-MONUMENTO A VIEIRA NATIVIDADE
(ALCOBAÇA 1920)-
Fleming de Oliveira
Manuel Vieira Natividade tem sido reputado a par de J. E.
Raposo de Magalhães uma das personalidades mais relevantes do início do século
XX alcobacense. Foi um dos maiores
acontecimentos até então acontecidos em Alcobaça, a inauguração do monumento à
memória de Manuel Vieira Natividade, pelas 15 horas de 20 de Abril de 1920 (dia
em que faria 61 anos). Raras vezes, uma festa conseguiu chamar a Alcobaça tão
elevado número de pessoas de todo o concelho e de fora, bem como um conjunto
tão relevante de individualidades da sociedade portuguesa. Era esta também a
opinião de Artur Faria Borda, que na altura era ainda um rapazinho, mas que
assistiu à cerimónia. A Manuel Vieira Natividade se deve a fundação da
Associação dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça a 1 de Maio de 1888, como
aliás decorre da informação de Bernardo Villa Nova in Figuras e factos de
Alcobaça e sua Região, bem como a de que foi o seu primeiro Comandante.
Marcaram presença o Reg. Cav.4 representado pelo
Comandante e oficiais superiores e inferiores, o Juiz, Delegado do Procurador
da República e demais pessoal do Tribunal da Comarca, Autoridade
Administrativa, Conservador do Registo Predial, Oficial do Registo Civil,
funcionários das Finanças, Câmara Municipal, Misericórdia, Asilo de Infância
Desvalida e Montepio Alcobacense, bem como outras entidades e corporações
locais, Bombeiros Municipais e da Fábrica de Fiação e Tecidos e seu pessoal,
Bandas da Maiorga e de Alcobaça, Jardim-Escola João de Deus, professores e
alunos das escolas oficiais do concelho, etc. De fora, vieram pessoas da
Nazaré, S. Martinho do Porto e outras localidades vizinhas. Foi Sanches
Barreto, presidente da Comissão Executiva promotora do monumento, quem deu
início à solenidade ao proceder ao descerrar do medalhão com a efígie do
homenageado, da autoria de Adriano Sousa Lopes, e fazer a entrega do padrão à
Câmara Municipal, que agradeceu, através do Presidente João Palha Pinto.
Seguidamente atuou um grupo coral constituído por crianças das escolas de ambos
os sexos da vila, e usou da palavra o monárquico Afonso Lopes Vieira, grande
amigo de Alcobaça e de Vieira Natividade. Depois da inauguração do monumento,
procedeu-se nos Paços do Concelho ao descerramento do retrato do autor de O
Povo da Minha Terra. Usaram ainda da palavra, o ex-presidente de Ministério
José de Castro e Álvaro de Castro, ambos para salientar a personalidade ímpar
de Vieira Natividade, a sua atividade tão sabedora quanto incansável, e ao seu
amor pela região na qual nasceu, fazendo ver como exemplos destes são
necessários e podem contribuir para os progressos coletivos e para a boa
administração da causa comum nos conturbados tempos que se viviam. Antes da
leitura e assinatura do auto da inauguração do monumento na Salão Nobre da
Câmara Municipal, o vereador José Emílio Raposo de Magalhães declarou que os
seus sentimentos de alcobacense lhe não consentiam que aquela cerimónia
terminasse sem que endereçasse os agradecimentos a quantos ali se encontravam
honrando esta cerimónia. Finda a cerimónia solene na Câmara Municipal, teve
lugar abertura da Exposição de Flores, na Sala do Capítulo do Mosteiro. Aberta
a Exposição, o público pode espalhar-se pelo recinto, apreciando os viveiristas
que vieram do Porto, Alfredo Moreira da Silva & Filhos e a Companhia
Hortícolo-Agrícola, que apresentavam variadas flores cortadas e plantas em
vaso. Do Jardim Botânico do Instituto Superior de Agronomia/Lisboa, veio uma
interessante coleção de plantas de estufa. Igualmente foram admiradas entre
outras as representações da Escola de Agricultura de Queluz, da Casa Pia de
Lisboa, da Secção dos Serviços Florestais de Sintra, da Circunscrição Florestal
da Marinha Grande.
Na representação de Alcobaça, que em nada destoou,
mereceram destaque as flores e plantas do mais delicado feitio e requinte de cores de José Sanches Barreto e a opulenta coleção de cinerarias,
pertencente a Maria Júlia Souto e Cunha.
A exposição esteve aberta durante o resto da tarde e à
noite atuou no claustro a Banda de Alcobaça, enquanto que de tarde tocou com
agrado a Banda da Maiorga, no coreto da Praça, que chamou algum apesar do tempo
chuvoso.
Por motivo da Exposição, deslocaram-se a Alcobaça o Dr.
Mário de Azevedo Gomes/Diretor Geral de Instrução Agrícola, em representação do
Ministro da Agricultura, o Dr. Joaquim Rasteiro/ Diretor do Jardim Botânico da
Ajuda e professor do Instituto de Agronomia.
A propósito do falecimento de M. Vieira Natividade, Virgínia
Vitorino, havia publicado, em 24 de Fevereiro de 1918:
Foi-se esbatendo
mais a cor do céu.
Morreu a tarde em
brandas claridades.
Transformaram-se as
rosas em saudades,
E a terra, fatigada,
adormeceu.
Desce a penumbra, e
no seu longo véu
Envolve tudo em
estranhas densidades.
Um silêncio mortal!
Que escuridades!...
Tudo é tão triste
quando alguém morreu!...
E desfolham-se as
rosas, tanto, tanto
Que as folhas ao
cair parecem pranto.
Vejo-as pálias,
tristes e tão frias…
Oh! Rosas soluçantes
dos rosais!
Dizei devagarinho: -
nunca mais!
Vinde rezar comigo,
Avé-Marias.
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