quinta-feira, 27 de março de 2014

AI, COMO É BOM NAMORAR…



 

AI, COMO É BOM NAMORAR…

Fleming de Oliveira



Quando as meninas ainda eram chamadas donzelas, os beijos traziam doenças incuráveis, os olhares  tidos por indecentes, o aperto de mão impróprio, tudo se resumia a serenatas com bandolins e violas... Os rapazes eram chorosos, escreviam versos, sonhavam ver os lindos pezinhos tão delicados que respiram rosas, liam poetas e outros românticos ou os mais burros decoravam fórmulas sacramentais de cartas amorosas. Muitos casamentos eram feitos por contrato, ou porque um dia o rapaz viu de esguelha a donzela através da mantilha acompanhada zelosamente pela mãe, à porta da igreja.
Cheios de coragem iam à casa do futuro sogro pedir a mão da pequena, isto após noites de serenatas. As noites de serenata começavam tarde, na sacada, a menina detrás das venezianas. O rapaz cantava coisas simples que falavam de sua beleza, meus suspiros, meus ais; os pais policiavam as serenatas, e muitas vezes jogavam água quente das janelas mais altas, para espantar os moços cujas intenções não conhecemos. Os rapazes eram tratados de senhores, e os namoros, mesmo de longe, terminavam em casamento, como se impunha.
Depois veio a idade do portão, quando às raparigas era permitido pelos pais, embora a contragosto meu e de minha mulher que achamos bem fazer as coisas à moda antiga como no nosso tempo, namorar no portão. As mães ficavam acordadas dentro de casa, ainda não era o tempo da televisão, e de vez em quando vinham conversar com os pombinhos sobre o tempo. 
À idade do portão seguiu-se a da sala. Primeiro, era o namoro de sofá, em frente da mãe, do pai e dos irmãos. Depois vinha a permissão para namorar na porta, desde que cuidadosamente iluminada por uma lâmpada de 100 velas.
Os namoros de sala ainda terminavam quase sempre em casamento. O rapaz ia a casa da rapariga, mas não tinha direito de sair a não ser acompanhado dos irmãos, pai, mãe e outros parentes. Se quisesse ir ao cinema ou baile, era ele quem suportava a despesa, pagava para todos. Isto era uma forma de desanimar os namorados a sair de perto de casa.
Até que o automóvel tomou conta de tudo. Começou no tempo do jazz, do rock-and-roll, quando as loucuras de Elvis Presley eram o modelo para os jovens que começavam querer a namorar longe de casa. Levavam as namoradinhas, que já mascavam chicletes, coisa antigamente proibida para moças.


Agora, o namoro por vezes ainda termina em casamento. Mas, além de uma série de dificuldades surgidas por causa do tempo e das complicações da vida moderna, alguns conservadores acham que muito do romantismo do casamento já acabou, e não remédio. Mas, apesar da evolução do modo de namorar, uma coisa ainda é necessária para que exista um bom namoro, um pouco de amor, como nos tempos de outrora

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