A direção do teatro alcobacense, corria o
ano de 1910, realizou nele algumas melhorias, embora não tantas quanto as
necessárias, pois, sem apoios, estava dependente das parcas receitas de
bilheteira de que dispunha.
Mesmo assim, procedeu à cobertura do
corredor dos camarins, à substituição da escada que conduz ao palco, doravante
mais larga, bem lançada e com ar elegante e obras nas dependências deste.
O Semana
Alcobacense, que noticiou o acontecimento, não deu louvores aos cavalheiros que compunham a direção,
porque é coisa que eles certamente não
receberiam com agrado; mas vamos acompanhando e dizendo das obras por ela
levadas a efeito que mais não seja, para conhecimento dos nossos conterrâneos.
A empresa do Cine-Moderno iniciou em
dezembro de 1919 a sua atividade no Teatro, tendo contratado para atuar e
complementar a sessão de inauguração, o dueto italiano Los Belini que fazia uma
digressão pelo País (dois atores/cantores), que em cada número do seu
reportório recolhiam fortes aplausos.
Para valorizar a sessão, a empresa mandou
vir um pianista e um violinista de Lisboa (que atuavam num café concerto da
capital), os quais partilharam as ovações dispensadas a Los Belini.
Em meados da década de 1920, começou a
esboçar-se um movimento para que Alcobaça pudesse dispor da casa de espetáculos
que merecia e o progresso impunha.
A direção do Teatro Alcobacense oficiou à
Câmara Municipal para a cedência de um terreno na Praça do Município.
Numa época em que as deslocações para fora
da terra se processavam com morosidade, incómodo e risco, o teatro e o
incipiente cinema a nível local, adquiriram enorme importância nos hábitos dos
portugueses. Note-se que, a viagem por estrada Alcobaça/Leiria ou a
Alcobaça/Caldas da Rainha, era coisa para durar, pelo menos, três horas. Havia
em Alcobaça várias alquilarias. A diligência era ainda o meio mais vulgar ou a
carreira que conduziam ao caminho de
ferro de Valado de Frades.
Em breve, desapareceram os riperts,
char-a-bancs, milords, coupés, caleches, vis-a-vis ou berlindas.
Ir ao teatro ou ao cinema, implicava um
ritual, desde logo, no vestuário que as pessoas cumpriam, muito gostosamente, e
com seriedade, pois era para verem e ser vistas. As récitas eram a la long anunciadas e as musicais
aguardadas com expectativa, esgotando-se por vezes as entradas, quando ocorriam
ao sábado. No teatro havia um bar, que no antes do início ou no intervalo da
sessão, servia gelados, doces e bebidas. O público, especialmente o feminino,
queixava-se da qualidade e asseio dos sanitários que por vezes cheiravam mal.
The Vagabond (em Portugal Charlot
Violinista), é uma
comédia do tempo do mudo, escrita, produzida, dirigida e protagonizada por Charles Chaplin, datada de 1916.
Quando exibida em
Alcobaça, o sucesso foi estrondoso, esgotando sucessivas sessões e encharcando
os lenços de espetadores sensíveis.
É a história de um
vagabundo que ganhava a vida a tocar violino. No dia em que
chegou a um acampamento cigano, conheceu uma
moça que tendo sido raptada, era maltratada e obrigada a trabalhar sem
descanso. O vagabundo decidiu defende-la e salvá-la, fugindo por isso ambos.
Um talentoso pintor, que estava sem inspiração, a ver a jovem sentiu-se
atraído por ela, no que foi correspondido e pintou o seu retrato. A mãe da
moça, viu o retrato da desaparecida filha numa exposição, emocionou-se deveras
e entrou em contacto com o pintor que irá promover o reencontro de ambas.
Agradecida, a mãe ofereceu uma recompensa ao vagabundo que salvara a filha, mas
ele recusou. Ao se despedirem, ele ficou triste e melancólico, sozinho, pelo
que a mãe e a moça voltaram a trás e convidaram-no para ir com elas.
O público aplaudiu
de pé, verteu mais algumas lágrimas, mas saiu satisfeito e reconfortado.
O Teatro, no antigo Refeitório do Mosteiro,
fora instalado em 1839, por iniciativa de um grupo de personalidades locais,
que abriram subscrição pública com madeiras oferecidas pelo Conde de Vila Real.
O Governo liberal entregou à Câmara
Municipal (Portaria do Ministério da Fazenda de 4 de agosto de 1837), uma zona
do Mosteiro não afeta ao culto. O Teatro foi inaugurado, em 6 de janeiro de
1840, com o drama histórico Pedro, o Grande /A Escrava de Marienburgo,
interpretado por um grupo de amadores. Ao longo de cerca de um século, muitas
peças ali foram representadas, o que implicou obras, nem sempre compatíveis com
as caraterísticas do local, como foi o caso do pano de boca, mandado pintar em
1865, a um conhecido cenógrafo de Lisboa, considerado um dos melhores do seu
tempo, e que por isso tido por muito caro, o que motivou alguma polémica local.
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