quinta-feira, 27 de março de 2014

UMA HISTÓRIA DE CAPADOR

 
UMA HISTÓRIA DE CAPADOR

Fleming de Oliveira



Antigamente, nos meios rurais, era importante o papel do capador. Na zona do Casal Pardo/Alcobaça, há ainda quem se lembre de Ti Zé da Costa.
Um dia, uma cliente procurou-o para lhe dizer que a porca que ele tinha capado dias antes, sangrava pelo orifício da capadura. Tendo o capador constatado essa realidade, não hesitou, não esteve com meias medidas. Perguntou à cliente quanto custava a porca e, sem qualquer hesitação, decidiu adquiri-la por 800$00, que depois conduziu a pé até casa, a esguichar sangue.
A história correu célere pela terra, a benefício dos créditos do nosso homem, mas o final da história ainda ficou mais curioso quando, meses depois num Domingo, Ti Zé colocou o animal em cima de uma carroça para o transportar ao adro da igreja, a fim de o mostrar a quem quisesse ver, finda a missa, isto é, que o animal estava bem de saúde e que nada de mal lhe tinha acontecido.
Só aos 80 anos é que deixou, de visitar os seus clientes, tendo falecido de repente ao fim de respeitáveis 90 anos, plenos de humildade e uma boa dose de humor. Para além de vulgares constipações ou gripes, a família só lhe conheceu uma maleita quando, pelos seus 45 anos, teve um problema gastro-intestinal, o que o obrigou a ir trabalhar munido de um cantil de leite, no lugar do salpicão e do copio de branco ou tinto, o que o envergonhou e se recusava a recordar.
Ti’ Zé da Costa trabalhava bem e depressa. De lanceta em punho, ficava com os testículos do barrasco na mão. A garotada atraída pelo carpido do animal, ia gozar-se com a cirurgia do capador, que por vezes tinha de recomendar:
-Arreda p’a trás.


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