terça-feira, 4 de abril de 2017

O TEATRO NO TEMPO DA I REPÚBLICA EM ALCOBAÇA


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A direção do teatro alcobacense, corria o ano de 1910, realizou nele algumas melhorias, embora não tantas quanto as necessárias, pois, sem apoios, estava dependente das parcas receitas de bilheteira de que dispunha.
Mesmo assim, procedeu à cobertura do corredor dos camarins, à substituição da escada que conduz ao palco, doravante mais larga, bem lançada e com ar elegante e obras nas dependências deste.
O Semana Alcobacense, que noticiou o acontecimento, não deu louvores aos cavalheiros que compunham a direção, porque é coisa que eles certamente não receberiam com agrado; mas vamos acompanhando e dizendo das obras por ela levadas a efeito que mais não seja, para conhecimento dos nossos conterrâneos.
A empresa do Cine-Moderno iniciou em dezembro de 1919 a sua atividade no Teatro, tendo contratado para atuar e complementar a sessão de inauguração, o dueto italiano Los Belini que fazia uma digressão pelo País (dois atores/cantores), que em cada número do seu reportório recolhiam fortes aplausos.
Para valorizar a sessão, a empresa mandou vir um pianista e um violinista de Lisboa (que atuavam num café concerto da capital), os quais partilharam as ovações dispensadas a Los Belini.
Em meados da década de 1920, começou a esboçar-se um movimento para que Alcobaça pudesse dispor da casa de espetáculos que merecia e o progresso impunha.
A direção do Teatro Alcobacense oficiou à Câmara Municipal para a cedência de um terreno na Praça do Município.
Numa época em que as deslocações para fora da terra se processavam com morosidade, incómodo e risco, o teatro e o incipiente cinema a nível local, adquiriram enorme importância nos hábitos dos portugueses. Note-se que, a viagem por estrada Alcobaça/Leiria ou a Alcobaça/Caldas da Rainha, era coisa para durar, pelo menos, três horas. Havia em Alcobaça várias alquilarias. A diligência era ainda o meio mais vulgar ou a carreira que  conduziam ao caminho de ferro de Valado de Frades.
Em breve, desapareceram os riperts, char-a-bancs, milords, coupés, caleches, vis-a-vis ou berlindas.
Ir ao teatro ou ao cinema, implicava um ritual, desde logo, no vestuário que as pessoas cumpriam, muito gostosamente, e com seriedade, pois era para verem e ser vistas. As récitas eram a la long anunciadas e as musicais aguardadas com expectativa, esgotando-se por vezes as entradas, quando ocorriam ao sábado. No teatro havia um bar, que no antes do início ou no intervalo da sessão, servia gelados, doces e bebidas. O público, especialmente o feminino, queixava-se da qualidade e asseio dos sanitários que por vezes cheiravam mal.
The Vagabond (em Portugal Charlot Violinista), é uma comédia  do tempo do mudo, escrita, produzida, dirigida e protagonizada por Charles Chaplin, datada de 1916.
Quando exibida em Alcobaça, o sucesso foi estrondoso, esgotando sucessivas sessões e encharcando os lenços de espetadores sensíveis.
É a história de um vagabundo que ganhava a vida a tocar violino. No dia em que chegou a um acampamento cigano, conheceu uma moça que tendo sido raptada, era maltratada e obrigada a trabalhar sem descanso. O vagabundo decidiu defende-la e salvá-la, fugindo por isso ambos.
Um talentoso pintor, que estava sem inspiração, a ver a jovem sentiu-se atraído por ela, no que foi correspondido e pintou o seu retrato. A mãe da moça, viu o retrato da desaparecida filha numa exposição, emocionou-se deveras e entrou em contacto com o pintor que irá promover o reencontro de ambas. Agradecida, a mãe ofereceu uma recompensa ao vagabundo que salvara a filha, mas ele recusou. Ao se despedirem, ele ficou triste e melancólico, sozinho, pelo que a mãe e a moça voltaram a trás e convidaram-no para ir com elas.
O público aplaudiu de pé, verteu mais algumas lágrimas, mas saiu satisfeito e reconfortado.
O Teatro, no antigo Refeitório do Mosteiro, fora instalado em 1839, por iniciativa de um grupo de personalidades locais, que abriram subscrição pública com madeiras oferecidas pelo Conde de Vila Real.
O Governo liberal entregou à Câmara Municipal (Portaria do Ministério da Fazenda de 4 de agosto de 1837), uma zona do Mosteiro não afeta ao culto. O Teatro foi inaugurado, em 6 de janeiro de 1840, com o drama histórico Pedro, o Grande /A Escrava de Marienburgo, interpretado por um grupo de amadores. Ao longo de cerca de um século, muitas peças ali foram representadas, o que implicou obras, nem sempre compatíveis com as caraterísticas do local, como foi o caso do pano de boca, mandado pintar em 1865, a um conhecido cenógrafo de Lisboa, considerado um dos melhores do seu tempo, e que por isso tido por muito caro, o que motivou alguma polémica local.



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