DIZER NUNCA É
PROIBIDO
FLeming de OLiveira
Já passei por lá, de propósito ou
não. Seguramente, os meus leitores também, não é verdade? Sejamos francos,
embora não gostemos de ser lá vistos, já todos demos um salto ao charco,
porventura mais do que uma vez. Sim, o charco onde vivem esses sapos que temos
de engolir de vez em quando, pode ser um sítio muito concorrido.
O que vale é que, quando se trata de
relações de proximidade, argumentamos que os sapos que temos de engolir, são
por uma boa causa, pelo melhor dos motivos. E invocamos razões ou chavões como
felicidade, vida a dois, convivência ou futuro sonhado com os filhos, para
justificar por que raio de coisa afinal voltámos atrás naquela decisão tomada
tão irrevogável e definitivamente. Bom, pesados os argumentos, os pró e contra,
esta é a mais nobre das razões para dar o dito por não dito.
Atenção, caros leitores, que fique
claro, não vejo mal nenhum em engolir sapos. Faz parte do processo de
crescimento ou mesmo de vida voltar atrás com o que se disse, bater a bola
baixinho quando há que dar razão a quem não se gosta. E assim acabamos por
fazer exatamente o que sempre dissemos que nunca faríamos.
O que se passa é que, acredito que o
motivo para engolir tanto sapo decorre de usar palavras como jamais nunca ou
sempre. Quando mais agarrados estivermos a princípios inabaláveis, daqueles de
que não abrimos mão nem que a vaca tussa, mais facilmente nos pomos a jeito de
deglutir esses batráquios de olhar esbugalhado. Sou cínico ou volúvel?
Não, o problema não está nos
princípios, nos valores, nos escrúpulos. O problema está no facto de acharmos que aqueles
princípios que assumimos como tão firmes, tão inquestionáveis, não são passíveis de abdicarmos deles.
Profundo erro!
Se em nome de alguma coisa mais ou menos
importante, tivermos de abdicar disto ou daquilo, abdicamos mesmo e ponto
final, parágrafo. Nos momentos-chave, quando somos confrontados com situações
complicadas, das que causam mossa, das que nos fazem chorar, telefonar à mãe,
ao pai ou ao melhor amigo, perder o sono, se acreditamos que dar uns passos
atrás, é o caminho mais direto para a nossa tranquilidade, então só temos de
nos pôr ao caminho.
Querem alguns exemplos? Eu até era
incapaz de desculpar uma traição. Conversa. Ele sempre achou isso, até ao dia
em que…. perdoou. Não foi uma decisão fácil de tomar, mas tomou-a e passou a
viver com as consequências, dúvidas e incertezas, pois claro, mas lá concluiu
que valia a pena.
Eu era incapaz de trair. Bom, este
parece um exemplo mais fácil. Era tanta a certeza de que jamais o faria, que no
dia em que o fez, nem sabia por que
carga de água não o fizera antes.
Querem mais? Não era capaz de me
envolver com um homem mais novo. Casar outra vez? Jamais viveria com uma mulher
que me sustentasse.
As certezas absolutas são tão
perigosas como rasteiras, e não apenas na política, como diz um amigo. A gestão
dos afetos é tão difícil, obriga a tantos golpes de cintura, que mais vale não
criar tantas regras para não termos de passar a vida a infringi-las. E a engolir
sapos.
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