Quando
as meninas eram chamadas donzelas, os beijos traziam doenças incuráveis, os
olhares tidos por indecentes, o aperto de mão impróprio, tudo se resumia a
serenatas com bandolins e violas.
Os
rapazes eram chorosos, escreviam versos, sonhavam ver os lindos pezinhos tão delicados que respiram rosas, liam poetas e
outros românticos ou os mais burros decoravam
fórmulas sacramentais de cartas amorosas. Muitos casamentos eram feitos por
contrato ou porque um dia o rapaz viu de esguelha a donzela acompanhada zelosamente pela mãe, à porta da igreja.
Cheio
de coragem ia à casa do futuro sogro pedir a mão da pequena, isto após noites
de serenatas. As noites de serenata começavam tarde, na sacada, a menina detrás
das venezianas. O rapaz cantava coisas
simples que falavam de sua beleza,
meus suspiros, meus ais; os pais policiavam as serenatas, e muitas vezes
jogavam água quente das janelas mais altas, para
espantar os moços cujas intenções não conhecemos.
Os
rapazes eram tratados de senhores, e os namoros, mesmo de longe, terminavam em
casamento, como se impunha.
Depois
veio a idade do portão, quando às
raparigas era permitido pelos pais namorar no portão, embora a contragosto meu e de minha mulher que achamos bem fazer as
coisas à moda antiga como no nosso tempo. As mães ficavam acordadas dentro
de casa, e de vez em quando vinham conversar com os pombinhos sobre o estado do tempo.
À
idade do portão seguiu-se a da sala.
Primeiro, era o namoro de sofá, em frente da mãe, do pai e dos irmãos. Depois
vinha a permissão para namorar na porta, desde que cuidadosamente iluminada por
uma lâmpada de 100 velas.
Os
namoros de sala eram mais sérios e formais e ainda terminavam quase sempre em
casamento. O rapaz ia a casa da rapariga, mas não tinha direito de sair a não
ser acompanhado dos irmãos, pai, mãe e outros parentes. Se quisesse ir ao
cinema ou baile, era ele quem suportava a despesa, pagava para todos. Isto era
uma forma de desanimar os namorados a sair de perto de casa!
Até
que o automóvel tomou conta de tudo. Começou no tempo do jazz, do
rock-and-roll, quando as loucuras de
Elvis Presley eram o modelo para os jovens que começavam querer a namorar longe
de casa. Levavam as namoradinhas, que já mascavam chicletes, coisa antigamente
proibida para moças.
Agora,
o namoro por vezes ainda termina em casamento.
Mas,
além de uma série de dificuldades surgidas por causa do tempo que corre e das
complicações da vida moderna, alguns conservadores acham que muito do romantismo
do casamento já acabou, e não há remédio.
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