terça-feira, 4 de abril de 2017

-TEÓFILO BRAGA E A I REPÚBLICA EM ALCOBAÇA-

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O Presidente da República Teófilo Braga, veio a Alcobaça em 27 de setembro de 1915, presidir à inauguração de um importante certame.
Já tinha prometido fazer a visita, que por várias razões fora adiada, o que causava incómodo nos dirigentes do Centro Republicano, que algo desmoralizados e com conflitos muito pessoais entre si, necessitavam de um estímulo vindo de fora.
Tendo partido de Lisboa, numa carruagem salão, atrelada ao comboio-correio, Teófilo Braga era aguardado por alguns republicanos na estação de caminho-de-ferro de Valado dos Frades.
Sendo esta a primeira vez que um Presidente da República se deslocava a Alcobaça, a expectativa era grande. Ao longo do percurso do Valado de Frades até aos Paços do Concelho, havia pessoas nas janelas engalanadas e na rua, que batiam palmas e davam vivas à República.
Teófilo Braga não seria o dirigente republicano mais apreciado em Alcobaça, pois não obstante a sua idoneidade cívica e cultural, era-lhe imputado não ter tomado parte ativa no 5 de Outubro.
Por outro lado, havia em Alcobaça quem não estivesse de acordo com o seu apoio (tido por exagerado e despropositado), à Lei da Amnistia já que dos cerca de 3.000 monárquicos por ela beneficiados, só uns 20 viriam a ser considerados como chefes, dirigentes ou instigadores e a sofrer a pena que consistia na expulsão do território da República pelo tempo que lhes restar cumprir, não excedendo contudo os dez anos.
Apesar do seu passado radical, Teófilo Braga não reuniu consenso para chefiar o Governo Provisório ou assumir a Presidência da República. O facto é que seria ele o Presidente do Governo Provisório da República e mais tarde Presidente da República.
Mas era este o Chefe de Estado que iria ser recebido em Alcobaça.
Ele mesmo registou que surge o 5 de Outubro, proclama-se a República e, inesperadamente, achei-me saudado nas ruas de Lisboa por uma multidão ansiosa, quase delirante, que me tratava pelo “Senhor Presidente”. A ilusão depressa se converteu, confrangedoramente, em realidade. Não tardou que algumas centenas de excelentes pessoas me entrassem pela porta dentro pedindo-me entrevistas, autógrafos, empregos, subsídios e, até, dinheiro emprestado. Não havia dúvida: eu era, para todos os efeitos, o Presidente da República.
A passagem pelo poder não foi muito agradável a este intelectual (mas de modo algum a repudiou), atendendo à luta travada entre os chefes das formações partidárias que existiam ou iriam nascer a partir do PRP.
Após a receção na Câmara Municipal, o Presidente da República e comitiva (de que fazia parte o Ministro do Fomento), foram almoçar ao Clube Alcobacense, cujo salão fora ornamentado por senhoras da melhor sociedade republicana.
A Banda dos Marinheiros da Armada, tocou alguns números patrióticos e populares durante o banquete que foi servido pelo Hotel Central.
Pelas 16 horas, realizou-se no Claustro de D. Dinis a inauguração da Exposição de Pomologia, Flores e Plantas Ornamentais, afinal a principal razão da visita presidencial.
Aguardavam o Presidente, além das autoridades civis e militares (a Igreja não se fez representar, nem foi convidada), 7 internados do Asilo dos Velhinhos Maria e Oliveira, crianças do Asilo da Infância Desvalida e um grupo de raparigas do campo da zona da Cela, envergando trajes regionais bem como um rancho folclórico que executou dois números da Estremadura.
Serviu de cicerone à comitiva presidencial, Manuel Vieira Natividade, um dos responsáveis pela organização da Exposição. Terminada a visita, Teófilo Braga, dirigiu-se ao Asilo dos Velhinhos Maria e Oliveira, para cumprimentar a fundadora e elogiar a obra que, como sublinhou não conhecia nenhuma igual e visitou ainda, em passo estugado, o Jardim-Escola João de Deus, o Hospital da Misericórdia e o Posto Agrário.
À noite, decorreu uma sessão solene no Claustro de D. Dinis, já que aí teve lugar a Festa dos Frutos. Além da Banda dos Marinheiros da Armada, atuou a Banda de Infantaria7.
As honras da noite, couberam, de certo modo, a Manuel Vieira Natividade, que fez a conferência intitulada A Poesia dos Frutos.
Farmacêutico de profissão (que não talvez por devoção), a sua farmácia, situada no Rossio, era ponto de encontro das pessoas gradas da terra, republicanas, mas não só.
A sessão cultural prosseguiu com uma récita de versos de Bulhão Pato e António Correia de Oliveira e, terminou, com um discurso do Ministro do Fomento, Manuel Monteiro, que não perdeu a oportunidade de o entremear a apologia da República, com a homenagem a Alcobaça histórica e agrícola que engrandece o povo rural e promove o seu desenvolvimento.
O Presidente da República e comitiva, passaram a noite no chalet do Diretor da Companhia Fiação e Tecidos de Alcobaça, pois o Hotel Central não oferecia as necessárias condições de segurança, tendo a guarda sido feita pelo corpo privativo de bombeiros daquela unidade fabril.
Mais tarde, aquando do falecimento de Natividade, Teófilo Braga que o tinha em elevada consideração, exprimiu-se do modo seguinte, que transmitiu à família:
Manuel Vieira Natividade consagrou o seu talento literário, artístico e crítico e também os seus estudos arqueológicos, históricos e económicos à glorificação monumental de Alcobaça. Compete-lhe a divisa que para si se impôs o quinhentista Ferreira:
Eu desta glória só fico contente,
Que a minha terra amei e a minha gente.



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