palhaço.
O pijama de que eu falo//De que já tão pouco resta,//É muito raro usá-lo//Só sai em dias de festa.
Sempre que visto o pijama//Provoca um novo rasgão//P’ra passar no corredor //Tenho que vestir o roupão.
Um pequeno movimento//Que eu faça sem dar por ela,//Abre mais nesse momento//É mais uma rasgadela.
Quando envergo este pijama//E me vejo nele envolto,//Tenho sonhos cor de rosa//Porque durmo a sono-solto.
Adeus pijama, que partes,//Tenho tanta pena disso,//Vais ser agora afastado//Vais abandonar o serviço.
Como surgiram estas rimas, que desconhecíamos, e a que propósito de quê? perguntei intrigado ao B..
Não sei se saberás, mas… provavelmente saberás, o meu Pai tem uma grande enorme facilidade para falar em público, um orador que sabe, seja perante quem for, falar e falar bem. É um dom. É inato e fá-lo muito bem, com muito à vontade.
Claro que me lembro, pois o Tio M, adorava um bom discurso, tal como uma boa piada, se tivesse oportunidade. E se não … arranjava-a, na mesma. Continua o B, para além desta capacidade para transmitir oralmente o que lhe vai no pensamento, tem uma enorme veia poética, que tem vindo a expressar nos mais variados temas e locais. Não são poemas eruditos, mas são poemas inteligentes e com muito humor. Sem rascunhos, directamente na sua inseparável máquina de escrever lá saem as quadras uma a seguir às outras, com grande fluência.
Como disseste, são muitos os temas que o teu Pai aborda, mas tem preferência por algum?
Sejam para o cavalo, seja para o dia de S. Martinho, para a rádio ou revista, sejam para os netos, sejam para as Bodas de Prata, sejam para um Pijama, sejam para um consulta de psiquiatria, para qualquer tema, aí está Ele a escrever.
Na verdade com propósito e bem, continua o B, dizendo-me que o Pai, é uma pessoa que ama profundamente a vida com positivismo. Como normalmente é uma pessoa bem-humorada, a sua veia poética vem ao de cima e a sua musa inspiradora, recomenda-lhe que saia mais uma poesia. Há coisa na vida que cada um de nós tem mais apetência, maior afinidade, mais facilidade e assim o cantor que “canta ao desafio” que em poucos segundos tem de ter uma resposta pronta para continuar, o meu Pai tem também essa capacidade para em poucos minutos e sem rascunhos, fazer umas quadras bem a preceito.
Mas insisto como e porque surgem os versos sobre o Pijama que pareceram tão importantes para serem invocados nesse momento?
O B. explicou-me que é uma obra em duas partes, escrita directamente para o papel, sem qualquer rascunho, como hoje se diz ao vivo e em directo. Quanto à sua importância…
Trata-se da história de um pijama oferecido pela minha Mãe, que se tem conservado, sabe Deus como, ao longo de tantos anos. Este pijama da história, terá a bonita idade de, aproximadamente, 60 anos. O Pijama faz o Casamento. O Pijama faz as Bodas de Prata. O Pijama faz as Bodas de Ouro.
Em suma, o Pijama é peça indissociável da sua vida e, os versos relatam as várias fases por que passou e pode ser cantado com a música do Fado Hilário, notória nas quatro primeiras quadras.
Como disse, neste encontro FO a 5 de Março, festejaram-se além da Família, os meus 60, 22.02. os anos da Paula, 26.02, da N,, 16.02 e também os da B, 05.03.
O Domingos P., que passará a ser um dos nossos trovadores de estimação, e isto sem pretender faze-lo entrar em competição com o P. S. pois cada qual é… como é, cada macaco no seu galho, preparou-nos uns versos que foram cantados, com as velas sopradas.
PARABÉNS AO FERNANDO
Os últimos são os primeiros,//Nesta festa de arrombar,//Parabéns ao Tio Fernando//Vamos lá todos cantar.
REFRÃO
Pró Fernandinho não há nada?//Há! E muito, sim sinhó,//Porque ele é o big chefe //Da Família F. O.
Foi em Fev’reiro, vinte e dois//Que o Fernando veio ao mundo//Para ser o primogénito//E um irmão bem cá do fundo.
REFRÃO
Pró Fernandinho não há nada?//Há! E muito, sim sinhó, //Porque ele é o big chefe // Da Família F. O.
São Primaveras ou Invernos?//Contá-los é que eu não quero.//Mas diga lá se não gosta //De ganhar por seis a zero?
REFRÃO
Pró Fernandinho não há nada?// Há! E muito, sim sinhó,//Porque ele é o big chefe//Da Família F. O.
Sacou da pena ou da caneta//(Que pró caso tanto faz),//E escreveu-nos um livro//Com mão certa e perspicaz.
REFRÃO
Pró Fernandinho não há nada? //Há! E muito, sim sinhó, //Porque ele é o big chefe//Da Família F. O.
Pois este livro teu e nosso//Tem que se comemorar,//Com um familiar brinde//Nesta casa de encantar.
REFRÃO
Pró Fernandinho não há nada? // Há! E muito, sim sinhó, // Porque ele é o big chefe//Da Família F.O.
Ergam taça de champanhe//Pró livro não ficar só,//Ele é vida e memória//Da Família F.O.
REFRÃO
Pró Fernandinho não há nada//Há! E muito, sim sinhó,//Porque ele é o big chefe//Da Família F.O.
Para a aniversariante Tia NUNU, cantaram-se os seguintes:
Parabéns Tia Nunu,//Farta de trabalhar,á e muitoHá//Conquistou meio mundo//A fazer o colar.
Vejam bem esta jóia//Que está sempre a brilhar,//Só falta escolher//E depois… é comprar.
E para a PAULA, também aniversariante:
Vinte e seis de Fev’reiro,//Temos que festejar//Os anos da Paulinha//Com a taça no ar.
Na cozinha dá cartas,//E nos doces também.//Muito honra a escola//Da Ana, sua Mãe.
A Biquica, que era a aniversariante do dia, teve também o seu minuto de glória e fama, graças à letra do Domingos P.
Parabéns à Bikika,//Do bel canto uma estrela//Mete as cantaroleiras//Todas numa chinela.//Os quilos não lhe pesam//Nem a roupa a comprime,//Num corpinho danone//De mui jovem menina.
O P. S. fez-se acompanhar aos Montes do seu mini cavaquinho especial e de bolso. E ao final da tarde, à volta de um pequeno lanche, animou-nos com as suas modas e cantares, neste caso bem adaptadas ao momento, glosando uma Rusga tradicional do Senhor da Pedra, interpretada que nem o Rancho Folclórico de Manhouce, com a Isabel Silvestre, que até é sua prima afastada, o Tio Gregório era Silvestre.
Eu vim do Senhor da Pedra,//Mesmo sem beber nas fontes //De Alcobaça é que não saio,//Sem beber aqui nos Montes.
Meu rico Senhor da Pedra,//Diz-me lá o que se passa//Não me dás do teu farnel//Vim comer a Alcobaça.
Ora siga a Rusga,//Assim mesmo e à maneira//Comer bem e bem beber,//É nos Fleming de Oliveira.
Hei-de ir ao Senhor da Pedra//Todos os anos lá hei-de ir//Mas quem vai comer aos Montes//Vai ao Céu e torna a vir.
O D. P., além de poeta, músico, é um doutor. Pedi-lhe a sua opinião sobre o Congresso FO. Com a sua delicadeza, sensibilidade e eloquência, disse-me Ecce quam bonum et quam jucundum habitare fratres in unum.
Isto é, em Português do século XXI, para os incultos que já não estudaram latim, quer dizer,
Como é belo e saudável ver os irmãos unidos.
Então Domingos P., diz-me lá o que é que achas!
Disse que, não é o início de um sermão do Pe. António Vieira. Nem tão pouco é o exórdio de uma tirada oratória de um preclaro orador, dos que outrora embeveciam corações e fulminavam remorsos com a fluência do verbo e o fascínio persuasivo de uma retórica impertérrita e eficaz. Não é, não senhor! É, tão somente, uma abscôndita, vejam como ele é um doutor e sabe cada palavra difícil!, citação dos livros sagrados, que traduz, de corpo inteiro, aquela tarde simples e saborosa de cinco de Março, passada na Casa dos Montes, acolhendo quatro gerações da Família F. O. Já lá vão uns meses e, passando ao lado do relato dos factos, quero apenas aqui deixar três recordações, que não serão nunca desalojadas de um cantinho privilegiado na minha memória. Lembro, em primeiro lugar, o anfitrião da Assembleia Constituinte da Confraria F. O., cada um chama-lhe uma coisa Congresso, Fundação, Plenário, mas o que interessa não é o nome…, que propôs os Estatutos, com notável solenidade, profissionalismo e poder persuasivo, apanágio de uma carreira longa e experiente na sua arte. O Fernando, arrancou da Assembleia uma retumbante aprovação dos estatutos, por unanimidade e aclamação. Em segundo lugar, ficará sempre gravado na minha memória o Presidente vitalício da recém-criada Confraria F. O. O Tio Mário traduziu, na sua intervenção, o objectivo do ponto único dos estatutos: o encontro e o convívio da Família. A prosa divertida e o versejar fluente do Tio Mário congregam irresistivelmente a família à sua volta. Quem resiste ao doce versinho picante, onde a malícia, mal espreita, logo se esconde? Em terceiro lugar, recordo que esteve nos Montes a árvore da família: o tronco, os ramos, os botões, as flores e as folhas-de cores variegadas, mas nem murchas nem caídas!... Mas a árvore que se vê não é tudo. Faltam as raízes!... E que encantador foi o regresso às origens, explanado pelo Kitolas, num relato intenso e apaixonado, de uma busca peregrina em demanda das raízes desta árvore que, neste jardim à beira mar plantado, continua a crescer!
Como é belo e saudável ver os irmãos unidos.
Gosto de passar ao papel, registar, temas familiares, mesmo que pareçam menores. Quando somos novos, parece que há alguma reserva ou pudor em nos pronunciarmos sobre aquilo que nos antecedeu, talvez por receio de sermos considerados pelos da mesma idade, como cotas ou bota de elástico, que se riam de nós. Recordo o desdém, manifestado perante os outros relativamente ao antigo, mesmo já pensando ao invés. Mais tarde começamos a perceber o que os mais velhos diziam e a imitá-los. Em Miramar, no início dos gira-discos, os Zicos preferiam, o Maurice Chevalier, aos Beatles. E embora não perdido de amores por aquele ou pela Piaff, indo a Paris, sou capaz de comprar uma antologia de intérpretes dos anos 50 ou 60, como aliás fez o Manel quando lá estivemos em 2003. É isto que também distingue os novos, dos menos novos como nós. A nostalgia daqueles leva-os para o futuro, a dos outros leva-nos para os idos…
Que saudades daqueles restaurantes de Coimbra como A DEMOCRÁTICA, com um empregado baixo e rotundo, ostentando três ou quatro cabelos que cruzam uma lustrosa careca, uma camisa muito branca sem mangas, pano no braço peludo e que nos tratava a todos por doutores, não fosse algum não ser, e a dona de cabelo grisalho enrodilhado num carrapito, usando uma bata de sarja em xadrez miudinho, com os pés metidos num tecido farfalhudo.
Dado o Zé Q. ter, felizmente, uma vida muito ocupada, pedi como disse ao B. uns comentários finais sobre esta nossa Reunião Magna, ao que ele anuiu com gosto e me deixou encavacado, mas a que não posso deixar de dar o devido destaque. Disse o B que, acho que esteve bem patente em vocês, anfitriões, a alegria de poder juntar toda a grande Família FO. Teve direito naturalmente ao repasto bem regado e a preceito, teve um hino FO, cinema, cerimónia de investidura e entronização, diaporama, bandeira, recordações de faiança com o brasão, etc., etc., etc.. Por muito completa que possa ser a minha descrição desse dia tão bem passado aí em Alcobaça, haverá sempre muito mais para contar. O importante foi para mim e para os meus mais próximos juntar a Família FO, voltar a ver primos que por variadíssimos motivos não se viam há muito tempo, bem como conhecer novos elementos do clã. Com tanta descendência FO vamos continuar a expandirmo-nos por todo o lado. Se eu fosse jornalista provavelmente o título a inserir na primeira página do jornal poderia muito bem ser este:
GRANDE ENCONTRO DA FAMÍLIA FLEMING DE OLIVEIRA EM ALCOBAÇA EXCEDEU AS EXPECTATIVAS
ou então,
O ENCONTRO FO FOI POSSÍVEL EM ALCOBAÇA
ou então ainda,
A FAMÍLIA FO EM CONGRESSO EM ALCOBAÇA
outro ainda,
ALCOBAÇA FOI O LUGAR DE ENCONTRO DE UMA GRANDE FAMÍLIA - FLEMING DE OLIVEIRA.
A N. realça que, o que mais a cativa nestas reuniões é o ambiente de família que por muito que se não diga, foi muito forte em casa dos Pais, apesar das dificuldades que havia. Sermos oito é uma coisa que me orgulha e tenho pena que não sejamos mais.
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