AI, COMO É BOM
NAMORAR…
Fleming de Oliveira
Quando as meninas
ainda eram chamadas donzelas, os beijos traziam doenças incuráveis, os
olhares tidos por indecentes, o aperto
de mão impróprio, tudo se resumia a serenatas com bandolins e violas... Os
rapazes eram chorosos, escreviam versos, sonhavam ver os lindos pezinhos tão delicados que respiram rosas, liam poetas e
outros românticos ou os mais burros decoravam
fórmulas sacramentais de cartas amorosas. Muitos casamentos eram feitos por
contrato, ou porque um dia o rapaz viu de esguelha a donzela através da mantilha acompanhada zelosamente pela mãe, à
porta da igreja.
Cheios de coragem
iam à casa do futuro sogro pedir a mão da pequena, isto após noites de
serenatas. As noites de serenata começavam tarde, na sacada, a menina detrás
das venezianas. O rapaz cantava coisas
simples que falavam de sua beleza,
meus suspiros, meus ais; os pais policiavam as serenatas, e muitas vezes
jogavam água quente das janelas mais altas, para
espantar os moços cujas intenções não conhecemos. Os rapazes eram tratados
de senhores, e os namoros, mesmo de longe, terminavam em casamento, como se
impunha.
Depois veio a idade do portão, quando às raparigas era
permitido pelos pais, embora a
contragosto meu e de minha mulher que achamos bem fazer as coisas à moda antiga
como no nosso tempo, namorar no portão. As mães ficavam acordadas dentro de
casa, ainda não era o tempo da televisão, e de vez em quando vinham conversar
com os pombinhos sobre o tempo.
À idade do portão
seguiu-se a da sala. Primeiro, era o namoro de sofá, em frente da mãe, do pai e
dos irmãos. Depois vinha a permissão para namorar na porta, desde que
cuidadosamente iluminada por uma lâmpada de 100 velas.
Os namoros de sala
ainda terminavam quase sempre em casamento. O rapaz ia a casa da rapariga, mas
não tinha direito de sair a não ser acompanhado dos irmãos, pai, mãe e outros
parentes. Se quisesse ir ao cinema ou baile, era ele quem suportava a despesa,
pagava para todos. Isto era uma forma de desanimar os namorados a sair de perto
de casa.
Até que o automóvel
tomou conta de tudo. Começou no tempo do jazz, do rock-and-roll, quando as loucuras de Elvis Presley eram o modelo
para os jovens que começavam querer a namorar longe de casa. Levavam as
namoradinhas, que já mascavam chicletes, coisa antigamente proibida para moças.
Agora,
o namoro por vezes ainda termina em casamento. Mas, além de uma série de
dificuldades surgidas por causa do tempo e das complicações da vida moderna,
alguns conservadores acham que muito do romantismo do casamento já acabou, e
não remédio. Mas, apesar da evolução do modo de namorar, uma coisa ainda é
necessária para que exista um bom namoro, um pouco de amor, como nos tempos de
outrora
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