-O PROSCRITO D. MIGUEL II (neto de D. Miguel I), VISITA ALCOBAÇA-
Fleming de Oliveira
Em Janeiro de 1901, proveniente de Caldas da Rainha, veio
de trem e com um pequeno séquito de quatro pessoas, visitar Alcobaça o príncipe
D. Miguel II, neto de D. Miguel I. Este, havia falecido a 26 de Outubro de
1866, sem ter podido voltar a Portugal desde que foi exilado, com essa expressa
cominação. D. Miguel I deveria abandonar a Península Ibérica, dentro
do período de quinze dias subsequente à assinatura da Convenção de Évoramonte,
a bordo de um navio estrangeiro, devendo ainda assinar uma declaração pela qual
se comprometia a jamais regressar a território português, metropolitano ou
colonial, nem a intervir nos seus negócios políticos ou, de qualquer outra forma,
contribuir para desestabilizar o País. Em 1967 foi, porém, sepultado no Panteão
Nacional de S. Vicente de Fora. A 19 Dezembro de 1834, pela Lei do Banimento,
D. Maria II declarou proscritos para sempre, D. Miguel I e descendentes, sob
pena de morte. Após a proclamação da
República, a Lei de 15 de Outubro de 1910 estendeu este exílio a todos os ramos da Casa Real. Em 27 de Maio de 1950, a Assembleia Nacional revogou as leis de exílio/banimento pelo que, D. Duarte Nuno de Bragança (pretendente, chefe da Casa Real), pode regressar a
Portugal.
Como os jornais de Lisboa houvessem noticiado a ida de
D. Miguel II para Espanha, a notícia da sua estada em Alcobaça causou surpresa
e foi recebida com alguma incredulidade tanto por conservadores como
republicanos. O príncipe, que aliás falava mal português, e os quatro
acompanhantes chegaram de carro, pela três da tarde, dirigindo-se à Igreja da
Mosteiro, por onde andaram algum tempo, visitando de seguida o quartel.
Possivelmente por força da sua condição de exilado/proscrito, D. Miguel II
furtou-se à curiosidade dos populares, sendo apenas visto de perto por alguns
na ocasião em que se dirigia ao trem, para se ir embora, rumo a Leiria.
Manuel Vieira Natividade, acima de preconceitos ou
picardias, ofereceu-lhe um exemplar da sua obra Mosteiro de Alcobaça, que fez
chegar, discretamente em mão, através do filho António.
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