José dos Santos Teodoro, foi natural dos
Pisões/Pataias, onde nasceu em 1886, no seio de uma família rural que lhe
forneceu condições para frequentar a escola primária, até à prestigiante 4ª.
Classe/2º. grau.
Tendo começado a trabalhar como resineiro,
quando teve oportunidade foi frequentar o Magistério Primário em Leiria, o que
lhe permitiu iniciar em 1912 a carreira docente na Batalha. Dois anos mais
tarde, colocado como professor em Coz (foi muito bem recebido pois, há vários
meses. a escola estava fechada por falta de professor apesar das reclamações
populares, da Junta e mesma da Câmara), onde lecionou durante cerca de 30 anos.
Nesse tempo os pilares das comunidades rurais portuguesas eram o padre (ainda
assim apesar da República), o médico e o professor primário. Cabiam ao
professor as tarefas não só de alfabetização, mas também de modernização da
sociedade de acordo com o ideário republicano, pelo que José dos Santos Teodoro
foi o funcionário do Registo Civil da freguesia de Coz (extensão da Conservatória
de Alcobaça, especialmente vocacionada para os assentos de nascimento e
preparação da documentação de casamento civil que passou a ser obrigatório) e
que ajudava a complementar o rendimento, já que o dos professores era baixo e
muitas vezes pago com atraso, o que era aceite com alguma benevolência, dado o
seu compromisso político com a República. Na escola, tinha numa parede, lado a
lado retratos de Afonso Costa e António José de Almeida, dava aulas
principalmente rapazes, que iam da 1ª. à 4ª.
classes, em condições de trabalho muito fracas. As aulas, que iam das nove às dezoito horas, com intervalo para o
almoço, decorriam numa rígida ordem e disciplina e, por vezes, os mais
adiantados ensinavam os mais novos a fazer contas, estudar a tabuada ou a ler no
livro de leituras. No fim de cada ano escolar, os alunos, iam
prestar provas à Escola mais próxima, ou fazer exame da quarta classe/2º. grau
a Alcobaça onde, não raramente, eram aprovados com distinção. O Prof. Teodoro
utilizava como método de ensino de aprendizagem da leitura a Cartilha Maternal
(método que a República muito valorizava), o quadro preto de ardósia e
carteiras, por vezes, repartidas por mais de um aluno. A maioria destes apenas
possuía a pedra de ardósia na falta de caderno escolar e alguns aproveitavam o
intervalo do almoço, para colocar questões ou tirar dúvidas sobre as matérias
lecionadas ou outras.
O Prof. Teodoro, não se limitava a
transmitir conhecimentos, mas também comportamentos e valores como a honradez,
a palavra, ou o respeito, o que reputava como uma componente muito importante
da sua tarefa, e lhe conferiu o direito de ser muito considerado e respeitado
por alunos, seus pais e população em geral, sem prejuízo de com autoridade,
aliás nunca contestada, dar se necessário uma benévola reprimenda ou mesmo uma carolada, com o ponteiro.
Senhor
Professor Teodoro, chegue-lhe, se precisar! Nunca lhe doam as mãos, pois
só se perdem as que caem no chão! Faça dele um homem que nós saberemos
agradecer-lhe.
Quando se reformou, deixou a sua biblioteca
à escola onde lecionou e de acordo com a sua ideia de uma escola pública
republicana, terreno para a construção de um novo edifício escolar, que
funcionou como tal, mas que se encontra encerrado.
Passadas gerações, o Prof. Teodoro, é
recordado com carinho por antigos alunos e por quem com ele conviveu,
independentemente de haver em Coz uma rua com o seu nome, a rua principal da
terra onde vivia e que a atravessa. É da mais elementar justiça reconhecer o
trabalho deste Professor/Mestre Escola, que ensinou até onde tinha aprendido e
desenvolveu em muitas crianças, hábitos de trabalho e disciplina, a par de uma
formação moral baseada em sólidos princípios de cidadania e amor ao próximo.
-O
TEATRINHO DE ALDEIA-
Importantes
eram os teatrinhos de aldeia onde se representavam com agrado peças ingénuas
para espetadores muito especiais (amigos e familiares), ainda que em espaços de
ocasião, improvisados.
Gervásio
Lobato ocupou uma grande parte da sua Lisboa em Camisa com a descrição de uma
récita em casa do Conselheiro Torres, o qual apesar de reconhecer não ter casa
para o efeito, por pressão das filhas, aceitou montar um teatrinho particular numa saleta esguia e acanhada.
Por
vezes, não era fácil montar a peça, dada a diferença de idades dos candidatos a
atores, sexo e personalidade. Despoletavam conflitos, invejas e amuos, o que
implicava que estes teatrinhos fossem pomo de discórdia numa sociedade fechada
sobre si, onde havia poucas novidades. Havia que escolher a peça (mais difícil
se algum ator tinha veleidades de autor), os atores e os respetivos papéis
(utilizava-se até o sorteio de modo a evitar melindres pois todos queriam ser o
protagonista ou o bom da peça e as meninas não gostavam de representar papéis
masculinos). O ensaio depois de jantar, era um momento cansativo que implicava
repetição de cenas e se prolongava por horas. O ensaio geral era reservadíssimo
aos iniciados. Na grande noite, para uma plateia de amigos, familiares e
convidados expetantes, no meio de alguma confusão, recapitulavam-se
nervosamente os papéis socorrendo-se de uma cábula e fazia-se a caraterização.
Se havia demora, o público impacientava-se, pateava ou mandava bocas (nem
sempre jocosas ou amáveis). Quando se iniciava a representação, nem sempre
acabavam os incidentes.
Mas é um gosto ir ao teatrinho cá da nossa terra
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