terça-feira, 4 de abril de 2017

-EM COZ/ALCOBAÇA, UM MESTRE ESCOLA, O PROF. JOSÉ TEODORO O TEATRINHO DE ALDEIA-


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José dos Santos Teodoro, foi natural dos Pisões/Pataias, onde nasceu em 1886, no seio de uma família rural que lhe forneceu condições para frequentar a escola primária, até à prestigiante 4ª. Classe/2º. grau.
Tendo começado a trabalhar como resineiro, quando teve oportunidade foi frequentar o Magistério Primário em Leiria, o que lhe permitiu iniciar em 1912 a carreira docente na Batalha. Dois anos mais tarde, colocado como professor em Coz (foi muito bem recebido pois, há vários meses. a escola estava fechada por falta de professor apesar das reclamações populares, da Junta e mesma da Câmara), onde lecionou durante cerca de 30 anos. Nesse tempo os pilares das comunidades rurais portuguesas eram o padre (ainda assim apesar da República), o médico e o professor primário. Cabiam ao professor as tarefas não só de alfabetização, mas também de modernização da sociedade de acordo com o ideário republicano, pelo que José dos Santos Teodoro foi o funcionário do Registo Civil da freguesia de Coz (extensão da Conservatória de Alcobaça, especialmente vocacionada para os assentos de nascimento e preparação da documentação de casamento civil que passou a ser obrigatório) e que ajudava a complementar o rendimento, já que o dos professores era baixo e muitas vezes pago com atraso, o que era aceite com alguma benevolência, dado o seu compromisso político com a República. Na escola, tinha numa parede, lado a lado retratos de Afonso Costa e António José de Almeida, dava aulas principalmente rapazes, que iam da 1ª. à 4ª.  classes, em condições de trabalho muito fracas. As aulas, que iam das nove às dezoito horas, com intervalo para o almoço, decorriam numa rígida ordem e disciplina e, por vezes, os mais adiantados ensinavam os mais novos a fazer contas, estudar a tabuada ou a ler no livro de leituras. No fim de cada ano escolar, os alunos, iam prestar provas à Escola mais próxima, ou fazer exame da quarta classe/2º. grau a Alcobaça onde, não raramente, eram aprovados com distinção. O Prof. Teodoro utilizava como método de ensino de aprendizagem da leitura a Cartilha Maternal (método que a República muito valorizava), o quadro preto de ardósia e carteiras, por vezes, repartidas por mais de um aluno. A maioria destes apenas possuía a pedra de ardósia na falta de caderno escolar e alguns aproveitavam o intervalo do almoço, para colocar questões ou tirar dúvidas sobre as matérias lecionadas ou outras.
O Prof. Teodoro, não se limitava a transmitir conhecimentos, mas também comportamentos e valores como a honradez, a palavra, ou o respeito, o que reputava como uma componente muito importante da sua tarefa, e lhe conferiu o direito de ser muito considerado e respeitado por alunos, seus pais e população em geral, sem prejuízo de com autoridade, aliás nunca contestada, dar se necessário uma benévola reprimenda ou mesmo uma carolada, com o ponteiro.
Senhor Professor Teodoro, chegue-lhe, se precisar! Nunca lhe doam as mãos, pois só se perdem as que caem no chão! Faça dele um homem que nós saberemos agradecer-lhe.
Quando se reformou, deixou a sua biblioteca à escola onde lecionou e de acordo com a sua ideia de uma escola pública republicana, terreno para a construção de um novo edifício escolar, que funcionou como tal, mas que se encontra encerrado.
Passadas gerações, o Prof. Teodoro, é recordado com carinho por antigos alunos e por quem com ele conviveu, independentemente de haver em Coz uma rua com o seu nome, a rua principal da terra onde vivia e que a atravessa. É da mais elementar justiça reconhecer o trabalho deste Professor/Mestre Escola, que ensinou até onde tinha aprendido e desenvolveu em muitas crianças, hábitos de trabalho e disciplina, a par de uma formação moral baseada em sólidos princípios de cidadania e amor ao próximo.
-O TEATRINHO DE ALDEIA-
Importantes eram os teatrinhos de aldeia onde se representavam com agrado peças ingénuas para espetadores muito especiais (amigos e familiares), ainda que em espaços de ocasião, improvisados.
Gervásio Lobato ocupou uma grande parte da sua Lisboa em Camisa com a descrição de uma récita em casa do Conselheiro Torres, o qual apesar de reconhecer não ter casa para o efeito, por pressão das filhas, aceitou montar um teatrinho particular numa saleta esguia e acanhada.
Por vezes, não era fácil montar a peça, dada a diferença de idades dos candidatos a atores, sexo e personalidade. Despoletavam conflitos, invejas e amuos, o que implicava que estes teatrinhos fossem pomo de discórdia numa sociedade fechada sobre si, onde havia poucas novidades. Havia que escolher a peça (mais difícil se algum ator tinha veleidades de autor), os atores e os respetivos papéis (utilizava-se até o sorteio de modo a evitar melindres pois todos queriam ser o protagonista ou o bom da peça e as meninas não gostavam de representar papéis masculinos). O ensaio depois de jantar, era um momento cansativo que implicava repetição de cenas e se prolongava por horas. O ensaio geral era reservadíssimo aos iniciados. Na grande noite, para uma plateia de amigos, familiares e convidados expetantes, no meio de alguma confusão, recapitulavam-se nervosamente os papéis socorrendo-se de uma cábula e fazia-se a caraterização. Se havia demora, o público impacientava-se, pateava ou mandava bocas (nem sempre jocosas ou amáveis). Quando se iniciava a representação, nem sempre acabavam os incidentes.

Mas é um gosto ir ao teatrinho cá da nossa terra

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