-AMÉRICO D´OLIVEIRA,
A REPÚBLICA E ALCOBAÇA-
Fleming
de OLiveira
Américo d’Oliveira propagandista da República (para cuja
causa contribuiu com dinheiro que herdou), maçon e carbonário, teve ação
relevante já no dia 4 de Outubro, na Rotunda ao lado de Machado dos Santos, que
ao admitir o eventual falhanço do golpe, o incentivou com sucesso, permanecendo
ambos lado a lado até à vitória se consumar. Efetivamente, as coisas não
correram bem aos sublevados que se tinham concentrado na Rotunda. Perante a
ausência dos principais dirigentes republicanos e em face dos boatos que começavam
a fervilhara, alguns consideram que se deveria levantar o acampamento. Em 1908,
Américo d’Oliveira vivendo ainda em Alcobaça, fundou e custeou o jornal O
Republicano, do qual terão saído apenas seis exemplares e era principal redator
Raul Proença que também vivia em Alcobaça. Este, figura cimeira do pensamento
político português no primeiro quartel do século XX, marcou a
intervenção cívica durante a I República, cujos vícios criticou duramente.
Proença combateu o sidonismo e a Ditadura Militar que, em 1927, o condenou ao exílio em Paris. Tendo regressado a Portugal em 1932, já acometido da grave doença mental que o levaria ao
internamento no Hospital do Conde de Ferreira, no Porto, aí faleceu.
Um grupo de amigos e correligionários de Américo
d’Oliveira, ofereceu-lhe no sábado, 21 de Janeiro de 1911, no Grande Hotel de
Inglaterra, de Lisboa, um dos mais conceituados da capital, (propriedade de A.
Ramos, situado na esquina da Praça dos Restauradores com a Rua do Príncipe,
hoje Rua do Jardim do Regedor, inaugurado a 15.04.1906, após profundas obras
para ser adaptado a hotel e que com o 5 de Outubro, sofreu bastantes danos,
embora tenha reaberto ao fim de poucos dias), um banquete de homenagem pelos
serviços prestados à República,
quando do movimento que a implantou. Diversos brindes foram proferidos,
salientando a ação de Américo d’Oliveira, de quem o Ministro António José de
Almeida, que assistiu ao jantar, frisou que era um dos mais heróicos
combatentes da Revolução, ao qual a História haveria de fazer justiça.
O semanário lisboeta Colonial, querendo prestar
homenagem ao revolucionário Américo d’Oliveira, inseriu o retrato num dos seus
números, fazendo-o acompanhar de um artigo a salientar a sua coragem e
determinação no decorrer do 4 de Outubro, na Rotunda.
Nos primeiros
momentos da revolta Machado Santos corre o acampamento e não encontra um
oficial, a quem se pudesse entregar o comando.
Foi um momento de
dolorosa angústia para o heróico marinheiro, republicano desde muitos anos e um
doido pela grande ideia.
O que ele sofreu
nesses momentos, ao ver que o movimento ia talvez fracassar, diante delle que
estava ali resolvido a praticar todas as loucuras!
Olhou em volta de si
e viu Américo de Oliveira, que procurava o mesmo que ele: uns galões de ouro.
Com a mesma ideia
dirigem-se para outro.
-Estamos perdidos!
Exclama Machado dos Santos. Estamos sós! Que fazer?
Américo de Oliveira
exclamou, num ímpeto:
-Tocar a unir, e
perguntar aos sargentos se aceitam o seu comando!
Machado dos Santos
exultou, já não estava só, tinha ali ao lado um companheiro heróico.
Silenciosamente, mas com grande decisão, caíram nos braços um do outro, e foi
com uma voz potente de comando de Machado dos Santos mandou tocar a unir.
Felizmente, os
heróicos sargentos aceitaram sem relutância o comando de um oficial da marinha,
que nem sequer era combatente. De tal modo eles queriam ir para a frente!
Américo d’Oliveira participou no 28 de Maio de 1926,
tendo sido um dos dois que, com Mendes Cabeçadas, foi ao Palácio de Belém
parlamentar com Bernardino Machado, a entrega do poder. Foi o editor de Arquivo Nacional, que Rocha Martins dirigiu de 1932 a 1943, semanário que
divulgava, aliás sem grande profundidade factos, acontecimentos, biografias e
memórias de contemporâneos e de figuras de outras épocas, quase sempre marcadas
por controvérsia.
1 comentário:
Caro Senhor
Conhece o paradeiro de um quadro a óleo deste republicano? è de autoria do pintor Abel Cardoso e esteve exposto na Exp. da SNBArtes de Lisboa em 1937. Vi uma reprodução do mesmono Diário de Noticias de Dezembro de 1937, mas não sei onde terá ido parar o quadro.
Os meus melhores cumprimentos
abelcardos@gmail.com
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