-PAIVA COUCEIRO E O PRIOR DE TURQUEL/ALCOBAÇA, NOS
PRIMEIROS TEMPOS DA REPÚBLICA-
Fleming de Oliveira
Alguns conservadores
convenceram-se de que o anticatolicismo e o exclusivismo político da República
tinham criado espaço para derrubar o novo regime, como foi o caso do
ex-Governador de Angola, o Cap. Paiva Couceiro, um dos poucos que em Outubro de
1910, combateram os republicanos em Lisboa.
A partir da Galiza, entrou no País por duas vezes, da
primeira em 3 de Outubro de 1911 e da segunda em 6 de Julho de 1912. Na
primeira vez, atravessou a fronteira, ocupou a pequena povoação de Vinhais,
proclamou a Monarquia mas, atacado por forças republicanas, com pessoal mal
armado e municiado, não pode resistir e retrocedeu para a Galiza. O Pe. José
Pereira dos Santos, Prior de Turquel, deslocou-se ao Porto para apoiar Paiva
Couceiro. Regressado à paróquia, do respetivo púlpito, fez veementes apelos à
revolta contra a República, o que lhe valeu que a solicitação do Centro
Republicano fosse preso por uma força militarizada do Quartel composta por 6
homens e encarcerado na cadeia comarcã, ao lado de presos de direito comum.
Paga a fiança por um amigo (alegadamente não tinha meios para isso), voltou à
paróquia onde prosseguiu com os incitamentos. José Ferreira Chumbo, um
turquelense com estabelecimento de porta aberta em Lisboa, fez um enérgico
protesto, contra a estadia do Pe. José Pereira dos Santos, manifestando a
estranheza pela impunidade e benevolência de que tem gozado,
solicitando a sua expulsão por inadaptação à nova ordem.
Na segunda vez, os monárquicos passaram a fronteira em
três pontos distintos do Minho e de Trás-os-Montes. A coluna da Paiva Couceiro
rumou a Chaves, onde ocorreram os combates mais violentos e se fizeram
numerosos prisioneiros monárquicos.
Depois destes mal sucedidos ataques, os monárquicos
ainda se envolveram noutras conspirações, contribuindo para aumentar a
instabilidade política. Esperava suscitar uma insurreição geral, mas constatou
apenas a indiferença apática dos
monárquicos. O Exército manteve-se fiel à República enquanto proliferaram
grupos armados de defesa da república, bandos chefiados por revolucionários
profissionais, sediados nos cafés da baixa lisboeta, e disponíveis para fazer o
trabalho sujo de intimidar, calar ou liquidar os reais ou supostos inimigos do
novo regime.
O Governo
Provisório, gozou de amplos poderes até à abertura da Assembleia
Constituinte, em 19 de Junho de 1911. Nesse momento, o Presidente do
Governo Provisório, Teófilo Braga, transmitiu à
Assembleia Constituinte os poderes que lhe haviam sido conferidos a 5 de Outubro de 1910. A Assembleia Constituinte aprovou
por aclamação a proposta apresentada ao Congresso pelo seu Presidente, Anselmo
Braamcamp Freire: A Assembleia
Nacional Constituinte confirma, até ulterior deliberação, as funções do Poder
Executivo ao Governo Provisório da República.
Dois meses
mais tarde, com a aprovação da Constituição
e
a eleição do primeiro Presidente
da República, Manuel de Arriaga (24 de Agosto), o Governo
Provisório apresentou a sua demissão.
Começava em
Portugal a acidentada I
República, que ao invés de optar por pequenas mudanças que
melhorassem a concreta qualidade de vida dos portugueses, foi no sentido das
transformações radicais numa montanha, que não mexia quase nada, nem empurrada.
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