terça-feira, 4 de abril de 2017

-MANUEL VIEIRA NATIVIDADE, O SEU MONUMENTO E ALCOBAÇA-


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Manuel Vieira Natividade, tem sido reputado a par de J. E. Raposo de Magalhães uma das personalidades mais relevantes do início do século XX alcobacense.
Foi um dos maiores acontecimentos até então acontecidos em Alcobaça, a inauguração do monumento à memória de Manuel Vieira Natividade, pelas 15 horas de 20 de abril de 1920 (dia em que faria 61 anos). Raras vezes, uma festa conseguiu chamar a Alcobaça tão elevado número de pessoas de todo o concelho e de fora, bem como um conjunto tão relevante de individualidades da sociedade portuguesa. Era esta também a opinião de Artur Faria Borda, que na altura era ainda um rapazinho, mas que assistiu à cerimónia. A Manuel Vieira Natividade se deve a fundação da Associação dos Bombeiros Voluntários de Alcobaça a 1 de maio de 1888, como aliás decorre da informação de Bernardo Villa Nova in Figuras e factos de Alcobaça e sua Região, bem como a de que foi o seu primeiro Comandante.

Marcaram presença na inauguração do monumento, o Reg. Cav.4 (representado pelo Comandante e oficiais), o Juiz, Delegado do Procurador da República e demais pessoal do Tribunal da Comarca, Autoridades Administrativas, Conservador do Registo Predial, Oficial do Registo Civil, funcionários das Finanças, Câmara Municipal, Misericórdia, Asilo de Infância Desvalida e Montepio Alcobacense, bem como outras entidades e corporações locais, Bombeiros Municipais e da Fábrica de Fiação e Tecidos e seu pessoal, Bandas da Maiorga e de Alcobaça, Jardim-Escola João de Deus, professores e alunos das escolas oficiais do concelho, etc. De fora, vieram pessoas da Nazaré, S. Martinho do Porto e outras localidades vizinhas. O Pároco de Alcobaça esteve ausente.
Sanches Barreto, presidente da Comissão Executiva promotora do monumento, deu início à solenidade ao proceder ao descerrar do medalhão com a efígie do homenageado, da autoria de Adriano Sousa Lopes, e fazer a entrega do padrão à Câmara Municipal, que agradeceu, através do Presidente João Palha Pinto. Seguidamente atuou um grupo coral constituído por crianças das escolas (de ambos os sexos, e usou da palavra o monárquico Afonso Lopes Vieira, grande amigo de Alcobaça e de Vieira Natividade. Depois da inauguração do monumento, procedeu-se nos Paços do Concelho ao descerramento do retrato de Natividade, o autor de O Povo da Minha Terra.
Usaram ainda da palavra, o ex-presidente de Ministério José de Castro e Álvaro de Castro, ambos para salientar a personalidade ímpar de Vieira Natividade, a sua atividade tão sabedora quanto incansável, e ao seu amor pela região na qual nasceu, fazendo ver como exemplos destes são necessários e podem contribuir para os progressos coletivos e para a boa administração da causa comum nos conturbados tempos que se viviam. Antes da leitura e assinatura do auto da inauguração do monumento na Salão Nobre da Câmara Municipal, o vereador José Emílio Raposo de Magalhães declarou que os seus sentimentos de alcobacense lhe não consentiam que aquela cerimónia terminasse sem que endereçasse os agradecimentos a quantos ali se encontravam honrando esta cerimónia.
Finda a cerimónia na Câmara Municipal, teve lugar abertura da Exposição de Flores, na Sala do Capítulo do Mosteiro. Aberta a Exposição, o público pode espalhar-se pelo recinto, apreciando os viveiristas que vieram do Porto, Alfredo Moreira da Silva & Filhos e a Companhia Hortícolo-Agrícola, que apresentavam variadas flores cortadas e plantas em vaso. Do Jardim Botânico do Instituto Superior de Agronomia/Lisboa, veio uma interessante coleção de plantas de estufa. Igualmente foram admiradas entre outras as representações da Escola de Agricultura de Queluz, da Casa Pia de Lisboa, da Secção dos Serviços Florestais de Sintra, da Circunscrição Florestal da Marinha Grande.
Na representação de Alcobaça, que em nada destoou, mereceram destaque as flores e plantas do mais delicado feitio e requinte de cores de José Sanches Barreto e a opulenta coleção de cinerárias, pertencente a Maria Júlia Souto e Cunha.
A exposição esteve aberta durante o resto da tarde e à noite atuou no claustro a Banda de Alcobaça, enquanto que de tarde tocou com agrado a Banda da Maiorga, no coreto da Praça, que chamou algum público, apesar do tempo chuvoso.
Por motivo da Exposição, deslocaram-se a Alcobaça o Dr. Mário de Azevedo Gomes/Diretor Geral de Instrução Agrícola, em representação do Ministro da Agricultura, o Dr. Joaquim Rasteiro/ Diretor do Jardim Botânico da Ajuda e professor do Instituto de Agronomia.

A propósito do falecimento de M. Vieira Natividade, Virgínia Vitorino, havia publicado, em 24 de fevereiro de 1918:
Foi-se esbatendo mais a cor do céu.
Morreu a tarde em brandas claridades.
Transformaram-se as rosas em saudades,
E a terra, fatigada, adormeceu.

Desce a penumbra, e no seu longo véu
Envolve tudo em estranhas densidades.
Um silêncio mortal! Que escuridades!...
Tudo é tão triste quando alguém morreu!...

E desfolham-se as rosas, tanto, tanto
Que as folhas ao cair parecem pranto.
Vejo-as pálias, tristes e tão frias…

Oh! Rosas soluçantes dos rosais!
Dizei devagarinho: - nunca mais!
Vinde rezar comigo, Ave-marias.



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