UMA
HISTÓRIA DE CAPADOR
Fleming de Oliveira
Antigamente,
nos meios rurais, era importante o papel do capador.
Na zona do Casal Pardo/Alcobaça, há ainda quem se lembre de Ti Zé da Costa.
Um
dia, uma cliente procurou-o para lhe dizer que a porca que ele tinha capado
dias antes, sangrava pelo orifício da capadura. Tendo o capador constatado essa
realidade, não hesitou, não esteve com meias medidas. Perguntou à cliente
quanto custava a porca e, sem qualquer hesitação, decidiu adquiri-la por
800$00, que depois conduziu a pé até casa, a esguichar sangue.
A
história correu célere pela terra, a benefício dos créditos do nosso homem, mas
o final da história ainda ficou mais curioso quando, meses depois num Domingo,
Ti Zé colocou o animal em cima de uma carroça para o transportar ao adro da
igreja, a fim de o mostrar a quem quisesse ver, finda a missa, isto é, que o
animal estava bem de saúde e que nada de mal lhe tinha acontecido.
Só aos
80 anos é que deixou, de visitar os seus clientes, tendo falecido de repente ao
fim de respeitáveis 90 anos, plenos de humildade e uma boa dose de humor. Para
além de vulgares constipações ou gripes, a família só lhe conheceu uma maleita
quando, pelos seus 45 anos, teve um problema gastro-intestinal, o que o obrigou
a ir trabalhar munido de um cantil de leite, no lugar do salpicão e do copio de
branco ou tinto, o que o envergonhou e se recusava a recordar.
Ti’ Zé da Costa trabalhava bem e depressa. De
lanceta em punho, ficava com os testículos do barrasco na mão. A garotada atraída
pelo carpido do animal, ia gozar-se com a cirurgia do capador, que por vezes
tinha de recomendar:
-Arreda p’a trás.
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